Enfim chegou o grande dia.
— AAAAAAAAAAAAAAIIII.... AI AI AIIIIIIIII AIIII AAAAAAAAAAAAAAAI.
Meus gritos ecoam na sala de parto e eu com certeza terei que comprar uma cama nova para a maternidade do hospital no Solo Sagrado. A dor que eu sinto é descomunal exatamente como sempre ouvi dizer, mas a alegria de enfim poder ver o rostinho do meu bebê e descobrir se é menino ou menina, compensa qualquer dor. Ou pelo menos, deveria...
— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAiiii...
Outro grito escapa pela minha boca e eu adoraria poderia dizer que fui forte o suficiente pra passar pelo parto de forma elegante e discreta, mas a verdade é que não. Tá doendo de mais pra que eu consiga sequer pensar em manter a compostura.
— Shhhhh, eu tô aqui com você meu amor, minha moça bonita que eu tanto amo...
— SHHHH??? Que mané SHHHHHH Christopher! Isso aqui tá doendo o inferno e você quer que eu me acalme???
É, minha mãe bem que tentou me avisar pra tentar ser paciente com meu marido nesse momento, mas associá-lo a dor que eu sinto me faz sentir uma vontade imensa de esganá-lo. Mesmo que meu subconsciente me deixe claro que ele não cometeu nenhum crime, ao contrário. Christopher me olha e eu sei que ele agora está sem saber muito bem como agir e então eu aproveito o pouco tempo de “calmaria” pra tentar consertar o que eu fiz.
— Me desculpa meu amor, é que você precisa entender tá dooooooooooo.. AAAAAAAAAIIIII...
— Vamos lá Norah, a contração voltou, seja forte. EMPURRA!
A minha tentativa falhou por conta de uma forte onda de dor de uma contração ainda pior que a anterior e então a voz do médico se fez presente me orientando de algo que o meu corpo parecia saber que devia fazer, por mais que doesse.
— Outra vez Norah... EMPUUUUURRA!
E a situação ao invés de melhorar, fica cada vez mais tensa, a dor é tão grande que eu já nem me sinto mais irritada com os carinhos repetitivos de Christopher em meus cabelos.
— Vai meu amor, você é forte, eu sei que você consegue...
Christopher sussurra em meu ouvido e eu gostaria de perguntar a ele se ele se dá conta de que o meu metabolismo acelerado e a minha cicatrização excessivamente rápida, fazem a dilatação não durar muito tempo e que pelos mesmos motivos seria impossível um parto cesáreo. E que com isso eu tô sofrendo pelo menos duas vezes mais que uma humana normal sofreria dificultando total a minha vontade de me manter tranquila e calma como sempre sou com ele. Será que ele não entende isso?
— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAi...
E uma onda impactante de dor me faz ir ao limite de minhas forças, empurro com uma força tão grande que em sei de onde veio. Um choro começa a ser ouvido e a dor imediatamente dá lugar para a emoção de ouvir aquela voz em seu pranto agudo.
— Nasceu! --- O médico anuncia mesmo sem que fosse necessário. Logo ele ergue o bebê e daqui por trás de um lençol de proteção eu mal vejo seus pés gordinhos.
— Me deixa ver meu bebê Dr... --- A voz de Christopher sai embargada e voltando meu olhar pra ele vejo seu rosto encoberto por lágrimas.
— Já vai ver Regente, já vai ver. Primeiro precisamos fazer os procedimentos.
A resposta do médico já era de se esperar, ele entregou meu bebê à enfermeira e de relance eu vi novamente apenas uma parte de seu corpo coberto por uma camada de líquido rosado. Ela se afastou um pouco indo para a parte lateral da sala de parto, certamente foi pesá-lo e fazer as verificações básicas quanto a sua saúde, e Christopher e eu aguardamos em silêncio repletos em emoção. Depois do que nos pareceu uma eternidade, ela voltou com o bebê enrolado em uma coberta.
— Aqui está o bebê de vocês. --- A enfermeira o apoiou em meu peito, mas Christopher é que o segurou, na posição em que estou mal conseguiria segurá-lo corretamente.
— E o que é? --- Christopher questiona alternando seu olhar mais apaixonado entre o bebê e eu.
— É um garotão!
Suspiro imediatamente ao ouvi-la.
— Um menino! Nós temos um menino meu amor... --- Christopher cobre tanto a mim quanto ao nosso filho de beijos e eu não consigo me conter nesse instante. Meus olhos se inundam e as lágrimas descem por meu rosto.
