História MOVA - Bloco M - Não tem problema!

Abri meus olhos com dificuldade por causa da claridade no quarto, pisquei algumas vezes antes de finalmente encarar a janela aberta. Bufei enraivecido por ter esquecido aquilo assim. Quando tentei me mexer, meu braço mais uma vez esbarrou em Kwon. Aquilo estava ficando cada vez mais comum. Cocei minha cabeça e sentei na cama num impulso. 

Foi quando a ficha caiu. Eu estava nu. Kwon estava nu do meu lado. Meu. Santo. Deus. Eu fiz mesmo isso? Não foi um sonho? 

-"Ah meu Deus Kim Yu Kwon, me diz que nós não fizemos nada!"- Gritei balançando-o e o loiro acordou com um susto.  

-"O que aconteceu Minnie?"- Falou com sua voz rouca pelo sono recente e seus olhos vaguearam pelo quarto em busca de algo errado, até esbarrarem no meu corpo nu, ele levantou suas orbes castanhas na minha direção e sorriu de lado de um jeito maléfico.  

-"Seu pervertido! Eu não estou acreditando!"- Gritei puxando o lençol do loiro pra me cobrir, deixando-o pelado em consequência. O meu colega de quarto fez careta e fiquei meio hipnotizado pelas milhões de marcas vermelhas pela cintura e bunda dele.  

-"Eu to com uma puta ressaca! Para de fazer escândalo, até parece que quem deu a bunda foi você!"- Murmurou deitando de novo. Ele não estava entendendo. 

-"Kwon... O que aconteceu ontem?"- Perguntei meio receoso, precisava de alguma prova de que aquilo tudo na minha cabeça não era apenas ilusão. 

-"Bem... Eu bebi um pouco, dancei e na verdade não me lembro de mais nada..."- Comentou pensativo e meus ombros relaxaram. -"Só lembro de rebolar no seu pau!"- Falou pra provocar e sorriu. Bati no seu ombro e escondi meu rosto com as mãos.  

-"Meu Deus..."- Reclamei de mim mesmo e bufei de olhos fechados.  

-"Que foi Minnie? Eu vou ficar chateado se ficar com isso agora..."- Falou e isso me fez tirar as mãos do rosto para encara-lo. Ele parecia tão tranquilo de bruços do meu lado. Como se aquilo tudo tivesse sido algo normal. Era como se ficar vulnerável na minha frente não o abalasse. Mas me abalava completamente. YuKwon sempre me abalaria.  

-"Eu apenas... Ah sei lá! Eu queria muito, mas isso me da medo... Sei lá. E agora?"- Tagarelei tentando mostrar meus pensamentos pra ele e vi o loirinho massagear as têmporas, ele deveria estar com ressaca ainda.  

-"Você pensa demais..."- Ele sussurrou.  

-"É sério Kwonnie..."- Falei e ele abriu os olhos pequenos pra me olhar intensamente. Num daqueles momentos raros em que ele fica sério.  

-"Eu achei que a gente namorasse..."- Disse simplesmente, num tom que deixava muita coisa implícita.  

Eu nunca tinha parado pra pensar nisso desse jeito. Apenas gosto dele e o pedi em namoro. Minha intensão era a mais possessiva possível, apenas acalmar meu próprio coração sobre ele. Como se isso fosse um espécie de fuga. Como se fosse diminuir um pouco tudo o que sinto por ele. Mas quem quero enganar? Isso não mudou nada, nem o fato de termos transado ontem fez qualquer coisa diminuir. É como se eu tivesse me apegado ainda mais. Nunca uma relação sexual foi mais do carne pra mim. Era como se estivesse necessitado de cada toque e até mesmo ansiando em tocar-lhe também.  

-"Não entendo sua cabeça..."- Comentei com o olhar perdido em minhas próprias mãos. 

-"O que é tão incompreensível...?"- Ele perguntou rapidamente e suspirei sem achar uma resposta concreta pra aquilo. Ficamos um pouco em silêncio. -"Eu sei o que é... É incompreensível que alguém goste de você, certo? Que alguém te admire! É incompreensível que eu diga com todas as letras que eu quero namorar você e que eu quero que me toque! É incompreensível acreditar que alguém quer amar você... Não é Lee Minhyuk?"- Ele indagou com convicção e um tom calmo. Prendi a respiração por um segundo e pensei sobre o que ele me disse. Sim.  

