Olívia está de cabeça baixa,lê de forma atenta os papéis que Santo tinha pedido para avaliar.Não tinha muito o que fazer na fazenda no dia.Então,resolveu adiantar logo aquilo ali.
Já fazia uma semana desde seu aniversário e ela não poderia estar se sentindo pior, tanto física quanto psicologicamente,era quase como se uma nuvem negra e houvesse estacionado em sua cabeça nesse últimos dias e tudo estivesse dando errado para ela.Tinha os cabelos afastados do rosto ,sua mão esquerda segurava a papelada e a direita esfregava a têmpora nervosamente.Uma dor de cabeça fininha ameaçava acabar com ela.
-Vish, da menina concentrada.-Lucas chega por seu ombro a espiando e buscando seus lábios para beijar.
Ela quase revirou os olhos quando ouviu sua voz,estava especialmente irritada esses últimos dias.Provavelmente sua tpm,a fazendo uma hora estar chateada e do nada ficar super emotiva .
-Oi,Lucas.-sorriu minimamente para não magoa-ló e o beijou rapidamente.
-O que tanto tu faz aí que não pode vim aproveitar esse sol,em plena sexta-feira,Olívia?-pergunta ele passando as mãos por seu cabelo.
-Eu tô ocupada,só isso..-diz virando os papéis para encarar ele.
-O que aconteceu contigo?-ele pergunta.
-Comigo?nada,por quê a pergunta?-pergunta ela,se levantando e largando os papéis,sua cabeça já começava a latejar ,ela se sentia mais uma vez desorientada.O que não daria para poder estar deitada na cama agora.
-Tu tá diferente..sei lá.Talvez seja só coisa da minha cabeça, parece mudada em alguma coisa.-ele diz a olhando e ela fecha os olhos com força se apoiando na borda da mesa.
-Olhe ,Lucas..-ela começa a falar,e é interrompida quando a porta da sala é aberta quase que com violência,ela se assusta e só então percebe que se trata de Isabel.
-Bel..o que foi que aconteceu?-pergunta ela.
-Eu não sei mais o que fazer , Olívia.Elas começaram a se pegar no meio da rua.Eu tentei apartar... não encontrei Miguel em canto nenhum..-a irmã fala chorosa.
-Calma ,Isabel...elas quem?-pergunta se aproximando.
-Mainha e Tereza..-fala com semblante urgente.
-Valha me Deus,isso num vai prestar..-fala olhando para Lucas , também abobado.
Era numa rua estreita e sem muito movimento onde as duas mulheres discutiam.Ao que parecia ainda não haviam se entregado à um embate físico, mas isso era apenas questão de tempo..
-Ficaram loucas?!parem com isso!-Olívia tentava intervir desesperada.
-Eu já tentei,só faltaram me engolir.-diz Bel .
-Ah,mas tem alguém que elas vão ouvir sim e se vão...Lucas vá atrás de painho na fazenda,depressa,pelo amor de Deus!-mal ela acabou de falar e o rapaz já corria desesperado atrás do carro.
-Cadê Miguel,hein? já tá juntando gente aqui.-ela fala agoniada para uma Isabel desorientada e nervosa.Era para ele estar por ali,pelo que sabia,não tinha nada de especial na fazenda hoje, também.
-Você é uma despeitada,isso sim!nunca se conformou de eu ter casado com ele!ter tido minhas filhas, ter sido feliz com o homem que é meu marido!-Luiza grita para a outra,que da uma risada de escárnio.
-Realmente é um alívio que suas filhas não tenham herdado esse teu veneno ,Luzia!meu filho também é de Santo e é tão amado e legítimo quanto as suas.-ela grita.
Olívia olha para as duas , aqui logo ia acabar mal..
-Não sei,ele veio deixar eu e mainha na cidade e disse que ia resolver umas coisas..-Isabel diz.
-Você é uma cutruvia isso sim!desavergonhada e que se deita com homem dos outros!-Olívia vê a mãe gritar fora de si.
-Valha minha nossa senhora...Olívia elas vão se atracar e é já já, mulher!-Isabel quase quica no lugar de aflição.
Não dá em menos,um plaft forte é escutado e só um segundo precisa pra agrônoma processar que veio da mão de Tereza em contato com o rosto de Luzia.As duas abrem a boca espantadas com a força da mãe e de Miguel.
As pessoas abrem a boca espantadas pela ousadia de Tereza.
As duas tentam intervir,mas as mais velhas as repelem com rapidez .Sem prestar atenção a nada a não ser a briga.Tentando puxa a mãe dali,elas falham.
-Você me respeite ,sua cobra criada!-ela grita.No mesmo instante que a dona de casa vira para desferir o troco.