— Nosso menino...
Sussurro e de repente franzo cenho ao sentir novamente uma intensa dor e meus olhos buscam de imediato os do médico que logo desce o olhar em direção a minha genitália.
— Opa, espera aí, Norah faça força! EMPURRA NORAH!
— Mas... Como, como assim empurra doutor? --- Christopher questiona de olhos arregalados.
— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI....
Grito fazendo o máximo de força para baixo que eu consigo. Logo outra onda terrível de dor me acomete e eu volto a gritar em agonia, sem entender muito bem o que se passa. O médico incentivando meu esforço me faz empurrar cada vez mais e eu simplesmente não consigo pensar muito nesse momento, apenas obedeço ao que ele manda. E quando pensei que não mais conseguiria suportar aquela dor, outro choro se faz perceber naquela sala. Dessa vez o tom é fraco, como se estivesse sufocando e a movimentação do médico e das enfermeiras torna o clima ali muito mais tenso do que deveria, volto meu olhar pra Christopher e o vejo com o semblante transtornado. Penso em perguntar o que está acontecendo, mas nem sei porque eu simplesmente não consigo. Aquele chorinho fraco e baixo continua e as coisas parecem ir se encaixando na minha cabeça e o desespero repentinamente me bate. Minhas mãos tremem e suam frio meu coração dispara de um jeito que eu nunca havia sentido e o monitor cardíaco passa a indicar algo que deixa o médico transtornado a ponto de solicitar auxílio externo. As enfermeiras estão no fundo da sala em movimentos assustadores e o médico as orienta sem me deixar perceber o que está acontecendo. Minha mente vaga nas infinitas possibilidades e meu desespero só faz aumentar, a porta da sala é aberta e dois médicos entram devidamente equipados. Um deles diz algo que não presto muito a atenção, algo relacionado a ser cardiologista, mas eu ignoro focando a minha atenção ao outro que eu sei tratar-se de um pediatra, o mesmo que estava aqui antes do começo do parto e que me assegurou que voltaria assim que o bebê nascesse ou caso acontecesse alguma complicação. Um nó surge em minha garganta quando vejo um pequeno bebê sendo deitado em um equipamento que eles fecham uma tampa transparente por sobre ele. Aquele ali dentro daquela coisa é o meu filho, o segundo filho que nasceu de mim e que está com certeza correndo algum risco. Será que esse é o preço a ser pago pelo pacto selado com Yuki-onna??? Ela me permitiu ter meus filhos mas tirará a vida de um deles?? POR DEUS, PORQUE ISSO ESTÁ ACONTECENDO??? Tento falar algo, me pronunciar, gritar com eles para saber o que acontece, mas não consigo sequer me mover, meu corpo parece paralisado e só então me dou conta do porquê, o médico que está próximo de mim aplicou algo em minha veia e eu vou sentindo que meu corpo pouco a pouco vai apagando. Mas eu não posso, não posso apagar, eu preciso saber do meu bebê, preciso saber o que há com meu bebê. E de repente eu percebo meus olhos pesando e tudo aos poucos escurecendo.
— Progênie de Magnus Von Virtù, desperte agora...
Uma voz suave e doce ecoa em meus ouvidos e só então me dou conta que mesmo de olhos fechados é perceptível uma claridade enorme diante de meus olhos. Os abro imediatamente e me deparo com ela...
— Yuki-onna... Mas... Onde estão todos? Cadê os meus bebês? Você não vai leva-los de mim!!! --- A ira me surge junto com esse pensamento, mas de repente, sem que eu me dê conta de como, uma calmaria me acomete e eu relaxo completamente. Levo alguns segundos pra entender o que acontece, é Yuki-onna controlando meus nervos.
— Acalme-se criança. Eu vim apenas para garantir que minha parte no pacto se cumpra, descanse. Sua descendência não perecerá.
E após suas palavras eu tento me pronunciar e questionar sobre o segundo bebê, mas sou incapaz. De algum jeito aquela criatura poderosa me controla sem sequer necessitar moer um dedo e então a vejo de forma hollywoodiana se mover no ar até onde aquela coisa que daqui parece ser uma incubadora está no fundo da sala. Yuki-onna curva ligeiramente o corpo e sopra uma espécie de fumaça energética com leve tom de azul e nesse mesmo instante o choro forte e cheio de vida traz um enorme alívio ao meu coração. Yuki-onna volta seu olhar para mim e eu escuto como se sussurrasse em meu ouvido:
— Yuki-onna sempre cumpre com seus compromissos jovem híbrida.
