História Mortal loucura - Meu coração é uma estrada livre..

O clima era de pura alegria,quase tudo enfeitado com flores artesanais mais do que coloridas(escolha dos noivos).Havia uma quantidade considerável de convidados,a fazenda Piatã parecia brilha r mais do que a própria lua.Uma noite bonita era o que os embalava.O casamento de Bento  e Beatriz finalmente havia chegado.

A cerimônia tinha ocorrido ali também,a mesma foi rápida(sem deixar de ser emocionante),logo dando vasão à animada festa.

Um forró acalorado tocava agora ,todos da família dos Anjos estavam presentes ,naturalmente.Numa mesa as filhas de Santo conversavam ,na mesma mesa o pai e a mãe praticamente ignoravam a existência um do outro,dona Piedade mais do que radiante pelo filho mais novo,estava sentada na mesa de algumas conhecidas.

Foi quando a noiva,lindamente trajada de vestido longo e com textura que imitava pequenas folhas e cabelo solto com enfeites prateados foi até eles,chamando-os para dançar forró.

Santo animado, chamou as filhas,Isabel levantou alegre e acompanhou o pai,Olívia deu a desculpa de estar com dor de cabeça.Luzia sem conseguir disfarçar a tristeza ao ser desprezada pelo marido,se foi ,dizendo ir falar com a tia.

Olívia suspirou, recostando-se na cadeira e levantando a cabeça para contemplar o céu.As estrelas pareciam pequenas continuações das próprias luzes da festa,a lua que estava cheia era quase como uma rainha em meio as outras.Ela contemplou a grande lanterna dos homens e tinha que admitir..estava se sentindo diferente.

Não que estivesse visível em seu rosto... era como se estivesse carregando algo mais consigo.Não era como se ela estivesse realmente mudada físicamente,seu vestido vermelho com estampas diversas e cintura marcada,assim como o cabelo curto deixado cacheado não denunciava nada sobre o fato que acontecia com a moça.

Ao vê-la ali sentada naquela festa ,ninguém divergiria em nada da Olívia da semana ou do mês passado.Isso que ela sentia carregar  lhe trazia uma sensação diferente,não era como se estivesse carregando uma coisa palpável,era quase como um sentimento brotando ou algo nascendo.Mas  que só ela sabia existir e podia sentir..

Fazia alguns dias desde que suspeitava(lê-se ,tinha quase certeza..)de sua gravidez,depois de quase ter um ataque de pânico no banheiro feminino o caminho para casa nunca foi tão longo e silencioso ,Miguel puxou um pouco de conversa,mas ela estava muito concentrada em não se desesperar para prestar devida atenção à ela.

Agora ela havia adquirido uma nova tática,ao invés de se descabelar apenas tentava manter o pensamento positivo de que aquilo poderia muito bem ser coisa da sua cabeça.Havia acontecido bastante coisa nos últimos tempos, ela não se admiraria se isso fosse feito de seu nervosismo e/ou tristeza.

Após alguns minutos de olhos fechados e rosto virado para o céu ,ela escutou uma coisa.Mais propriamente uma gargalhada.Que lhe era tão familiar e que já há algum tempo não escutava.

Olhou para frente e viu,Miguel chegando com a mãe ,ela suspirou,ele estava lindo é claro,com um sorriso de dar inveja ,aquelas covinhas marcando e os olhos apertando quando o fazia.Tereza não deixava por menos..com o cabelo caindo em cachos emoldurando seu rosto e um vestido amarelo de corte reto e longo.

A moça sentia um nó na garganta e uma dor no coração a cada vez que o via.. só o fato de estar perto dele a deixava desordenada mentalmente, tinham se afastado um pouco nos últimos dias,ela isolada em seu medo das possibilidades e ele respeitando seu espaço,no fundo achava apenas que ela tinha resolvido se afastar definitivamente.Muito embora,ele não concordasse com isso..

Uma moça particularmente decotada passou do lado da agrônoma,que distraída foi pega de surpresa pelo seu perfume extremamente doce e enjoativo,sentiu um arrepio na espinha e o estômago embrulhar.Quase como se estivesse dando cambalhotas.

Uma pequena careta de sua parte,como se tivesse acabado de engolir limão ,mas logo a sensação passou e ela para disfarçar tomou um gole do suco que havia em seu copo.

