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História Morte Andarilha - Calmaria


Escrita por: TLRP

Notas do Autor


Quis brincar com a dualidade entre os dois personagens, como o diálogo flui de um para o outro e fica saltando.

Capítulo 1 - Calmaria



    - Maconheiro filho da puta – A voz ecoou vinda da cozinha. Um homem de aparência jovem, não devia passar dos 23, remexia o conteúdo de uma gaveta. Várias outras jaziam escancaradas ou espalhadas pelo chão junto de latinhas e embalagens abertas. O rapaz pegou o celular mais uma vez. Foi até o contato com nome de “Lucão da Bugatti”, a foto associada ao perfil era um homem loiro em pé em cima dos bancos de um carro esportivo com duas mulheres. Clicou para enviar mensagens. Vários pontos de exclamação vermelhos indicavam que as últimas não tinham sido enviadas. No canto da tela, outros dois símbolos se destacavam: uma antena com um traço vermelho e a uma bateria vermelha quase vazia.
Ele tirou e colocou o carregador do celular da tomada novamente e contraiu os lábios quando nada mudou. Esticou o braço até o interruptor de luz mais próximo. Clicou uma vez e apertou de novo quando a luz não acendeu. Fez uma terceira vez e depois se virou para o celular com a cozinha ainda mal iluminada. Passeou pela sua lista de contatos. Fotos deslizavam pela tela. Pessoas em iates, em festas luxuosas, com roupas de grife. Só parou quando avistou a foto de um casal de quarentões com blusas brancas cercados por crianças magras cobertas por trapos. O nome do contato era “Senhora Kendric”. Ao abrir a conversa com aquele contato, as últimas mensagens eram de três semanas atrás. A mulher havia enviado: “Mateus, vamos ficar mais um tempo. Essas pessoas precisam da gente, eles deixaram suas casas em busca de um lugar melhor. Precisam da nossa ajuda, você entende, não é filho?” Duas setas azuis indicavam que a mensagem havia sido lida, mas não havia tido resposta.
O rapaz passou os dedos pelo teclado virtual, escreveu “mas e eu?” e, antes que ele clicasse em enviar, uma notificação surgiu em sua tela: Menos de 20% da bateria restante. Ele apertou um botão, desligando a tela do celular e o largou em cima da bancada. Foi se desviando das latinhas espalhadas pelo chão. Chegando à pia, abriu a torneira e um pequeno filete de água marrom saiu seguido por um som oco de ar passando. Um breve “merda” passou pelos seus lábios enquanto ele dava as costas para a torneira seca. Saindo da cozinha, seus olhos pararam para encarar um grande espelho que ficava do outro lado da sala. Um reflexo pálido o encarava. Os olhos estavam fundos, uma barba rala despontava em seu rosto e seu cabelo estava maior que o de costume. Estava sem roupas, expondo sua pele branca em um corpo esbelto e sem pelos. Deslizou a mão pelo seu peito torneado e pousou em uma parte sensível do seu abdome definido onde um hematoma meio verde meio cinza se encontrava. Fez uma careta enquanto tamborilava os dedos sobre a área ferida. 
    Um vulto foi arremessado contra o reflexo até atingi-lo no ventre, que bateu e caiu antes que o rapaz tivesse uma reação. Depois de alguns instantes, ele se voltou para a bermuda aos seus pés e depois ergueu os olhos para uma silhueta deitada em um colchão no canto da sala. De lá, uma expressão sonolenta disse  - “Se cobre logo, seu chapado”. A sala estava vazia se não fosse pelo espelho, pelo colchão e por vários objetos espalhados. Entre eles o que parecia ser um saco plástico vazio com pó branco, parecido com sal, aqui e ali. Também tinha várias brasas e cinzas espalhadas juntas de bitucas. Os olhos do rapaz se  voltaram para a bermuda pêssego aos seus pés, pegou-a com as duas mãos e, após uma curta busca, apoiou-se na parede com um dos ombros. 