E aquela figura, como da outra vez, apenas se desfez como num passe de mágica bem diante dos meus olhos e novamente eu me percebi apagando...
.....
— Amor? Você acordou.... Consegue me ver? --- A voz de Christopher em um tom suave parece despertar meus sentidos e pouco a pouco eu me esforço para abrir os olhos. — Isso moça bonita, abra esses olhinhos para mim...
— Os... Bebês.... Como estão.... Como estão nossos bebês?
Me esforço para falar e sinto um profundo alívio ao notar que enfim consigo.
— Se acalma meu amor. --- Ele beija meus lábios brevemente e o vejo se abaixando do meu lado, com o ruído breve eu noto que está chamando uma enfermeira. — Nossos bebês estão muito bem, muito fortes e saudáveis. Foi só um susto meu amor.... Chamei uma enfermeira pra avisar que você acordou, tá bem?
— Eu quero ver os bebês Christopher... --- Minha voz sai baixa, diria até um pouco fraca.
— E vai ver minha moça bonita, não se preocupe. Mas primeiro...
E a porta se abre no momento em que Christopher estava falando.
— Com licença Regente... Olha quem acordou, se sente bem Sacerdotisa?
A enfermeira que nos interrompeu se aproxima de mim e já toma meu pulso em sua mão iniciando as verificações.
— Estou um pouco lerda, mas estou bem.... Eu quero ver meus bebês. --- Vou direto ao ponto.
— É claro, é claro... São duas fofuras, parabéns! Não se preocupe, eu vou mandar trazê-los do berçário assim que terminar de verificar seu estado. A senhora estava muito alterada e precisou ser sedada. Ela anota algo numa prancheta e continua me examinando.
— Tá, só faz o que for preciso e traz meus bebês por favor...
A enfermeira sorri e gentilmente toca meu rosto.
— É claro que sim Sacerdotisa, já estou acabando e irei imediatamente pedir que tragam seus bebês. O médico também virá vê-la, sim?
Meneio a cabeça concordando e então me silêncio afim de deixa-la terminar o trabalho o mais rapidamente possível e quando termina ela se despede e sai me garantindo que em breve meus bebês serão trazidos. O que me lembra...
— Christopher, porque nossos bebês foram levados ao berçário? Porque não ficaram aqui conosco?
— Porque nós não estávamos aqui meu amor, viemos para o quarto mais ou menos uns dez minutos antes de você acordar.
— Dez minutos? Há quanto tempo foi o parto?
Ele me olha com estranheza. — Há cerca de meia hora meu amor... Mas porque essas perguntas?
Pisco os olhos repetidas vezes.
— Sei lá, tive a impressão de que haviam se passado dias...
Christopher ri de mim e me dá um beijo na testa.
— Não meu amor, apenas alguns minutos.
Suspiro aliviada.
— E wow... 2 bebês! Quem diria? Isso de não conseguir que ultrassonografia mostrasse dentro do saco embrionário, nos pegou de surpresa! Tá feliz? --- Questiono percebendo minha voz voltar ao normal.
— Feliz? Eu sou o Homem mais sortudo do mundo, felicidade é pouco perto do que estou sentindo...
Christopher se curva e me beija, eu correspondo e então uma questão me surge e eu interrompo nosso beijo.
— Amor, espera.... Pelo que me lembro, o primeiro bebê a nascer era um menino, a enfermeira nos disse quando nos entregou ele. Mas e quanto ao segundo bebê?
Christopher abre um largo sorriso.
— É uma linda menina meu amor.... Linda como a mãe dela!
E mais uma vez me pego de olhos marejados, o que se intensifica no momento em que a porta é aberta e duas enfermeiras entram com meus bebês no colo. Sinto as lágrimas descendo por meu rosto e conforme elas se aproximam, Christopher me ajuda a me acomodar melhor na cama.
— Prontinho bebês, a mamãe de vocês acordou.
Eu não consigo conter minha emoção ao ver os rostinhos perfeitos diante de mim. As enfermeiras encaixam os dois em meus braços e eu preciso do auxílio de um lencinho de Christopher para não os molhar.
— Oi bebês dorminhocos, acordem, aqui é a mamãe de vocês, abram esses lindos olhinhos...