Olhei para seus olhos e ele virou de lado levantando um braço, como se me oferecesse um abrigo, que eu nem mesmo pensei em recusar. 

... 

Eu e Kwon estávamos tomando café da manhã no refeitório. Me sentia meio estranho, meio diferente. O loiro na minha frente parecia um pouco estranho também, estava comendo muito, mas não tanto quanto normalmente e parecia meio cansado.  

-"Porque você parece tão cansado e está comendo menos?"- Questionei preocupado. 

-"Porque eu bebi um pouco ontem, me sinto enjoado... E também dei a bunda sem nenhuma preparação decente!"- Comentou Kwon debochado e eu engasguei com meu suco, cuspindo a mesa.  

Antes que ele morresse de tanto rir de mim, Baro e Sandeul apareceram e sentaram conosco. Abracei Sandeul com força, ele estava suado quando o afastei entendi porque, o pobre patinho estava com um cachecol naquele clima quente. Fiz careta pra ele, mas deixei pra lá. 

-"Como foi o aniversário?"- Perguntei gentilmente, tentando agir normalmente.  

-"Foi bom!"- Sandeul pareceu corar e eu baguncei seu cabelo. 

-"Foi o melhor!"- Baro falou alto dando um beijo estalado no bochecha de Sandeul que corou mais.  

-"Estão preparados pra ensaiar o dia todo?"- Perguntei completamente cheio de energia e ouvi Kwon gemendo e apoiando a cabeça na mesa.  

-"O que aconteceu com o Kwon?"- Sandeul perguntou. 

-"Ele bebeu ontem!"- Expliquei e o mais novo assentiu compreensivo.  

-"Você vai fazer ele ensaiar assim?"- Baro perguntou preocupado.  

-"Eu não preciso que ele ensaie! Kwon é bom em tudo mesmo..."- Tagarelei enquanto comia mais um pedaço do meu pão.  

-"Sou bom em tudo?"- O loiro perguntou levantando a cabeça e me olhando de um jeito sugestivo. Baro sorriu de um jeito travesso e Sandeul apenas continuou comendo completamente inocente.  

-"Você é um idiota!"- Comentei.  

Olhei para Sandeul e me deu uma aflição. Ele estava com tanto calor que até eu conseguia sentir.  

-"Deulie tira isso! Você ta tentando emagre..."- Comecei a falar e puxei o cachecol de uma vez. Minha fala foi interrompida quando enxerguei o pescoço do mais novo. Antes era tão branquinho, mas agora tinham várias marcas vermelhas e roxas e até mesmo arranhões. Ele arregalou os olhos e puxou o cachecol para cobrir-se novamente. Minha boca só não caiu porque ela é colada na minha cara. 

-"E-E-Eu cai..."- O patinho falou mais corado que um tomate e eu atingi níveis atmosféricos de raiva. Joguei meu pão no prato e lancei um olhar fulminante pra Baro.  

-"Seu esquilo pervertido! Não acredito que fez isso com uma pessoa tão inocente! Esperava mais de você!"- Gritei, dando bronca e os ombros de Baro encolheram enquanto ele olhava para a mesa, calado. Bufei. -"Ele forçou você patinho?"- Perguntei puxando Deulie pra perto e apertando-o em proteção.  

-"Deixa de ser rabugento! Meu pescoço ta bem pior, olha só!"- Kwon falou olhando de soslaio pro meu abraço com Sandeul e puxou a gola rolê da sua camisa pra baixo revelando marcas bem piores, sim. Fiquei vermelho e segurei Sandeul no meu abraço. Baro começou a rir de um jeito escandaloso. 

-"Não olha Sandeul, não deixa eles tirarem a sua inocência!" Gritei apertando o mais novo e ele ria no meu aperto.  

-"Se eu fosse você Deulie eu saia de perto do Minnie, ele aprece santinho, mas ele é bem perigoso em!"- Comentou de um jeito sugestivo. Baro abriu a boca numa surpresa falsa e puxou o Pato de mim, como se o protegesse, os dois riram. Eu tive que rir também, dando de ombros.  

