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História Missão A Dois - Capítulo 22 - Tempo


Escrita por: sarahcolins

Capítulo 23 - Capítulo 22 - Tempo


Pela primeira vez em muitos dias eu acordei me sentindo bem. Minha mente estava tranquila e meu corpo até parecia mais leve. A temperatura estava agradável devido ao climatizador que havia no quarto. Mesmo tendo despertado eu não sentia nenhuma vontade de levantar da cama. Pelo menos até eu esticar o braço e não encontrar Percy deitado ao meu lado. Imediatamente comecei a ficar preocupada. Será que ele havia se arrependido do que aconteceu? Será que havia ido embora no meio da noite? Me virei para olhar o relógio que havia no criado mudo. Já passava do meio dia! Eu havia dormido demais!

Agitada, me levantei no mesmo instante e peguei um roupão de seda que havia a lado da cama. Para meu alivio, encontrei Percy na pequena varanda que havia no quarto. Estávamos no terceiro andar do prédio e havia uma bela vista de um parque dali. Abri a porta de vidro e sai para aquela manhã fria e nublada. Percy estava sentado em uma das espreguiçadeiras do lado de uma mesa, onde havia um lata de refrigerante que ele provavelmente pegara no frigobar do quarto. Sua expressão era séria e pensativa. Ele encarava o horizonte e pareceu só se dar conta da minha presença quando eu o chamei.

– Está muito frio aqui fora, porque você não entra? - falei de forma mansa, apenas dando uma sugestão.

– Vou daqui a pouco - respondeu Percy de forma fria e eu soube no mesmo instante que aquele muro de gelo havia voltado a se instalar entre nós.

– Está bem - respondi e depois voltei a entrar no quarto.

Minha vontade era de ter perguntado o que havia com ele. Por que estava se comportando assim de novo. Mas não queria começar nenhuma discussão no momento. E no fundo eu até já sabia o que estava acontecendo. Percy continuava magoado comigo. E só porque passamos aquela noite juntos não quer dizer que o problema estava resolvido. Ainda não tínhamos nem tentado conversar para acertar as coisas. Só o que aconteceu foi uma trégua para saciar a nossa vontade de estarmos juntos. Eu não queria ter tido que fazer aquilo, mas era a única maneira que encontrei de me reaproximar e Percy. Não sei se isso realmente ajudaria a consertar as coisas, mas pelo menos eu havia tentado.

Se passaram alguns minutos e Percy continuava lá fora. Eu pensei em ir chamá-lo de novo, afinal logo acabaria o tempo de estadia que eu havia pago. Mas resolvi não perturbá-lo, se fosse preciso eu pagaria mais uma diária. Peguei minha bolsa e levei para o banheiro a fim de tomar um banho e me recompor. Depois daquela noite intensa de paixão, era tudo o que eu precisava. Quando terminei coloquei outro roupão, dessa vez um mais grosso e comprido de banho, e uma toalha na cabeça. Sai para o quarto e dei de cara com Percy parado ao lado da cama. Só agora eu reparei que ele já havia tomado banho e se trocado. Certamente levantou muito antes de mim. Fui até ele e o abracei pelas costas, passando a mão sobre sua barriga.

– Annie - resmungou Percy ao tirar minhas mãos de onde estavam e se desvencilhar do meu abraço - por favor não...

– Por favor não, o que? - perguntei sem entender.

– Não faça isso - explicou ele se virando para me encarar - Não tente me seduzir de novo. Isso não é justo, você sabe que eu não resisto a você...

– Percy, eu não estou “tentando te seduzir” - me defendi. Eu talvez fosse culpada pela nossa briga, mas tinha que me dar ao menos o direito de ficar ofendida com o que ele dissera.

– Não, é? Me trazendo pra um lugar desses e falando que eu podia fazer o que quisesse com você? Se isso não for seduzir eu não sei mais o que é... - olhando por esse angulo, talvez ele tivesse razão, mas ainda não entendia o que tinha de mal naquilo.

– Até onde eu sei você é meu namorado. Nós já seduzimos um ao outro várias vezes! Fazemos isso todos os dias praticamente, ou pelo menos costumávamos fazer...

– Exatamente, costumávamos. Até você começar a dar bola para caras que dão em cima de você na faculdade - me acusou ele de forma cruel. Eu sabia que merecia aquilo, mas não podia deixar de me sentir irritada com ele por jogar tudo na minha cara daquela maneira.

– Você está exagerado, Percy - tentei me acalmar enquanto continuava a argumentar - Eu já pedi desculpas e disse que estou arrependida. O que mais quer que eu faça?

