História Monster - Her boyfriend

Meus olhos ardem assim que abro a cortina, estava cedo o suficiente para me levantar e ninguém desconfiar de minha noite mal dormida. Vou pro banheiro na esperança de melhorar meu rosto pálido e com olheiras, o lavo diversas vezes tentando mudar o aspecto morto dele mas pareceu não adiantar. Gemo de frustração e saio do banheiro em passos pesados, deixando o quarto em seguida. Desço as escadas rapidamente podendo ouvir o barulho de talheres contra o prato, respiro profundamente e entro na cozinha. 

- Bom dia querida, dormiu bem? - perguntou Maggie assim que me viu. 

- Hm... Sim. - eu minto, me sentando em uma das cadeiras. 

- Bom, pelo menos vocês conseguiram dormir. - começa Maggie, olhando para pra Glenn. - Esse bebê está me matando. 

- Por que? - pergunto, colocando um pouco de mingau no pequeno pote a minha frente. 

- Minhas costas doem mas acho que vale a pena. - ela responde enquanto se levanta. 

- Posso pegar mais travesseiros pra você. - Glenn se oferece. 

- É, quem sabe é melhor procurar um médico. - sugiro. 

- Estou bem, não precisa de tudo isso é só uma dor nas costas. 

- Sua placenta deslocou antes Maggie, precisamos tomar cuidado. - insiste o asiático. 

- Estou bem Glenn, vou ir ver a Sasha, precisamos resolver um assunto. 

- Tome cuidado. - ele pede. 

- Você também. 

Eles sorriem um pro outro e logo depois Maggie deixa a casa. Glenn volta a comer o mingau em seu pote e o imito, sentindo o delicioso gosto de canela em minha língua.

- Vocês cuidando um do outro chega a ser mágico. - comento, colocando outra colher em minha boca. 

- Talvez. As pessoas tem que cuidar umas das outras.

- É. - concordo. Ninguém cuidava de mim no final das contas. 

Acabo de comer minha comida em silêncio, Glenn parecia querer falar algo mas nada saía de sua boca. Ele estava incomodado com algo e estava me deixando incomodada também, acabo meu mingau rapidamente e me ponho de pé. 

- Esteja aqui em casa as duas, Rick tem algumas coisas pra conversar com você. - avisa ele. 

- Lá vem bomba. - reclamo, dando de ombros.

- Vai ficar tudo bem. 

- Espero. 

Vou em direção a porta e a abro, mas ouço a voz do Glenn assim que ia sair. 

- Por que entrou na minha frente? 

- O que? - pergunto, me virando pra ele. 

- Quando Negan mandou a mulher matar alguém, por que entrou na minha frente? - ele repete. 

- Não entrei. 

Do que diabos ele estava falando?

- Você entrou sim. - ele insiste se levantando. - Estava parada perto de mim e quando isso aconteceu você deu um passo pro lado, consequentemente entrando na minha frente. 

- Ah eu, eu acho que nem percebi. - sou sincera. 

- Eu só quero saber: por quê? 

- Eu... eu acho que foi porque dentre todas pessoas ali você era a única que eu não queria que se machucasse. Você me abrigou na sua casa, confiou em mim o suficiente pra me deixar dormir no mesmo teto que sua esposa grávida, então acho que o minimo que poderia fazer é te deixar viver por mais um dia. 

- Então vai me proteger? - ele pergunta, sua cara não estava das melhores.

- Não fiz por querer. - digo, encarando o chão. 

- É, não faça de novo. - diz ele e dá de ombros. 

- Você faz parecer errado.

- Ninguém precisa se machucar por minha causa. 

Ele está querendo dizer que o que fiz foi errado? Que eu sou errada por ter tentado fazer algo bom? 

- Tudo bem. - concordo, falando alto demais e indo em direção a porta de novo. - Não vou cometer o mesmo erro outra vez. 

Bato a porta com força e desço as escadas rapidamente. Ele que se vire sozinho! Não preciso dele, não vou mais me arriscar por idiotas. Respiro profundamente e tento me acalmar. A cada passo que dava a raiva parecia ir embora, vejo Maggie do outro lado da rua e ela sorri pra mim, enquanto Sasha me encara com mais ódio do que sou capaz de lidar. Vejo Carl no final da rua e ele parecia conversar com alguém no portão, sigo até ele. 