-"Esse cara é doido por mim!"- Falei apontando pra Kwon e ele abriu um daqueles sorrisos bonitos, sem responder nada.  

Claro que as piadinhas de YuKwon não acabaram por ai. Ele descansou a tarde, mas veio ensaiar a noite. Nós estávamos confiantes perante nosso desempenho. Nada poderia dar errado. Me sentia estranhamente completo, como se dançar o dia inteiro não tivesse tirado minha energia. Isso era normal, mas a sensação de tranquilidade que inundava meus poros era sem dúvidas bem diferente do que costumo sentir. Depois de tomar um banho demorado voltei ao quarto, mas Kwon já dormia de novo babando e mantendo as camas juntas. Vesti qualquer coisa e deitei atrás dele, puxando-o pra perto e fechando os olhos. 

Ele fazia meu coração bater mais devagar e aconchegava meu corpo minimamente cansado. Enquanto ele estava ali desacordado e babando, apertei-o mais contra mim, fechando os olhos e inspirando seu cheiro.  

-"Fique comigo pra sempre..."- Sussurrei e como imaginava, não ouve resposta alguma.  

○○○ 

-"Quem é o próximo grupo?"- Raquel perguntou após ver a apresentação de quatro meninas e não deixar exposta nenhuma reação se quer sobre o desenvolvimento delas. Fiquei de pé e os três meninos me seguiram, Raquel olhou pra nós e anotou algumas coisas. Me posicionei na parte da sala separada para que nos apresentássemos enquanto Kwon ia até a professora, dizia nossos nomes e entregava o pendrive com a música.  

Todo o esforço daquela semana tinha que servir pra alguma coisa. Respirei fundo e me posicionei, esperando Kwon ficar do meu lado. Suspirei me concentrando e ouvindo alguns gritinhos ansiosos por parte do resto dos alunos.  

A música começou e começamos a nos mexer, tudo começava com movimentos simples pelo começo da música, mas logo os movimentos iam aumentando a velocidade. Resolvemos construir a coreografia em cima da melodia e não da voz em si, já que a mesma era bem lenta. Movimentei os joelhos e as mãos da forma que nos acostumamos e quando virei durante uma parte mais lenta da coreografia, percebi que até Kwon resolveu não cantar a música como fazia nos ensaios, como se estivesse se esforçando para ser perfeito pra mim. Isso me deu força para me focar e tentar sincronizar ainda mais meus movimentos. Os passos variavam entre muito rápidos e simples, dando-nos aquele tempo para respirar. Hora seguindo a batida animada, hora seguindo o refrão. Levantava minhas mãos e mexia a cabeça quando marcava os paços da forma que deveria ser feito. Tentava ao máximo não prestar atenção nos outros três, apenas torcendo internamente para que eles estivessem seguindo a coreografia e que tudo parecesse sincronizado. Movi meus ombros num movimento bem marcado e virei de costas mexendo o pé, vi as costas bonitas de Kwon e a forma que sua mão entrou na coreografia devagar. Depois estávamos de frente de novo, mexendo calmamente e livremente no final da batida. Foi apenas a primeira parte da música até o refrão, mas estávamos cansados. Todos começaram a gritar e nós continuamos parados assimilando tudo. Alguns alunos jogaram bonés na nossa direção e deram várias palmas para grandificar nossa apresentação. Mesmo que eu não tivesse plena certeza, eu sentia que estávamos sincronizados já que o barulho que os sapatos faziam contra o chão sempre estavam iguais. Olhei para Raquel por um segundo, mas ela não exibiu nenhuma expressão. Apenas anotava algo naquela folha. Abracei os meninos animado, com um sorriso no rosto. Parecia que tudo tinha valido a pena.  

Andamos e sentamos com os outros alunos recebendo tapinhas de parabéns e eles entregaram os celulares para que conseguíssemos ver o vídeo da nossa performance. Fiquei sinceramente orgulhoso de todos, pincipalmente Sandeul que se esforçava de verdade pra dançar como nós, quando claramente esse não era seu estilo. Observei os outros grupos e bati palmas orgulhoso, Raquel como sempre era impassível, notando com naturalidade cada coisa em cada coreografia, seus olhos passavam por cada estudante como se procurasse erros e acertos.  

