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História Monnot - Recipes


Escrita por: Endora_

Capítulo 5 - Recipes


Fanfic / Fanfiction Monnot - Recipes

Liah Sullivan

O chorinho do meu bebê me acorda no meio da noite. Marlene estava certa. Era mesmo um menino. Um menino lindo. Meu pequeno Joseph nasceu há duas semanas.

Ele nasceu aqui em Hollywood. Marlene precisou voltar para fazer um filme e me trouxe junto. Ainda estamos na casa dela.

O parto foi difícil. Eu pensei que fosse me partir ao meio. Estávamos sozinhas, eu e ela, na casa. Se ela não tivesse chegado a tempo, acho que eu teria morrido.

Maria estava na casa de uma amiga. Ela havia saído para fazer alguma coisa, e eu fiquei sozinha na casa. Então as dores começaram. Cada vez mais fortes, me fazendo gritar. E por horas, ninguém chegava.

Depois de muito tempo, eu ouvi passos apressados na escada e ela apareceu na porta.

- Liah! - ela largou suas sacolas no chão, correu até mim e segurou minha mão. - Há quanto tempo começou?

- Qu... Quatro... Quatro horas. Eu vou morrer. Me leve para o hospital.

- Não, não há tempo. Vamos ter que fazer isso aqui mesmo.

- Sozinhas? - eu perguntei, apavorada.

- Não estamos sozinhas. Eu estou com você, e você está comigo.

- Eu vou morrer!

- Não vai! Confie em mim.

- Eu vou morrer.

- Você confia em mim?

- Aham.

- Então tente ficar calma, vai dar tudo certo. Quero que você me ajude. Respire desse jeito: - ela me mostrou como eu devia respirar e eu comecei. - Isso. Assim mesmo. Eu já volto.

- Não me deixa sozinha.

- Eu não vou demorar. Por enquanto respire. - eu assinto e volto a respirar do jeito que ela mandou. Ela busca algumas toalhas, põe algumas debaixo de meus quadris e deixa uma de lado. Ela sai do quarto de novo, eu a ouço descendo as escadas e ela demora um pouco lá embaixo, volta com uma faca, a deixa junto com a toalha, se senta na cama e segura a minha mão. Ela acaricia meus cabelos. - Eu sei que dói, mas você vai ficar bem. Calma. - Eu faço que sim com a cabeça. A dor agora é tanta que eu já não consigo dizer mais nada. Ela tira a minha calcinha, deixa num canto no chão, tira o blazer, arregaça as mangas, afasta minhas pernas e volta a segurar minha mão. - Vamos lá. Força, Liah. Empurra ele pra fora. - Eu empurrei um pouco, mas quando senti a dor aumentar ainda mais, eu parei.

- Eu não vou conseguir. Não vou.

- Vai sim. A sua mãe passou por isso pra te pôr no mundo. Agora é a sua vez. Não a decepcione, Liah. Seja corajosa como ela. Vamos, força.

- Eu não posso.

- Não tente bancar a valentona. Pode gritar à vontade. Força. - Eu faço força, soltando um grito muito alto, mas desisto. - Mais. Empurre mais. - Eu tento empurrar de novo, berrando tão alto que meus pulmões doem, mas não adianta.

Nós ficamos nisso por mais de uma hora, talvez duas, até que ela diz:

- Não. Você não vai conseguir. Não assim. É melhor descansar um pouco. - ela vem para trás de mim, põe minha cabeça em seu colo e acaricia minha testa encharcada de suor.

- Marlene... Se eu morrer, você cuida do meu filho?

- Não diga bobagens, você não vai morrer.

- Mas... Se acontecer, você cuida dele?

- Cuido. Mas não vai acontecer.

- Então por que você disse que eu não vou conseguir?

