– Crianças, pais... São complicados... Sabemos disso tanto quanto vocês, mas Felps era diferente... Por causa dos erros do passado do pai ele acabou desenvolvendo uma raiva e um grande rancor do pai... Esses sentimentos não são facilmente esquecidos... Às vezes nunca são... E quando soubemos que o pai do Felps havia voltado e pior, estava procurando por ele, nós resolvemos ir junto. Só Deus sabia o que o Felps podia fazer...
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– Meu... Meu pai? – Felps diz olhando pro Arthur com um olhar mortal. O mesmo parecia bem apavorado com o olhar que Felps lançava sobre ele. Eu não o culpo. Afinal de acordo com o olhar de Felps sobre ele parecia que o Arthur havia xingado a mãe dele.
–É... O-O diretor disse que seu pai estava te procurando... – Arthur já era branco por natureza, mas o semblante de Felps o fez atingir novos tons de branco ainda não estudados pela arte...
Felps nada mais diz e dispara com passos rápidos através dos corredores com apenas um destino em mente: A sala do Diretor...
– Felps. Felps se acalma, não vá fazer alguma besteira... – Eu dizia tentando acalmar Felps. Nesse momento qualquer resquício de bebida que estava em meu organismo acabou de evaporar por causa do medo que eu tinha do que o felps poderia fazer...
– Eu estou perfeitamente calmo... – Felps diz sem diminuir a marcha com um semblante frio e inóspito tal qual um deserto congelado...
– Tá... Mas por favor, não faça nada que eu não faria... – Eu digo e todos paramos em frente a sala.
– A partir daqui eu vou sozinho... – Felps diz parando em frente à sala do diretor – Ele me chamou, então eu devo ir sozinho... – Ele diz e abre a porta para em seguida sumir no átrio da sala...
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– O grande problema é que o seu Tio Felps nunca contou direito o que aconteceu dentro da sala do diretor... Só ele sabe o que aconteceu... – Cellbit diz e todos concordam.
– Mas como a gente vai saber o resto da história então? – Dominick pergunta confuso.
– Três, dois, um... – Julie diz contando os segundos.
De repente a campainha toca e Cellbit, que estava mais próximo, vai até a porta e a atende.
– Felipe! Finalmente... – Cellbit diz e abraça Felps para em seguida beijá-lo castamente o apressando a entrar na casa.
– Jesus eu fiquei o maior tempão fora e você me recebe com esse beijo meia-boca? – Felps diz rindo e Cellbit o olha de rabo de olho.
– Estamos com pressa Senhor Felipe... Senta aí ao lado do Mike e cale-se... – Cellbit diz e coloca Felps sentado na poltrona.
– Já dá pra ver quem domina em casa... – Mike diz olhando pra Felps.
– Não é o que ele pede na cama... – Felps diz com um sorriso malicioso e ri junto a Mike.
– Ei! – Pac interrompe – Dá pra vocês não ficarem falando sobre sacanagem na frente dos meus filhos? – Pac diz e dá um tapa no braço dos dois.
– Ah sim, e aí crianças? Ainda não fugiram desses caras? – Felps diz fazendo um hi-five com as crianças.
– Por enquanto não, dá pra aguentar. – Dominick diz fazendo todos rirem, menos Pac.
– Olha aqui moleque que eu pego o chinelo! – Pac diz e Mike o encara rindo.
– Por que demorou tanto, Felps? – Mike pergunta e Felps bufa.
– Cuidar de uma pré-adolescente é Foda Mike... Agora eu sei como devia ser difícil para os nossos pais... Lara é uma garota de ouro, mas é cabeça dura igual ao Rafa... – Felps diz e todos riem.
– Mas como ela pode ser tão parecida com ele se não há genética envolvida? – Pac pergunta e Felps responde.
– De tanto conviver com ele, com certeza... – Felps diz e recebe um tapa no ombro.
– Tio Felps, pode nos ajudar a continuar a história? – Julie pergunta pegando Felps de supresa.
– História? Que história é essa? – Felps pergunta e Pac se propõe a explicar.