-"Bem pessoal! Titia amou como vocês pareceram absortos na tarefa que eu encaminhei e bem, isso me ajudou muito! A partir da próxima aula, vou começar a fazer coisas especificas para cada um! Então estejam preparados em! Bom almoço!"- Ela comentou animada e começamos a bater palmas.  

Assim os alunos passaram a caminhar para fora da sala e se dirigirem até o almoço. Vi Kwon saindo junto com Sandeul e Baro, os três comentando ainda como estavam sincronizados e sorrindo grande enquanto planejavam sobre os vídeos que colocariam no Instagram. Calcei meu sapato com calma e virei de costas, Raquel parecia focada nas folhas e anotava algumas coisas. Respirei fundo mordendo o lábio e avancei até ela. A sala já estava tão silenciosa que meus passos e a sua caneta rabiscando o papel era os únicos barulhos.  

-"Lee Min Hyuk..."- Ela comentou de repente e meu coração pulou uma batida. Ela sabia meu nome, isso era bom ou ruim? Continuei calado e ela levantou seu rosto na minha direção com uma expressão calma.  

-"Titia..."- Comecei usando sem querer o apelido que todos usavam, minhas mãos suavam, afinal ali estava Raquel. Boa parte das minhas intenções em estudar na MOVA, eram preenchidas por sonhos em ser o preferido dela e em ter aulas comandadas por ela. Mesmo que nossos estilos fossem diferentes, sempre admirei sua imensa capacidade de adaptação e como ela conseguia dançar em qualquer estilo.  

-"Sim...?"- Encorajou me olhando nos olhos e esperando que continuasse falando.  

-"Eu... Bem, eu queria saber se posso ter um Feedback seu sobre a apresentação de hoje..."- Indaguei medroso, ela suspirou e retirou os olhos de armação pesada. Seus olhos eram diferentes, um tinha uma cor mais clara que o outro e prendi minha atenção neles, tentando segurar o nervosismo.  

-"Bem... Devo dizer que dentro todas as apresentações e todos os alunos vocês foram os que mais me..."- Ela começou prestando atenção em mim e por um momento imaginei que ela nos elogiaria. -"Decepcionaram."- Completou de forma dura e suspirou. Fechei a boca com força, para continuar olhando-a com calma.  

-"Porque?"- Questionei confuso. Como ela pode dizer que foi decepcionante? Toda a minha admiração por ela borbulhava e derretia caindo no chão.  

-"Levando em consideração o seu domínio de coreografia, você quem coreografou... Certo?"- Perguntou devagar, assenti rapidamente mexendo a cabeça. -"Sem dúvidas foi um sequencia incrível Minhyuk, não me leve a mal. Você tem talento e talvez por isso eu esperasse mais de você... Acontece que venho te observando desde que me enviaram os vídeos das audições... Você não cresceu nada durante esse tempo, só parece cada vez mais robótico. Na sua apresentação com Yu Kwon lá no começo... Era obvio quem tinha feito a coreografia, assim como hoje... Você apenas guiou os outros para seguirem seus padrões. Mesmo que você não tenha escolhido o passo é obvio que o mudou e moldou a como você achava melhor, porque essa coreografia combina perfeitamente com você e com mais nenhum dos seus companheiros de grupo..."- Sua voz era dura e soava como uma bronca. Fechei minhas mãos em punho desviando o olhar pros meus tênis.  

-"Entendo..."- Foi a única coisa que consegui comentar, enquanto decidia se saia ou não antes de enlouquecer ali mesmo.  

-"Minhyuk... Meu pedido foi para se perder na música. Você se perdeu na coreografia... Consegue entender a diferença? Espero ver apresentações cada vez melhores vindas de você e espero que saia da bolha que se enfiou!"- Terminou sua frase e voltou sua atenção ao bolo de papeis a sua frente.  

Fiz uma reverencia curta e virei saindo dali. Minha mente estava perdida em pensamentos. Eu fiz tudo direito, porque parecia que nunca atingia o lugar certo? Me sentia cada vez mais frustrado em relação a dança desde que entrei na MOVA.  

