-Anda Natalie o show já vai começar caramba! -Falou Jared assim que eu terminava de me arrumar. Bom, o que eu posso dizer sobre mim? Minha vida não é das mais fáceis posso assim dizer. Vivo em um bairro pobre de Genebra na Suíça, como todos devem imaginar, um país de primeiro mundo. Realmente pra quem tem dinheiro é um país maravilhoso, mas pra mim que sobrevivo de alguns euros por noite não é nada fácil. Trabalho em um clube de Striptease aqui em Genebra, estou à dois anos no mesmo local, não saio daqui porque tenho um filho de 4 anos pra sustentar. Não o vejo faz seis meses, minha mãe disse que não ia permitir que o neto dela fosse criado por uma “vagabunda” segundo ela, então perdi a guarda dele.
Jared? Bom ele é meu patrão, e me tem como sua esposa, esposa que transa com 6 a 7 homens por noite, se eu gosto dele? Não, nenhum pouco. Jared é extremamente machista e violento, diz que, mulher só serve pra sexo e por isso ganha dinheiro com isso. Se qualquer uma de nós que trabalhamos pra ele se negar a um cliente ele nos bate, já apanhei algumas vezes dele. Se eu me sinto um lixo? Sim me sinto, não poder me impor diante de algo assim é algo que me envergonha demais. Como perceberam, faço várias perguntas, perguntas essas que me faço sempre que acordo e me olho no espelho.
-Se eu tiver que te chamar mais uma vez você vai ver. -Falou Jared me pegando pelo braço.
-Ok já vou!
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-Anda vadia mais rápido, mais rápido! - Assim que senti o homem gozar me levantei e abri a porta pra que ele saísse. Era o quarto só naquela noite, aquilo pra mim virou tão rotineiro que já perdeu totalmente a graça.
-Bom trabalho meu amor. - Veio Jared cheio de gracinha.
-Não me encosta. - Ele me pegou forte pelo braço e me encarou com raiva nos olhos.
-Fala de novo assim comigo. -Me soltei de seus braços e me escorei na porta puxando o cigarro de sua boca. Fiquei assistindo aos shows da casa dali mesmo. Um dos clientes que estava na plateia me viu e me puxou pra cima do palco dizendo “Mostra a elas como se faz Natalie.” Eu estava tão de saco cheio, que dancei naquele pole dance como se estivesse morrendo. Ainda estava sobre efeito de cocaína, algo que me viciei logo que entrei aqui, por mais que eu não quisesse, Jared fez com que eu usasse.
Ai vocês me perguntam. E o seu filho?
Eu morro de saudades dele todos os dias. Todos os dias em que eu acordo a primeira coisa que eu queria ver era o rostinho dele logo de manhã, suas mãozinhas acariciando meu rosto pra me acordar logo cedo. Minha mãe assim que soube que eu estava grávida, fez questão de sair lá da Inglaterra pra cá, apenas pra tirar o meu filho de mim. Consegui ficar dois anos e meio com ele e foram os melhores que tive na vida, se eu me orgulho da profissão de levo? Não, nenhum pouco eu odeio tudo isso aqui, mas assim que o pai do meu filho fugiu eu tive de arranjar algo, algo pra que eu pudesse sustentar ele e eu não tive outra opção. Assim que minha mãe descobriu, moveu o céu e o inferno pra tirá-lo de mim, apenas com a condição de que morasse no mesmo país pra que eu o visitasse sempre que pudesse.
-Natalie! -Ouvi uma voz feminina me chamar. Era Jordan minha colega, vamos dizer a pessoa que eu mais me dou bem ali dentro.
-O que houve?
-Sua mãe, no telefone. - Me levantei rapidamente e corri até o telefone na sala de Jared.
“- O que houve? - Perguntei preocupada.
-Quando posso levar ele aí?
-Aconteceu alguma coisa?
-Ele quer você Nat, é só isso.
-Amanhã mesmo. -Falei.
-Você não tem que…Trabalhar?
-Não mãe, pode trazer ele. -Pude ouvir seus passinhos do outro lado da linha. - Me deixa falar com ele.
-Amanhã você fala. - E desligou.’