- Porque você está exausta. Só isso. Você vai descansar um pouco e logo continuamos. - ela acaricia a minha testa e os meus cabelos. - Respira. Relaxa. Você não vai morrer. Você vai viver bastante. Vai vê-lo andar e te chamar de mãe. E daqui uns anos, você vai estar indo a reuniões de pais na escola. E ele logo vai ter uma namoradinha, e vai se casar com ela e vai te dar netinhos. E você vai ganhar presentes no dia das mães. Tá bom?

- T-tá... Tá bom.

- Chega de descansar. Junte todas as suas forças e o empurre de uma vez. Quanto mais cedo você terminar com isso, mas cedo você se livra da dor. - eu assinto. - Vai, empurra. - eu empurro com toda a minha força. Minha garganta já está ardendo de tanto berrar. Ela sorri. - Isso! Estou vendo a cabecinha dele. Falta pouco agora, meu bem. Empurre. - eu empurro mais uma vez e finalmente ouço o choro do bebê. Eu me deixo cair no colchão, prostrada, exausta, completamente sem forças. - Eu disse que você ia conseguir, eu sabia! - ela traz o bebê para mim, enrolado numa toalha e o coloca nos meus braços. - Aqui está o seu homenzinho.- ela suspira aliviada.

- Oi... - eu digo ao meu bebê, num sussurro bastante fraco. - Eu estava tão ansiosa pra te conhecer, amor... Você é lindo. - mesmo com um pouco de nojo porque ele está todo sujo, eu beijo a testinha dele, e olho para seu rostinho. - Olha o narizinho dele, Marlene. Olha esses dedinhos. É tudo tão delicadinho...

- É. Ele é lindo, Liah. Parabéns. - ela beija minha cabeça.

- O que eu faço agora?

- Dê de mamar a ele. Eu vou preparar um banho para essa criança. - ela sai do quarto, me deixando a sós com o meu filhinho. Eu lhe acaricio um pouco a cabeça, puxo o decote do meu vestido para o lado e aproximo a boquinha dele do meu seio. - Mame. Você sabe como, não sabe? Ou não sabe? - eu aproximo mais, e ele começa a mamar, como se já tivesse feito isso muitas vezes antes.

Algum tempo, não muito, se passa, enquanto o meu guloso enche a barriguinha de leite, e eu fico apenas admirando o rostinho perfeito dele.

- Ele acabou? - Ela pergunta. - O banho está pronto, se demorar muito vai esfriar.

- Ele acabou sim. Pega ele. - eu lhe entrego  o bebê. Ela o pega delicadamente, o faz arrotar e o leva para o banheiro, tira a toalha que o envolve e o coloca na água quentinha da banheira. Eu fico vendo enquanto ela dá banho nele, conversa e brinca com o meu pequeno de forma carinhosa.

Ela o enrola em uma toalha e o traz para mim.

- Lavei. Toma, que o filho é teu. - nós rimos e eu o pego. Ela abre o guarda-roupas na parte onde nós guardamos as roupinhas dele, pega uma fralda, um macacão, uma touquinha e uma manta. - Pronto. Vem com a dinda, vem. - Ela o pega novamente. - Own, essa barriguinha gordinha. Quem é o meninão da dinda? É, é você. - ela põe talco nele, o veste, o enrola na manta, lhe dá um beijinho e o devolve aos meus braços.- Você também precisa de um banho, não acha, mocinha?

- Acho.

- Me dá ele.

- Até agora você segurou mais o meu filho do que eu.- ela o pega e o coloca no berço de ladinho.

- Ciumenta. Você vai ter bastante tempo pra segurar ele. - ela prepara o meu banho na banheira, me ajuda a tirar o vestido e a caminhar até lá. Meu corpo ainda está dolorido. Mas logo vai melhorar, eu acho.

Ela arruma a cama enquanto eu tomo banho e nós conversamos.

- Marlene?

- Oi.

- Eu vou ter que ficar de repouso por quanto tempo?

- Umas semanas.

- Eu estou tão aliviada agora que tudo acabou. Ele está dormindo? - ela olha pra ele.

- Está.

- Eu realmente pensei que fosse morrer, sabe? Eu não estava exagerando.

