1. Spirit Fanfics >
  2. Missão >
  3. Capítulo Único

História Missão - Capítulo Único


Escrita por: keyhimura

Notas do Autor


Ainda sem capa, chegando em cima da hora para a última fase do concurso. Eu não vou dizer que não gostei, porque apesar do prazo meio arrochado e todos os trâmites da minha vida eu consegui terminar, revisar e enviar para pessoas pedirem opinião, apesar de não ter certeza se ela está boa mesmo assim.

Fanxing é e sempre será meu maior otp então escrever sobre eles foi delicioso mesmo que eu tenha feito na pressão. O tema exigiu um pouco e eu peço desculpas se eu acabei viajando em algum momento, mas o tempo me permitiu apenas uma pesquisa rasa, que eu fiz com bastante esmero tentando embasar direitinho tudo que eu queria trazer para a história.

Agradeço imensamente à minha sereia que me ajudou muito bom o plot, a Jaque pelo apoio e à Miuzita que como sempre, me ajudou, surtou comigo e foi esse poço de fofura que é sempre. Muito obrigada, queridos

Fui eu mesma que betei então provavlemente deixei algo escapar, já vamos pedindo as famosas desculpas.

AVISO, ESTÁ UMA DEATHFIC, então nós TEREMOS SIM MORTE(S). Não vou dizer quantas são e tal para não estragar a surpresa etc etc

Sem mais delongas vamos a fanfic <3

Capítulo 1 - Capítulo Único


Yifan socou a mesa com força, quase derrubando o café que havia acabado de ser posto sobre a mesma. A situação ficava cada vez pior e as autoridades da China viam-se mais e mais sem ter o que fazer com as constantes ameaças de bomba que eram anunciadas sem que os autores fossem capturados. O ano não havia alcançado nem sua metade e mais de 5 cidades já haviam sofrido ameaças, das quais 3 haviam se cumprido, colocando toda a inteligência chinesa a trabalhar nos próximos possíveis alvos.

 

E aquilo parecia só o começo.

 

Faziam dois anos que a onda de extremismo religioso havia virado seus olhos para China, o terror do Estado Islâmico espalhava uma onda de pânico diferente de tudo que o país já havia enfrentado.

 

De forma sorrateira, assim como o feito na Europa e em outros países, integrantes do movimento imigraram para a potência mais populosa do mundo com a missão de disseminar seus ideais descabidos, até agora em um uníssono sucesso de caos. Sob os panos, debaixo do nariz de toda e qualquer lei e autoridade, jovens e adultos foram persuadidos e recrutados e rapidamente um pensamento radical e nocivo se espalhou pelo Noroeste chinês, iniciando a perseguição à cristãos, budistas, taoistas e o que quer que julgassem que estava em seu caminho.

 

Não demorou muito para os atos violentos escalarem de proporção, chegando rapidamente aos pequenos atentados que haviam começado em cidades isoladas e agora já chegavam às metrópoles, desestabilizando a economia e causando uma baixa extrema no turismo, afastando até mesmo os frequentadores assíduos da Disneyland, que também entrara na lista dos terroristas, sofrendo um pequeno atentado que por intervenção do serviço secreto chinês havia deixado poucos feridos, mesmo que não tivesse apreendido ninguém.

 

A China quebrava aos poucos.

 

—Eles escaparam de novo! —Papéis foram atirados contra a mesa e quando o corpo alto tombou contra a cadeira. Yixing fitou sutilmente cada um de seus companheiros de trabalho, que entenderam prontamente o pedido do Zhang.

 

Parceiros há muitos anos, Yixing e Yifan tinham uma sintonia que ninguém ousava contestar. Bem-sucedidos na maioria de suas missões, os dois chineses de idades parecidas eram como metades de um ser, extremamente diferentes, porém complementares e por isso haviam sido promovidos ao esquadrão anti-terrorismo juntos, para que fossem ainda mais eficazes.

 

—Yifan... —O Zhang o chamou com delicadeza, decidido a acalmar o parceiro que sentia mais do que nunca o peso daquela situação toda em suas costas.

 

Sua cidade natal fora o alvo escolhido naquela tarde.

 

E para alguém como o Wu aquilo era quase como a morte. Não havia passado despercebido pelo Zhang e por todos os outros as mãos trêmulas do chinês alto a cada nova ordem dada, a cada criança que ele ajudava a envolver em um pedaço de pano, segurando as lágrimas de forma firme para fazer o que era certo. Yixing via, na postura que ele mantinha, o cansaço, a frustração e até mesmo o medo do que estava por vir. As coisas iam de mal a pior e cada novo esforço só parecia mais uma tentativa inútil que terminava em feridos, mortos e escombros que levariam muitos anos até serem retirados.

 

—Nós estamos perdendo, Yixing. —A voz dele soou fraca, exausta e o Zhang se aproximou, ajoelhando-se frente ao homem que escondia o rosto entre as mãos, como se tivesse vergonha. —Nós nunca conseguimos fazer nada!

 

—Não é verdade. —Buscou as mãos dele com as suas, tentando tirá-lo daquela posição.

 

—Não? Quantas bombas nós impedimos de explodir, Yixing? Quantas vidas nós salvamos? —Aumentou o tom de voz, sentindo a raiva lhe esquentar.

 

—Inúmeras. E você sabe disso! —Acompanhou-o, soando tão sério quanto o próprio Yifan, numa clara demonstração que não entrara naquela discussão disposto a perder. —Nós estamos fazendo todo o possível!

 

—Guanzhou está destruída, Yixing! Não sobrou quase nenhuma construção!

 

—E Qindao está de pé! Nós não somos a prova de falhas, Yifan! Temos trabalhado dia e noite tentando mapear e prever os movimentos do ISIS mas eles se enraizaram na China! Não temos super-poderes para impedi-los de estarem em vários lugares ao mesmo tempo!