– Estávamos contando a história de como eu e o Mike nos conhecemos.
– Ah sim, essa é uma história boa... E como eu posso ajudar? – Felps diz pegando uma xícara de café no bule e se sentando.
– Paramos na parte em que seu pai chega a escola... – Pac diz e Felps assente.
– Entendi... Bem... Deixa eu ver se eu me lembro... – Felps diz e olha pra cima – Ah sim. Meu pai sempre foi distante. Eu e ele nunca tivemos uma boa relação desde que ele fez o que fez... Então eu sempre o odiei... E ele ter voltado naquele dia pra mim foi a gota d’água...
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Cada passo que eu dava a minha raiva aumentava...
Aquele homem... Aquele homem foi o responsável por destruir a minha família...
Ele destruiu tudo o que eu acreditava...
Eu entro na sala e vejo o diretor Leon em seu computador tendo atrás dele a vice-diretora Nilce que procurava algo nos arquivos do colégio.
–Mandaram me chamar... – Eu digo o mais frio o possível.
– Ah, Felipe, sim, mandamos... Nós soubemos da morte da sua mãe... Sentimos muito. – O diretor parecia sincero, não havia motivos pra ficar com raiva dele, então eu apenas assenti de cabeça.
– O seu pai veio pra falar com você... – A Vice-diretora sempre foi mais direta...
– E onde ele está...? – Eu pergunto e eu ouço passos atrás de mim.
– Estou aqui... – A voz que há muito tempo eu não escutava ecoa atrás de mim...
Eu me viro e o encaro...
Meu pai, Carlos, tinha envelhecido bem pouco... Estava com os cabelos um pouco grisalhos e na pele já se encontravam algumas rugas de expressão... O mesmo ainda usava os mesmos óculos de quando eu ainda morava com ele...
– Felipe... Já faz um tempo, não é? – Ele diz com um sorriso complacente no rosto.
Era bem provável que eu estivesse muito, muito bravo... Eu sentia o meu coração pular na minha caixa toráxica...
– Felipe, seu pai veio por causa da morte da sua mãe. Ele acredita que você precisa de um tempo fora de toda essa confusão e se ofereceu pra ficar com você por uma semana... Nós concordamos com isso e acreditamos que isso será melhor pra...
– O QUÊ?! – Eu grito interrompendo o diretor.
–Felipe...
– VOCÊS QUEREM ME PRENDER COM ESSE CARA?! – Eu digo apontando pra ele – Escutem bem aqui: Não há causa, motivo, razão ou circunstância que me fará concordar em passar uma semana com esse... Esse... Desgraçado... – Eu digo e o olho com ódio – Por que você sequer se deu o trabalho de voltar, hein? – Eu digo e ele reajusta os óculos no rosto.
– Felipe, eu ainda sou seu pai... Eu sei que cometi erros, mas quero reatar a nossa relação... – Ele diz e eu chego perto dele mostrando que estou do tamanho dele.
– Você estragou qualquer chance de relação entre nós no dia em que jogou fora a relação que você tinha com a minha mãe e resolveu fuder com aquela secretáriazinha... – Eu digo ácido e ele arregala os olhos.
– Felipe! Ela é a mãe do seu irmão. Mais respeito, por favor. – eu rio da cara dele com desdém.
– “Respeito”? – Eu repito ainda rindo – Por quem? Pelo bastardinho que você chama de filho? Pela puta paga que você chama de esposa? Não... Me desculpe, mas não... – Eu digo e ele me encara.
– Não foi assim que te criamos, Felipe... – Eu chego mais próximo dele.
– Você nunca me criou... – Eu digo e saio da sala batendo contra o ombro dele na saída.
– Felipe! Espera! – Ele tenta me chamar, mas eu apenas o ignoro e continuo andando até sair pela porta...
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– Caramba Tio Felps... Por que você odiava tanto o seu pai? – Dominick pergunta pra Felps que coça o queixo.
– Olha Dominick, eu acabei guardando muito rancor do meu pai... Ele foi uma das poucas pessoas que eu realmente odiei...
