Ainda de mãos entrelaçadas,os dois cruzaram o pequeno" portal" submerso .Cerca de segundos depois ,os dois emergiam do outro lado.Onde viram espantados uma outra parte do rio São Francisco,a qual se juntava a água da pequena gruta.
-Que lugar é esse?-Olívia indaga,se soltando da mão dele e começando a sair da água.
Uma grande quantidade de árvores se postava a sua frente uma verdadeira floresta tudo muito verde e vivo.Tipico da mata atlântica.Ainda um pouco preservada naquela área próxima do rio.
-Não sei...mas não deve ser muito longe.Talvez a gente consiga se orientar de volta..-ele diz olhando para trás.
-Mas agente tem que procurar aqui também..Painho pode ter vindo pra cá,Miguel..-ela diz o olhando séria.
Ele a avalia por um segundo e decide que ela estava certa.Já estavam ali.Por quê não procurarem?
Eles então começaram a caminhar por entre a mata densa.Com cuidado para não se perderem um do outro . Já deviam estar há algumas horas caminhando , já estavam secos .Paravam algumas vezes para beber água e comer alguma coisa da mochila.
Chamavam pelo nome de Santo na esperança dele escutar.
Os dois sabiam que era quase sem sentindo ,procura -lo assim ao acaso.Diferentemente do mapa do rio...mas se o pai tinha caído no Chico e se ele batia naquelas bandas, havia sim esperanças..Fora o fato de que a encruzilhada devia levar aquele lugar(pelo menos um dos seus caminhos).
Já deviam ser quase onze da manhã.Eles haviam andando a manhã toda e os dois já não tinham mais forças suficientes.
Miguel andava sempre a frente,afastando na maioria das vezes as plantas para que pasassem,virava-se preocupado quase que de cinco em cinco minutos para ver se Olívia estava atrás deles.C om o tempo pôde distinguir apenas o som dos passos leves dela bem seguidos dos seus e isso já servia como mecanismo.
Depois de andar cerca de vinte metros sem virar nem se atentar a nada,a não ser tentar se orientar pelo mapa.Ele parou estático,acabara de se dar conta que fazia quase dez minutos que não escutava os passos dela.
Virou-se rapidamente,vislumbrando a vegetação que acabara por passar.Assistado e preocupado,começou a tentar refazer seus passos,até o ponto em que os dois ainda estavam juntos.
Por sorte o caminho que passara havia ficado marcado pelos galhos e plantas amassadas e ele pôde voltar.
Correu para onde se lembrava de ter escutado ela pela última vez.Seu coração quase saiu pela boca de alívio quando a encontrou ali mesmo,sentada no pé de uma árvore,com a cabeça levantada ,olhos fechados e uma das mãos na barriga.Parecia estar passando mal.
-Olívia?o que que aconteceu contigo?pensei que tinha se perdido.-fala ,sentando do lado dela.
Que respira fundo,abaixando o rosto.Incrivelmente pálido,a gora que ele pôde perceber,na verdade..
-Desculpe...eu tô muito cansada,não consegui respirar direito.-confessou ela.
Na verdade desde que começaram a caminhada ela sentira uma carga pesada no corpo,como se tivesse levado uma surra.Já no meio da manhã,começou a ficar muito cansada e cada passo era uma lágrima de dor nas pernas.
-Tudo bem,tu devia ter me dito.-ele fala.
-Eu sei,não quis atrapalhar..-fala ela meio vacilante e engolindo em seco.
-Tu tá estranha...parece outra pessoa algumas vezes.Você tá doente?-ele pergunta atento.
-Não,está tudo bem comigo...ou quase tudo.-ela fala.
Ele arregala os olhos,ela tinha alguma coisa é não queria lhe dizer?o que seria?
-Mas eu prefiro não falar disso agora..outra hora a gente conversa,pode ser?-ela pergunta.Ele sorri um pouco em resposta,estava curioso,mas respeitava a vontade dela de ter privacidade.
Ele a ajudava a levantar,quando os dois escutaram uma coisa...um som inconfundível na verdade..
O som de uma música.
Andaram até a direção do som.Até que esse se torna -se alto e incompreensível.
Se depararam com uma grande aldeia indígena.Coisa não muito rara naquelas bandas.Mas o que mais era de chamar atenção não eram os mesmo,ou a dança alegre que dançavam ritmadamente com gritos em êxodo aos céus.
Mas sim,o alto homem de pele branca,de costas para os dois,usando apenas uma bermuda surrada e apoiado numa bengala improvisada.E até estava perto da dança e conversava algo com um índio atarracado do seu lado .
A moça sorriu.
Nem precisava olhar duas vezes para saber quem era ele..quase que imediatamente ,saiu de perto de Miguel e começou a ir em direção às pessoas.A essa altura já estava em lágrimas.
-Painho!-ela gritou emocionada.
Rapidamente, o homem se virou,um sorriso de reconhecimento no rosto.Era Santo dos Anjos.
Mas do que imediatamente ,ele foi ao encontro da filha.A abraçando e chegando a tirar do chão.
-Minha peitica!que bom lhe ver!-ele exclamou a soltando.
Virou o olhar e sorriu mais ainda.
Miguel vinha também sorridente,abraçar o pai.E assim o fez,os três se abraçaram calorosamente como se não se vissem há anos..
-Mas,o que que vocês dois tão fazendo aqui?-pergunta ele,os olhando como se fossem culpados de algum crime.
Estavam agora sentados, próximos a alguns índios.O pai havia os apresentado.Todos falavam muito bem português,embora um sotaque repuxado não negasse sua herança indígena..Eram todos muito gentis e hospitaleiros.
-Tá todo mundo lhe procurando...por causa daquilo que aconteceu contigo e tio Bento..-Olívia fala.