 

Yixing suspirou e fitou o grande mapa que haviam feito, marcando todas as informações que tinham sobre o grupo terrorista. Ele entendia perfeitamente a frustração de Yifan, mas tentava não se entregar a ela, mesmo que a cada nova informação obtida mais ameaças surgissem, marcando mais pontos vermelhos no mapa que ambos haviam desenvolvido tentando identificar qualquer padrão de comportamento. Sem sucesso. Os integrantes do estado islâmico não agiam conforme uma regra, tornando todas as suas ações irregulares e movidas pelo extremo caos, o que parecia ser exatamente o que estavam procurando.

 

A imprensa agia de forma punitiva, cobrando ainda mais ação dos agentes que já faziam de tudo para encontrar o foco daquela infecção de radicalismo que destruía o país que tanto amavam e cada vez mais a China gritava ao mundo pela ajuda que era dada de forma precária, aumentando a sensação de insegurança e medo que se alastrava pelas ruas.

 

—Se nós desistimos agora vamos perder essa guerra... —Falou de forma suave, finalmente conseguindo puxar as mãos dele com as suas, sentindo o peito apertar ao senti-las tão geladas.

Yifan estava quebrando também.

 

—Precisamos continuar tentando, ainda temos como remediar e... —Antes que ele pudesse terminar sua fala, Yifan se ergueu quebrando a conexão que existia entre as mãos antes de proferir com o tom austero.

 

—Diga isso quando a sua cidade for destruída. Não é algo muito longe do real mesmo.

 

E saiu andando.

 

Yixing quedou-se estático no mesmo lugar, os olhos acompanhando as costas largas que se distanciavam mais e mais enquanto uma onda intensa de tristeza se apossava de seu ser. Estava perdendo o mais velho, o seu amor, e não havia nada no mundo que pudesse fazer para impedi-lo de se punir daquela forma. O Zhang sabia o quanto o outro estava se culpando por todos os esforços que não resultavam em nada e temeu que ele fizesse uma besteira, movido pelo patriotismo que era tão característico seu.

 

O que ele podia fazer?

 

(...)

 

Contrariando todas as probabilidades, após meses de ações intensivas em aeroportos um integrante do movimento radical havia sido preso e rapidamente direcionado para um interrogatório que Yifan fez questão de conduzir ele mesmo, deixando a sala horas depois com as mãos manchadas de vermelho e um meio sorriso no rosto, que reacendeu a pequena faísca de esperança que padecia aos poucos no meio da guerra que estavam travando.

 

Com a força bruta, Yifan conseguira arrancar informações preciosas sobre as pretensões futuras dos líderes radicais e seus pontos de recrutamento, o que os deixou com mais uma peça do jogo praticamente em suas mãos, uma vez que o homem revelou-lhes que Wei Shen, um dos recrutas chineses mais carismáticos e convincentes do estado islâmico, estaria cuidando pessoalmente dos recrutamentos devido a todo alarde feito pela imprensa que afastava possíveis simpatizantes do movimento.

 

Munidos com as diretrizes preciosas, o esquadrão Violet – codinome dado aos agentes antiterrorismo- iniciou o que mais tarde seria chamado de operação Loki, que tinha como intenção capturar mais um integrante que pudesse fornecer informações para a desarticulação do grupo que havia se enraizado na China. O plano poderia parecer simples, mas precisava da dedicação de cada pequena parte para que desse certo.

 

Usando um sistema de comunicação de ponta, o shopping no qual supostamente seria feito o recrutamento estaria todo monitorado por câmeras minúsculas instaladas previamente em pontos estratégicos, visando evitar quaisquer surpresas. Nada garantia que o homem interrogado havia dito a verdade, afinal e ter mais baixas era a última coisa que qualquer um deles precisava naquele momento.

 

Se tudo desse certo, ao final do dia teriam mais um trunfo na manga e poderiam finalmente respirar tranquilos sabendo que o jogo ainda podia ser virado mesmo que os terroristas estivessem ganhando.

 

Em uma manobra feita junto à administração do shopping, o fluxo de pessoas no horário que havia sido apontado foi diminuído e agentes infiltrados foram postos no lugar dos transeuntes, para garantir que as chances de fuga do chinês terrorista fossem quase nulas.

 

Tomado pelo extremo nervosismo, Yixing roía as unhas que já não tinha mais, andando de um lado para o outro, sentindo as próprias mãos suarem enquanto se perguntava se ele era mesmo o homem certo para o serviço de lidar diretamente com Wei Shen. Sua mente paranoica montava os mais diversos cenários, nos quais o terrorista descobria sobre o plano e tudo dava errado, terminando em uma grande explosão que botava o edifício pomposo de vidros espelhados no chão. Aquilo era por Yifan. Não podia falhar.

 

Mas como fazia para vencer o medo e parar de tremer?

 

—Yixing? —Yifan interrompeu seus pensamentos pessimistas, não precisando de mais que uma troca de olhares para entender porque o outro estava tão inquieto. —Eu vou estar com você. Certo? —Apontou para o ponto de comunicação em seu ouvido sorrindo gentil numa tentativa de tranquilizar o mais novo. Confiava plenamente nas habilidades dele e sabia que todos no esquadrão reconheciam que não havia melhor agente infiltrado que ele naquele lugar. —Vai dar certo. —Abraçou-o de forma terna, sentindo o coração martelar quando as mãos dele puxaram seu sobretudo com força.

 

Já fazia um tempo que seu coração batia mais forte pelo Zhang mas toda e qualquer chance que ele havia tido de dizê-lo o quanto era importante havia escapado como areia entre seus dedos e quando foram lançados ao inferno ele apenas não havia pensado naquilo outra vez. Sentia que amava Yixing. E sentia que até certo ponto era correspondido pelo chinês de covinhas que ficava muito mais bonito sorrindo. Tinha medo de perdê-lo e por isso prometeu a si mesmo que entregaria seus sentimentos mais sinceros ao mais novo que ele retornasse porque sim ele ia retornar.

