História Moon Drop - Just the Beginning

TaeMin

Ser criado em uma família tradicional, na qual te impõem que você deve dar continuidade aos negócios da família nunca foi meu sonho, talvez não seja o sonho de ninguém, mas desde que eu me lembro, eu nunca aceitei aquilo e sempre fui castigado. Minha família ficava ainda mais irritada por saber que meu sonho mesmo era ser um dançarino profissional, mas sem a ajuda financeira deles eu nunca conseguiria chegar nem perto, o máximo que eu podia fazer era treinar por mim mesmo, mas foi só alcançar a maior idade que simplesmente juntei o necessário em uma mochila e saí de casa sem avisar. Eles também nunca me procuraram.

Fui contratado como professor informal de dança em um hotel de veraneio, e em outro fui contratado para fazer apresentações de dança. Juntei dinheiro suficiente para comprar um carro. A moradia e a alimentação era de graça. Fiz amizades. Conheci e desconheci inúmeras pessoas. Além dos rostos que se hospedam todo o verão. Pensei que era feliz, realmente feliz. Mulheres colocavam a chave de seus quartos nos bolsos da minha calça, umas diziam para o marido que eram aulas extras, outras estavam sozinhas porque seus devidos maridos estavam trabalhando. Eu pensei que era feliz com isso, mas no fundo, sem querer enxergar a realidade, eu sentia nojo de mim mesmo.

- TaeMin! – Fui desperto de meus devaneios por uma voz conhecida, tive que levantar o rosto. – Yah, o que está fazendo? O salão vai abrir em cinco minutos! – Gritou Victoria da porta do quarto.

- Eu já estou indo, não se afobe. – Resmunguei enquanto amarrava os cadarços do meu sapato.

Victoria era uma chinesa refugiada, sem identificação, ilegal. Nunca me contou como conseguiu ao menos entrar no país, também nunca me interessou, ela era a melhor pessoa que tinha conhecido desde que cheguei naquele hotel, e cuidou de mim desde então. Ela era minha parceira de dança sempre na primeira música, para então nos separarmos e ensinarmos quem estivesse ali, homens ou mulheres.

O tema daquela noite era lambada, uma dança complicada com movimentos precisos e sensuais, mas naquela noite, naquela em especial, meus olhos pousaram em um único rosto. Ele estava encostado na parede com outras duas pessoas, uma delas era um amigo meu, outro dançarino, JongIn, me substituia nos dias de folga. Eu não podia mais ficar no meio de tantas pessoas enquanto meu olhar estava focado naquele desconhecido, então decidi me aproximar, dançando, e quanto mais me aproximava, vi que ele percebeu e olhou para mim, senti meu coração falhar uma batida. Estiquei minha mão para convida-lo a dançar como se fosse ensina-lo.

- Eu? – Sua voz saiu com um riso no final, estava nitidamente sem graça.

- Hyung, esse é o TaeMin, o melhor dançarino daqui. Aproveita que ele está te oferecendo uma aula e vai, você é o sortudo da vez. –

- Mas.. Eu não sei dançar. À propósito, JongHyun. – Ele falava baixo, mal conseguia escutar sua voz, mas compreendi seu nome e o vi esticar a mão para um cumprimento, mas o que fiz foi segurar a mão que era maior que a minha e o puxar para o meio das pessoas dançando, não podendo conter que um riso escapasse pelos meus lábios.

- Qual o problema? Só uma música, depois você pode fugir. – Por sorte a música que começou a tocar era mais simples de ser dançada e eu conseguiria ensinar alguns passos para ele.

O silêncio em JongHyun predominou, percebi que estava atento demais aos passos que eu ensinava para conseguir falar. O lugar fechado me fez suar rapidamente, meu cabelo escuro começava a desmanchar e cair para os lados, mas eu não tinha como largar a cintura do outro que dançava comigo. Até que ele resolveu falar.

- Tem certeza que você não me conhece? Meu pai é o maior contribuinte para que esse hotel continue funcionando. – Meu cérebro parou por um instante quando ouvi o que ele tinha dito.

- Você é.. Kim JongHyun?

Há alguns anos, um tal de Sr. Kim, como era chamado pelo gerente do hotel, queria que todos os dançarinos fossem demitidos porque a filha mais velha tinha acusado um deles de assédio sexual. Somos informais mas somos profissionais. A raiva subiu à minha cabeça na época e uma briga feia foi criada entre mim e o Sr. Kim, a quem gentilmente apelidamos de “Sujeito da Discórdia”. A raiva voltou naquela noite também.

Rapidamente soltei JongHyun e me afastei, indo em direção à JongIn e o puxando para fora dali. Ouvia-o perguntar um tanto nervoso o porquê de estar fazendo aquilo mas não o respondi, apenas o joguei contra a parede dos fundos e minha expressão não era das melhores.

- Você enlouqueceu?! O que deu em você?! – Ele estava nervoso sem razão.

- Você sabe quem é aquele? Aquele é Kim JongHyun, filho mais novo do “Sujeito da Discórdia”. Lembra-se dele?! Hm? Lembra da briga?! – Eu gritava perto de JongIn, não me importando se alguém escutasse, estava com raiva demais para simplesmente me controlar. – Como você fala com uma pessoa daquela família?!

