Ponto de vista de Mabel Inving
Com rapidez adentrei o quarto e fechei a porta logo atrás de mim, e para garantir, tranquei-a. Estava ansiosa e sorri ao vê-lo ali dentro do banheiro, ainda se recuperando da situação passada.
- Tenho novidades... – apoie-me no batente do banheiro e ele me olhou. – Eu acabei de mentir para os meus pais.
- E desde quando isso é uma novidade?! – ele tentou expressar algo, mas não conseguiu porque a dor o atingiu.
Pressionei os lábios e o observei sem saber o que fazer. Ele tentou forçar um sorriso, mas estava estampado em seu rosto que suas condições que não permitiam tão ação. O mesmo estava tão pálido e sem vida que poderia apostar que ele não passaria de hoje.
- Eu disse que minha amiga estaria vindo até a casa da sua vó e que ela havia me convidado. – disse esperançosa. – Convenci de eles me deixarem ir. E adivinha?
- Eles deixaram? – ele sussurrou sem me olhar.
- Sim. – sorri. – Isso significa que teremos o final de semana para ir atrás da sua garota.
Ele rapidamente levou o olhar e a surpreendeu com um grande sorriso.
- Até o próximo final de semana, eu acredito que esteja recuperado. - e por um momento não soube para onde olhar até que as palavras me tomaram novamente. – Eu trouxe roupas... – afastei do batente e fui até minha cama para pegar as roupas. Ao entrar no banheiro, as deixei sobre a pia. – São do meu irmão. – ele me olhou. – Dylan está estudando na América do Sul.
- Eu sei... – ele murmurou. – Obrigada pelas roupas. – ele se levantou com dificuldade e me encarou por eu também está o encarando. E logo fiquei sem jeito quando percebi que ele queria privacidade.
- Ah... Bom... Você pode tomar banho. – analisei seu corpo sujo por alguns segundos. – Tenho toalhas aqui no armário do banheiro. – indiquei com o dedo sem olha-lo. – E o resto é com você. – e sem dizer mais nada, retire-me apressadamente de dentro do banheiro e fechei a porta atrás de mim.
Fechei os olhos enquanto meu corpo ainda estava encostado na porta e as únicas coisas que passavam na minha mente era como eu estava doida por ajudar alguém que eu nem sabia o nome e como esse alguém sem nome era completamente gostoso.
Não havia nada em seu corpo e rosto que passassem despercebidos. O rosto, provavelmente, era macio e brilhava muito. O cabelo era loiro escuro e digamos um pouco grande. E seu corpo? Santo Deus! Esse garoto realmente vinha do céu. Mesmo que ainda estivesse completamente sujo dava para ver que ele era bem musculoso. Alguns garotos assim na minha cidade e escola é certo que façam muito sucesso entre todos.
Quando voltei a minha realidade, caminhei pelo quarto e tratei de arruma-lo. As roupas sujas que estavam jogadas no chão perto do closet, imediatamente foram para o cesto. Em seguida, arrumei a cama que estava totalmente revirada. E antes mesmo que ele finalmente saísse, sentei-me na cama, levando um livro qualquer para distrai-me. Ele não poderia sair do banheiro e me ver olhando para a porta com algum olhar de psicopata.
Abri o livro no meio e reparei que lia Orgulho e Preconceito. Sorri ao surpreender-me com tal escolha. Mas um ruído de porta se intrometeu na minha leitura forçada e por não conseguir prender-me ao livro, elevei meu olhar e avistei-o. E sem saber o que fazer, fiquei em pé, deixando o livro de lado. E de imediato sentir minhas bochechas queimarem ao percebe o que havia feito.
Levei alguns segundos para voltar à realidade. Para desviar do seu olhar, olhei ao meu redor e afastei-me da cama.
- Quer se deitar? – a pergunta saiu da minha boca quase como um sussurro. – ele me olhou indiferente. – Você precisa descansar. – continuei sussurrando e isso o fez ceder.
- Pode me ajudar? – ele perguntou com insegurança.
Eu fiquei um bom tempo paralisada por não saber o que fazer, mas logo percebi que deveria ajuda-lo. Caminhei até e ele apoio o seu braço ao redor do meu pescoço. Eu o pude ajuda-lo, é claro, fazendo muita força porque ele pesava mais e eu quase não conseguia me manter em pé.