 

“Volte para mim, Yixing.”

 

Foi o que pensou ao vê-lo se afastando, já dentro de seu personagem, sereno e fleumático como se não fosse lidar com um dos homens mais perigosos do mundo. Resistiu ao ímpeto de abraça-lo mais uma vez e tencionou dar-lhe as contas para não cair em tentação mas antes que pudesse fazê-lo foi surpreendido pelo menino de covinhas que, em um espaço de tempo muitíssimo curto, venceu a distância que havia entre os dois, roubando os lábios maiores que os seus em um beijo completamente inesperado.

 

E absurdamente breve.

 

—Eu amo você. —Yixing sussurrou baixinho, como se contasse um segredo. —Por favor não se esqueça disso. —E com uma meia volta graciosa se afastou, deixando um Yifan embasbacado para trás. Yixing havia simplesmente roubado seu plano e acelerado tudo para ir embora, levando consigo seu coração.

 

Porque aquilo parecia uma despedida?

 

Balançou a cabeça, decidido a não pensar naquela possibilidade. Daria tudo certo e ele devolveria a declaração que Yixing lhe dera junto com o abraço apertado que sentia vontade de dar.

 

Mas primeiro havia a operação.

 

Respirando fundo, sentou-se à frente dos computadores, ajustando o fone em seu ouvido enquanto checava a configuração de todas as câmeras e imagens antes de passar mensagens de teste para os integrantes do esquadrão, certificando-se que tudo estava em seus conformes. Era chegada a hora.

 

—Vamos lá pessoal! Temos um filho da puta pra pegar! —Yixing gritou utilizando seu comunicador, arrancando risadas dos outros. Eles lutariam aquela guerra com todas as suas forças e se fossem perder que fossem pelejando, o Zhang tinha prometido a si mesmo que não ia desistir.

 

(...)

 

—Yixing, se você estiver me ouvindo vire sua cabeça de leve para o lado. Estamos prestes a começar e eu quero que assim que os outros entrarem em cena você saia o mais rápido possível daí, certo? Não podemos fazer de você um alvo. —O mais novo mexeu a cabeça de leve e Yifan sorriu. Yixing havia de fato entendido.

 

Sabia que ele ia conseguir.

 

—Certo, Cheng, você tem Wei Shen na sua visão? —Yifan mandou a mensagem via rádio ao atirador que deitado há metros de distância da praça de alimentação mantinha o terrorista sob sua mira com extrema precisão.

 

Afirmativo, pronto para atirar caso seja necessário.

 

—Shang, como estamos com Yixing? —Foi a vez do sino-canadense escondido dentro de uma rede de fast food responder, dando zoom na imagem nítida que tinha de Yixing conversando com Wei Shen enquanto ouvia os tópicos abordados por meio do microfone escondido debaixo das roupas do Zhang.

 

Roubamos um ator de Hollywood, Yifan. Shen só estaria mais na mão do Yixing se fosse você. —Riu debochado e o Wu anotou mentalmente o tapa que ia dar naquele anão de jardim por aquela ousadia. —Como estamos, Zitao? —Adiantou a pergunta de Yifan, podendo ouvir a resposta junto com o ele.

 

Perímetro varrido, o cara tá sozinho mesmo. —O chinês de marcas escuras ao redor dos olhos respondeu, fazendo sinais com as mãos para os soldados que o acompanhavam. —Estamos prontos para o show.

 

Todos a postos? Não podemos deixa-lo escapar. Iniciando contagem. Em 3...2...

 

BOOM!

 

O prédio inteiro tremeu com a força da bomba detonada, forte o suficiente para abrir um buraco da estrutura e derrubar uma parte do segundo andar, fazendo subir um alto volume de poeira e fumaça que roubaram a visão de todos eles. Uma bomba disparada da direção aonde antes estavam Wei Shen e Yixing.

 

—NÃO! Mas que porra foi essa! —Yifan gritou no rádio, já visivelmente alterado. —Que merda de bomba é essa?! —Mas aonde diabos Yixing estava, porque ele não se comunicava?

 

Yifan! Eu perdi Yixing! Tem muita fumaça, não consigo enxergar nada! —Cheng foi o primeiro a reestabelecer contato, a voz chiada soando preocupada enquanto ele tossia. —Wei Shen sumiu também!

 

SHANG LI! AONDE VOCÊ ESTÁ? —Sua voz subiu, seu coração agora parecia que ia explodir de tanto que batia. Precisava encontrar Yixing.

 

O meu rad... Foi atingid... Não... Consigo... Comunicação... Yixing...

 

—Merda, merda, merda! Isso não pode acontecer! Luhan! Me coloque em contato com Yixing agora mesmo! —Gritou a ordem ao técnico que tentava contato com Zitao. —Liang! Não desista de Zitao, continue tentando e envie reforços, temos feridos certamente. —Respirou fundo tentando manter a calma que lhe escapava a cada novo segundo. Precisava falar com ele, ouvir sua voz e saber que tudo ficaria b-

 

—Eu não consigo! O sinal não retorna. —Yifan sentiu o mundo girar. Como assim não retorna? Yixing tinha uma porcaria de um ponto escondido sob as roupas, ele tinha de receber o sinal! Um equipamento daqueles não quebraria com facilidade! A não ser que... Tivesse sido destruído. —Yifan... —Luhan soltou um choramingo, checando na tela as luzes referentes aos equipamentos de cada membro do esquadrão.

 

As luzes de Yixing estavam apagadas.

E Yifan jurou que seu coração apagou também.

 

O caos do shopping se tornou como uma pequena estrela no universo, insignificante e ínfimo, engolido pelo grito desesperado de seu coração partido. O mundo girava e o Wu se sentia anestesiado, como se tivesse sido dopado a um ponto que não soubesse mais o que fazer. Sua metade havia sido arrancada de si da forma mais cruel e a lembrança do beijo singelo que havia recebido quase ardia em sua pele.