– Quero que pare de tentar mexer com a minha cabeça. Mais uma noite dessas e eu sou capaz de esquecer até o meu sobrenome. E não é assim que deve ser... Eu tenho que me lembrar do que você fez, de como me senti, para saber se posso voltar a confiar em você algum dia...

– Acho que também devia se perguntar se eu posso confiar em você, Percy - sabia que estava pisando em terreno perigoso. Sabia que não tinha prova nenhuma contra ele, mas não estava aguentando. Tinha que confrontá-lo com aquilo naquele momento, tinha que ter pelo menos algo ao meu favor.

– Do que você está falando? Eu sempre fui honesto com você, sobre tudo! - afirmou ele convicto.

– É mesmo? Então vai negar que você compartilha um segredo com a sua “colega de trabalho”, Emily? - fui bem direta. Não estava nem ai de entregar a mim mesma com aquela revelação.

– Você estava ouvindo minha conversa! - disse ele parecendo indignado e irritado.

– Isso não importa. Sei que está escondendo algo de mim e que tem a ver com aquela garota esquisita... - me exaltei e acabei falando até mais do que gostaria.

– Não fale assim, você nem a conhece direito!

– Mas pelo jeito você a conhece muito bem né? - se era para jogar as coisas na cara, então não ia ficar atrás. Sabia que estava exagerando, mas deixei o ciúmes e a raiva me dominarem.

– Nós somos apenas amigos. E ela não te fez nada para você falar assim dela.

– Ahhh não? É porque você não viu como ela ficou me medindo e perguntando um monte de coisas sobre minha vida na hora que você nos deixou sozinhas lá no posto. Totalmente inconveniente.

– Annabeth, não é nada disso. Você está fazendo um julgamento errado. Talvez o comportamento dela não tenha parecido comum por que ela é lésbica.

– O que? - aquilo foi um choque tremendo, jamais imaginaria que Emily gostasse de garotas, se bem que pensando agora, as atitudes dela realmente davam para causar suspeitas. Me senti uma completa ignorante e preconceituosa.

– É isso mesmo - confirmou Percy parecendo pensar o mesmo que eu sobre mim - E quanto ao segredo, não se preocupe. Emily estava apenas me ajudando a reformar um carro que estava largado lá na oficina. Eu ia trocar as peças e deixá-lo como novo e então pegá-lo para nós. Mas agora eu estou pensando seriamente em desistir da ideia...

Percy então deu meia volta e pegou sua mochila. Ele caminhou a passos rápidos em direção a porta com a intensão de sair. Eu fui em sua direção para tentar impedi-lo, mas ele conseguiu alcançar a porta. Gritei seu nome e o persegui pelo corredor do motel até me dar conta de que ainda estava de roupão. Não tive alternativa se não voltar para o quarto deixando Percy escapar. Tratei de secar o cabelo e me vestir rapidamente para poder ir atrás dele. Não podia deixar as coisas daquele jeito! Percy havia ficado ainda mais furioso comigo por causa da história da Emily. Se tudo o que ele disse fosse mesmo verdade, eu realmente tinha pisado na bola outra vez. E agora para tentar acertar as coisas seria ainda mais difícil.

***

A rua estava bem movimentada quando eu me aproximei do quarteirão onde morávamos a bordo de um taxi. Não havia conseguido deixar o motel a tempo de conseguir seguir Percy. Eu imaginava que ele havia ido para casa, então era pra lá que eu estava indo. Antes de chegar ao portão, porém, avistei Percy na calçada, andando na mesma direção que o taxi seguia. Como havia muito transito naquele horário resolvi descer ali mesmo e ir atrás dele a pé. Paguei o motorista e saltei para o asfalto. Quase fui atropelada por uma moto ao cruzar a avenida para chegar a calçada. Percy estava a cerca de cinquenta metros a minha frente. Fui andando depressa por entre as pessoas para não perdê-lo de vista. Xinguei em grego antigo quando ele virou a direita na esquina seguinte. Tive que correr para conseguir acompanha-lo.

Aparentemente Percy andava de forma tranquila pela rua. Parecia estar sem destino. Provavelmente ela já estivera em casa e agora saíra para refrescar as ideias. Ou então para não correr o risco de eu encontrá-lo. Pensar naquilo me doía muito. Saber que Percy não estava querendo me ver nem falar comigo era angustiante. E eu não tinha nem como me dar ao luxo de ficar brava por isso. Ele tinha razão em não querer ficar perto de mim depois do que eu fizera e do que eu dissera. Continuei seguindo-o de longe, enquanto decidia se devia ou não ir falar com ele. Talvez fosse melhor deixar a poeira baixar. Ou talvez não. Ele precisava de um tempo para refletir sobre as coisas, talvez isso o fizesse se lembrar de que nossa relação ainda valia a pena. Ou talvez isso só servisse para lhe mostrar que está muito melhor sem mim. Não, eu não podia deixar isso acontecer!