Ao se aproximamos da cama, o sentei e me afastei. Ele olhou ao seu redor e avistou o livro que eu havia deixado ali, o mesmo pegou e leu o titulo.
- Jane Austen fez muito sucesso... – sussurrou.
- Como sabe? – perguntei surpresa.
- Eu sei porque eu presenciei o seu primeiro lançamento. – ele sorriu de lado. – Comprei Razão e Sensibilidade para a minha noiva.
- O quê? – estava ainda mais surpresa com sua confissão. – Você é do século 19? Como assim?! Pensei que anjos nunca tivessem sido... – ele me interrompeu.
- Humano? – ele soltou um sorriso de lado. – Eu nasci, vivi e morri.
- Morreu com quantos anos? – olhei para trás e tive certeza que minha cadeira ainda estava lá, então me sentei e voltei a minha atenção para ele.
- 20 anos. – ele disse serio.
Ao perguntar aquilo pude sentir a tensão entre nós. Não era da minha conta saber o que aconteceu com ele. Era visível em seu rosto que a dor que aquilo lhe causava era para permanecer para si mesmo. Então apenas o observei, sem dizer mais nada. – Mesmo que quisesse muito saber sobre tudo.
- Quer saber como? – perguntou calmo e eu o olhei por um tempo, mas finalmente concordei. – Faltavam algumas semanas para o meu casamento com a jovem Georgina Thompson. Ela receberia um dote de cinco mil e minha renda era de dez mil libras... – o interrompi.
- Você é do Reino Unido? – ele concordou e prosseguiu.
- Tudo parecia ir à perfeita harmonia até uma tarde... – ele suspirou. – Eu estava voltando de Londres e encontrei a casa em chamas. Alguns empregados estavam do lado de fora, mas nenhum deles foram capazes de responder se minha família estava lá. E em total desespero, eu adentrei na casa... – pude perceber os seus olhos marejados. – Era para eu ter sobrevivido, mas eu queria ter certeza que minha família estava vida.
- Você não precisa prosseguir. – disse ao perceber sua situação.
- Não, está tudo bem. – ele lambeu os lábios e continuou. – A estrutura da casa estava frágil demais e infelizmente... – o interrompi, sentia que estava preste a chorar.
- É serio você não precisa continuar.
- Eu morri. – ele sussurrou deixando as lágrimas rolarem em seu rosto. – E quando percebi, já estava com asas. E foi quando descobri que minha família, na verdade, não estava em casa naquela tarde. – ele disse rápido demais.
- Sinto muito. – sussurrei.
- Eu virei um anjo porque morri sendo uma pessoa boa. Toda alma quando sai do corpo por ter morrido enquanto fazia uma bondade, acaba virando isso. Não é uma escolha... – ele disse. – E o fogo não foi acidental. – ele se controlou antes de continuar. – Georgina estava tendo um caso com um velho conhecido meu, o Sr. Braga. Os dois tinham a intensão de ficarem juntos, mas o meu casamento com ela estava atrapalhando. Ou seja, eles resolveram colocar fogo na casa para que eu pudesse morrer.
- Deus... – disse indignada. – Eu realmente sinto muito! – neguei com a cabeça ainda não acreditando. – Desculpe pelas palavras que vou usar, mas essa mulher é uma vadia.
Ele tentou disfarçar um sorriso.
- Bom, você conhece toda minha vida e agora eu também sei da sua. – lábio os lábios. – Agora ambos precisam se apresentar, algo que ainda não fizemos. – sorri gentilmente.
- Eu havia esquecido desse pequeno detalhe. – ele disse.
- Qual é o seu nome?
- Justin. – ele disse com calma.
- Apenas Justin? – perguntei.
- Agora é apenas esse. – sua voz soou feliz.
- E o meu é... – ele me interrompeu.
- Mabel. – ele respondeu no meu lugar e eu sorri.
- Você é realmente um anjo! – sorri então me levantei da cadeira. – Acho que você precisa descansar um pouco, mas tarde conversaremos sobre nossa pequena viagem... – caminhei até a porta. – Não se preocupe, deixarei ela trancada para que meus pais não venham até aqui e te vejam. – ele concordou. – Foi um prazer conhece-lo. – sorri antes de sair do quarto e o deixa-lo.
Continua...
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