 

O que ele ia fazer?

 

Perdido em seus pensamentos caóticos, Yifan não ouvia Liang gritando por Zitao pelo rádio enquanto alguns agentes retornavam, feridos e sujos de toda a poeira que a explosão havia levantando. As lágrimas ardiam em seus olhos e quando elas finalmente escorreram ele foi obrigado a se apoiar em uma das mesas improvisadas, sentindo-se incapaz de respirar. Suas forças se perdiam. Na mesma escala em que o desespero o engolia. A dor a essa altura atingia níveis físicos e seu coração se retorcia de uma forma tão penosa que ele sinceramente achou que fosse desmaiar.

 

Haviam perdido não a batalha, mas uma parte da esperança que lhes mantinha de pé.

 

Felizmente, nenhum civil havia ficado ferido na operação, mas o mesmo não podia ser dito dos agentes que estavam infiltrados. Devido à proximidade deles com a bomba e com a explosão alguns haviam sido atingidos por estilhaços e até mesmo pelo impacto, que chegou a afetar o tímpano de dois agentes, que foram encaminhados com urgência para o hospital. Outros tinham apenas pequenos arranhões e ralados e um ficou ferido gravemente por ser sido atingido por um pedaço de concreto que cedeu após a detonação. A única baixa havia sido Yixing.

 

O que já era destruidor por si só.

Mas tudo sempre podia piorar.

 

Mal haviam retornado à base das operações, ainda muitíssimos abalados com a falha e a destruição deixada pela mesma, e foram subitamente parados por Meng Ziyi, a responsável por todos os arquivos eletrônicos e suas devidas cópias de segurança, que tinha os olhos vermelhos e uma expressão de extremo pânico em seu rosto. Yifan não sabia se aguentava mais uma bomba.

 

Se foram! —Ela praticamente gritou, nervosa o suficiente para sequer ser capaz de perceber a tristeza estampada em cada um deles. —Nossos arquivos foram apagados!

 

Aquilo não podia estar acontecendo.

 

Shang Li foi o primeiro a tomar a dianteira, pegando a mulher pelos ombros sem cerimônia enquanto gritava por explicações, o peso da derrota tirando-lhe do prumo muito mais rápido do que deveria. Com passos rápidos correram até o computador central, Shang rapidamente lançando seus dedos sobre o teclado largo, digitando dezenas de comandos que ele tinha memorizado em sua cabeça como datas de aniversário, numa tentativa de restaurar tudo que havia sido perdido. Sem sucesso.

 

Quando o garoto se jogou contra a cadeira com lágrimas nos olhos o Wu sentiu a pressão baixar e cambaleou, sendo segurado por um Luhan que tentava manter-se firme mesmo que fosse infinitamente difícil. Yixing havia morrido por causa daquelas informações e agora elas haviam simplesmente sumido. Era o fim. Aquela guerra havia sido perdida e os soldados não tinham mais forças para lutar. Yifan não tinha mais forças.

 

De volta à estaca zero, naquela altura dos acontecimentos eles apenas poderiam assistir a China ser engolida pela destruição e pelo caos viperino que os mataria um a um, destruindo suas casas, seu povo e sua essência, que seria completamente adulterada da forma mais vil de cruel. O que eles haviam feito para merecer tamanha punição?

 

—Eu não entendo... Como isso foi acontecer! Nossos sistemas de segurança foram atravessados como se fossem nada! —Ziyi falou de forma sofrida, recebendo um olhar triste dos outros que viam-se perdidos demais para opinar. —Como nossa criptografia foi quebrada!? —A voz dela vacilou e Liang lhe abraçou antes que a garota começasse a chorar.

 

—Estamos recebendo uma transmissão! —Luhan gritou ao perceber uma alteração na tela. —Eu não consigo parar ela de chegar! —Todos então fixaram suas atenções na tela que começava a formar uma imagem, sem saber prever o que estava por vir.  

 

Ninguém esperava que na tela fossem ver ninguém menos que Zhang Yixing.

 

Olá Yifan e amigos. —A voz dele soou neutra, mas todos perceberam que havia algo extremamente errado. O Zhang não estava machucado, nem tampouco estava sendo ameaçado, muito pelo contrário, ele nunca parecera tão tranquilo e bem acomodado.

 

Yifan ainda tentava controlar os próprios batimentos e proferir algo, dividido entre a vontade de gritar com o mais novo e o alivio por vê-lo vivo sem ferimentos, ainda que sentisse que algo não cheirava bem naquela situação toda. Yixing estava vivo! Aquilo não era algo a se comemorar? Porque então não gostava do sorriso que ele dirigia a cada um deles?

 

Eu fico imensamente feliz que vocês não estejam feridos. —O sorriso dele se alargou e o Wu sentiu algo gelado subir por sua espinha devido ao brilho esquisitamente maquiavélico que foi capaz de notar no olhar alheio. —Seria muito triste se vocês tivessem ficado machucados em algo tão banal. Peço desculpas se os preocupei também, não foi minha intenção.

 

—O que está acontecendo? —Cheng inquiriu nervoso, não gostando nada nada do rumo daquela transmissão.

 

Peço desculpas também, querida Ziyi, por tornar seus esforços completamente inúteis, mas os arquivos que vocês tinham não podiam simplesmente existir. Não estavam nos planos, era só questão de tempo até que eu os destruísse com a proteção que eu mesmo ajudei a criar. —Yixing havia sido o braço direito de Shang no desenvolvimento do sistema de segurança para os arquivos referentes ao ISIS, sendo uma das poucas pessoas que entendiam a complexidade daquele sistema em seu total.

 

—Então foi ele que... Nós fomos... Fomos traídos...? —Shang murmurou baixinho, descrente.

 

Yifan só queria acordar daquele pesadelo.