- Qual é cara? Vai embora daqui, ela não vai falar com você. - respiro profundamente ao ouvir Carl falar isso. 

Me aproximo em passos lentos fazendo o garoto com o usual chapéu de xerife notar minha presença. 

- Quem é? - eu pergunto. 

- Eu resolvo isso. - ele diz com a mão estendida em minha direção como se me mandasse parar. 

O ignoro completamente e paro ao seu lado, vendo a última pessoa que queria ver do outro lado do portão. Suspiro. 

- O que está fazendo aqui? - pergunto. 

- Quando Negan disse eu não acreditei, tive que ver com meus próprios olhos. 

- Volta, agora. - peço. 

Jake sorri ironicamente. 

- É, eu vou voltar, e você vem comigo. 

- Para com isso, não vou voltar. Não depois do Daniel. 

- Está querendo fazer eu me sentir mal? - ele pergunta, aumentando o tom de voz. - Pois é, conseguiu. Me desculpe tá legal? Não podia deixar você morrer. 

- Eu não ia morrer, Negan nunca me mataria e você sabe disso. - revido, já sentindo a raiva voltar ao meu corpo. 

Ele suspira enquanto Carl se remexe ao meu lado. 

- Eu não corro mais riscos. - Jake garante. 

O encaro, o que ele disse não fazia o menor sentido. 

- Tudo bem, agora pode me explicar quem é ele? - pergunta Carl apontando pro garoto do outro lado do portão e cortando o clima que estava entre mim e Jake. 

- Meu amigo. - respondo. 

- O namorado dela. - Jake corrige. 

- Meu ex-namorado. - revido olhando pra ele e frisando bem a palavra ex.

Jake desvia os olhos dos meus e olha pra Carl. 

- E quem é você? O novo brinquedo dela? - ele pergunta. 

- Assim como você era? - Carl revida. 

Jake sorri ironicamente e fecha os punhos, Carl dá um passo pra frente como se estivesse pronto pra briga mesmo com a grade do portão os impedindo. Entro na frente de Carl. 

- Jake, sai daqui, vão sentir sua falta. - peço.

- Negan sabe que eu estou aqui. - ele diz com os punhos ainda fechados. 

- Ele sabe? - me pergunto. - Acho que os jogos dele estão cada vez piores.

Jake suspira e finalmente relaxa as mãos. 

- Vamos logo, Marg. - ele pede. 

- Não Jake, eu disse que não vou. 

- Por que vai ficar? Pra morrer? Pra recolher os ossos? 

Suspiro, nada que eu dissesse iria fazê-lo ir, somente uma coisa. 

- Tenho um namorado. - falo. 

- O que? - ele e Carl dizem juntos. 

Olho para Carl, implorando para que ele cooperasse.

- Bem aqui, ele tem belos olhos não tem? - digo, parando ao lado de Carl que me olha confuso. 

- No caso só um. - ironiza Jake mas não vejo graça. 

- Não seja idiota. 

Jake me encara e depois revira os olhos. 

- Não acredito nisso, foram só alguns dias. 

- Sou rápida. - garanto. 

- Há um mês atrás estávamos transando dentro de um carro, não pode ter mudado tanta coisa assim. 

Suspiro, sentia falta daquela época. 

- Acho que você deixar o Brandon destruído e ter matado o Daniel muda muita coisa. - revido. 

- Não acredito nisso. - ele insiste. 

Olho para Carl com o canto do olho e sem pensar muito faço a única coisa que faria Jake ir na hora, beija-lo. Selo minha boca a sua e sinto sua língua contra a minha, ele não acompanhava o beijo mas não me afastou, talvez por querer que Jake vá mais do que eu. Depois de alguns segundos me afasto e encaro o moreno a minha frente. 

- Acredita agora? - pergunto.

- Bom, beleza, fica aí. - diz ele com os punhos fechados novamente. - Disse pra eu te esquecer não é? Acho que a Callie vai gostar de saber disso. 

Ele dá de ombros e entra no carro que estava parado atrás dele. 

- Quem é Callie? - Carl pergunta e quando me viro pra ele vejo Enid parada a alguns passos pra trás, ela não estava com cara de quem acabou de chegar. 