- Eu também pensei que você fosse morrer. Mas eu não podia te dizer isso, podia? - eu rio.

- Não, não podia. - nós ficamos um tempo caladas. - Eu te amo, Marlene. - ela sorri, mas não diz nada. - Eu não sei o que seria de mim sem a sua ajuda. Obrigada por tudo.

- Não há de quê. Você deve estar com fome, não é? Foram quase sete horas em trabalho de parto. Deve estar morrendo de sede também. Termine o banho. Vou te fazer um lanche e um suco. Até logo. - ela sai do quarto quase correndo.

Eu termino o banho e saio da banheira com uma certa dificuldade. Tudo dói. Eu olho para o meu bebê enquanto me visto e penteio os cabelos. Eu me sento no tapete perto do berço e fico olhando para ele enquanto dorme.

- O que é que a senhorita está fazendo no chão? Está frio, você acabou de sair de um banho quente. Tem que ficar debaixo das cobertas. Se você ficar doente quem cuida dele?

- Não é pra tanto, Lene.

- É pra tanto sim. Se você ficar doente e passar pra ele, ele morre. Não está preparado pra lutar contra uma doença ainda. É isso o que você quer?

- Você está certa. Me ajuda a levantar? - ela coloca a bandeja sobre a minha cama e me ajuda a me levantar, puxa as cobertas, eu me sento na cama, e ela arruma os cobertores sobre mim. - Obrigada, Marlene. O que você trouxe pra mim?

- Mingau de aveia.

- Ah, você lembrou que eu disse que adoro. Você é um amor, Marlene.

- Sou mesmo. - ela me entrega a tijela. - Coma. - Eu começo a comer, enquanto ela come um sanduíche e nós conversamos algumas coisas sobre cuidar de bebês.

Agora ele está aqui comigo. Eu estou pondo em prática tudo o que ela me ensinou. Exceto uma coisa: quando ele faz manha, ela me diz pra deixá-lo chorar, ou ele vai ficar mimado pro resto da vida. Mas coitadinho... Não me importo. Que fique mimado. Não consigo deixar o pobrezinho chorando no berço.

- O que foi, meu amor? A mamãe está aqui. Você não veio inventar de fazer cocô a essa hora da noite, não é? - eu olho a fraldinha dele, e graças a deus está limpa. Então ele está com fome. Eu lhe dou de mamar, o faço arrotar, o embalo em meus braços e canto um pouquinho para ele dormir. Eu o coloco no berço de ladinho como Marlene me ensinou e volto para a cama. Eu não custo muito a pegar no sono novamente.

Willy Wonka

- Willy, espera. - eu paro no meio da porta, e Jacqueline corre até mim.

- O que foi? Eu tenho que ir trabalhar.

- Eu quero dinheiro.

- Me poupe. - eu tento sair, mas ela me segura.

- Por favor.

- Jacqueline, eu estou com presa. Você já tem maquiagens o suficiente.

- Mas não é pra maquiagens.

- É pra quê, então?

- Não posso dizer.

- Então não vou te dar. Com licença.

- Mas, Willy. Por favor. É pra você. Eu quero lhe fazer uma surpresa. - eu a olho desconfiado. - É sério.

- Tá bom. - eu pego a minha carteira. - de quanto você precisa?

- Não sei. Bastante. Eu te devolvo o que sobrar, eu prometo.

- Cem basta?

- Deve bastar. - eu lhe entrego uma nota de cem.

- Tchau.

- Só mais uma coisa.

- Jacqueline! - eu digo, irritado.

- Onde você guarda as canetas?

- Ah, você escreve? - ela fica vermelha e abaixa os olhos.

- Por que você tem que falar assim comigo? - ela pergunta, quase chorando. - Apenas me diga onde estão as canetas.

- Na minha mesa de cabeceira. Se você não quiser escrever na sua própria pele, tem papel lá também. Posso ir, agora?

- Sim. Obrigada. - ela fecha a porta e eu saio para o trabalho.

