E às vezes tudo o que sabemos é que o amanhã é incerto, não se pode ter a certeza sobre tudo, mas não é por isso que devemos desistir, temos que ser forte e seguir em frente. Disse Julieta.
Ela segurava sua trouxa de roupas, havia entrado em uma trilha pela floresta, um atalho pouco conhecido, olhou para trás por um instante e seguiu em frente. Era possível ouvir o canto dos pássaros e o vento parecia mais forte que o normal, lembranças afetaram os passos e ela parou diante de uma árvore.
MARIA REGINA – Eu te amo querida e tudo o que eu mais desejo é que tenha uma vida cheia de conquistas. Eu sou sua mãe e enquanto eu estiver aqui, irei te proteger.
Ela fechou os olhos e continuou deitada em sua cama, ainda ouviu a batida da porta ao fechar.
GERALDO – O jantar logo será servido!
MARIA JULIETA – Onde está a Júlia e a Joana?
Uma das irmãs entraram no mesmo momento na sala de jantar, Maria Regina trazia a bandeja com o porco e colocou sobre a mesa.
MARIA REGINA – Eu preparei tudo com amor e o cheirinho está maravilhoso.
E nenhuma família é perfeita, mesmo assim é a nossa família. O papai sempre se mostrou cuidado, distante, mas sempre cuidadoso. Mamãe adora nos interrogar e só fica aliviada quando tem certeza que estamos bem. A Joana sempre pareceu meiga e muito estudiosa, mas a verdade é que nunca pude ter certeza se ela era mesmo tudo aquilo ou usava uma pele por cima. Júlia sempre foi a mais levada e com sua rebeldia incontida, ela sempre foi verdadeira. A vida parece passar completamente agora na minha cabeça, será que por pensar isso quer dizer que eu esteja morrendo agora? Perguntou Julieta.
Eu sentia que a terra caia sob os meus olhos, havia folhas secas no meu cabelo, alguma coisa cortou o meu rosto e eu estava sangrando.
MARIA JULIETA – Alguém... Por favor, me ajude!
Levantei a mão mesmo sabendo que não havia ninguém ali e ainda consegui enxergar a luz do sol por cima das imensas árvores.
A igreja estava repleta de pessoas que estavam ali para assistir a cerimônia de casamento. Havia um murmuro e Júlia não sabia o que estava acontecendo. A noiva estava ainda dentro do carro e Denise surgiu em sua frente. A bruxa bateu três vezes na janela e abri a porta.
JÚLIA – O que está acontecendo?
DENISE – Um pequeno problema queridinha, mas logo tudo estará bem.
JÚLIA – Que problema? Aconteceu alguma coisa com o Celso? Eu preciso saber.
DENISE – Ele está bem, se acalme e fique esperando aqui.
A bruxa fechou a porta do carro e sorriu quando deu as costas para a noiva nervosa.
O corpo do padre ainda estava no chão sob uma poça de sangue. Deodora parecia bastante aterrorizada e sua mão estava todo o tempo em sua boca.
CELSO – Alguém já avisou a Júlia?
DEODORA – Provavelmente ela ainda não sabe.
Maria Regina adentrava no local e se deparava com a cena. Geraldo chegou logo em seguida e ficou chocado junto com sua esposa.
Hoje tem que ser o dia mais feliz da minha vida. Pensou Júlia.
A noiva parecia ansiosa, mas ainda estava sentada no banco de trás do carro. Foi surpreendida por sua irmã.
JÚLIA – Já posso entrar?
JOANA – Ainda não.
JÚLIA – O que está acontecendo? Por favor, eu preciso saber agora!
JOANA – O padre foi assassinado!
JÚLIA – Que?
Ela recebeu a notícia naquele momento, não pensou duas vezes, entregou o buquê nas mãos da irmã e saiu em direção à igreja. Os convidados levantaram. A maioria ainda não sabia o que havia acontecido e Celso apareceu no altar diante de Júlia.
CELSO – Júlia?
JÚLIA – Isso é verdade?
CELSO – Infelizmente sim!
E os dois então se abraçaram.
A primeira dama e o prefeito se retiraram da parte interna da igreja e foram para um lugar mais calmo onde não havia ninguém.
MARIA REGINA – Eu não posso acreditar se for isso mesmo que estou pensando.
GERALDO – E o que você está pensando?
MARIA REGINA – E se tudo isso tem dedo da Denise? E se ela provocou tudo isso?
GERALDO – Não... Ela não faria isso e o Celso é como um filho para ela!
MARIA REGINA – Eu nunca gostei dessa mulher.
Os convidados saiam aos poucos da igreja. Júlia sentou em uma cadeira e bebia água para se acalmar. Denise se aproximou de Celso e o abraçou.
DENISE – Hoje foi um longo dia que deve ser esquecido.
CELSO – Eu não imaginei isso.
DENISE – Calma... Querido! Vai dar tudo certo. Hoje não foi possível, mas haverá outros dias.
CELSO – E agora como vou me casar?
DENISE – Você esquece de que tem um irmão padre e ele deve vir em breve!
Deodora arregalou os olhos e ficou no meio dos dois morrendo de ciúmes do filho com sua antiga amiga.
DEODORA – Filho, por favor! Leve sua noiva para casa!
CELSO – Tudo bem!
A mãe do noivo encarou a bruxa.
DENISE – O que foi?