E um deles parecendo atender ao meu pedido abre lentamente os olhos ao mesmo tempo em que boceja fazendo manha e derretendo meu coração a cada movimento. Ele faz um beicinho tão lindo que dá até vontade de morder.
— Me dá ela amor, aí você amamenta o nosso meninão que acordou primeiro.
Christopher interrompe meu momento de distração e eu assinto entregando a ele a pequena dorminhoca.
— Eles são tão, perfeitos... --- Comento e uma das enfermeiras se aproxima baixando a alça da minha camisola, só então me dou conta do que ela está fazendo.
— A primeira vez pode ser desconfortável, talvez até doloroso Sacerdotisa. Mas depois você acostuma.
Meu bebê começa a se mover incomodado em meu colo e meu instinto me indica o que fazer, abro o compartimento do sutiã de amamentação e encaixo o bico do meu seio entre os lábios do meu filho que o agarra e suga imediatamente. Ele puxa com tanta força que chega a doer um pouco, mas nada que se compare com a dor que senti para trazê-lo ao mundo. Sinto o leite saindo por meu seio e o observo acariciando seu rostinho enquanto ele se alimenta completamente tranquilo.
— Você está se saindo muito bem Sacerdotisa, nós vamos deixar vocês a vontade e logo o médico deverá estar aqui para vê-la. --- Uma das enfermeiras se pronuncia e eu assinto.
— Não se esqueça de dar o outro seio para a outra bebê, sim? E alterná-los sempre que possível para que não se acostumem a um só seio e para que tenha sempre leite disponível para quando eles sentirem fome...
Assinto. — Muito obrigada, enfermeiras. --- Agradeço e Christopher em seguida faz o mesmo, logo que elas saem ele se senta ao meu lado na cama segurando nos braços a nossa menininha.
— Eu nunca serei capaz de te agradecer o suficiente por esse presente maravilhoso meu amor...
Sorrio ao ouvir Christopher.
— Eu te amo Chris...
Depois de amamentar meu garotão, meio que de forma sincronizada a irmãzinha dele resolveu acordar alertando sobre sua fome. Eu a amamentei imediatamente e logo tínhamos dois lindos bebês de barriguinha cheia e dormindo nos bercinhos do meu quarto na maternidade do Solo Sagrado. Um vídeo obviamente foi feito pra aquietar a parte da minha família que vive em Volterra e que tanto insistiram para que eu tivesse lá os meus bebês. Mas, por questão burocrática quanto a sermos Regente e Sacerdotisa, nossos filhos precisam nascer aqui. É claro que nem minha mãe, nem Marcos e nem mesmo Daniel, aceitaram bem essa situação e estão há poucos metros daqui, na área do Solo Sagrado onde ocorreu o meu casamento com Christopher e que agora há uma espécie de “hospedaria” para receber os visitantes que não tem permissão para atravessar a antiga barreira de proteção. E assim que receber permissão do médico, irei até lá levar meus bebês para que eles os conheçam. Falando em médico, não demorou muito para que ele viesse me examinar, disse que está tudo bem comigo, mas que tanto eu quanto os bebês só teremos alta pela manhã, o que é compreensível já que ao verificar o relógio ele disse já ter passado de 21horas. Quando acabou a visita do médico, eu aproveitei para atender à solicitação dele sobre a necessidade de andar e fui até o banheiro onde senti o profundo alívio de passar algum tempo sob o chuveiro. Depois do banho, jantei com Christopher no quarto, me perguntando como era possível dois bebês dormirem tanto. Pouco mais de uma hora se passou e o primeiro bebê, nosso meninão acordou cheio de fome e eu é claro, prontamente o alimentei. Tive então minha primeira oportunidade de cuidar do meu bebê, troquei sua fraldinha, coloquei uma roupa quentinha e meu filho dormiu tranquilo e lindo. Passou meia hora até que a minha filhotinha acordasse, e eis que as necessidades dela foram semelhantes a do irmão, mas ao contrário dele, mesmo depois de alimentada, trocada e com uma roupa mais quentinha, a bonequinha não parecia estar com sono. Christopher e eu passamos a “babar” um pouco nela que de tão linda chega da vontade de apertar.
— Ela é linda né... --- Comento com os olhos fixos na bebezinha deita entre minhas pernas e sobre a cama.
— Sim... Linda que nem a mãe! Olha, ela tem a boca igualzinha à sua, No!
Sorrio toda boba com o comentário.
— Tem seus olhos...