 

Infelizmente, algumas coisas devem deixar de existir para que o melhor seja feito e as vezes os planos de Deus são um pouco difíceis de entender, mas Allah sabe exatamente o que faz por mais dolorosas que sejam suas provações.

 

—Isso não pode ser sério. —Luhan recuou, completamente abismado. Yixing falava como um deles.

 

Neste momento, me apresento diante de vocês como uma ferramenta do poder d’Ele, que tem como objetivo espalhar a verdade de Allah que se perdeu durante os anos. Sou nada mais que um instrumento e como tal trago até vocês a misericórdia que este ser maravilhoso mostrou a mim.

 

Yifan havia esquecido como fazer para respirar. Aquele não era Yixing. Aquele não era o seu parceiro de anos, o seu amigo, o seu amor. Aquilo era uma aberração que ele não reconhecia, alguém que ele não entendia e havia enlouquecido, não havia outra explicação. O seu Zhang Yixing não podia tê-los traído daquela forma, podia?

 

Dou a vocês uma escolha. —Fez uma pausa e respirou fundo antes de assumir uma postura ainda mais austera e continuar. —Juntem-se a nós ou pereçam com todos os outros infiéis. —Alguns gritos em árabe puderam ser ouvidos ao fundo e o Zhang esperou até que eles tivessem cessado para continuar seu discurso. —A cidade de Changsha será a próxima e perecer e eu peço que não nos interrompam, pois eliminaremos todas as pedras que aparecerem em nossos caminhos. —E a ligação então se encerrou, deixando a sala em um imenso silêncio.

 

Todos os olhares se viraram para Yifan.

Que naquele momento queria apenas desaparecer.

 

Sem raciocinar direito o que estava fazendo e ignorando todos os olhares questionadores o Wu apenas murmurou que precisava tomar um ar, não sendo impedido por nenhum dos seus amigos que apenas lhe fitaram com compaixão e pena, algo que ele sequer percebeu. Sua cabeça estava mais cheia que a galáxia.

 

Yixing havia mentido. Yixing agora era um inimigo. Yixing havia lhe traído. Por mais que falasse aquilo para si mesmo simplesmente não conseguia acreditar. Será possível que ele havia enganado a todos durante todo aquele tempo? Justo ele que lutara tão bravamente para combater os radicais? Yifan viu-se esquadrinhando cada pequeno momento a procura de um momento em que sentisse que tudo havia dado errado. Sem encontrar. Ele era tão bom ator assim?

 

O Wu só soube que ainda haviam lágrimas dentro de si quando sentiu algo molhado escorrendo por seu rosto. Porque doía tanto? Yifan apertou a área do peito com força, como se pudesse impedir a dor de se alastrar, mas era impossível. Sentia tantas coisas ao mesmo tempo que sequer conseguia entender o que estava acontecendo dentro de si. Sentia raiva, alívio, tristeza, ultraje, dor, tudo de uma vez só, de uma forma tão intensa que perdia o ar. Estava confuso e não conseguia evitar o sentimento de que havia sido apenas um joguete de Yixing em seu imenso tabuleiro de xadrez, um peão dispensável.

 

—Porquê...? —Perguntou baixinho aos céus, torcendo para que pudesse ser ouvido embora soubesse que isso não ia acontecer. Tentava entender tudo que havia acontecido nas últimas horas mas cada nova tentativa o levava para mais longe de uma conclusão. Não sabia o que pensar. Não sabia mais quem era Yixing. Não sabia mais se tudo que haviam feito valia de algo.

 

Parecia mais fácil acreditar que ele havia morrido.

Tudo estava desmoronando.

 

Voltou à sala dos computadores cabisbaixo, os ombros encolhidos em uma postura que deixava mais que claro o quanto a dupla derrota o havia atingido, mais do que a qualquer um.

 

—Amor? Não existe amor! O Yixing só fez aquilo pra manipular o Duizhang! —Antes mesmo de abrir a porta ouviu a voz de Shang, visivelmente alterada. —Ele nos traiu! Por isso que nós nunca íamos a lugar nenhum! Ele deve estar dando informações para aqueles filhos da puta há semanas! —Yifan obrigou-se a segurar as lágrimas. Sentia-se tão idiota, tão descartável.

 

—Shang! —Ziyi foi a primeira a perceber que Yifan estava atrás deles, mas o Li não entendeu o que ela queria dizer.

 

—É horrível acreditar, mas nós fomos trouxas e ele nos enganou direitinho! Yixing é um traidor!

 

—SHANG, CALA A BOCA! —Liang gritou, indicando com a cabeça atrás do garoto, que empalideceu assim que virou de costas.

 

—D-D-Duizhang... Eu não...

 

—Você está com a razão. —Cada palavra doeu como o inferno, mas ele sabia que era o certo a se fazer. —Zhang Yixing é um traidor e nós temos que ter isso em mente. Ele não hesitou em nos colocar em perigo e nós... —Uma lágrima traiçoeira escapou e ele rapidamente a secou, rapidamente retomando sua fala. —Não devemos esquecer que ele agora é um inimigo. —Respirou fundo, fitando cada um dos rostos penalizados e tentando ensaiar um sorriso que saiu absolutamente falho. —Descansem, nossos próximos dias serão de muita atividade e a cidade de Changsha vai precisar mais do que nunca de nós. —Dispensou-os com mesuras respeitosas e um a um os agentes foram saindo, até que só estivessem Luhan e o próprio Yifan naquela sala.

 

—Porque não vai descansar? —Sua voz soou mais baixa do que ele planejava, um sinal de que suas forças para manter-se forte estavam se esgotando.

 

—Alguém precisava ficar para juntar os seus pedaços, você não acha? —Yifan sorriu amargo uma última vez, as lágrimas saindo de forma quase violenta. Luhan apenas abraçou-o sem dizer nada, apoiando o corpo maior com o seu.

