História Monalisa - Three

Bernardo: Não que eu esteja me preocupando com você - Falei rápido, tentando me explicar - Só acho que... - Quando ia continuar, uma certa garota fez o favor de me interromper.
Nathália: Que bom te encontrar aqui amorzinho - Ela sussurrou no meu ouvido, enquanto passava a mão pelo meu corpo. Revirei os olhos e me afastei um pouco, virando-se de frente pra ela.
Bernardo: Cara, hoje eu não estou com saco pra você, beleza? Acho melhor... - Fui interrompido novamente, dessa vez pela Monalisa.
Monalisa: Não é assim que se fala com uma mulher, Bê - Lhe encarei e a vi com uma expressão de reprovação. 
Nathália: Concordo - Ela falou, indo para o lado da Mona - Você devia ser mais carinhoso comigo - Ela completou, com uma voz melosa e fazendo um bico. Revirei os olhos e suspirei fundo. 
Bernardo: A fila já está andando, dá pra vocês andarem também? - Perguntei, impaciente. Elas deram de ombros e viraram-se, andando logo em seguida.
Nathália: Obrigada por me defender - Ela falou, virando um pouco para a Monalisa, essa que logo sorriu.
Monalisa: Imagina - Ela falou um pouco tímida, mas logo irradiou - Qual o seu nome? 

"Era só o que faltava: a Monalisa se tornar amiga da grudenta da minha ex", pensei comigo mesmo, enquanto me afastava das duas.

Já passavam das quatro horas da matina, e lá estava eu, saindo do terceiro quarto inesquecível da madrugada. Do quarto até a pista de dança, ainda peguei algumas belas garotas, porém não quis prolongar muito... estava cansado demais para isso. Segui até o balcão e peguei a primeira bebida que encontrei. Virei de uma vez e logo pedi ao garçom para trazer mais uma dose. Ao desviar o olhar pra pista, pude ver os meus amigos dançando animadamente. Ao lado deles, estavam a Nathália e a Monalisa. Sorri ao ver essa última. Ela dançava tão alegremente, sem preocupação alguma. Tinha o rosto e o sorriso iluminados pela felicidade. Porém, pareceu se incomodar com algo, e então desviou o olhar na minha direção. Travei. Como aqueles olhos tão profundos conseguiam fazer isso comigo? Antes mesmo de me responder, a vi se aproximar de mim, mantendo o olhar e o sorriso. 

Monalisa: Ei, vem dançar com a gente - Ela falou, ao chegar perto o suficiente ao ponto deu ouvir sua voz.
Bernardo: Prefiro ficar aqui - Pisquei e dei mais um gole na bebida que o garçom acabará de trazer.
Monalisa: Qual é? Vem curtir um pouco com seus amigos. Deixa de ser chato - Ela falou, já me puxando pela mão. 
Bernardo: Como se você fosse minha amiga... - Falei, revirando os olhos. Ela ignorou, soltou uma risada alta e me puxou novamente.

Confesso que estava bom ficar ali, apenas dançando e zoando com os meus amigos. Por incrível que pareça, mal fazíamos isso. Na maioria das vezes em que estávamos em festas, nos separávamos e cada um ia curtir a noite como achasse melhor, no final nos encontrávamos para voltar para casa e aí sim que acontecia as zoações. Mas agora não, agora estava sendo diferente... e um tanto melhor. Agora estávamos todos juntos, dançando, conversando e zoando. Me desliguei um pouco desse pensamento ao ver um certo idiota se aproximando da Monalisa. Renan, esse era o nome dele. O cara "top'' da faculdade... se achava o grande e o melhor, e talvez esse fosse o motivo para eu ter uma certa implicância com ele. Não só com ele, como com todo seu grupo. Grupo esse que estava de olho na Mona, no começo na festa.

Renato: Que cara é essa? - Ele perguntou, desfazendo meu transe. 
Bernardo: Mano, olha só aquilo - Falei, apontando discretamente para o 'casal' que agora conversava animadamente - Esse garoto não é boa influência pra ela, sério.
Renato: E precisa ficar tão incomodado assim? - Ele perguntou, debochando. 
Bernardo: Só acho que ela vai acabar se perdendo se ficar amiga desse carinha aí... só acho!
Renato: E sabe o que eu acho? - Dei de ombros, enquanto ainda observava o 'casal' - Acho que isso não é só implicância com o Renan, é... - Antes mesmo dele completar, a Nathália o interrompeu. 
Nathália: Bê, você pode me levar pra casa? - Ela pediu melosa. Revirei os olhos e dei uma gargalhada alta.
Bernardo: Na boa... você tem pernas, pode ir sozinha! - Respondi e segui apressadamente para o balcão.