Ouviu um toquezinho familiar e a mesa vibrando de leve,catou seu celular que estava em cima desta e olhou no visor...Lucas de novo,ele passou o dia ligando para ela.Não pôde comparecer à festa ,viajou para o aniversário da avó em Sergipe.

Intimamente ela dava graças à Deus por isso,ultimamente ele estava cada vez mais desagradável ,querendo força-la a passar para um estágio mais sério do relacionamento.Ela sempre fugia ,dando desculpas ou apenas saindo de onde estavam.Nem se quer se beijavam mais,somente um beijo aqui outro ali ,mas sem nenhuma reação dela,um selinho rápido e pronto , ele saia descontente ,enquanto ela afundava em desgosto.Seria bem mais fácil gostar dele de outro jeito..

Se sentia podre por fazer isso com o amigo e arrependimento era pouco para descrever esse fato.O relacionamento quase não existia mais,se é que um dia existiu.

Teriam que terminar logo,mais cedo ou mais tarde,ela não prenderia ele nesse barco fadado ao naufrágio que tinha virado sua . Ainda mais se aquilo que temia fosse verdade.

Ela desligou o celular sem pestanejar,no momento sua situação já era bastante grave  para ainda ter que aguentar o drama de uma relação inexistente.

-Eita que tá linda, essa menina!-ela despertou do devaneio com a voz animada de Maria Tereza,levantou sorridente indo abraçar a mesma.

-Tu também tá muito bonita!-ela diz.

A mais velha ri ainda com as mãos nos ombros da morena.

-Quem me dera,minha flor..você parece uma boneca de tão linda!-ela fala ,alegre.

Olívia apenas responde com um sorriso,eram poucas as vezes agora que ela podia fazê-lo.

-E seu namorado,cadê?-pergunta.

-Ele viajou,tô servindo de vela partilhada.-brincou,fazendo Tereza rir .

-Então é tu e Miguel ,Sophie também não veio...diz meu filho que foi porque não quis .Mas eu acho que ela ficou foi com medo de levar outra peia.-ri.

Olívia fica sem graça.

-Ele...

-Contou sim,disse que você quase não deixa um dente na pobre.-ela sorri cúmplice da moça e a deixa confusa.

-Eu pensei que tu gostasse dela, Tereza..-fala.

-Eu nunca fui íntima..sempre achei muito boçal e fútil.Mas ,trouxe porque achei que fizesse meu filhote feliz..-diz,estava meio frizado na palavra íntima o quanto ela não gostava muito da nora.Mas ,era uma mãe compreensiva e não se metia nas relações do filho.

-Mainha, vó Piedade quer falar contigo..-Miguel chega na mesa onde as duas estão sentadas e conversando já há alguns minutos.

-Já tô indo lá! licença minha linda.-ela sorri ,se retirando.

Quando ela sai fica um clima estranho ,mas que logo ele trata de burlar..

-Então,fiquei sabendo que Lucas viajou.-disse sentando no lugar antes ocupado pela mãe.

-As notícias aqui voam,viu.-ela diz brincalhona.

Ele sorri.

-Ainda mais, quando se tem Isabel como fofoqueira oficial.-os dois riem ,olhando para o lado e vendo a caçula dançar animada com o pai.

-Fiquei sabendo que a francesa também não veio..-diz ela,fazendo a atenção dele virar para si.Eles se olham nos olhos ,agora.

-Minha mãe também é bem rápida na conversa,viu...mas é verdade sim,ela com certeza não tinha interesse e eu sinceramente não quis que vinhesse,depois de insultar você e sua mãe..-ele fala.

O clima fica meio pesado subitamente.Ela se lembra de quando a namorada dele a ofendeu verbalmente dias antes.Ela sem medo nenhum,partiu para a devolução e fez aquilo com vontade,mesmo.

-Ou.. você teve medo que eu arrancasse os cabelos dela.-ri ,lembrando-se mentalmente do estado dela quando acabou-se a  briga,eele a acompanha.

-Na verdade,quando vi vocês brigando tirei ela de cima de você,com medo de que lhe machucasse.Mas não sabia do seu potencial em luta corporal.Devia era ter me protegido,isso sim...- eles gargalham.Ela não pode deixar de sentir uma pontinha de satisfação,ao saber que ele se preocuparam com ela e não com a outra.(Infantilidade,mas ela não se importava..).

-Até parece que eu sou o novo Jackie Chan desse jeito.-ela fala.