Eu não via a hora de aquilo tudo acabar e eu ir pra minha casa ver meu filho. Noah é o único homem que até hoje, me fez feliz e continua fazendo. Sinceramente, não havia entendido o porque minha mãe vai trazer ele aqui. Ela nunca fez isso, sempre tive de ir até lá se quisesse vê-lo. Bom eu descobriria no dia seguinte.
-Jared, minha mãe vai trazer meu filho lá em casa amanhã, não conte comigo aqui.
-Sabe que isso vai descontar do seu salário não sabe?
-Sei muito bem e sinceramente. Estou pouco me fodendo. -Peguei minha bolsa e fui pra casa, deixando tudo arrumado pra chegada dele.
Fazia seis meses que eu não o via e se eu estava ansiosa? Com certeza, quase não dormi pra ser sincera. Levantei cedo e deixei tudo pronto, seu quarto estava arrumado com os seus brinquedos e fiz questão de comprar tudo o que ele gostava de comer. Escutei a batida na porta e corri pra atendê-la. E lá estava ele, meu moreno dos cabelos enrolados e olhos verdes me recebendo em um abraço forte. Noah não desgrudava de mim o tempo em que minha mãe ficou lá em casa, e assim que ela saiu resolvi brincar com ele, a saudade era tanta eu nunca achei que um dia eu fosse ter esse dom de amar alguém como eu amo meu filho.
Assim que nos sentamos no sofá pra assistirmos filmes, Noah reclamou de dor e eu não sabia ao certo o que era, até me deparar com alguns hematomas nas costas dele.
-Quem fez isso com você? - Perguntei serena.
-Se eu falar a vovó me bate.
-A vovó não vai te bater Noah, o que houve?
-O vovô, ele me bate sempre. -Uma onda de raiva tomou conta de mim e as lágrimas escorreram em meu rosto. - Mamãe não chora, eu to bem.
-Mamãe não gosta de que você sofra. -O abracei forte e logo ele adormeceu em meus braços, eu chorei. Chorei demais, eu não podia acreditar que minha mãe o tirou de mim pra que aquele porco do meu padrasto batesse em meu filho. Eu não ia aceitar isso.
Deitei ele em minha cama e fechei a porta indo em direção ao telefone.
‘-Alô?
-Então é assim.
-O que?
-Você toma meu filho de mim, pra esse filho da puta bater nele?
-Do que você tá falando?
-Para de ser sínica mãe!
-Natalie.
-Me fala merda!
-Ele… na verdade tentou outras coisas…
-O que?! - Aumentei o tom de voz.
-Mas eu não deixei Natalie.
-E o que adianta?! Ele bate no meu filho todo o dia!
-Eu não sabia.
-Para de mentir cassete! Noah me contou que se ele me dissesse algo você batia nele! Que tipo de avó é você?!
-Natalie…
-Você vai me escutar agora! Amanhã mesmo eu vou na delegacia e vou denunciar ele.
-Você não conseguir a guarda dele.
-Assim que eu mostrar os hematomas vou sim. Eu posso até ser uma vagabunda que trabalha em boates segundo você, mas eu nunca, nunca faria isso com meu filho mãe.
-E você acha que eu gosto de o ver apanhando?
-Eu tenho plena certeza! E isso só me prova o lixo de pessoa que você é mãe, eu tenho vergonha de dizer que eu sou sua filha.
-Natalie não fala isso…
-Como você quer que eu fique?! Que achei isso normal e que eu deixe ele voltar pra sua casa sabendo que tem um monstro espancando meu filho todos os dias e você nem pra defendê-lo! Foi pra isso que o tirou de mim?
-Não calma…
-Calma o cassete! Amanhã mesmo eu vou na delegacia e vou denunciar vocês dois. Meu filho não volta mais pra sua casa.
-Boa sorte.
-Pode ter certeza que eu vou ter assim que mostrar a desgraça que está o corpo do meu filho. - Eu não conseguia segurar o choro, a raiva era tanta. Eu nunca achei que conseguia odiar minha mãe do jeito que a odeio agora. -Esquece que um dia você teve uma filha e um neto.
-Não pode me impedir de ver ele Natalie.
-Posso a eu posso, como mãe dele eu posso sim e eu vou. Vai pro inferno com a bosta do seu marido. -E desliguei.’
Me sentei no sofá e chorei, desabei, não consegui conter. Eu até poderia passar mais trabalho do que já passo, mas eu jamais deixo meu filho naquele lugar novamente.
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