A bebê se espreguiça indicando que o sono começa a chegar, Christopher então a pega no colo e começa a ninar cantarolando até ela se render ao sono.
— Que nome daremos a eles amor? --- Ele me questiona colocando-a novamente no bercinho ao lado do que está o irmão. — Já escolheu?
— Sim... E eu espero que você aprove.
Ele me fita curioso. — Então diz.
— A menina se chamará Anna, como a minha avó materna. Ela será registrada como Anna Maurice Young, conforme mandam as leis humanas. Mas, na verdade, nós sabemos que ela é Anna Deveraux Aurvony Nephalia Young Von Virtù.
Christopher abre um largo sorriso e logo seu olhar volta à nossa filha, cheio de ternura.
— Nome grande para alguém tão pequenininha... Mas, e quanto ao nosso menino?
Dou um profundo suspiro e me coloco de pé ao lado de Christopher diante dos bercinhos onde nossos bebês dormem tranquilos.
— Ele se chamará Christian, como o seu avô. Christian Maurice Young, ou, Christian Deveraux Aurvony Nephalia Young Von Virtù.
Os olhos de Christopher se encheram imediatamente mais uma vez nesse dia de tantas emoções e alegrias, e eu só consegui beijá-lo tão intensamente quanto o meu coração me pedia.
— Anna E Christian.... Nossos filhos.
POV Daniel
Parado em completo silêncio observo a estonteante vista que essa área anexada ao Solo Sagrado Deveraux nos permite. Há alguns metros daqui está a barreira que nos impede de acessar a parte onde realmente fica o Clã Deveraux. E pouco atrás de mim se localiza a hospedaria criada para receber não somente a nós, mas a outros possíveis convidados que sejam aliados a esse clã. Ideia genial do meu amigo querido que a essa altura desfruta da grande alegria de ser pai. E de duas crianças.
Refletindo sobre isso eu reafirmo para mim mesmo, não sou capaz de me arrepender do pacto que selei com Yuki-onna. Mesmo sabendo o quanto isso irá me custar. Tempos atrás, isso não seria nenhum inconveniente para mim, mas agora que encontrei o verdadeiro amor, eu só consigo pensar no mal que isso fará a ela. Mesmo sabendo que quando ela estiver ciente do motivo, me dará razão. O sentimento que tenho por Débora é o que há de mais puro dentro de mim, nada jamais me fez tão bem. E, no entanto, com o pacto selado, a dor em meu peito me faz até esquecer as vezes que eu já há muito tempo não estou verdadeiramente “vivo”.
Débora é a mais sublime e magnífica mulher que me honrou com seu amor, e ainda assim, me vi obrigado a abrir mão de viver esse sonho com ela, mas não por um motivo fútil, e sim para salvar não apenas a vida da minha sobrinha, mas também de seus dois filhos. Eu não poderia fazer diferente e acredite-me se meu sacrifício não fizesse sofrer à mulher que eu amo, eu estaria completamente tranquilo.
Meus pensamentos são interrompidos no momento em que aquela imagem surge diante de meus olhos.
— Filho de Magnus... --- A voz dela é doce e ao mesmo tempo remete a amargura e ao temor.
— Yuki-onna... Mas, ainda não chegou o momento...
Protesto e ela me impede de continuar.
— Não chegou, eu sei. Mas a partir do último badalar do dia de hoje, o tempo começará a ser contado, filho de Magnus... --- Estreito os olhos ouvindo-a.
— E como eu saberei quando chegará a hora de partir?
Questiono e de repente minha mão se move sem que eu a comande e meu braço se ergue deixando a parte interior do meu antebraço virado pra cima.
— Você saberá...
E ela repentinamente estende a mão por sobre meu antebraço, mas sem tocar minha pele. Eu sinto uma leve quentura na pele daquela área e quando ela retira a mão dela eu vejo um desenho em formato de ampulheta como se estivesse tatuado em minha pele.
— Com o último badalar desse dia em que a minha parte foi cumprida em nosso pacto, o tempo começará a correr e no momento exato, você deverá saldar sua dívida.
— Mas...
Quando eu pensava em questionar, Yuki-onna misteriosamente evapora diante dos meus olhos. Eu abaixo meu braço e fecho meus olhos refletindo no que está por vir e de repente um cheiro anuncia a aproximação que eu temia. Débora surge e eu me pergunto há quanto tempo ela estava ali sem que eu notasse.
— Que dívida Dany? Do que essa... Criatura.... Estava falando?
Continua...
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