Quanto mais olhava, menos acreditava. E lentamente aquilo se tornava apenas um reflexo vazio e largado em um espelho de moldura amarela. Machucado pelas garras do tempo. Não era eu, não podia ser.
Ensinaram-me, certa vez, que a alma mora nos olhos. Doce menina adormecida no brilho das pupilas. Eu a observava sonhar, sua inocência espalhando-se como um brilho, sua alegria refletindo-se em meu sorriso. Meu corpo sendo próprio espelho dela e meu reflexo, luminoso tal reflexo de anjo. Era menina sempre pronta a voar e misturar suas cores às da primavera.
Mas o reflexo de um espelho nunca mente. E agora eu já não mais sabia se minha alma era menina, velha, ou sumida. Já eu não me distinguia mais. O brilho extinto, os olhos cansados; era desalentador. A alma apagada e a menina... Irreconhecível. Surpreendia-me por não ter percebido antes.
Para onde fora a menina? Para onde foram as cores que antes construíam minha agora desbotada alma? Desgastaram-se nas lágrimas vertidas pelos amores da vida.
É isso o que faz o tempo com a alma, afinal. E a menina, afogando-se em tristezas que sequer são dela, jaz quase morta. Cansada e desistente de acreditar nas esperanças da vida.
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