As mais jovens se afastam da linha de fogo, só o que faltava mesmo era apanharem também!
-Ai meu Deus!elas vão se matar!-Olívia se desespera.
No mesmo instante que elas se atracam de vez, uma segurando no cabelo da outra e ainda desferindo tapas.
-O que que tá acontecendo aqui, pelo amor de Deus?!-Miguel chega afobado.Parando entre as duas garotas e olhando espantado aquela cena toda
-As duas tão se atracando Miguel!-Isabel grita.
-Vocês tentaram apartar?-pergunta ele.
-Já,mas elas só faltam derrubar a gente também!-respondeu Olívia.Ela levou um empurrão tão grande da mãe que quase caia no chão e Tereza quase acertava Bel no último empurrão em Luzia.
-Mainha pare com isso,por favor!-Miguel grita puxando a mãe da briga com bastante força e servindo como escudo para ela.De modo que nem ela chegava em Luzia ,nem a outra conseguia bater nela.
-Minha mãe o que que cê tá fazendo?tu nunca foi de bater em ninguém..-ele segura ela impedindo que volte até a outra.
-Essa mulher me tira do sério,filhote...chegou aqui me xingando de isso e daquilo.Eu não tenho sangue de barata, não!-grita.Lançando o corpo para a frente .No que ele agora a segurava pela cintura.
-Se faz de superior ,se faz! sua Saruê sem futuro!-Luzia grita.É preciso as duas filhas,uma segurando de cada lado de seu corpo para impedi-lá de avançar na outra.
-Mainha,pare com isso!-Olívia pede agoniada.
-Eu tô fazendo o que já devia ter feito há anos,minha filha!enterrar a mão na cara dessa cutruvia dos inferno!bicha desavergonhada!-grita mais uma vez.Tereza bufa e lança as mãos em busca de bater nela de novo.Muito embora,agora estejam com uma boa distância.
A pequena multidão que se formou cochicha chocada.As velhas da igreja essa semana iam ter assunto demais...
Até que um carro chega e estaciona bem perto deles.
Lucas é o primeiro a sair,parece vermelho por algum motivo,deve ter sido o desespero..
Em seguida,sai dele um Santo furioso,e com cara de poucos amigos.Coisa rara de se ver..
-O que é isso aqui?todo mundo pode ir indo embora que isso né circo comunitário , não!-grita para os curiosos de plantão,que somem num piscar de olhos.
-E vocês duas,que desmantelo foi esse,hein?! dêem-se o respeito rapaz..não tem vergonha,não?vergonha de fazer essa cena que nem duas criança birrenta?!ou de fazer os filhos de vocês passarem por isso em frente dessa cidade toda?!-pergunta ele ,olhando os três jovens que observavam toda a situação decepcionados, Isabel em especial que estava de mão dada com a irmã.
Assim que o pai chegou, os três largaram as mães e se afastaram.Assim como Lucas ,que chegou para perto deles.
-Lucas,por favor entre na cooperativa e diga que não vou poder aparecer hoje,se preciso pegue os papéis pra mim ,por gentileza..agora vocês duas,Luzia vamo pra casa que temos muito o que conversar.-diz ele,olhando o rosto de Tereza de relance e vendo o quanto ela estava magoada de o ter decepcionado e ainda mais se exposto assim.
Não,os dois não tinham um caso.Mas o amor que os unia durante todos esses anos nunca foi totalmente estirpado.
Lucas já havia subido para fazer o que o sogro tinha pedido.Todos andavam em direção ao carro,Tereza já tinha ido depois de se despedir de Miguel.Isabel foi apoiando a mãe que chorava de raiva.
Foi aí que o rapaz sentiu falta de algo,se virou e viu alarmado a pequena figura de Olívia ,sentada na calçada,rosto entre as mãos.Parecia chorar...ele estranhou e correu até ela.
-Tá sentindo alguma coisa,Olívia?-ele pergunta levantando seu rosto.
-Só uma fraqueza,deve ser a virose piorando..-diz se levantando.Ela tropeça ao tentar andar e ele imediatamente a segura pela cintura.
-Você tem que ir atrás de um médico.-diz a ajudando a andar.
-Isso é besteira,virose o sistema imunológico mesmo combate.-diz cansada e praticamente sendo carregada por ele.
-Tudo bem,Dra. dos Anjos.-ele diz rindo e ela ri também.
-Besta.-ela sorri enquanto ele aperta a cintura dela com firmeza,para que caminhasse sem cair.
-Posso saber que circo todo foi aquele que tu armou,Luzia?!-pergunta Santo.
