História M.o.n.s.t.e.r. - Capítulo 27

                Os dedos do ruivo tamborilavam sobre a mesa, inquieto. Já se passava uns quinze minutos que tudo o que Peter fazia era bebericar o chá que tinha sido servido para si duas vezes. Lucas estava igualmente intrigado. Não sabia quem era o homem que estava sentado de frente para seu namorado, sabia que eram amigos, mas nunca trocaram palavras além de “ oi” ou “tchau” quando se esbarravam em ocasiões em que Ryan apareceu com sigo.

                Lucas não sabia que o moreno namorava seu primo e muito menos Peter sabia que Lucas era primo de Rafael.

                -Vai me contar o que trouxe até meu apartamento no meio de uma chuva, as nove e meia da noite de uma terça feira? – Ryan soltou de uma vez o que estava preso em sua garganta, conseguindo a atenção do moreno, que desviou o olhar da caneca para os olhos castanhos.

                -Eu... – Suspirou. – Eu vou sair de casa.- Falou em um sussurro.

                -Você o que? – Ryan perguntou por não ter conseguido escutar. Lucas deu um passo a frente, inconscientemente, para poder ouvir o que o outro falava.

                -Eu vou sair de casa. – Repetiu um pouco mais alto.

                -Você o que? – Diferente da pergunta anterior, dessa vez Ryan escutou muito bem. – Porque? Você tem lugar pra fica? Sua mãe te expulsou? Ela descobriu seu relacionamento?

                -Como se ela se importasse com quem eu transo. Ela não se importa nem se eu to’ respirando, Ryan! – Falou chateado arrancando um olhar melancólico de Lucas e um preocupado do ruivo. – Eu só... sinto que não faço mais parte de lá, não me encaixo. Aquela não é a minha família.

                Lucas podia conhecer o moreno pouco tempo, mas acabou criando uma empatia ao saber a sensação de não ser querido dentro de sua própria casa. Mesmo sem ser convidado, puxou uma cadeira ao lado de Peter e se sentou nela. Olhou o moreno de forma acolhedora e segurou em sua mão.

                Ryan não gostou muito daquela aproximação, não deixando de demonstrar sua total descrença e ciúmes. Lucas soltou um sorriso e mandou um beijo discreto para o namorado, que sorriu bobo.

                -E também, ela já não me aguentava lá mesmo. – Suspirou. – Eu tenho sim um lugar pra ficar, tenho a casa que meu pai me deixou...

                -Peter, aquela casa está um chiqueiro! – Ryan protestou.

                -E eu não tenho lugar para ficar! Amanhã eu vou comprar uma vassoura e produtos de limpeza pra arrumar aquilo. Eu gosto de lá... – Falou a última parte olhando diretamente nos olhos de Ryan, que entendeu o recado.

                Todo o tempo que ele tinha passado naquela casa foi recebendo o amor do ruivo, se sentia amado dentro daquelas paredes. Diferente de quando era sob o teto de sua mãe, então para si aquele lugar era importante. Ele queria construir um futuro diferente, mesmo que seja em uma casa pequena, mas que era grande para uma pessoa só.

                -Vai dar tudo certo. – O moreno afirmou tentando acalmar o amigo e consequentemente o loiro ao seu lado, que com apenas um gesto de afeto já se sentiu afinado ao outro. Suspirou e perguntou: - Posso passar a noite aqui?

                -Claro! – Lucas se aprontou a falar no lugar do namorado, lançando logo um sorriso contente para o mesmo.

                Como o apartamento era pequeno, Peter teve que dormir no sofá. Não que isso seja algo ruim, mas era muito melhor do que se estivesse na rua, então era mais do que perfeito.

                Antes de dormir mandou uma mensagem para o namorado.

                “Tive alguns problemas hoje, amanhã vou precisar da sua ajuda. Dorme bem, tampinha. ”

                Travou a tela do celular, mas antes de se arrumar para dormir, ouviu o celular vibrar em cima da mesa sem intervalos. Bufou já sabendo o que era e não deixando de soltar um sorriso bobo.

                “O que houve? “

“Peter, fala comigo. ”

“É algo urgente? ”

Olhou as mensagens de forma divertida e não tardou a digitar uma resposta.

“Estou bem, mas estou de mudança e vou precisar que me ajude a arrumar minha nova casa. ”

“Ficou maluco? Está podendo esbanjar dessa forma? Onde conseguiu dinheiro pra uma comprar uma casa? Você não está se envolvendo com aquele tipo de gente de novo não né? ”

“Calma, Rafael! Eu não comprei casa nenhuma, foi uma casa pequena que meu pai deixou antes de ir embora. E sobre voltar pra minha vida antiga, eu não tenho interesse nenhum nisso. ” Peter sabia que tinha deixado o menor com vergonha e não esperava uma resposta diferente da que recebeu logo em seguida.

“De qualquer forma... eu posso e vou te ajudar sim... amanhã a gente se fala. Boa noite”

Peter nem teve tempo de responder quando viu o símbolo que mostrava que o outro estava online ficar cinza. Suspirou e decidiu que seguir os passos do namorado e ir dormir seria um boa ideia.