 

Os soluços doloridos ecoaram pelos corredores vazios.

 

(...)

 

Yifan sentia a exaustão.

 

Changsha podia não ser a capital da China mas apenas o fato dela ser a capital da província de Hunan era o suficiente para a ameaça de bomba ser extremamente preocupante. Incapazes de formular planos sem suas informações, as autoridades viram-se obrigadas a expor para a imprensa a situação, usando dos veículos de comunicação para pedirem por uma migração em massa dos moradores para outras áreas, visto que não poderiam protege-los. Dois milhões de pessoas era simplesmente um número grande demais para que um plano eficiente fosse criado quando estavam totalmente no escuro.

 

O esquadrão Violet havia coordenado a ação desde o início. Ainda abalados, mas inconformados com a possibilidade de desistir de tudo que já haviam feito, os homens haviam se reunido e criado um esquema de movimentação que otimizava o transporte, impedindo as vias de se engarrafarem e de se tornarem alvos, visto que o ataque havia sido anunciado, mas nada sobre datas havia sido dito. Estavam tensos, mas procuravam fazer o seu melhor para compensar tudo que haviam perdido.

 

Yifan nem sabia se estava fazendo a coisa certa.

 

O chinês perdera a conta de quantas vezes havia se perguntando somente naquele dia se aquilo tinha realmente alguma utilidade quando tudo que ele conseguia pensar era em Yixing, em sua traição e nas motivações para a mesma, que ele ainda não havia encontrado. Teria sido dinheiro? Promessas descabidas? Yixing nunca parecera ligar muito para aquilo e o pensamento que podia não conhecê-lo como julgava pesava em seus ombros como um fantasma. O que havia feito ele mudar tanto?

 

—Yifan, o que vamos fazer com as pessoas que se recusaram a sair? —Foi Luhan, seu parceiro daquela área quem lhe perguntou e ele viu sem saber o que responder.

 

Na tentativa de agilizar o processo de evacuação, os agentes haviam se dividido e unidos à soldados chineses haviam sido enviados a diferentes áreas, para que pudessem potencializar a operação que era de extrema importância para a segurança das pessoas.

 

—Eu não sei... Não podemos obriga-los a saírem de suas casas... —Falou baixinho. Ele já sabia que enfrentariam coisas como aquela, mas sempre se sentia incapaz quando não convencia alguém a se mover. Haviam pessoas que simplesmente não entendiam a gravidade ou preferiam ficar em suas casas pois se sentiam mais seguras dentro delas e por mais que Yifan achasse aquilo loucura, não as censuraria de forma alguma, pois nem ele tinha certeza sobre aquilo tudo.

 

O fato de tudo estar calmo só parecia pior.

Era como se algo fosse acontecer.

 

Não foi preciso esperar muito.

 

Yifan! —Ele nem precisou aproximar o rádio do ouvido para ouvir a voz gritada de Zitao, ficando tenso imediatamente. —Começou! Eles estão aqui! —Yifan praguejou, porque eles não podiam ter esperado mais alguns dias? —E estão armados até os dentes! Bombas, armas e...! —Tiros de metralhadora foram ouvido junto com gritos, desesperando o mais velho.

 

—Zitao! O que está acontecendo!?

 

Bombas...! Tá... Caindo... Tud- —O áudio de Zitao falhava, fazendo barulhos estranhos até que voltasse ao normal. —Yixing não está aqui! Ele deve estar atrás de você, pelo amor de Deus, Yifan, vá embora!

 

Ele jamais iria.

Se Yixing estava vindo atrás de si que assim fosse.

 

—Yifan!! —Luhan gritou e ambos observaram com horror os carros com homens armados chegando, só podendo se jogar no chão antes que a saraivada de tiros fosse ouvida, junto com explosões. Yifan só conseguiu fitar a torre Yueyang e pedir aos céus que ela resistisse a tudo aquilo.

 

Abaixados, Luhan e Yifan ouviam os tiros, sabendo que tinham que se mover ou estariam mortos. Os soldados que trajava armaduras e escudos já avançavam e os dois trocaram um longo olhar antes de assentirem, trocando um rápido abraço antes de checarem suas armas e se prepararem.

 

Aquele podia ser o último.

 

Quando se ergueram de sua proteção improvisada, Yifan e Luhan seguiram direções diferentes, atirando em todo e qualquer homem que estivesse encapuzado de preto ou utilizando algum tipo de turbante. Era matar ou morrer. E a cada novo tiro Yifan se perguntava da onde saíam tantos homens como aqueles, que por vezes traziam bombas enroladas em suas vestes, causando ainda mais destruição. Era o apocalipse.

 

As balas de sua arma começavam a acabar e o Wu viu-se sem opção se não correr para encontrar alguma arma carregada, abandonando a proteção que havia lhe servido de escudo no meio daquela loucura de fumaça, sangue e tiros. Sem pestanejar, jogou-se ao lado do corpo de um soldado morto, pedindo aos céus que recebessem o bravo homem com louvor antes de tomar posse de sua metralhadora e sua pistola, buscando abrigo atrás do resto de uma mureta destruída por um homem bomba.

 

E foi aí que o viu.

 

Zhang Yixing, vestido nas mesmas roupas que os radicais, correndo em direção a um dos prédios que havia sido parcialmente destruído pela primeira explosão. Ele estava tentando assumir a posição de sniper? Aquilo o encheu de uma raiva incontrolável, que rapidamente se converteu em um frenesi. Antes que pudesse parar estava seguindo-o, sequer prestando atenção nos gritos de Luhan que, encurralado sem ter como interceder, lhe gritava desesperado para que não fosse.

 

Sua missão agora era matar Yixing.

 

(...)

 

—YIXING! —Contrariando toda e qualquer recomendação estratégica, gritou, largando o dedo no gatilho com vontade, vendo quando o outro se jogou em um corredor da direita, fugindo dos tiros desgovernados. Yifan não calculava. Sua dor agora convertida em uma raiva quase assassina, fazendo-o querer machucar de verdade aquele que amou e que o traiu. A perfídia havia corrompido seus sentimentos.