Corri na direção de Percy para alcança-lo. Quando me aproximei ele estava parado, olhando para o alto, com o rosto pálido, parecendo ter visto um fantasma. Parei ao seu lado e recuperei o fôlego. Mesmo eu estando bem do lado dele, Percy não parecia me notar ali. O mais engraçado é que ele não parecia estar fazendo isso de propósito, era como se ele realmente não pudesse me ver. Me senti frustrada com aquilo, mas comecei a falar com ele do mesmo jeito.

– Percy, precisamos conversar - disse num tom alto o bastante para ele e mais todos que estivessem em volta escutarem. Não obtive nenhuma resposta, então continuei - Nós precisamos conversar, ok? Temos que acertar as coisas de uma vez. Eu confesso que não foi legal te seduzir daquela forma para fazer você me perdoar. Você tem razão, temos é que discutir até resolver os nossos problemas. Sei que te devo muitas explicações...

Falei sem parar e quase nem percebi que Percy continuava sem me dar atenção. Ele nem sequer havia virado para me olhar. Continuava com a mesma cara de espanto, olhando para o mesmo lugar sem nem piscar direito. Aquilo estava muito estranho. Tentei tocar seu ombro e sacudi-lo mas não adiantou.

– Percy, o que há de errado com você - perguntei enquanto virava o rosto para acompanhar o seu olhar.

Foi então que eu vi e entendi o porquê daquela reação. Percy encarava um imenso outdoor com a foto de uma modelo loira em uma propaganda de uma famosa marca de roupas. Em outras circunstâncias aquele cena não teria sido nada de mais. Só que a modelo na foto era eu. Se já não estivesse quase tendo um ataque por Percy estar vendo aquilo eu acho que me sentiria desconfortável ao ver minha foto em um lugar de tanto destaque no centro de Nova York. Então foi a minha vez de ficar parada, perplexa encarando a foto. Até que eu tomei coragem e olhei para Percy, que só agora parecia ter saído de seu transe. Ele estava agora sem expressão alguma no rosto, apenas me olhou como se não me reconhecesse.

– Por que sua foto está em um outdoor? - sua voz soava como a de uma criança inocente que tenta encontrar explicação para algo que aparentemente não lhe fazia sentido algum. Eu respirei fundo e tentei não gaguejar ao explicar.

– Percy, sei que você não queria que eu fizesse isso, mas...

– Alguém deve ter tirado uma foto sua sem você saber, só pode ter sido isso! - continuou Percy me interrompendo. Ele não queria ouvir nenhuma explicação. Estava visivelmente em estado de negação. Não queria acreditar que eu havia mentido pra ele, de novo - O engraçado é que você estava mesmo usando uma roupa dessa marca. E parece até que estava posando para a câmera. Que sorte eles tiveram...

– Percy, pare. Só me escute, ok? Eu fiz mesmo essas fotos. Eu assinei um contrato com a agência de modelos. Mas eu só fiz isso por que estávamos realmente precisando do dinheiro...

– Não - respondeu ele de forma calma e séria - Não, não pode ser. Você sabia o que eu pensava a respeito, não faria uma coisa dessas comigo - e ao ir dizendo aquelas palavras Percy pareceu se dar conta do quanto elas soavam ridículas diante dos fatos. Ele balançou a cabeça e foi caminhando de costas para longe de mim.

– Percy, por favor, não se afaste de novo. Nós temos que conversar... - Não tenho certeza se ele ouviu o que falei por último, porque logo se virou e saiu correndo - Percy! Volte aqui!

Não tive remédio senão correr atrás dele. Obviamente saí em desvantagem nessa. Percy corria muito mais rápido que eu. E ele parecia estar tão descontrolado que nem se importava com os carros buzinando enquanto ele atravessava a rua movimentada sem esperar o sinal fechar. Fui mais cautelosa ao segui-lo, mas corri o mais rápido que pude pelas calçadas. Fiquei mais tranquila quando vi que ele ia em direção ao nosso apartamento. Diminui o ritmo da corrida quando Percy enfim entrou pela portaria do prédio. O que ele iria fazer? Eu não fazia ideia, só sabia que iria atrás dele até o fim do mundo para que ele me ouvisse e me perdoasse.