Décimo copo de Whisky, isso mesmo, décimo. Minha cabeça agora girava e a minha visão embaçava. Bebi mais um gole da minha bebida e levantei-me, decidido a ir embora. Porém, a minha cabeça voou ainda mais e quase perdi o equilíbrio. Me encostei na bancada e desviei o olhar para a pista. Procurei, procurei e nem sinal dos meus amigos. Respirei fundo e tentei sair daquela festa, sem cair. Assim que pus o pé fora da casa, o vento frio me fez arrepiar. Me abracei tentando me aquecer e caminhei rumo a minha casa. No meio do caminho, ainda zoei com algumas gatinhas e alguns marmanjos, e confesso que tive sorte em não sair apanhado. Já perto de casa, pude ouvir um grito sufocado de uma mulher. No começo pensei que fosse coisa da minha cabeça e até soltei uma risada com essa ideia, mas quando o grito se repetiu, pude ver que era real... e era de alguém que eu conhecia. Segui a voz e me deparei com um homem querendo agarrar a Monalisa.
Bernardo: Solta ela - Falei, pegando o primeiro pedaço de pau que encontrei pelo caminho. O certo cara me encarou, e então pude ver que era um velho conhecido... colega de drogas - Cara, quanto tempo! - Falei, soltando a madeira e indo ao seu encontro. Ele a soltou e veio na minha direção. 
Hugo: Tempão, velho! Você sumiu - Ele falou, me abraçando forte. 
Bernardo: Pois é... mas voltarei alguns dias pra visitar meus velhos amigos - Falei, me afastando um pouco e lhe dando um tapa fraco no ombro - E quanto a essa chata aí... - Falei, desviando o olhar para a Mona, essa que estava pálida e com uma expressão de medo - Bom, ela tá comigo - Conclui, soltando uma gargalhada por conta da sua expressão. Ela pareceu tranquilizar e logo veio para o meu lado.

Juro que passei mais de meia-hora para me livrar do meu querido amigo. Ele não parava de falar e pedir desculpas quanto a Mona... Já essa, não saía um minuto sequer do meu lado. Assim que finalmente consegui me livrar, dei meia-volta e segui o caminho pra casa. Ela me seguiu, calada.

Bernardo: Não vai nem me agradecer por ter te salvado? - Perguntei, soltando uma risada, enquanto lhe puxava e abraçava de lado.
Monalisa: Obrigada, meu herói - Ela agradeceu, me dando um longo beijo na bochecha. Sorri e lhe encarei. Ela tinha o olhar perdido a sua frente e pareceu pensativa. Fiquei tentando desvendar o que tanto ela pensava, quando finalmente ela falou: - Você tá bêbado né? - Soltei mais uma das minhas risadas, dessa vez mais alto - Ok, não precisa nem responder - Ela voltou a falar, soltando uma risada também - Sabe... acho que você deveria ficar bêbado mais vezes, você fica mais legal assim - Revirei os olhos, sorrindo.
Bernardo: E quem não fica, não é mesmo? Até você tá legal, deve tá bêbada também - Comentei, rindo. Ela fez careta e eu logo voltei a falar, dessa vez com uma expressão sem graça - Sabe Mona... acho que a gente não começou direito - Disse, meio que encarando o chão. Ela me apertou no abraço de lado e concordou.
Monalisa: Também acho - Ela falou desviando o olhar pra mim e sorrindo - Vamos começar de novo, que tal? - Assenti enquanto encarava aqueles olhos tão belos - Então, meu nome é Monalisa, mas pode chamar de Mona - Ela disse, enquanto piscava e ria - E o seu? - Ela perguntou e eu logo cai na gargalhada, arrancando mais risos dela. Assim que me recompus e quando finalmente ia responder, o Gabriel nos interrompeu. 
Gabriel: Juro que já ia buscar vocês! Que demora hein? - Ele perguntou um tanto irritado. Ao olhar em volta percebi que já tínhamos chegado a nossa casa e que estávamos em frente da mesma.
Monalisa: Desculpa, Biel. É que ocorreu uns imprevistos - Ela falou, me deu um beijo demorado na bochecha e outro no Gabriel, e logo entrou em casa. Ele sorriu e logo desviou o olhar pra mim, voltando a ficar sério.
Bernardo: Qual foi? Juro que não fiz nada - Disse, levantando as mãos como se estivesse rendendo-me e dando um sorriso travesso.