Jacqueline Monnot

Willy me odeia. Ele é rude comigo o tempo todo. A cada dia que passa, ele parece ter mais raiva de mim. A cada minuto que passa, eu me sinto mais apaixonada por ele. Ele tão bonito, dominador e forte.

Hoje eu vou realmente me esforçar para agradá-lo.

Eu me arrumo e saio, pego um ônibus até o centro da cidade e entro numa livraria. Eu sei que os livros estão todos em inglês, mas há alguns dias eu pedi a Willy um dicionário francês/inglês, e ele me deu.

Eu caminho entre as estantes por um tempo, e uma moça vem até mim.

- May I help you? - eu não entendo o que ela diz, mas nego com a cabeça. - Ok, then. If you need help to find an especific book, you can call me. - ela me entrega um cartão e eu pego. Ela se afasta. Não sei como Willy entende o que eles dizem.

Eu continuo olhando as prateleiras a procura da palavra "recipes". Foi o que encontrei no dicionário ontem quando busquei por receita.

Eu encontro um livro de receitas, ou melhor, de "recipes", e olho as figuras à procura do que me pareça mais gostoso.

Eu demoro a escolher um livro, o compro, e saio da livraria. Eu caminho até uma praça, me sento na grama, abro o livro na receita que vou preparar para ele hoje, tiro da minha bolsa as folhas que eu trouxe, as canetas e o dicionário, e começo a traduzir a receita enquanto o bebê me chuta. Bebê chato. E ainda falta um mês. Não aguento mais esse intruso dentro de mim.

Eu pego um ônibus de volta para casa, e antes de entrar no prédio onde moro, eu compro os ingredientes para o jantar no mercado que tem na minha rua.

Willy tem razão quando diz que eu sou inútil. Desde que nos casamos, é ele quem limpa a casa, é ele quem cozinha, é ele quem lava nossas roupas. Eu não sei pregar um botão, ou fritar um ovo. Vou tentar fazer essa receita pra ele, Deus queira que dê certo.

Eu fico muito feliz por ele fazer todos os serviços de casa. E ele nem reclama como a minha mãe reclamava. Ele só diz que eu sou inútil. Mas parece conformado com a minha inutilidade.

Eu almoço qualquer coisa e arrumo a cama, que eu deixei desfeita antes de sair. Fica meio torto. Mas é melhor que nada. Não sei como ele pode deixar tudo tão retinho.

Às 15h30 da tarde, eu começo a preparar a receita, devagar e com cuidado para que tudo fique perfeito, e tenho dificuldade para acender o forno. Meus pés acabam inchados por passar tanto tempo de pé. Eu me sento por alguns minutos, depois me arrumo para recebê-lo. Será que ele vai reclamar da pilha de louças na pia? Não vai dar tempo de lavar agora.

Eu arrumo a mesa e fico esperando a hora de tirar a comida do forno.

Ele chega dez minutos antes de a comida ficar pronta.

- Não é possível. - ele diz. - Eu devo ter entrado no apartamento errado. Esse cheiro não pode ser daqui. Minha esposa não sabe cozinhar. - eu me levanto e vou abraçá-lo.

- Eu disse que ia te fazer uma surpresa.

- Comprou comida pronta?

- Comprei um livro de receitas.

- Ah, que amor. Obrigado por me poupar de chegar cansado do trabalho e ter que preparar o jantar. - eu sorrio e lhe dou um selinho.

- Logo fica pronto. Você tira do forno pra mim? Eu tenho medo.

- Tiro. - eu dou um sorrisinho. - Acha que dá tempo de eu tomar um banho antes do jantar?

- Uhum. Você tem dez minutos.

- Ok. Com licença, madame.

Ele vai até o quarto, tira as roupas lá, e eu o vejo entrar no banheiro enrolado numa toalha. Eu vou até o quarto, dobro as roupas que ele tirou e deixo sobre a cadeira no canto do quarto. Eu volto para a sala, e alguns minutos depois ele sai do banho. Eu desligo o forno e vou até o quarto, onde o encontro só de cueca, secando o cabelo com a toalha. Nossa, que corpo lindo.