Eu ainda não tinha conseguido processar o que acabara de acontecer. Só sabia que eu era com certeza a semideusa mais azarada do mundo! E com certeza também era a filha de Atena mais estúpida que já existiu! Eu devia ter imaginado que cedo ou tarde Percy acabaria descobrindo minhas mentiras. Achei que tinha tudo sob controle, que ele jamais desconfiaria. Mas me enganei vergonhosamente. Ele havia descoberto tudo e da pior forma possível. Não queria nem pensar no que estava se passando em sua cabeça naquele momento. Certamente estava pensando o pior de mim, e com razão. Aquele dia que havia começado lindo, deu um giro de 180 graus e se tornara o meu pior pesadelo. Estava prestes a perder Percy e não sabia o que fazer. Senti um nó na garganta ao pensar naquilo.

Logo as portas do elevador se abriram e eu estava no sétimo andar. Ainda completamente confusa e atordoada, mas decidida a reverter a situação. Quando entrei no apartamento, fui diretamente procurá-lo no quarto que estava com a porta entreaberta. A cena que eu vi fez com que o pouco de sanidade e autocontrole que restavam em mim, desaparecessem. Percy estava arrumando uma mala grande, colocando lá praticamente tudo que havia de seu dentro do armário. Tive que me segurar no batente da porta para não cair, pois minhas pernas fraquejaram. Ele estava indo embora. Estava me deixando. Aquilo era algo com o que eu não sabia lidar. Jamais pensei que teria que lidar com aquilo, aliás. Sempre acreditei que Percy e eu ficaríamos juntos para sempre, sem nos separar por um dia sequer.

– O que está fazendo? - perguntei com a voz chorosa, mesmo que a cena fosse óbvia, eu não queria me obrigar a acreditar.

Percy apenas levantou o olhar pra mim por um breve momento. Só o que aqueles olhos verdes me transmitiram foi um profundo ódio e desprezo, o que me fez ficar ainda mais devastada. Sem dizer palavra alguma ele voltou a colocar as coisas dentro da mala, dessa vez com mais violência, sem se dar ao trabalho de me responder. Tive que tirar forças não sei de onde para voltar a falar.

– Você não pode ir embora. Não pode me deixar assim! - tentei ser firme. Queria mostrar que também estava zangada com ele. Mas só o que consegui colocar em minha voz era a minha profunda tristeza e arrependimento. Percy não me deu atenção nem parou de fazer a mala, então eu fui até ele. Peguei as coisas que estavam em suas mãos e as joguei de lado, depois segurei seu rosto e o forcei a olhar para mim - Sei que ainda me ama, sei que pode me perdoar. Sei que eu errei feio, que não devia ter mentido pra você, sobre nada. Só estou pedindo que reconsidere, que me dê uma segunda chance...

– Sim, eu te amo - respondeu Percy já sem o ódio de antes, mas com uma profunda melancolia nos olhos - Mas não quero te ver, te ouvir, não quero estar com você. Não agora. Só o que sei é que preciso de um tempo, preciso sair daqui... Me desculpe.

E com isso ele me deixou sem palavras. Não consegui responder. Não consegui nem reagir. Só senti ele tirando minhas mãos de seu rosto e se afastando. Fiquei apática ao vê-lo pegar a mala e sair do quarto. Não fui atrás dele. Não tinha forças nem pra me manter de pé, então desabei em cima da cama. Fiquei mirando o teto até perder a noção do tempo. Não conseguia nem chorar, tamanho o choque que eu havia sofrido. Só era consciente da dor aguda que sentia no peito. Percy tinha ido embora. Eu estava sozinha. Sozinha. Eu provavelmente enlouqueceria. Se é que já não estava enlouquecendo.

O barulho do interfone veio para me tirar do transe. Por um milésimo de segundo tive a esperança de que pudesse ser Percy voltando. Mas obviamente ele não teria que interfonar para isso. Me obriguei a sair do estado de estupor em que me encontrava, levantar e ir atender. Quando o porteiro me disse quem era eu estranhei. Será que era verdade? Em outra ocasião eu teria descido para verificar. Mas como eu já me sentia no fundo do posso, não havia mais nada de mal que pudesse me acontecer. Não havia mais o que temer. Eu com certeza não podia ficar pior do que estava. Quando a campainha tocou e eu fui atender a porta, vi que era mesmo a pessoa que o porteiro havia falado.

– Oi Annabeth! Será que vocês tem abrigo para uma semideusa sem teto?

– Parece que escolheu a hora certa para aparecer, Thalia. Acabo de vagar um lugar na cama...



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