– E quando seu tio Felps saiu daquela sala eu tinha certeza de que algo havia acontecido... – Cellbit diz entrando na história.
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De todos eu fui o único que sobrou...
Pac, Mike e Thomas saíram daqui e voltaram aos seus quartos...
Mas eu não...
Eu estava muito cansado... Morrendo de sono, mas eu precisava esperar o Felps... Algo me dizia que ele não estava bem...
De repente o meu sono é interrompido pelo som da porta abrindo com força e uma voz saindo de lá de dentro.
– Felipe! Espera! – A voz brada me fazendo ficar confuso com essa algazarra.
Então Felps aparece no meu campo de visão me fazendo automáticamente ir até ele...
– Felps. O que houve? – Eu pergunto e ele continua bufando e pisando duro na direção dos quartos – Dá pra me responder? – Eu pergunto e ele me ignora. Seus olhos estavam em chamas de raiva...
Ao chegar no quarto ele se senta com força na cadeira de rodas do nosso quarto e solta uma bufada de ar quente pelas narinas tal qual um touro raivoso... Eu me aproximo devagar enquanto o mesmo cruzava os braços e batia o pé de maneira acelerada.
– Felps... Você tá legal? – Eu pergunto com a mão no ombro dele... O mesmo me encara e o semblante de raiva se transmuta numa cara triste... Melancólica...
Felps, então, me surpreende começando a chorar com as mãos em frente ao rosto e com o lábio inferior sendo mordido na tentativa de não demonstrar o choro.
– Felps... O que houve lá dentro?! – Eu pergunto já muito preocupado. Felps não era uma manteiga derretida, portanto pra algo fazê-lo chorar deveria ser bem grave...
– Saudade, Cell... Eu senti saudades... – Felps diz e eu e encaro confuso.
–O quê? Do que você tá falando, Felps? – Eu digo e ele seca as lágrimas.
– Eu o odiei durante anos... Eu nunca mais quis vê-lo... Mas só foi necessário uma vez... Uma vez e tudo voltou... E eu senti saudades... – Ele diz e eu o olho complacente.
– Isso significa que você ainda o ama... Não é tão ru...
– Não é tão ruim?! – Felps se levanta de supetão me assustando. – É muito ruim! Eu não deveria sentir saudades dele, eu deveria odiá-lo! Deveria simplesmente odiá-lo! Mas por que é tão difícil, Cell...? – Ele se senta novamente, só que dessa vez na cama. – Por que é tão difícil apenas odiá-lo...? – Ele pergunta e eu me sento ao lado dele.
– Felps... – Eu não sabia direito que palavras utilizar agora, nunca tive uma relação ruim com meu pai, então não sabia pelo que ele estava passando.
– E sabe qual o pior? – Ele pergunta retoricamente. – Ele parecia estar realmente feliz em me ver de novo... Ver como eu cresci... – Ele diz encarando o chão. – Por que eu fiquei feliz em vê-lo, Cell? – Ele me pergunta olhando em meus olhos de maneira profunda. Eu sinto o meu coração bater mais rápido.
– É-É... B-Bem... – Eu tenho que me controlar! – Olha F-Felps... Talvez seja porque você não consegue o odiar pra sempre... Ninguém deve odiar pra sempre, Felps... Nossa amizade é o melhor exemplo disso. Eu te odiava! Muito, diga-se de passagem. – Felps solta uma risadinha – Mas eu percebi que não dava pra te odiar pra sempre... O esforço necessário pra eu te odiar era monumental! E no fim não valeu a pena... Porque eu percebi que era um esforço inútil... Eu percebi que eu não te odiava... E talvez, só talvez... Você esteja na mesma situação... – Felps encara o chão pensando no que eu havia dito.
– Eu... Não. Eu não posso perdoá-lo, Cell! Não me obrigue a fazer isso... – Ele diz e se levanta.
– Eu não posso, Felps. Não posso te obrigar a perdoá-lo. Só você pode fazer isso... – Eu digo e ele vai até a porta.
– Eu... Preciso pensar... – Ele diz e sai pela porta me deixando no silêncio do quarto...