- Querido, o jantar está pronto.

- E eu também. - ele diz, enquanto arruma o cabelo molhado com os dedos, depois veste um roupão, deixando boa parte do peito exposto. Oh, Deus... Ele é sexy e sabe disso.

Ele tira o jantar do forno e leva para a mesa.

- Sente-se. Eu vou servir o seu prato.- ele se senta e eu pego o prato. Minhas mãos tremem um pouco enquanto eu ponho a comida. Sim, estou nervosa. Eu quero muito a aprovação dele. Mas ele é sempre tão crítico e rejeita tanto a mim e a tudo o que eu faço. Eu tenho certeza de que se Liah tivesse gasto dois dólares do dinheiro dele com balinhas, ele não teria ficado furioso. Ele diria a ela "por que só dois dólares, querida? Poderia ter comprado cinco". Mas não foi ela quem fez isso, fui eu. Eu termino de montar o prato e o coloco à frente dele. Eu sirvo o meu prato e me sento. Ele prova a comida.- Você gostou?

- Não.

- Não?

- Não. Eu adorei. Está perfeito. - eu sorrio, aliviada.- Meus parabéns.

- Obrigada.

- Quanto sobrou do dinheiro que eu lhe dei?

- Uns trinta dólares. Eu vou te devolver quando acabarmos de jantar.

- Não precisa. Pode ficar.

- Posso mesmo?

- Claro. Usa pra comprar balinha.

- Ainda com esse assunto das balinhas, Willy? Eu já disse que não vou fazer mais. - ele ri.

- Eu estava brincando. O assunto das balinhas está oficialmente esquecido, está bem? Aquelas balinhas nunca existiram.

- Obrigada.

- Aquela montanha de louça na pia é pra mim lavar?

- Não, Willy. Eu lavo. Mas tem que ser hoje? Eu já fiz o jantar.

- De preferência. Depois de eu ter passado quase oito meses trabalhando pra manter a casa, dentro e fora dela, acho que não custaria nada você fazer o jantar e lavar a louça na mesma data. Não é? Ou você acha que é justo comigo que eu trabalhe a semana inteira naquele jornal pra trazer dinheiro pra dentro de casa, e nos meus momentos que deveriam ser de descanso, eu tenha que continuar trabalhando aqui para fazer o que você deveria ter feito e não fez? Acha justo? Eu faço a minha parte lá, Jacqueline. Você tem que fazer a sua aqui.

- Mas eu estou grávida.

- E daí? Não é desculpa. Você está grávida, não está doente. Se você pode caminhar até aquela padaria pra comprar balinhas grávida, você pode limpar a casa grávida. Ou não pode?

- E quando o bebê nascer? Como eu vou cuidar dele e da casa? Eu não vou conseguir.

- Vai. Claro que vai conseguir. O bebê dorme, sabia? Você não vai passar as 24 horas do seu dia com ele no colo. No tempo em que ele estiver estiver dormindo, você pode cuidar da casa. Minha mãe cuidava de mim e da casa, e tinha tempo pra estar sempre linda. É claro que, pra.isso, você precisa de algumas horas.a mais.de dedicação. Cuide do bebê, cuide da casa, e se sobrar tempo, cuide do seu cabelo. Foi isso que a sua mãe fez, é isso o que todas as mulheres fazem, e é isso o que você vai fazer.

- Sim, Willy.

- Por enquanto você só cozinha e lava a louça. Deixe o resto comigo. Depois que o bebê nascer a mordomia acaba. - eu assinto, e tento me segurar, mas começo a chorar pouco depois que ele conclui a frase. - Está chorando por quê? Você não me queria? Você me tem. Agora aguente. - eu choro ainda mais e me levanto.

- Eu perdi o apetite. Com licença. - eu corro para o quarto e me deito na cama aos prantos.

