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História Mortal loucura - No peito resta a culpa


Escrita por: Mione16

Notas do Autor


Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça.

(Cálice - Chico Buarque)

Capítulo 8 - No peito resta a culpa


Olívia está de cabeça baixa,lê de forma atenta os papéis que Santo tinha pedido para avaliar.Não tinha muito o que fazer na fazenda no dia.Então,resolveu adiantar logo aquilo ali.

Já fazia uma semana desde seu aniversário e ela não poderia estar se sentindo pior, tanto física quanto psicologicamente,era quase como se uma nuvem negra  e houvesse estacionado em sua cabeça nesse últimos dias e tudo estivesse dando errado para ela.Tinha os cabelos afastados do rosto ,sua mão esquerda segurava a papelada e a direita esfregava a têmpora nervosamente.Uma dor de cabeça fininha ameaçava acabar com ela.

-Vish, da menina concentrada.-Lucas chega por seu ombro a espiando e buscando seus lábios para beijar.

Ela quase revirou os olhos quando ouviu sua voz,estava especialmente irritada esses últimos dias.Provavelmente sua tpm,a fazendo uma hora estar chateada e do nada ficar super emotiva .

-Oi,Lucas.-sorriu minimamente para não magoa-ló e o beijou rapidamente.

-O que tanto tu faz aí que não pode vim aproveitar esse sol,em plena sexta-feira,Olívia?-pergunta ele passando as mãos por seu cabelo.

-Eu tô ocupada,só isso..-diz virando os papéis para encarar ele.

-O que aconteceu contigo?-ele pergunta.

-Comigo?nada,por quê a pergunta?-pergunta ela,se levantando e largando os papéis,sua cabeça já começava a latejar ,ela se sentia mais uma vez desorientada.O que não daria para poder estar deitada na cama agora.

-Tu tá diferente..sei lá.Talvez seja só coisa da minha cabeça, parece mudada em alguma coisa.-ele diz a olhando e ela fecha os olhos com força se apoiando na borda da mesa.

-Olhe ,Lucas..-ela começa a falar,e é interrompida quando a porta da sala  é aberta quase que com violência,ela se assusta e só então percebe que se trata de Isabel.

-Bel..o que foi que aconteceu?-pergunta ela.

-Eu não sei mais o que fazer , Olívia.Elas começaram a se pegar no meio da rua.Eu tentei apartar... não encontrei Miguel em canto nenhum..-a irmã fala chorosa.

-Calma ,Isabel...elas quem?-pergunta se aproximando.

-Mainha e Tereza..-fala com semblante urgente.

-Valha me Deus,isso num vai prestar..-fala olhando para Lucas , também abobado.

 

Era numa rua estreita e sem muito movimento onde as duas mulheres discutiam.Ao que parecia ainda não haviam se entregado à um embate físico, mas isso era apenas questão de tempo..

-Ficaram loucas?!parem com isso!-Olívia tentava intervir desesperada.

-Eu já tentei,só faltaram me engolir.-diz Bel .

-Ah,mas tem alguém que elas vão ouvir sim e se vão...Lucas vá atrás de painho na fazenda,depressa,pelo amor de Deus!-mal ela acabou de falar e o rapaz já corria desesperado atrás do carro.

-Cadê Miguel,hein? já tá juntando gente aqui.-ela fala agoniada para uma Isabel desorientada e nervosa.Era para ele estar por ali,pelo que sabia,não tinha nada de especial na fazenda hoje, também.

-Você é uma despeitada,isso sim!nunca se conformou de eu ter casado com ele!ter tido minhas filhas, ter sido feliz com o homem que é meu marido!-Luiza grita para a outra,que da uma risada de escárnio.

-Realmente é um alívio que suas filhas não tenham herdado esse teu veneno ,Luzia!meu filho também é de Santo e é tão amado e legítimo quanto as suas.-ela grita.

Olívia olha para as duas , aqui logo ia acabar mal..

-Não sei,ele veio deixar eu e mainha na cidade e disse que ia resolver umas coisas..-Isabel  diz.

-Você é uma cutruvia isso sim!desavergonhada e que se deita com homem dos outros!-Olívia vê a mãe gritar fora de si.

-Valha minha nossa senhora...Olívia elas vão se atracar e é já já, mulher!-Isabel quase quica no lugar de aflição.

Não dá em menos,um plaft forte é escutado e só um segundo precisa pra agrônoma processar que veio da mão de Tereza em contato com o rosto de Luzia.As duas abrem a boca espantadas com a força da mãe e de Miguel.

As pessoas abrem a boca espantadas pela ousadia de Tereza.

As duas tentam intervir,mas as mais velhas as repelem com rapidez .Sem prestar atenção a nada a não ser a briga.Tentando puxa a mãe dali,elas falham.