-Nessa altura,viu.Eu não me admiro mais de nada-ele diz.Arregala os olhos e por um segundo parece que tem uns cinquenta anos com aquela frase.

Ela ri de sua expressão.

-Em Grotas tudo é possível,meu filho.-sorri travessa.

Por um minuto ,ele pára para admirar os olhos dela,quase instantaneamente sorri de volta,era impossível de não o fazer tendo aquela mulher na sua frente..embora se sentisse um monstro ao pensar nisso,seu coração ao contrário da mente ,não conseguia se culpar pelo sentimento que nele havia sido enterrado.

A música lenta foi anunciada e depois dos noivos ,vários casais entraram na improvisada pista de dança.

Eles observaram por um curto espaço de tempo os mesmos rodopiarem sob as pequenas luzinhas,a iluminação naquela ponto da festa era mais fraca,apenas a lua servia de luz e embora não banhasse tudo com seu brilho.Dava um ar belo à noite.

-Dança comigo?-ele levantou sorrindo e estendendo a mão a ela.

-Melhor não,Miguel.Eu não sei dançar valsa ,não.-disse ela.Meio encabulada.

-Oxe,eu lhe ensino ,venha.-ele a desafia com o olhar.

Ela pára  pra refletir um segundo.O observa,suas covinhas como as de uma criança num sorriso gaiato, a convidando para participar de uma traquinagem..

-Tá bem,uma dança não vai me matar....eu acho.-disse pegando na mão dele .Que riu de sua cara e andando até a pista meio escurecida..

A tentativa de serem amigos era como um plano que já começava dando errado,eles serem próximos de outra forma que não fosse se amando parecia errado demais...triste demais.Mas era preciso,eles tinham que aguentar,tinham que conviver,se eram realmente irmãos de sangue, não adiantava negar a conexão que os mantinha unidos.

Ser próximo um do outro não era opção ,era um fato.

-Miguel,eu lhe disse!-ela fala meio encabulada ao quase pisar no pé dele.

Ele ri um pouco.Ela era meio sem jeito na valsa mesmo,mas não chegava à tanto.

-É melhor eu ir me sentar,isso não tá dando certo.-disse saindo  da posição.

Foi impedida pelas mãos dele,que a pegaram pela cintura e trouxeram de volta,quase colados corpo com corpo.

Ela respirou com dificuldade ao ir de encontro a seu peito.

-Não se preocupe,pra tudo se dá um jeito.-disse ele.

A erguendo com um braço e pondo os pés dela por cima dos seus.

Ela sorri.

-Isso sim é um método.-fala.Revirando os olhos de leve.

-Treinei muito em Paris.-diz brincando e fazendo cara de garanhão.

-Imagino que teve muitas a quem ensinar lá.-diz ela.

-Nenhuma que realmente valesse a pena pôr por cima dos meus pés..-sorri e ela corresponde inconscientemente.Teve certeza de ter ficado vermelha com isso.

-Tenho que admitir que até que tá dando certo.-diz ela.

-Claro que está,eu que estou guiando,neguinha.-brinca.

Os olhos se encontram conectados,as barrigas coladas,a mão dele em suas costas estava mais firme do que nunca.

Até que ela quebra a conexão que os mantinha presos ,ao desviar o olhar por cima do ombro dele.

Onde ainda dançando,ela pousa seu queixo.

-O que nós estamos fazendo,hein Miguel?-ela questiona baixo em seu ouvido,quase como se fosse uma confissão escondida do que ela mesma sentia sozinha sobre outras coisas.Tudo estava tão confuso em sua vida.Ela só queria sumir da face da terra a maioria do tempo.

-Estamos vivendo,neguinha,tentando seguir em frente.Temos que tentar..-ele fala.

-Não é justo,nada disso é.-ela desabafa cansada e fechando os olhos.

-Não,não é mesmo.-ele diz com voz dura.

Ela tira o rosto do esconderijo  e vira para falar com ele.Aquela proximidade deles quase a levando a contar a ele sobre a suspeita que estava acabando com sua cabeça nos últimos dias.Teria que falar com ele mais cedo ou mais tarde,se aquilo fosse verdade.Afinal..

São interrompidos pelo grito que irrompe não muito longe.De repente, a música pára,as pessoas observam curiosas e ao longe a única coisa que se pode ver é o corpo de Tereza aos prantos,sendo amparado por dona Piedade.