05/02/2005
A sensação de dormência na ponta dos dedos pelo frio era, de longe, uma das piores coisas que Dean descobriu existir desde suas primeiras vindas à Terra. Com o vento gelado a bagunçar seus fios loiros desprotegidos e queimando suas bochechas, a respiração a puxar um ar que parecia feito de fagulhas de frio afiadas que cortavam e arranhavam durante o trajeto até seus pulmões, ele se perguntou o porquê de Castiel gostar tanto do inverno.
— Agora só precisamos encontrar um cachecol pro nosso boneco de neve. Até que ficou da hora. — Dean disse, estreitando os olhos para alguns defeitos do boneco.
— E onde vamos encontrar um? — perguntou Castiel.
— Hm... — ele hesitou, pensando enquanto ajeitava os olhos feitos de mirtilo, que considerava estar ligeiramente tortos. Uma diferença imperceptível para qualquer um que não gostasse de coisas simétricas e perfeitas, ou o mais próximo disso que pudesse. Pegou o próprio cachecol, uma peça de lã listrada, turquesa e branco, e enrolou entorno do pescoço imaginário do boneco.
— Ei! Você vai ficar com frio! — reclamou Castiel, indignado.
"Ao contrário de você, eu não morro de hipotermia." Dean ponderou, encarando Castiel por alguns segundos antes de dar de ombros:
— Não se preocupe, eu vou ficar bem. Não podemos deixar nossa obra prima com frio, podemos? — Dean sorriu, pensando ter vencido a batalha.
— E você pode? — devolveu rapidamente, estreitando as safiras em desafio.
Dean riu, erguendo Castiel pelas axilas.
— Me aqueça, então.
Dean selou seus lábios nos de Castiel rapidamente, num selinho sem segundas intenções.
A sensação do calor ao ser irradiado de Castiel era reconfortante, como voltar para casa depois de um bom tempo fora, sensação esta que era ampliada pelos cobertores macios, chocolate quente e uma boa companhia. Não era de extrema urgência o corpo de Castiel colado ao seu, era apenas por opção. Porque é quente, porque é confortável, porque é seguro, porque traz a lembrança de uma memória distante da qual não se sabe exatamente o que é. Porque traz a saudade de algo que nunca foi vivido, pelo menos não nessa vida.
Ninguém sabe sobre as vidas que passaram ou que ainda passarão, afinal. Porque é familiar, como se os dois corpos pertencessem um ao outro e essa posição tivesse sido feita exatamente para eles. Dois corpos humanos tentando compartilhar calor.
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