E após alguns minutos eu ouço alguém bater na porta. Eu prontamente atendo e vejo um homem que deveria ter seus quarenta e poucos anos. Tinha cabelos um pouco grisalhos e usava um óculos de armação preta.
– Olá... Posso... Ajudar em alguma coisa? – Eu pergunto e o homem parecia procurar algo dentro do meu quarto, estranho.
– Ah, olá... Esse aqui é o quarto do Felipe? – Ele pergunta e eu franzo o cenho.
– E quem quer saber? – Eu pergunto e ele me encara.
– O Pai dele gostaria de saber... – Esse homem era o pai do Felps?! Sério?! Mas ele é bem diferente do que eu imaginava...
– Ah... Sim, esse é o quarto dele... Mas ele não está aqui... – Eu digo e ele pede permissão para entrar e eu dou espaço pra ele passar pela porta.
– Eu presumo que vocês são amigos, certo? – Ele diz olhando as coisas em cima da escrivaninha, em sua maioria coisas do Felps.
– Sim. – Eu não sabia muito bem como me portar com ele...
– Então presumo que ele já tenha falado de mim a você... – Ele diz com um tom mais melancólico.
– S-Sim... – Eu digo no mesmo tom. O homem coça atrás da cabeça e se vira pra mim estendendo a mão em cumprimento.
– Carlos, Carlos Lima... – Ele diz e eu aperto a mão dele.
– Rafael, Rafael Lange... – Eu digo e ele solta a minha mão.
– Me diga, Rafael, o que o meu filho te contou sobre a nossa relação? – Ele pergunta e eu desvio o olhar.
– N-Não muita coisa... – Eu minto, mas foi porque eu não queria ficar conversando mundo sobre isso. Ainda mais com ele.
– Olha, Rafael, eu não te conheço, mas mesmo assim já vi que você não sabe mentir... – Ele diz com uma risada baixa. – Está tudo bem. Pode me falar a verdade...
– Olha... O Felipe te odeia... Ele te odeia por tê-lo abandonado e te odeia por ter voltado... Ele está confuso com tudo isso... Dê um tempo pra ele digerir tudo isso... – Eu digo na vã tentativa de fazê-lo ir embora.
– Eu sei que ele me odeia... Eu também me odiaria... Mas assim que eu soube da morte da Monique eu sabia que eu tinha que vir... O Felipe estava sozinho aqui e eu me senti compelido a reatar a minha relação com ele... – Ele diz e encara uma foto do Felps e da mãe dele que estava emoldurada na escrivaninha. Eu mesmo havia o encorajado a fazê-lo.
– O felps não está sozinho... – Eu digo e ele me encara confuso.
– “Felps”?
– É. Esse é o apelido dele... – Eu digo e ele abre um sorrisinho de leve – O que foi? – Eu pergunto e ele seca uma lágrima que fugiu.
– Felps é o apelido que eu dei pra ele quando ele era pequeno... É porque ele não sabia pronunciar o próprio nome direito, então adotamos esse apelido... Eu não imaginava que ele manteria o apelido mesmo depois de tudo isso... – Ele diz e meu coração derrete ao pensar num mini-felps criança...
– Você... Você realmente ainda se importa com o Felps? – Eu pergunto e ele se senta na cadeira.
– Eu nunca deixei de me importar... Eu amo o meu filho, mas eu sei que ele me odeia... Eu não tiro a razão dele... Desde sempre eu mantive distância, pois sabia que ele me odiava e não queria a minha companhia... Mas após a morte da Monique eu me senti na obrigação de voltar... Achei que talvez o tempo tivesse amolecido o ódio do Felipe contra mim, mas vejo que ainda tenho que esperar mais um pouco... – Ele diz e eu me sinto extremamente desconfortável...
Felps abriu o coração pra mim e disse que ainda sentia saudades do pai. Se eu contar ao pai dele posso estar traindo a confiança do Felps, mas se não contar posso estar estragando a única chance do Felps de reatar a relação dele com o pai...
O que fazer?
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