Kyara sentia-se enjoada a partir do momento que abriu os olhos, como se estivesse num barco. Ela sentou-se rapidamente numa cama reta e dura. Ela podia sentir o balanço do quarto, olhou para seu braço que estava todo enfaixado onde a flecha tinha acertado, e por um leve momento se sentiu segura. Ela estava num navio. Ela andou até a pequena porta de madeira e se deparou com um convés cheio de pessoas. Olhou para suas roupas e estava usando um vestido largo branco.
O ar marítimo logo tomou parte de seus pulmões. Era um ar limpo em comparação a qualquer um que sentiu em toda sua vida, agora era se lembrava. Ela andou pelo convés que tinha uma névoa que dificultava a visão do horizonte. Kyara analisou as pessoas daquele navio e eles pareciam estar...limpas?
As pessoas que estavam naquele navio puxando corda, ou andando pelo convés transmitiam um ar de limpeza. Os homens usavam túnicas brancas e as mulheres o mesmo modelo de vestido largo que Kyara, todos estava usando branco. O vento era delicadamente forte, mesmo assim, Kyara podia sentir os cabelos ruivos que estavam um pouco ondulados moverem com o vento.
- Vejo que está adorando a visão – disse uma voz atrás de Kyara, uma voz masculina que trazia calma.
Kyara se virou para olhar quem era o dono da voz.
Era um homem alto de rosto rígido. Os lábios eram cortados do lado esquerdo por uma linha branca, uma cicatriz apagada. Seus olhos eram num tom verde musgo que trazia mais medo a quem visse, a pele de seu rosto parecia ser seca como um tronco de árvore, Kyara concluiu que a idade já devia estar chegando, pois era possível ver fios brancos nos cabelos castanhos com avelã.
- Quem é você? – perguntou Kyara com o susto.
- Sou Phablo Ikasleen – apresentou-se para Kyara com um sorriso amistoso -, sou capitão do Veléria, o navio dos mortos. E quem é você?
- Sou Kyara Ignis – falou Kyara. – Sabe quem me trouxe para cá?
- Eu mesmo a trouxe – explicou Phablo – Você estava ferida na saída de uma caverna muito escura, estava fazendo lá minha jovem?
- Eu... – Kyara levou um choque ao lembrar do que tinha visto. Ela não queria falar sobre aquilo, foi algo muito traumatizante. – Vi algo que não foi muito bom.
Phablo abaixou a cabeça e disse:
- Eu entendo – disse ele para ela. – Não vou forçar você a contar nada que não queira.
- Tudo bem – disse Kyara com um sorriso. – Mas você pode me levar de volta para Alturas? É que eu preciso acertas algumas coisas – disse lembrando-se de Isabela atirando aquela flecha.
- Creio que não será possível nesse momento – explicou Phablo. Kyara notou que seus olhos alternavam nos tons de verdes. Kyara ficou desanimada isso era nítido em seu rosto. – Mas não quero dizer que não posso levá-la.
- Como assim?
- Para chegar novamente temos fazer a volta completa pelo Ciclo Temporal – disse Kyara. Não sabia nada sobre Ciclo Temporal, ou algo semelhante, mas não encontrou nada. Mesmo assim perguntou para Phablo o que seria. – O Ciclo Temporal ou Linha de Luz é um caminho onde as pessoas podem viajar entre as dimensões. E o Veléria faz uma volta completa por elas.
- Então temos que dar uma volta completa por essa Linha de Luz? – perguntou Kyara.
- Sim, os mortos precisam recolher outros mortos em todas as dimensões – falou Phablo como se tivesse costume. Isso causou um pouco de espanto em Kyara.
Kyara ouviu bem o que Phablo falou. Os mortos precisam recolher outros mortos, sua cabeça pensou em muitas coisas e começou a entrar em pânico isso estava nítido em seu rosto. Ela viu que isso causou um olhar preocupado em Phablo.
- O que são essas pessoas que estão aqui? – disse Kyara. Ela tinha quase certeza de que seus pensamentos estavam corretos. – Phablo, o que vocês são?
- Eu sinto muito, Kyara – ele disse com os olhos cheios de pena.
Kyara começou a respirar ofegante. Os olhos de Kyara se encheram de lágrimas que escorreram de seus olhos vermelhas escarlate. Todo seu corpo começou a tremer sem parar, todos os seus sentidos estavam parando. Phablo parecia estar compartilhando a mesma dor que Kyara, como se ele já tivesse se sentido assim.
Quando olhou para a tripulação, foi como uma nevoa sumindo. De um navio de madeira limpa, com pessoas usando roupas brancas, mudou para algo horrendo e terrível de se ver. As pessoas se tornaram criaturas de pele seca e sem vida vestindo armaduras de ferro, outras de cobre. Alguns tinham chifres que davam voltas em suas cabeças. Os olhos de cauda deles eram uma pura escuridão de trevas e medo, alguns eram chamas puras.
- Somo os Coletores da Morte – explicou Phablo para Kyara que já tinha parado de chorar -, viajamos pelos mundos para que os mortos possam peregrinar conosco.
Kyara sabia que estava naquele navio por uma razão. Ela tinha perdido as lembranças de um amor – que não sabia se aquele era seu amor mesmo. Ela viveu algo tão intenso com pessoas que quiseram ajudá-la, mas isso levou sua morte precoce. Ela tinha alguns pontos que ainda tinha que entender: como seu nome escrito naquele buraco na parede, aquelas pessoas deitadas como estivessem dormindo, o motivo pelo qual ela tinha morrer como dizia a Lenda. Ela tinha muitas questões para serem respondidas.
Os Coletores da Morte poderiam ajudá-la a encontrar essas respostas, talvez estas respostas estariam em outros mundos e não no que viveu por milhares de anos. O tempo que passou desde o ultimo Ato não conseguiu descobrir nada sobre si mesma, tomar um decisão que faria bem para si mesma e não para os outros. Ela queria respostar e a encontrou na morte, a morte as trouxe para Kyara.
E ela ia permanece na morte.
- Phablo – disse Kyara depois de alguns segundos analisando a visão o horizonte que não tinha -, gostaria de encontrar as respostas. Será que os Coletores podem me ajudar?
- Para isso você tem que aceitar a morte para si – disse Phablo com a voz calma, ele parecia entender o que estivesse preste a acontecer. – Para as suas respostas aceitar a morte tem que se tornar sua amiga, pois nós vemos tudo, mas ninguém nos vê somente quando a é a hora, assim como a morte. Kyara Ignis, você aceita a morte para si?
Kyara com o peito cheio de ar disse:
- Eu aceito.
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