DEODORA – Eu não gosto que fique muito perto do meu filho.
DENISE – Você acha que vou roubar o seu filho de você? Ele é bem grandinho, por favor, me poupe.
DEODORA – Eu tenho um instinto de mãe e se eu imaginar que meu filho corre perigo...
DENISE – Vira uma fera? Eu conheço esse lema e eu sou tão mãe quanto você.
DEODORA – Eu te conheço muito bem!
DENISE – Imagine o quanto eu te conheço!
Um flash saiu de uma câmera. Sarah Toledo fotografava o corpo do Padre ainda caído no chão, ela se aproximou e viu algumas marcas em seu pescoço.
SARAH – Isso é muito estranho. Quem poderia ter feito uma coisa dessas?
TONI – Já enviaram alguém para cuidar do caso.
SARAH – Você?
TONI – Ah... Eu não! Alguém de Urucubaca, a cidade vizinha. Estávamos mesmo precisando de alguém da polícia aqui.
SARAH – Às vezes penso que essa cidade está sendo deixada ao relento. Faltam médicos e a polícia.
TONI – Não me culpe, culpe o prefeito, eu sou apenas um carpinteiro.
SARAH – E eu sou uma jornalista.
TONI – Raquel Fullfield!
SARAH – Estou aqui para investigar alguns fatos, essa marca aqui, será que um animal poderia ter feito isso?
TONI – Coisas estranhas acontecem a todo o momento.
SARAH – E você costuma falar com a sua esposa falecida?
TONI – O que?
SARAH – As pessoas dessa cidade costumam falar muito e sabe que sou uma jornalista, devo estar dentro dos fatos.
TONI – Eu não falo com fantasmas.
SARAH – Mas a sua mulher morreu ou estou enganada?
TONI – Eu prefiro não tocar neste assunto com você, com licença!
Ele deu as costas e foi embora deixando a jornalista sozinha.
SARAH – Desculpe se ofendi!
Disse ela, mas já estava só e ele não podia ouvir o pedido.
Elizabeth retornou a casa de sua tia Denise e infelizmente encontrou Clarisse. O silêncio permaneceu por um tempo, mas a filha de Denise não aguentou.
CLARISSE - Não vai mesmo?
ELIZABETH - O que?
CLARISSE - Me contar o que está fazendo em plena noite. Isso é feio, sabia? Meninas decentes não andam na rua à noite e desacompanhada.
ELIZABETH - Eu sinceramente não sei do que está falando.
CLARISSE - Não tente me enganar, ou você é sonâmbula ou está aprontando alguma coisa. Eu vou descobrir.
ELIZABETH - Faça como quiser!
Clarisse saiu da sala e entrou em seu quarto. Elizabeth caminhou até a janela e em sua mente, Albert era o único que lhe deixava com o pensamento em outro planeta.
Despenteada, Vera Lúcia entrou na funerária e assustou o irmão Eurico que cuidava de uma papelada.
EURICO – Meu deus! O que é isso? Parece uma assombração!
VERA LÚCIA – Veja o modo como fala com sua própria irmã.
Ela sentou-se na cadeira vazia e respirou fundo.
EURICO – O que aconteceu?
VERA LÚCIA – Eu fui atacada...
EURICO – O que? Por quem?
Eu estava certa do que encontrei hoje cedo. O sol havia acabado de brotar no céu azul e entrei na igreja para me confessar com o padre antes que desse inicio a cerimônia. A igreja estava vazia, eu ouvi o gemido dele, ele estava caído no chão, havia sangue, ainda estava vivo, ele havia sido atacado por um monstro, então tive a certeza, aquela mordida, aquilo era... Então, sai da igreja, Entrei naquela casa medonha com toda coragem que guardava comigo. Hesitei por um momento, mas fui em frente. Era eu, o meu colar de alho e minha estaca. Estava disposta a acabar de vez com aquele sanguinário, abri a porta com cuidado e levantei minha estaca.
VERA LÚCIA – Era para eu ter matado!
EURICO – Você tomou o seu remédio?
VERA LÚCIA – Eu fui atacada por um gato preto!
EURICO – Um gato?
VERA LÚCIA – Você não entende a verdadeira situação? O padre agora está morto e eu tenho certeza que foi um vampiro que o matou.
Albert Blumm espiou pela imensa janela e a cidade parecia calma. Todos deviam estar no casamento da filha do prefeito. O pálido homem fechou a cortina e começou a subir na escada velha. Era possível ouvir a madeira rangendo, então, entrou em seu quarto e fechou a porta com uma força anormal.
Nunca foi tão doloroso tirar a vida de alguém, mas não encontrei escolha e atendi seu pedido. O meu mundo sombrio é cheio de particularidades. Ele sabia tudo sobre mim, o necessário, há bastante tempo.
PADRE - Não aguento mais, isso está me matando.
ALBERT - Tem que haver uma solução. Eu posso tentar te ajudar.
PADRE - Não quero isso pra mim, eu já sou velho demais para tudo isso. Já fiz tudo que podia.
ALBERT - Pare!
PADRE - Você sabe o que tem que fazer!
Sua doença o destruía a cada momento, era sofrível demais. Conseguia sentir aquela dor insuportável, isto foi o suficiente para continuar tudo aquilo e uma única mordida, era o bastante. Esperei um pouco, ele não estava mais entre nós, fechei seus olhos e o deixei ali mesmo. Adeus.
Continua...
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