História Moonlit - 03; Dança das Estrelas

Capítulo Três - Dança das Estrelas

"Acorde para seus sonhos e veja eles se tornarem realidade."

Aurora está a esperando quando Pégasus finalmente abaixa-se, permitindo que possa descer. Sua irmã tem os olhos brilhando em preocupação e algo mais que Selena consegue identificar como compaixão. A mulher de traços delicados e vestido rosa é quase o reflexo de Selena, no entanto, transmite uma aura de inocência incomparável a da irmã.

Com o canto do olho, Selena consegue ver Hélio — seu irmão — atravessar o longo corredor do salão, lançando-lhe um olhar repreensivo. Por impulso ela se encolhe, numa tentativa de esconder-se atrás da outra Deusa.

Aurora torce os lábios róseos em uma careta risonha.

— Helio já sabe que saiu. — ela confessa. A voz extremamente doce e encantadora ecoa por todo local. — Aliás, ele foi o primeiro a descobrir. Estava indo falar com você quando a viu fugir.

A tensão entre ambas é quase palpável e extremamente incômoda. Selena morde o lábio inferior sem saber como agir, nunca foi boa em fugir de situações embaraçosas.

— Zeus não está nada feliz com essa escapada. — Aurora revela a irmã em um sussurro, como se contasse um enorme segredo.

— Eu já imaginava. — Selena confessa entre suspiros cansados, desviando o olhar para um grande vaso de lírios posto próximo a uma fonte. — Não tem como esconder nada dele, você sabe.

Aurora anui, reconhecendo o significado das palavras da irmã. Ambas trocam um olhar cúmplice e baixam levemente a cabeça ao ouvir o eco de passos se aproximando. Não é necessário que alguém anuncie que Ele está ali.

— Já pode se retirar, Aurora. — anuncia. A voz não é raivosa, porém, o costumeiro tom autoritário é perceptível.

A mulher balança a cabeça em uma afirmação muda, rompendo pelas portas que separam o grande salão do restante do palácio.

Selena sente o corpo tencionar com a presença imponente de seu superior. Lentamente ela permite-se erguer o olhar e encará-lo. Zeus é alguém de tirar o fôlego de qualquer mulher. Caso não fosse imortal e consequentemente jovem para sempre, teria a aparência de um homem de quarenta anos, com olhos incrivelmente azuis e poucos fios grisalhos permeando os negros. O corpo parece ter sido esculpido a mão e o rosto é harmonioso, com o maxilar marcado pela barba rala.

Ele se posta em frente à ela, poucos centímetros os separam. As orbes azuis traçam lentamente cada expressão do rosto de Selena, não é difícil notar que ela teme ser castigada por seu erro. Zeus sorri ladino, a Deusa ainda tem o mesmo coração frágil que um dia entregara em suas mãos. Os traços da menina que um dia foi sua amante ainda podem ser vistos no fundo de seu olhar assustado. E naquele instante, ele percebe que por mais que ela mereça uma punição, não seria capaz de fazer isso.

É difícil para ele vê-la tão entregue a outra pessoa, especialmente quando ainda carrega consigo resquícios de uma antiga paixão. No entanto, está decidido a não fazer nada para impedir seu possível relacionamento com o mundano.

— Não irei castigá-la. — ele diz. Selena fecha os olhos e um suspiro de alívio corta o ar. Mas, rapidamente ela assume uma expressão confusa, inquirindo explicações com seu olhar incrédulo. — Não acredito que seja necessário castigá-la por amar um mundano, além do mais, ele é seu destinado. Pelo menos a metade de nós já fez isso antes, os semideuses são a prova de nossos pecados.

— Obrigada. — é tudo que ela consegue responder, desconfortável demais por ter de encarar seus erros.

Ele sorri abertamente, um daqueles sorrisos que chegam aos olhos e iluminam toda a face. Há dois anos, Selena seria capaz de desmaiar ali mesmo.

 — Espere a Lua Cheia para vê-lo, você sabe que não pode descer à Terra antes. — alerta.

— Eu esperarei. — Selena confirma, dando de ombros. Porém, por dentro, seu coração grita de ansiedade, e ela sabe que contará cada segundo até a próxima Lua Cheia. — Sabe...eu tomei uma decisão.

— Oh, é mesmo? — ele questiona sorrindo. Zeus sabe exatamente do quê ela fala. — Eu sabia que mais cedo ou mais tarde você faria a escolha certa. Já sofreu demais Selena, está na hora de fazer as coisas como devem ser.

Com um sorriso sem jeito e uma rápida reverência que fora desaprovada por ele, Selena segue para fora do salão. Apesar de estar flutuando em pensamentos perdidos e alegres, ela consegue ver a irmã escondida atrás de uma das pilastras, oferecendo-lhe um sorriso verdadeiro que logo é retribuído.

Entre tudo, não pode deixar de pensar em como Harry é lindo, e como será quando finalmente puder vê-lo de perto outra vez. No momento, tem que se conformar em esperar até que isso possa acontecer, o que a deixa levemente entristecida.