 

Yifan perseguia Yixing com ódio, gritando e atirando sempre que possível enquanto o ouvia atirar de volta, se protegendo mesmo que os tiros fossem feitos de forma errática e descoordenada, passando até longe de si. Lá fora a guerra continuava, mas tudo que lhe importava no momento era alcançar Yixing, e acertar as contas.

 

Percorreram o prédio quase inteiro entre tiros, espalhando os cartuchos pelo chão antes que finalmente chegassem a um salão circular, cuja saída havia sido bloqueada por um desmoronamento, parcialmente destruído, Yixing rapidamente se escondendo atrás de uma estátua enquanto Yifan se jogava no chão atrás de uma mesa de mármore escuro, grossa o suficiente para lhe servir de escudo.

 

—Porquê?! —Decidido a conseguir suas respostas, Yifan começou.

 

—Eu pedi que não ficassem no caminho!

 

—Porque, Yixing? —Sua voz subiu um pouco, a adrenalina baixando conforme as lágrimas ameaçavam encher seus olhos.

 

—É preciso! O mundo está quebrado, Yifan! —Yixing gritou, esgueirando-se um pouco para fora de sua proteção.

 

—Porque você fez isso conosco!? Porque traiu todos nós? —A voz do chinês não parava de subir de tom, cada vez mais amargurada e triste.

 

—Eu salvei vocês! Lhes dei uma chance! Vocês podiam escolh-

 

—VOCÊ NOS TRAIU! Traiu a mim! Depois de dizer que me amava! —As lágrimas finalmente escorreram e ele fungou alto, o som de um soluço que não era o seu sendo abafado. .

 

—Eu vou matar você, Yifan! Saia daqui agora!

 

Vamos, Yixing, para o nosso acerto de contas! —Rude e furiosamente, o Wu limpou as lágrimas e saiu de trás da mesa, observando-o de frente pela primeira vez sem saber explicar o que aconteceu com seu coração ao vê-lo. Tão perto e tão longe.

 

Ele tinha os olhos vermelhos?

 

Yixing parecia mais magro e mais cansado e aquilo satisfez o Wu, que levou as mãos até a pistola, preparado para qualquer movimento que o outro fosse tentar. Suas mãos tremiam, mas ele repetia mentalmente que o Zhang não merecia sua piedade e era um inimigo que queria lhe eliminar.

 

Porque então seus lábios formavam um “eu te amo”?

 

"—Amor? Não existe amor! O Yixing só fez aquilo pra manipular o Duizhang!”

 

O ódio diante da atitude vil e baixa queimou com força e o dedo e o apertar do gatilho sequer lhe foi penoso. Zhang Yixing tombou para frente devido a dor em seu joelho atingido e quando o segundo tiro perfurou um pouco abaixo de seu ombro seu corpo apenas caiu para trás, em um baque surdo.

 

Só então Yifan percebeu que ele sequer sacara a arma.

 

Algo não estava certo. E o seu peito apertou dolorosamente quando ele se aproximou do outro caído no chão, vendo que havia um sorriso em seu rosto e uma espécie de placa com chips em suas mãos. O que estava acontecendo?

 

—Eu sabia que você ia conseguir. —Yixing sorriu e tossiu sentindo o gosto férreo em sua boca. A dor era muita mas ele tinha plena certeza que estava feliz. Tudo tinha valido a pena.

 

Todas as suas mentiras fariam finalmente bem a alguém. Yifan e os outros estariam a salvo e por isso ele podia morrer feliz. Pelo seu amor a Yifan e ao seu país.

 

—O que...?

 

—Me encontrar... —A voz dele era baixa, falar doía e Yixing se concentrava ao máximo em manter sua consciência pois sua missão ainda não estava acabada.

 

—Como... Como assim?

 

—Pegue isto. —A mão ensanguentada e trêmula se ergueu, estendo a placa para Yifan, que fitou o objeto com clara confusão nos olhos. —Tudo que coletei... —Mais uma série de tosses que lhe provocaram uma dor imensa, tinha de ser rápido ou desmaiaria antes de contar a verdade. —Nestes meses... Tudo sobre o... sobre o ISIS... Inclusive os dados que apaguei...

 

O mundo do Wu estava girando.

 

Se aquilo era o que ele estava pensando então Yixing...? Então ele nunca havia lhes traído. E ele havia acabado de ferir mortalmente a pessoa que ele mais amava no mundo. E que lhe amava também.

 

A culpa e o desespero lhe acertaram como um tapa e sua pistola foi rapidamente esquecida em um lugar qualquer no chão. O sangue rubro vertida dos ferimentos de Yixing  que, em meio a sua visão já embaçada, acompanhava a dor e a agonia do mais velho sem poder fazer mais que chorar as lágrimas que ele tanto derramara em cada um dos dias em que passara longe do Wu. Doía tanto, vê-lo sofrer!

 

—Você não...! Ah Yixing...! Você não fez isso, Yixing! Porquê? Porque você fez isso? —Os movimentos bruscos de Yifan tentando estancar o sangramento lhe machucavam ainda mais, mas todo o foco de Yixing estava nas lágrimas que escorriam pelo rosto bonito, que ele tentou limpar, a mão indo em direção as bochechas alheias de forma morosa, o movimento dos dedos contra a pele lisinha do Wu quase sútil demais para se notar.

 

—Era nossa... Única chance... —Gemeu de dor quando o aperto em seu peito aumentou, a mão que antes estava no ar caindo ao lado do corpo devido a pontada que tomou conta de seu corpo.