Depois de vestido, sua atenção se voltou para a figura no canto. As cobertas cobriam somente parte do corpo, revelando longas madeixas escuras se derramavam sobre uma pele amendoada. A silhueta esguia era parcialmente revelada pelos lençóis, expondo não só as costas, mas parte de sua calcinha de shortinho preta. 
    Ele se aproximou dela a passos lentos e então ajoelhou ao lado do colchão, colocando uma das mãos entre as pernas dela. Ela se virou lentamente, meio que ignorando o gesto e fitou-o com o busto despido. 
- Estou com fome, você encontrou alguma coisa?
     Ele negou com a cabeça enquanto retirava a mão debaixo das coxas que se deitavam sobre ela – Nada, o Lucas usava aqui para guardar os bagulhos dele, mina. A gente já comeu tudo que tinha. -
- No caso, você fumou também tudo o que tinha.
- É…
- E cheirou tudo que tinha.
- É… Olha, eu te ofereci. Não quis, não reclama.
- Mateus, eu não uso essas coisas. Só estou aqui porque essas coias loucas estão acontecendo.
- Só por isso? - Disse ele se inclinando sobre ela até roubar um beijo. 
Ela empurrou o para o lado com delicadeza. 
- A gente nem tem nada. Você sabe que eu preferia estar com meus pais.
- E daí, não foi bom? - Disse ele se inclinando sobre ela novamente, dessa vez enchendo umas das mãos com um dos seios dela.
Ela afastou a mão dele e se sentou. 
- Você está ao menos sóbrio?
- Claro que estou, tá zoando.
- Cara, estamos sem comida, presos aqui com essa epidemia e você quer transar?
- É… Por que não? Vamos, você quer.
- Não, Mateus, olha… Mateus, porra. - Disse ela empurrando ele para longe quando ele tentou fazê-la deitar novamente – Você ao menos lembra meu nome?
O rapaz a fitou por mais um instante em silêncio e depois sua expressão se abriu em contentamento.
-Alex. 
Ela não parecia convencida.
- Alex? Me poupe, Mateus. Vou pegar minhas roupas.
- Alexandra, Alessandra, algo assim, vem aqui.
- Não, toma sua camisa.
- Não precisa jogar com força.
A mulher deixou a sala e foi até a cozinha. Cliques vindos de um dos interruptores podiam ser escutados.
- Acabou a energia?
- Sim, acho que deve ter tido um apagão. 
- E a água também?
- Aham, foda, né?
- Meu celular está sem sinal, o seu tem?
-Não. 
- E você queria transar!?
- Melhor que ir lá fora, da última vez, foi uma merda. Esqueceu, mina?
- Não, não esqueci.
- Minha barriga ainda está doendo aonde o trinco bateu. Será que vai ficar marca?
    Ela voltou para a sala, estava vestida com suas calças jeans azuladas e uma camisa de manga longa cor azul-marinho. Ele estava deitado com metade do corpo no chão e metade sobre o colchão. Tinha uma camisa cobrindo parte do tronco e agora usava uma bermuda. Ela caminhou até a ponta do colchão e pegou um cachecol listrado de azul, branco e ciano, colocando-o aberto em cima dos ombros. 
- Bem, eu vou atrás de comida, vai ficar aí?
- Alex, relaxa, eu estou aqui para te proteger. - Disse ele dando uma risadinha. - Fica aqui comigo.
- Não. Precisamos encontrar ajuda. Tem uma delegacia aqui perto, talvez lá tenha ajuda.
- Eles atiram sem nem saber. Estão se fodendo se você está ou não doente.
- Tem alguma ideia melhor?
-  Você fica aqui, me dá esse seu traseiro e eu protejo você.
- Vá se ferrar, Mateus.
- Que isso, mina, sabe que eu morreria por você.
- Você me deixaria morrer.
Ele esboçou um sorriso de canto e ela deu as costas para ele.
- Babaca.
 


Notas Finais


Logo posto mais.


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