Willy Wonka

Depois eu digo que é inutil e ela não concorda. Desde que nos casamos, só o que eu vi Jacqueline fazer foi comer, dormir, fazer rolinhos no cabelo e pintar as unhas. E claro, gastar o meu dinheiro. Com roupas, com sapatos, com maquiagem, com balinhas...

Essa história das balinhas ainda não me desceu. Todo mês eu dou a ela 50 dólares para suas futilidades. Ela torrou cada centavo comprando calcinhas. Como se eu fosse olhar pras calcinhas dela. Aí numa bela manhã, eu lhe mandei comprar pão fresco enquanto eu fazia o café. Ela foi e voltou toda alegre com o pão e um pacote de balinhas. Eu disse:

- Jacqueline, o que foi que eu mandei você comprar?

- Pão.

- Mais alguma coisa? - ela negou com a cabeça.

- Então o que você deveria ter comprado?

- Pão.

- Mais alguma coisa? - ela negou com a cabeça.- Então você deveria ter comprado isso? - ela negou com a cabeça.

- Me desculpe.

- Desculpo. Agora a senhora vai até a sua bolsa, vai pegar dois dólares daqueles 50 que eu te dei ontem e vai me devolver o dinheiro que eu te dei ontem e vai me devolver.

- Acabou.

- Como é?

- O dinheiro que você me deu ontem acabou. Eu gastei.

- Com o quê?

- Eu comprei umas calcinhas novas.

- Ah, pois é. Você torra todo o seu dinheiro e depois vem torrar o meu. É assim?

- Me desculpe.

- Desculpo. Mas antes, você vai pegar essas balinhas, vai voltar até lá, devolvê-las, e pegar o meu dinheiro de volta.

- Willy, por favor. São dois dólares.

- Não é pelos dois dólares, é pelos 50.

- Isso é ridículo, eu tenho vergonha.

- Devia ter pensado nisso antes de gastar o meu dinheiro com balinhas. Ande.

- Você me trata como criança!

- Você age como criança! Vá. - ela negou com a cabeça. - Eu não estou pedindo. - ela suspirou, pegou as balinhas e abriu a porta.

- Se ele perguntar o porquê, o que eu digo?

- Diga a ele que o seu marido não pediu pra você comprar balinhas e agora quer o dinheiro dele de volta.

- Sim, Willy.

E ela foi até lá, pegou meus dois dólares de volta, e passou o café da manhã inteiro com uma cara de "droga, minhas balinhas".

Claro que não foi pelas balinhas, não foi pelos dois dólares. Foi pela cara-de-pau dela. Eu já conversei com ela sobre a divisão do nosso dinheiro: uma parte fica guardada no banco, é nossa reserva para os imprevistos. Outra parte é para as contas e despesas essenciais. E eu lhe dou 50 dólares para ela gastar como bem entender. Antes eu não dava nada, mas ela gastava descontroladamente, então eu resolvi lhe dar uma quantia mensal, e se ela quisesse algo caro, deveria economizar. O que há de mal nisso? Por isso eu não admito que ela acabe com o dinheiro dela todo de uma vez e depois venha gastar o meu com besteiras.

Eu termino de jantar, tiro a mesa e lavo a louça, depois, exausto, eu vou me deitar.

Tem sido uma rotina muito difícil. Eu devia ter tido essa conversa com ela mais cedo. De qualquer forma, a essa altura da gravidez, eu não deixaria que ela fizesse esforço físico. Ela está de oito meses. Mas antes, varrer o apartamento não lhe provocaria um aborto. Agora também não, mas eu mesmo me sentiria culpado por deixar uma mulher em estágio avançado de gravidez faxinando uma casa.

Ela é mimada demais. Está chorando porque eu lhe disse que ela tem que cuidar da casa onde ela mora. Acho que ela ainda não se deu conta de que eu não sou o Jean. Se ela queria continuar sendo mimada como era pelo pai, talvez devesse ter ficado na casa dele.



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