- Esqueça isso, me desculpe Carl. - respondo e praticamente corro em direção ao final da rua, não podia voltar pra casa e encarar o Glenn e muito menos continuar ali e ter que aturar a fúria da Enid. 

Fico o dia inteiro fora de casa, não querendo ver ninguém. Rick me encontrou em uma das casas que estavam vazias, ele conversou comigo e me explicou minha atual situação. Respondi todo o questionário dele com cuidado, não queria acabar falando demais. Estava encarregada de - tentar - desenhar o mapa do Santuário, mesmo que malfeito, Rick parecia precisar dele. E claro, continuarei sendo a fonte de informação dessa comunidade, me sentia usada nesse aspecto. 

O fim da tarde já havia chegado e eu estava completamente faminta, não havia comido nada o dia inteiro. Sigo em direção a casa, um pouco aflita por ter que dar de cara com o Glenn. Vejo a casa de Carl e algo em mim me faz querer falar com ele, talvez esteja culpada demais por ter arranjado problemas entre ele e Enid, eu podia não gostar dela mas isso não me parecia justo. Subo as escadas e abro a porta vendo tudo escuro, sigo o barulho da tevê e vejo Carl sentado no sofá, ele sorri pra mim. 

- Oi. - digo e sento ao seu lado.

- Oi. 

Suspiro.

- Me desculpe por hoje cedo, eu não queria arranjar problemas pra você. 

Ele se vira pra mim. 

- Estou muito confuso sobre o que eu sinto, não podia admitir nada agora, então acho que você me fez um favor. - ele responde e eu sorrio. - E então, você ainda não me respondeu quem é Callie. 

Reviro os olhos. 

- É uma garota que praticamente se jogava em cima do Jake quando namorávamos, eu meio que odeio ela. 

- Isso me parece ciúmes. - ele provoca com um sorrisinho. 

- Talvez. Mas sou muito egoísta pra pensar nessa hipótese. - brinco e ele sorri. 

Ficamos em silêncio e encaramos a tv, os personagens davam tiros para todos os lados e desviavam de todas as balas que vinham em direção a eles. Acho graça, a realidade não era assim. 

- Me desculpe, de novo, pelo beijo. Tinha que me livrar dele. 

- Não precisa se desculpar. Eu meio que... hm... gostei. 

Dou risada enquanto ele fica vermelho. 

- Bem, eu meio que... hm... gostei também. - ironizo, tentando imita-lo. 

Ele sorri. 

- Não faça isso ser mais constrangedor. - ele pede, encarando de novo a tela da tv. 

Suspiro e me arrasto pro lado, ficando bem perto dele. Seguro seu rosto pelo queixo e o viro em minha direção, encarando a piscina azul de seu olho. Sinto sua respiração em minha bochecha e então, sem mais delongas, selo nossos lábios. Minha língua desliza para dentro de sua boca entrando em contato com a dele, e ambas se movimentam levemente. Sinto sua mão em minha perna e coloco a minha em sua nuca o puxando pra mais perto de mim. Eu iria pro inferno por me aproveitar dele. Paramos o beijo por falta de ar e deixamos nossos narizes roçando um no outro. Em poucos segundos me afasto, estranhando a sensação dentro de mim. 

- Eu... eu tenho que ir. - começo. - Glenn e Maggie tem algo especial com a hora do jantar, bom, talvez não seja nada especial somente queiram ter certeza de que eu não estou por ai matando alguém. - brinco mas ele não ri. - Tchau. 

Praticamente saio correndo de dentro da sala, atravesso a rua rapidamente entrando logo na casa que - no momento - era minha. Abro a porta e vejo Glenn e Maggie na sala de jantar, eles ainda não estavam comendo, estavam arrumando a mesa. 

- Onde estava querida? - pergunta Maggie. 

- Estava... hm... estava conversando com Carl. 

Ela assente enquanto Glenn evitava contato visual comigo. Sigo para as escadas

- Não vai comer? - ela questiona. 

- Me viro pra ela. 

- Não estou com fome. - minto, vendo Glenn olhar para o chão.

- Mas você não comeu nada desde o café. - ela insiste. 

- Como depois, vou tomar um banho. - falo e praticamente corro em direção a escada.