Serão, sem dúvida, os dias mais longos de sua existência, já que está decidida a cumprir seu destino. Ela tem que tentar, ou nunca saberá as consequências. Dessa vez não existirá medo que a faça desistir, colocará um ponto final em todo sofrimento que resta em seu peito, e principalmente, no de Harry.

☾☾☾

Na manhã seguinte, Harry é surpreendido pelo sol que brilha esplendoroso no céu de Washington. Em nada se compara a escuridão da tempestade da noite anterior.

Sente-se exausto, o corpo doí em reflexo da noite mal dormida. Atrasado para o trabalho e sem disposição alguma para sair da cama quentinha, o homem se arrasta pelo cômodo, catando as roupas e as vestindo o mais rápido que consegue.

A caminhonete velha o espera em frente a casa. Ele a olha durante algum tempo, implorando para que o motor não o deixe na mão. Infelizmente, o automóvel faz um barulho engasgado e logo em seguida apaga. Suspirando, ele desce e caminha até o outro lado da rua. Não tem jeito a não ser pegar um ônibus. Contando os minutos no relógio dourado no pulso, ele vê o tempo se arrastar enquanto espera pela carona.

Pensava que nada poderia ficar pior, mas, imediatamente tem vontade de voltar pro conforto de sua casa assim que põe os pés na avenida movimentada e uma multidão de pessoas o engole. Todo mundo corre contra o tempo para chegar a seus destinos, fazendo a cidade movimentar-se em ritmo acelerado.

A situação só piora quando ele chega ao escritório e tem de aguentar as reclamações constantes do chefe e o falatório incessável da sua colega de sala. São várias às vezes em que tem vontade de pular até a mesa dela e lhe colar a boca com fita adesiva. Durante todos os três anos trabalhando na empresa, concluiu uma coisa: Jasmine é insuportável.

A mulher é alta e esguia, com os cabelos em ondas bonitas e a pele amorenada. Os olhos, assim como os de Harry, são de um verde intenso. Sem dúvidas, tem uma aparência extremamente convidativa, mas possuí um cérebro minúsculo.

Styles teve que fugir das constantes investidas da morena. No momento em que pôs os olhos nela pela primeira vez, descartou a possibilidade de um dia dar certo ao lado dela.

Ela mexe nos longos cabelos negros tentando chamar sua atenção, e Harry, entediado a lança olhares desaprovadores. Exausto, ele agradece mentalmente quando às cinco horas da tarde finalmente pode ir para casa. Acreditando que poderia acalmar seu coração inquieto com um chá quentinho e uma boa dose de descanso, ele descobre frustrado que esteve enganado durante todo o dia. Ao chegar, a decepção o atinge como um raio. Rápido e letal.

Ter a casa vazia é como se sentir perdido em uma multidão. Você procura por um rosto conhecido mesmo sabendo que não encontrará ninguém.

Harry assa uma pizza que comprara alguns dias atrás e come rapidamente. Depois de colocar a louça suja dentro da pia, ele ruma até seu quarto, jogando-se sobre a cama bagunçada. Sem fazer nenhum esforço pode sentir todos os ossos estalarem e uma dor aguda se propagar por eles. Os olhos pesam, mas não tem sono.

Sem que possa controlar, seus pensamentos voam de volta para a noite anterior, mais especificamente pelo sonho que roubou a pouca perfeição que restava em sua mente.

Lembra-se com clareza da mulher de cabelos negros e pele tão clara quanto a neve. Nada poderia apagar a sensação que veio junto com a imagem dela. Era como se todos seus problemas desaparecessem e seu corpo estivesse anestesiado. Ela era como uma trégua em meio à tempestade que o atingia. Uma tábua de salvação no mar aberto, na qual ele ansiava poder se agarrar.

Fechando os olhos pode sentir ela beijar seu rosto. Sabe que foi apenas um sonho, mas, por um momento pensou ter sido real. Ele queria que fosse real. Tem consciência também, que essa não era a primeira vez que sonhava com ela. Via a imagem da mulher constantemente, desde os sete anos.

Aconselhado pela mãe, chegou a procurar ajuda médica, mas não foi diagnosticado com nenhuma doença. Aparentemente, apenas tinha uma mente fértil. Entretanto, nunca conseguiria se acostumar com os sonhos, por mais frequentes que fossem.

Ele demora cerca de duas horas até ser vencido pelo cansaço. Quando a escuridão cobre seus olhos, pode ver o brilho que rodeia a mulher iluminar sua mente. Mais uma vez ele pode senti-la tão perfeitamente ao ponto de parecer real.

Com o passar dos dias e por fim das semanas, Harry tem cada vez mais a certeza de que está enlouquecendo. Em um dos sonhos desconexos a mulher lhe sussurra seu nome. Selena. Agora sabe. A mulher de brilhantes olhos castanhos que roubara seu coração, chamava-se Selena.