A prova para a ingressão nas forças armadas acabou por ser colocada no mesmo dia do baile de formatura. De início ambos ficaram chateados, mas acabaram por arrumarem um jeito de organizarem tudo.

Peter acabou se mudando para a pequena casa que fora deixada pelo seu pai no dia seguinte. Se despedir de sua pequena irmã foi o mais difícil, ele disse que sempre que pudesse a faria visitas e que nunca faltaria seus aniversários. Sua mãe lhe direcionou pouco mais do que cinco palavras antes de ver seu filho sair com seus pertences pela porta da frente. Querendo ou não, aquilo de alguma forma mexia com a mais velha, ela amava seu filho, mas o bloqueio que criara era maior do que tudo. Ela não conseguia o desfazer por nada. Talvez ela só precisasse crescer.

O dia da prova, finalmente, havia chegado. Peter passaria para pegar Rafael em sua casa uma e meia da tarde, ambos estariam já com suas vestes para o baile. Tinham que dar graças pelo clima estar agradável ou os dois torrariam dentro daquela roupa.

Assim que o mais alto chegou em frente a porta da frente da casa do namorado, respirou fundo e arrumou seu terno, verificando se estava devidamente arrumado para receber o outro. Assim que desistiu de tentar arrumar seus cabelos e revisar o visual, Peter tocou a campainha e não tardou a ouvir passos rápidos até a porta, que fora aberta de forma bruta.

-Estou atrasado, eu sei. – Rafael falava com a escova de dente dentro da boca enquanto terminava de abotoar a camisa social. Tirou a escova de lá e deu um selinho rápido no namorado. Sorriu ao ver que deixou um pouquinho de espuma de pasta de dente no canto dos lábios alheios e passou o dedão por lá. – Entra, vou só terminar de me arrumar. O celular não despertou.

Suspirando e balançando a cabeça negativamente enquanto carregava um sorriso de descrença nos lábios, Peter entrou na casa e fechou a porta atrás de si.

-Seja rápido, dez minutos fora. – Falou assim que viu o namorado subir as escadas. Adorava colocar pressão no outro sabendo que ele não fazia nada direito dessa forma.

-Não enche! – Disse com dificuldade, arrancando uma risada do maior.

Depois de longos sete minutos, Rafael desce as escadas como se fosse algum tipo de furacão, o que captura total atenção de Peter.

-Não corre! Se você cair vou ter que te carregar para o hospital. – Bronqueou se levantando.

-Eu... desculpa. – Falou sem graça assim que chegou no térreo e pode parar para perceber o quanto o namorado estava bonito. Seus cabelos negros estavam arrumados em um topete, uma coisa extremamente cômica já que costuma usar ele jogado de qualquer jeito sobre o rosto. Peter estava no mínimo perfeito. Seu terno bem passado e alinhado ao corpo que passou a ganhar alguns músculos pelos treinos excessivos, não que ele estivesse exagerado. O moreno acabou virando um homem realmente incrível, e ninguém podia negar isso.

-Você está lindo. – O moreno disse enquanto se aproximava do menor e passava a acariciar a face terna. – Com certeza será o centro das atenções essa noite. – Pegou a mão alheia e selou os lábios nela.

-O-Obrigado. – Falou sem jeito. Não sabia como elogiar o outro sem parecer um completo idiota, então apenas desviou o olhar e disse: - Você também está bastante bonito.

Peter sorriu, entrelaçou os dedos de sua mão nos dele, e sem dizer nada, saiu com o outro em direção a sua moto.

De um tempo para cá, Rafael aprendeu a suportar andar de moto com o inconsequente do namorado, podia até arriscar dizer que gostava dela, mas nunca falaria isso em voz alta.

O caminho de ida foi completamente calmo. Não tinha tanto transito, e como fora mencionado anteriormente, o clima estava incrivelmente agradável para ambos que usavam terno em pleno sol de uma da tarde.

Assim que Peter estacionou perto da porta do local onde seria a prova, desceu da moto e entregou o capacete para o namorado.  Rafael tirou o seu que já estava o incomodando.

-Me deseja sorte. – Falou sorrindo nervoso para logo depois depositar um selar rápido no mais baixo.

-Hey! Que isso? – Perguntou indignado arrancando um olhar questionador do outro. – Cadê o meu beijo de verdade? – Perguntou sapeca.

Peter sorriu para logo depois encurtar a distância entre os dois, selando seus lábios. O beijo não foi tão demorado nem tão profundo, mas nunca deixaria de ser tão intenso quanto o primeiro.

-Faça uma boa prova e lembre-se que eu vou estar bem aqui quando você voltar. – Rafael disse quando o beijo fora apartado e segurava ambas as mãos do moreno na lateral de seu próprio rosto.

-Farei, afinal, meu futuro esposo não irá me esperar para sempre. – Disse para logo depois começar a se distanciar em direção ao edifício.

Rafael ficou bobo com o que foi dito, mas demorou um pouco para formular uma resposta, tanto que para isso teve que elevar um pouco sua voz.

-Está enganado. – Sorriu. – Vou te esperar para todo o sempre!

Ao ouvir isso, o coração do mais alto bateu mais forte e a necessidade de passar no teste aumentou ainda mais.

Ele precisava de Rafael na sua vida.

E como precisava...