 

—Porque não me disse?! Eu sou seu parceiro! —Zhang sorriu então um sorriso muito triste, de alguém que sabe que vai fazer uma confissão dolorosa. Como ele explicaria a Yifan que o amava demais para colocá-lo em risco? Que era egoísta o suficiente para não suportar vê-lo ferido embora soubesse que faria o outro sofrer quando tudo estivesse acabado?

 

—N-Não... Não podia arris-riscar perder você... —Soluçou baixinho. Yifan estava sofrendo tanto! Queria tanto poder lhe dar um abraço e dizer que tudo ficaria bem. Mas ele não acreditava nisso. Sabia que cada nova gota vermelha que pingava sobre o chão era mais um grão de areia de sua ampulheta que caía para o outro lado. —Eu te amo demais... Demais... Se descobrissem...

 

Quando levou a ideia aos seus superiores, completamente sozinho, Yixing sabia que estava se candidatando para uma missão suicida, mas sabia que era assim que tinha que ser. Trabalhando como agente duplo, não poderia comprometer nenhum de seus amigos ou Yifan, pois sabia que os integrantes do movimento radical não teriam pena de usá-los contra si caso algo desse errado. Se tivesse que pagar por algum deslize, que pagasse sozinho, aguentando o peso em seu próprio corpo, sem ferir mais ninguém. Não suportaria saber que nenhum membro de seu esquadrão estava sendo torturado e morreria se usassem Yifan como moeda de barganha. Não podia.

 

Para conseguir a confiança dos líderes do ISIS devia fornecer informações e mostrar antipatia para com os colegas, e jamais, sob hipótese nenhuma deveria ser visto tendo alguma relação amorosa com Yifan, motivo pelo qual refreara a confissão que a todo instante queria sair de seus lábios, só sendo libertada no último instante antes que seu espetáculo se encaminhasse para o grand finale em que ele era o vilão. Mais um de seus inúmeros personagens. Mas o que mais doera interpretar.

 

Arquitetando sozinho, fora de Yixing a ideia de colocar um falso informante nos aeroportos e um falso Wei Shen no encontro que tiveram, alegando que aquela era a melhor forma de conseguir uma brecha para apagar as informações que haviam obtido todo aquele tempo. Estava arriscando muito, mas sabia que aquilo lhe daria a confiança que precisava para entrar mais e mais no sistema e então conseguir todas as armas e diretrizes que eles precisavam para destruir aquele mal tão grande.

 

Com a confiança ganha, não fora difícil convencê-los a bombardearem Changsha, cidade que ele conhecia como se fosse a palma de sua mão, sob a justificativa do local ser impuro e precisar ser limpo pelos cavaleiros do apocalipse. Yixing sabia que Yifan ia tentar fazer algo e por isso fizera questão de ir pessoalmente ao local, fazendo-os acreditar que ajudaria com o bombardeio e o caos. Não fora difícil sumir no meio da confusão e atrair Yifan, atirando apenas para trazê-lo até um lugar propicio a entrega, que já havia sido feita. O Zhang sabia que o Wu deveria matá-lo, do contrário a reputação do esquadrão Violet seria arruinada e todos seriam prejudicados, mesmo que suas intenções fossem as melhores quando começou com tudo aquilo, sofrendo a cada novo ato de violência que era feito contra seu povo, o qual ele teve que abandonar para salvar. Muitos poderiam dizer que os fins justificavam os meios, mas Yixing sabia que não era exatamente assim. Não podia voltar.

 

Não mais podia existir.

 

Aos olhos dos outros, morreria como traidor, mas se Yifan sabia a verdade ele não poderia pedir por mais, mesmo que tudo que quisesse naquele momento fosse mais tempo, para viver o amor que havia se obrigado a interromper. Era injusto, mas ele esperava que tivesse feito o certo. Do contrário jamais se perdoaria por ter infligido tanto sofrimento ao outro desnecessariamente.

 

—Aguente firme... Não feche os olhos, por favor...! —Yifan lhe implorou quando Yixing fechou os olhos lentamente, incapaz de mantê-los abertos. Ao menos ele não podia ver nenhuma luz. —Eu vou te tirar dessa! Eu amo você! Eu amo tanto você! —Abraçou-o com sofreguidão, murmurando as palavras mais doces e os mais diversos pedidos de perdão.

 

Como pudera não acreditar nele?

 

—Me perdoe...

 

—Yixing! Por favor! Não durma! Eu perdoo você, mas por favor não me deixe!

 

—Obrigado, Fanfan. Por me amar tanto assim. —Yixing sorriu uma última vez, profundamente agradecido por poder sentir, no final de tudo o amor de Yifan que ele achou que havia perdido.

 

Havia finalmente paz em seu coração.

 

"—Nós fazemos a melhor dupla, Fanfan, não podiam nos separar!

 

—É sério que vou ter que te aturar, Yixing?

 

—Ah, para com isso, eu sei que você me ama!”

 

(...)

 

 “Hoje nos despedimos de Zhang Yixing, o filho, amigo e soldado que morreu honrando sua nação, em uma demonstração de seu caráter e de sua coragem ao cumprir sua missão. Descanse em paz, amado Yixing.”

 

As palavras ditas no enterro discreto, feito praticamente às escondidas, ficariam guardadas em cada um dos Violet, os únicos que sabiam toda a verdade sobre Zhang Yixing, o chinês que havia traído sua pátria apenas para que pudesse salvá-la. Uma rosa branca seria depositada por Yifan em sua lápide, na lembrança de algo que o próprio Zhang havia lhe ensinado.

 

“—Rosas brancas também podem significar honra e respeito, por isso são minhas flores favoritas”

 

 

Zhang Yixing.

Amado filho, amigo e soldado.

1991 – 2022


Notas Finais


Espero que vocês tenham gostado e venho dizer que EXISTE a possibilidade de eu fazer um final alternativo porque eu sou coração mole, mas ele só será postado após o término do concurso e se o feedback que eu tiver for direcionado a ele (ou não, depende da minha lua hahah)

Muito obrigada a você que leu <3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...