- TaeMin, pelo amor de Deus, se acalma! O JongHyun é daquela família mas não é como eles! Você acha mesmo que se ele fosse igual, estaria aqui? Estaria comigo? Estaria dançando com você?!

- É o mesmo sangue, JongIn! Tsk.. Fica no meu lugar. Eu não vou..

- Não vai o que?! – Fui interrompido por Victoria que chegava no local. Se eu não apanhasse com certeza levaria um puxão de orelha.

- Noona, eu.. Estou estressado, não vou voltar. – Era impressionante como ela conseguia me dominar rapidamente. Ou talvez eu apenas fosse um cachorrinho que achava que podia latir e morder.

- Eu sei muito bem seu motivo de estar estressado, Lee TaeMin, mas eu não admito esse tipo de comportamento. É o seu dia de trabalhar, não o de JongIn, então se você não voltar para o salão imediatamente e agir naturalmente, eu juro que te deixo sem trabalhar por uma semana. – É, ela podia fazer aquele tipo de coisa.

Suspirei um tanto revoltado e voltei junto com JongIn depois de ajuda-lo a se recompor, assim como ele me ajudou também, já que minha aparência não era das melhores depois do escândalo que dei do lado de fora. E pelo resto da noite, tentei ficar longe de JongHyun o máximo possível, mesmo que ele cismasse em andar perto de JongIn, minha sorte é que, quando o salão estava quase fechando, uma mulher colocou uma chave no meu bolso e apenas me deu um sorriso rápido. Respirei fundo, olhei para Victoria e com apenas uma troca de olhares eu pude avisa-la que já estava indo, mas sua expressão não era das melhores.

———

Alguns dias se passaram desde o meu ilustre encontro com Kim JongHyun, e por mais que minha vontade fosse dar alguns gritos na cara dele para que ele acordasse para a vida e percebesse que o lugar ao qual ele pertencia era um outro bem diferente, tive que aguenta-lo perto de mim por causa de sua estranha convivência com JongIn, então, assim que tive um momento de paz daquela figura indesejada, puxei o moreno para perto de mim.

- Ei, qual é de vocês dois? Não me diga que estão tendo um caso. – Provavelmente ele riria do modo como eu estava dizendo, e realmente não foi diferente.

- Você ficou louco? Eu com um cara? Nem que ele me pagasse, por favor. – Riu debochado. JongIn era o tipo de pessoa que sempre afirmaria sua heterossexualidade quando tivesse a chance. – É só que o meu sonho é sair desse poço sem fundo. Eu não aguento mais, TaeMin, e sinceramente não sei como você aguenta. O mundo nos espera, somos jovens, somos talentosos, podemos ter o que quisermos nas nossas mãos.

- Sem dinheiro nós não vamos a lugar algum, idiota.

- Eu sei que não, mas.. – Deu uma breve pausa para iniciar um sussurro. – Ele pode ser minha passagem para fora daqui.

- Você está pensando em rouba-lo? Onde está o “ele não é como o pai?”. – Eu não gostava de JongHyun, mas aquela atitude era demais até para mim.

- Eu não disse com essas palavras, tsk.. Mas não é roubo propriamente dito, eu vou pedir um dinheiro, mentir pra ele, entende? Você sabe que eu minto muito bem. – E riu mais uma vez, me dando um tapinha no ombro e se levantando. – Eu vou aproveitar as oportunidades que a vida me dá, Tae. Você deveria fazer o mesmo com o dinheiro que recebe dessas.. Velhas vagabundas que só sabem transar.

Eu realmente deveria ter me controlado, devia ter mantido a calma, afinal, ele não tinha dito nada que era mentira, mas o modo como ele estava agindo estava me irritando cada vez mais. Levantei-me e o puxei pela gola da blusa. Eu não era forte fisicamente, na verdade era bem magro, mas a raiva sempre me deixava alterado.

- Se você falar assim comigo mais uma vez.. Você é um cara morto. – E o soltei. Mas não percebi que tínhamos alguém na plateia, e logo quem. – E você?! Saia logo daqui antes que minha mão voe e pouse na sua cara.  – JongHyun me olhava sem expressão, como se não tivesse escutado o que eu tinha dito.

Resmunguei quando os dois sairam de perto de mim e fui procurar Victoria, afinal, era a única que realmente me escutava quando eu precisava conversar, mas para melhorar ainda mais o meu dia, não a encontrei nos lugares que costumava aparecer.

- TaeMin-goon! – Ouvi meu nome ser gritado tão formalmente que reconheci logo a voz.

- Sunbae? O que houve? – Era Hyukjae, um outro dançarino, porém, profissional, e estava a mais tempo trabalhando ali.

- Victoria.. Ela.. Ela não está bem. – Estava ofegante pela corrida e pálido como se tivesse acabado de presenciar uma morte. Me desesperei.

- Onde ela está?! – E antes de receber uma resposta comecei a correr na direção que ele tinha vindo antes de vê-lo passar a minha frente para guiar-me.

Se acontecesse alguma coisa com Victoria, minha vida teria chegado ao fim.

Continua.