Ele respira fundo e os olha cauteloso.Mas sem dizer nada.
-O senhor sabe quem foi , não sabe?-pergunta Miguel o encarando.O pai se vira para olhar diretamente para ele,agora.
-Eu não quero nenhum dos dois metido nisso,me ouviram?isso é coisa séria e quem fez isso comigo não vai ter pena de fazer com mais alguém..-ela fala com voz séria.
Os dois se entreolham,com a pulga atrás da orelha.Mas resolvem não contradizer Santo.
-Mudando de assunto,como foi que o senhor chegou aqui?-ela pergunta.
-É uma história comprida minha filha,uma história longa e confusa também...digamos apenas,que o velho Chico deu mais uma chance aqui pro seu velho.-os três sorriem.
Passaram o resto do dia na aldeia,assim que viram o pai os dois quiseram ir logo embora.Mas desde que chegara ,Santo havia se tornado muito popular entre os indígenas da tribo e agora com sua recuperação,eles haviam promovido o chamado ritual de renascimento.Que consistia em uma grande festa que deveria durar grande parte da noite.Pra isso ,os preparativos durante o dia eram corridos.
Depois da hora do almoço(onde experimentaram uma comida ricamente temperada feita pelas mulheres) eles se dividiram para ajudar na arrumação.
Santo e Miguel saíram com alguns homens para fazer algo.
Olívia que tão pouco sabia tecer artesanalmente aquelas belas cestas que elas faziam,deu a sugestão de procurarem flores silvestres para usarem como adorno.
As mais jovens principalmente amaram e saíram todas com ela,a guiando até um ponto onde diziam ter muitas margaridas selvagens.
Chegando no lugar,todos se agacharvam para pega-las.A quela era uma tribo antiga,mas muito modernizada,eles viviam do artesanato principalmente.
A morena acabou indo para perto de Jaçanã,uma jovem muito simpática que recepcionara ela e Miguel.
-Então,sua família já sabe?-ela pergunta enquanto cata algumas flores amareladas .
-Hein?-Olívia pergunta .
A índia sorri.
-Não precisa fingir , Olívia.Eu sei que espera um filho.-fala a moça,com ar de riso .Detalhe era que ela também estava grávida ,mas já em estágio bem avançado.
-Não,ainda não disse a ninguém...vou esperar mais um pouco.-fala.
A moça assente.
-Mas, como soube?-pergunta intrigada a olhando.
-O jeito que você se mexe,fala.Até nos seus olhos da pra ver uma coisa ..além do mais não é o meu primeiro,depois de um tempo a gente aprende.-ela sorri.
Fazendo a outra sorrir também,maravilhada com a vida naquele lugar.
-Quantos tem?-pegunta.
-Este é o quinto.-fala.
-Nossa!-a outra ri com a surpresa da jovem.
-Tenho quatro meninos,pode ser que dessa vez venha menina...-fala ela.
-Se não vinher,tu tenta de novo.-Olívia brinca e a outra ri concordando.
-E você?acha que sabe o que é o seu?-pergunta.
A agrônoma para pensar naquilo um minuto.Ainda nem tinha pensado antes..
-Não ,por enquanto.Mas espero que seja saudável.-fala.No que a outra concorda e começa a falar de algo.
As duas estão agora voltando para a aldeia ,do outro lado vem Miguel e o pai,rindo de algo que um dos homens disse.Ela engole em seco,tinha que abrir o jogo com Miguel,logo!assim que voltassem para casa faria isso,se tudo desse certo ela falaria para ele e iria embora para nunca mais voltar.. só esperaria Santo melhorar e pegaria a estrada..
A noite chega e com ela a comemoração.O som da música indígena é alto e estridente ecoando entre as árvores e o rio.
De uma das pequenas casinhas(sim,não ocas) saia Olívia risonha ao lado de mais algumas mulheres,quase todas com coroas de flores e penas coloridas na cabeça.
Assim como as outras ,ela tinha pinturas no rosto ,ombros e braços.
A dança próxima a fogueira era dividida entre homens e mulheres primeiro,com uma canção eles saudavam as bençãos e pediam que iluminassem sempre o caminho de Santo e dos dois jovens(Jaçanã traduzia tudo,em voz baixa para a morena,que estava a seu lado).
Até que a roda feminina mudou ,os homens se integraram a ela.Santo, mancando um pouco, foi posto bem no meio.
Rodeavam Santo e repetiam frases como se fossem cânticos,parecia quase a língua angelical para os hóspedes.Pediram que eles também repetissem,queria dizer"saúde acima de tudo,amor mais que tudo e felicidade maior que tudo."
Enquanto eles levantava as mãos,para a lua clara e prateada ,o fogo parecia iluminar mais do que seus rostos.Poderia ele quase transparecer a vontade de seus corpos.Olívia ria e conversava com as mulheres.Mas ,sabia que Miguel a observava de longe.
Enquanto a observava,ele notava mais uma vez o quanto ela parecia diferente,ultimamente,se comportava diferente de quando souberam da notícia que abalará suas vidas.Não que ela estivesse feliz ou conformada...ela apenas parecia ter um motivo para seguir em frente.Ele a invejava por isso,queria ter essa força toda,ela realmente parecia estar retornando a viver como se nada tivesse acontecido.. será que ele deveria fazer o mesmo?seguir com Sophie talvez...
Então foi aí que teve a ideia..era de alguma forma errado ele fazer isso,mas o que poderia fazer?ficar e sofrer mais?! fazê-la sofrer mais?atrapalhar ainda mais a vida dela? não... definitivamente não era quilo que ele faria...
Estava mais do que decidido,assim que o pai se recuperasse,ele voltaria para Paris com -Sophie,de onde nunca deveria ter saído...
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