Os dois se encontram trancados dentro do quarto.Mas os gritos podem ser ouvidos do lado de fora ,de onde Olívia e Miguel escutavam atentos do lado da porta,Isabel foi mandada pelos irmãos mais velhos para a casa de uma amiga para não ter que presenciar a briga.Dona Piedade não estava,tinha saído para fazer compras e ainda não voltara.
-Eu já me cansei de aguentar tudo isso calada ,Santo!-ela grita.Pela voz fanha parece estar chorando .
Olívia olha para Miguel sem entender.
-Aguentar o que ?-ele pergunta.
-Você e ela!você desde menino..feito bocó atrás daquela sem vergonha!,enquanto eu estive sempre aqui,do teu lado!-ela grita.
-Eu tô casado contigo,Luzia!foi contigo que eu formei uma família.-ele grita.
-Mas ela teve um filho teu!-ela grita.Os dois escutam nitidamente os soluços fortes que emanam dela.
-Sim,um filho que eu não sabia,mas que eu amo tanto quanto as duas filhas que você me deu!-ele grita.
Os dois do lado de fora trocam pequenos sorrisos cúmplices.
-Isso só lhe aproxima ainda mais dela!foi por isso,por isso que eu fiz..-ela suspira de forma pesada.Perece estafada de tudo aquilo,sua voz que se esgoelava chegava agora a ficar rouca de tanto que ela gritava.
-Fez?fez o quê?-ele pergunta confuso.
-Por isso que eu queimei aquelas cartas!eu que queimei!pra você nunca saber disso,pra que nossa vida não fosse atrapalhada!-ela grita.
-As cartas..tu queimou,queimou..eu..meu Deus!-ele se desespera e agora parece ter a voz embargada.
-Queimei sim!queimei e queimava de novo!,-grita ela.
-Você me escondeu meu filho,Luzia! você tem noção do que me fez?!-ele grita.
Miguel argueja do lado de fora,seus olhos agora lacrimejam.Olívia não consegue acreditar no que acabou de ouvir da própria mãe.
O rapaz corre,a porta se abre com o barulho de seu desespero.
-Ah,meu Deus!-Santo vê o filho sair da casa e tenta ir atrás dele.
-Pode deixar,painho.Eu vou atrás dele..-diz a filha.
-Fiquei aqui,Olívia!-a mãe grita quando ela já se afasta.
-A senhora me decepcionou muito,mainha..-ela fala cuspindo as palavras à mãe ,que sente forte pelo ressentimento da filha mais velha.
Olívia chora enquanto corre.Não acreditava o quanto sua própria mãe podia ser má.
-Miguel! Miguel!-ela grita.
O encontra quase vinte minutos depois..sentado em uma pedra,longe da fazenda já ,no meio das árvores .
-Sabe que é até estranho..-diz ele,já de rosto seco e mãos ocupadas,rasgando uma folha seca.
-O que é estranho?-pergunta ela se sentando do lado dele.
-Apesar de ficar triste por ter acontecido isso,eu não desejo que tivesse acontecido diferente...eu não me arrependo da minha vida entende?-ele pergunta.
-Eu sei,como é.-ela diz, também pegando uma folha seca nas mãos,ao contrário dele. Apenas a amassando.
-Você não ia existir e disso não dá pra se arrepender.-ele fala olhando nos olhos dela.Que abaixa o olhar envergonhada.O fazendo sorrir quase inconscientemente.
-Pois é.-diz ela.
-Não da pra nos culpar, nem pra sofrer pelos erros dos nossos pais Miguel.Não é justo com a gente.-diz ela.
-Eu sei,a nossa vida é o que nós fazemos dela.Não o que os nossos pais planejam que seja..-ele diz soltando os restos secos da folha amarelada e sem vida.
-É incrível como existem coisas que acabam com uma facilidade tão grande,algumas sem nem mesmo terem vivido direito.-ele fala triste.
Ela sentiu uma lágrima descer de seu rosto e a limpou discretamente.Ele não precisava falar para ela saber que ele se referia ao amor deles dois..quase como uma flor que nasceu e abriu e quando ia começar a soltar seu perfume foi brutalmente arrancada até sobrarem somente suas raízes...raizes essas enterradas à força no peito de ambos..
Ela se levantou com um pequeno sorriso ,tentando distrai-ló.
-Se a gente correr, da pra pegar a muqueca de peixe da vó Piedade.-ela diz estendendo a mão para ele.
Que sorriu de volta pegando na dela e levantou também.
-Vamos logo então ,que apartar daquelas duas doidas chega me deu fome.-os dois riem e se apressam para chegar em casa.A cumplicidade entre eles nunca realmente havia ido embora,apenas eram obrigados a tê-la de maneira diferente agora.
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