-Você me respeite ,sua cobra criada!-ela grita.No mesmo instante que a dona de casa vira para desferir o troco.

As mais jovens se afastam da linha de fogo, só o que faltava mesmo era apanharem também!

-Ai meu Deus!elas vão se matar!-Olívia se desespera.

No mesmo instante que elas se atracam de vez, uma segurando no cabelo da outra e ainda desferindo tapas.

-O que que tá acontecendo aqui, pelo amor de Deus?!-Miguel chega afobado.Parando entre as duas garotas e olhando espantado aquela cena toda

-As duas tão se atracando Miguel!-Isabel grita.

-Vocês tentaram apartar?-pergunta ele.

-Já,mas elas só faltam derrubar a gente também!-respondeu Olívia.Ela levou um empurrão tão grande da mãe que quase caia no chão e Tereza quase acertava Bel no último empurrão em Luzia.

-Mainha pare com isso,por favor!-Miguel grita puxando a mãe da briga com bastante força e servindo como escudo para ela.De modo que nem ela chegava em Luzia ,nem a outra conseguia bater nela.

-Minha mãe o que que cê tá fazendo?tu nunca foi de bater em ninguém..-ele segura ela impedindo que volte até a outra.

-Essa mulher me tira do sério,filhote...chegou aqui me xingando de isso e daquilo.Eu não tenho sangue de barata, não!-grita.Lançando o corpo para a frente .No que ele agora a segurava pela cintura.

-Se faz de superior ,se faz! sua Saruê sem futuro!-Luzia grita.É preciso as duas filhas,uma segurando de cada lado de seu corpo para impedi-lá de avançar na outra.

-Mainha,pare com isso!-Olívia pede agoniada.

-Eu tô fazendo o que já devia ter feito há anos,minha filha!enterrar a mão na cara dessa cutruvia dos inferno!bicha desavergonhada!-grita mais uma vez.Tereza bufa e lança as mãos em busca de bater nela de novo.Muito embora,agora estejam com uma boa distância.

A pequena multidão que se formou cochicha chocada.As velhas da igreja essa semana iam ter assunto demais...

Até que um carro chega e estaciona bem perto deles.

Lucas é o primeiro a sair,parece vermelho por algum motivo,deve ter sido o desespero..

Em seguida,sai dele um Santo furioso,e com cara de poucos amigos.Coisa rara de se ver..

-O que é isso aqui?todo mundo pode ir indo embora que isso né circo comunitário , não!-grita para os curiosos de plantão,que somem num piscar de olhos.

-E vocês duas,que desmantelo foi esse,hein?! dêem-se o respeito rapaz..não tem vergonha,não?vergonha de fazer essa cena que nem duas criança birrenta?!ou de fazer os filhos de vocês passarem por isso em frente dessa cidade toda?!-pergunta ele ,olhando os três jovens que observavam  toda a situação decepcionados, Isabel em especial que estava  de mão dada com a irmã.

Assim que o pai chegou, os três largaram as mães e se afastaram.Assim como Lucas ,que chegou para perto deles.

-Lucas,por favor entre na cooperativa e diga que não vou poder aparecer hoje,se preciso pegue os papéis pra mim ,por gentileza..agora vocês duas,Luzia vamo pra casa  que temos muito o que conversar.-diz ele,olhando o rosto de Tereza de relance e vendo o quanto ela estava magoada de o ter decepcionado e ainda mais se exposto assim.

Não,os dois não tinham um caso.Mas o amor que os unia durante todos esses anos nunca foi totalmente estirpado.

Lucas já havia subido para fazer o que o sogro tinha pedido.Todos andavam em direção ao carro,Tereza  já tinha ido depois de se despedir de Miguel.Isabel foi apoiando a mãe que chorava de raiva.

Foi aí que o rapaz sentiu falta de algo,se virou e viu alarmado a pequena figura de Olívia ,sentada na calçada,rosto entre as mãos.Parecia chorar...ele estranhou e correu até ela.

-Tá sentindo alguma coisa,Olívia?-ele pergunta levantando seu rosto.

-Só uma fraqueza,deve ser a virose piorando..-diz se levantando.Ela tropeça ao tentar andar e ele imediatamente a segura pela cintura.

-Você tem que ir atrás de um médico.-diz a ajudando a andar.

-Isso é besteira,virose o sistema imunológico mesmo combate.-diz cansada e praticamente sendo carregada por ele.

-Tudo bem,Dra. dos Anjos.-ele diz rindo e ela ri também.

-Besta.-ela sorri enquanto ele aperta a cintura dela com firmeza,para que caminhasse sem cair.

 

-Posso saber que circo todo foi aquele que tu armou,Luzia?!-pergunta Santo.

Os dois se encontram trancados dentro do quarto.Mas os gritos podem ser ouvidos do lado de fora ,de onde Olívia e Miguel escutavam atentos do lado da porta,Isabel foi mandada pelos irmãos mais velhos para a casa de uma amiga para não ter que presenciar a briga.Dona Piedade não estava,tinha saído para fazer compras e ainda não voltara.

-Eu já me cansei de aguentar tudo isso calada ,Santo!-ela grita.Pela voz fanha parece estar chorando .

Olívia olha para Miguel sem entender.

-Aguentar o que ?-ele pergunta.

-Você e ela!você desde menino..feito bocó atrás daquela sem vergonha!,enquanto eu estive sempre aqui,do teu lado!-ela grita.

-Eu tô casado contigo,Luzia!foi contigo que eu formei uma família.-ele grita.

-Mas ela teve um filho teu!-ela grita.Os dois escutam nitidamente os soluços fortes que emanam dela.

-Sim,um filho que eu não sabia,mas que eu amo tanto quanto as duas filhas que você me deu!-ele grita.

Os dois do lado de fora trocam pequenos sorrisos cúmplices.

-Isso só lhe aproxima ainda mais dela!foi por isso,por isso que eu fiz..-ela suspira de forma pesada.Perece estafada de tudo aquilo,sua voz que se esgoelava chegava agora a ficar rouca de tanto que ela gritava.

 -Fez?fez o quê?-ele pergunta confuso.

-Por isso que eu queimei aquelas cartas!eu que queimei!pra você nunca saber disso,pra que nossa vida não fosse atrapalhada!-ela grita.

-As cartas..tu queimou,queimou..eu..meu Deus!-ele se desespera e agora parece ter a voz embargada.

-Queimei sim!queimei e queimava de novo!,-grita ela.

-Você me escondeu meu filho,Luzia! você tem noção do que me fez?!-ele grita.

Miguel argueja do lado de fora,seus olhos agora lacrimejam.Olívia não consegue acreditar no que acabou de ouvir da própria mãe.

O rapaz corre,a porta se abre com o barulho de seu desespero.

-Ah,meu Deus!-Santo vê o filho sair da casa e tenta ir atrás dele.

-Pode deixar,painho.Eu vou atrás dele..-diz a filha.

-Fiquei aqui,Olívia!-a mãe grita quando ela já se afasta.

-A senhora me decepcionou muito,mainha..-ela fala cuspindo as palavras à mãe ,que sente forte pelo ressentimento da filha mais velha.

Olívia chora enquanto corre.Não acreditava o quanto sua própria mãe podia ser má.

-Miguel! Miguel!-ela grita.

O encontra quase vinte minutos depois..sentado em uma pedra,longe da fazenda já ,no meio das árvores .

-Sabe que é até estranho..-diz ele,já de rosto seco e mãos ocupadas,rasgando uma folha seca.

-O que é estranho?-pergunta ela se sentando do lado dele.

-Apesar de ficar triste por ter acontecido isso,eu não desejo que tivesse acontecido diferente...eu não me arrependo da minha vida entende?-ele pergunta.

-Eu sei,como é.-ela diz, também pegando uma folha seca  nas mãos,ao contrário dele. Apenas a amassando.

-Você não ia existir e disso não dá pra se arrepender.-ele fala olhando nos olhos dela.Que abaixa o olhar  envergonhada.O fazendo sorrir quase inconscientemente.

-Pois é.-diz ela.

-Não da pra nos culpar, nem pra sofrer pelos erros dos nossos pais Miguel.Não é justo com a gente.-diz ela.

-Eu sei,a nossa vida é o que nós fazemos dela.Não o que os nossos pais planejam que seja..-ele diz soltando os restos secos da folha amarelada e sem vida.

-É incrível como existem coisas que acabam com uma facilidade tão grande,algumas sem nem mesmo terem vivido direito.-ele fala triste.

Ela sentiu uma lágrima descer de seu rosto e a limpou discretamente.Ele não precisava falar para ela saber que ele se referia ao amor deles dois..quase como uma flor que nasceu e abriu e quando ia começar a soltar seu perfume foi brutalmente arrancada até sobrarem somente suas raízes...raizes essas enterradas à força no peito de ambos.. 

Ela se levantou com um pequeno sorriso ,tentando distrai-ló.

-Se a gente correr, da pra pegar a muqueca de peixe da vó Piedade.-ela diz estendendo a mão para ele.

Que sorriu de volta pegando na dela e levantou também.

-Vamos logo então ,que apartar daquelas duas doidas chega me deu fome.-os dois riem e se apressam para chegar em casa.A cumplicidade entre eles nunca realmente havia ido embora,apenas eram obrigados a tê-la de maneira diferente agora.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Ok...eu sei que esse foi pequeno msm,massssss o próximo tem mais umas coisinhas ,por isso esse é mais uma introdução...
Comentários,hein!!!
Até mais!
Bjs😍😘


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