Entrei no refeitório e Kwon acenou pra mim da mesa, lancei um sorriso fraco pra ele e fui pra fila da comida. Quase não prestei atenção no que colocavam no meu prato e ele estava definitivamente grande demais pra mim. Segui até a mesa, notando que não só Baro e Sandeul estavam sentados lá, mas Liu e os gêmeos também. Eles conversavam animadamente e eu conseguia ouvir a música vinda do vídeo que eles mostravam pro chinês. Os gêmeos batiam palmas e pareciam amar a coreografia, mas Liu apenas avaliava silenciosamente e por um momento isso me lembrou a ação da professora.  

-"Hey Minnie! Toma!"- Meu colega de quarto falou quando finalmente me sentei na mesa. Ele colocou talheres do lado do meu prato. E foi só nesse momento que notei o quão mal acostumado estava com ele, nem passou pela minha cabeça que eu precisava pegar aquilo, quando o loiro sempre pegava pra mim. Sorri pra ele e abri o saquinho pegando o garfo e começando a comer para que não percebessem meu silencio.  

Minha mesa parecia tão animada e minha mente vagueava entre a decepção de Raquel e sobre todos aqueles meninos sentados na minha mesa almoçando ao meu lado. Não tinha momento nenhum na minha mente que se comparasse a isso. Quando terminei de comer tateei o celular de Kwon e vi e revi o vídeo, pensando calmamente sobre tudo que ouvi ela dizer por ver a apresentação apenas uma vez. Estava obvio que eu fiz a coreografia? Realmente o rosto de Sandeul estava focado demais durante o vídeo e Baro parecia super atento no Patinho, copiando os movimentos com precisão. Kwon apenas dançava brilhante como sempre, fazendo questão de marcar e travar os movimentos do jeito que eu gostava que ele fizesse, ou melhor, como eu fazia. Isso dava a coreografia uma substancia melhor, a sincronia era perfeita porque todos copiavam meu jeito de dançar. Quando a ficha caiu me senti meio inútil de repente. Como se todo meu esforço fosse em vão.  

Pausei o video e coloquei o celular na mesa com um suspiro e foi nesse ponto que percebi o loiro me olhando. Nossos olhares se encontraram e ele parecia sério. Estávamos alheios a toda a animação na nossa mesa, nos encarando como se pudéssemos conversar de boca fechada.  

De algum jeito a forma como ele me encarou me fez sentir vulnerável e transparente, como se ele me entendesse, mesmo que eu não quisesse que ele o fizesse. Meus olhos marejaram por um momento ainda encarando-o e senti meu queixo tremer.  

Antes que a primeira lágrima descesse já estava sendo arrastado por Kwon, que puxava minha mão pra fora do refeitório. Ele parecia conseguir ouvir meus pensamentos e meus gritos internos para que ele não deixasse ninguém me ver assim. Finalmente chegamos em algum lugar onde o loiro julgou ser ideal para conversar. Ele me fez sentar no banco de mármore e me encarou um pouco. Eu fazia tanta força pra não chorar que eu rosto deveria estar contorcido numa careta feia e eu apertava sua mão com força, impedindo-o de soltar o contato. Aquela sensação de inutilidade inundava meus pensamentos. Como se eu nunca fosse ser bom o suficiente, como se nunca fosse parar de decepcionar todos ao meu redor.  

Um grupo de meninas se aproximava andando e conversando animadas. Olhei para Kwon como se o pedisse socorro, ele pareceu desesperado e enxugou minhas lágrimas com a mão, mas isso só fez que mais caíssem e eu me sentisse incapaz de segurar por mais tempo. Soltei sua mão e puxei sua cintura, escondendo meu rosto na sua barriga. Ele fez de sua jaqueta um esconderijo pra mim e depois seus braços me apertaram com força, quase como se ele conseguisse me fazer invisível. As meninas passaram por nós contendo risadinhas e me enfiei ainda mais no loiro.  

-"Pronto... Elas já foram..."-Ele comentou enquanto fazia carinho no meu cabelo, eu queria ele mais perto. Afastei da sua barriga, sem ligar pra provável cara horrível que eu estava naquele momento e estendi minha mão puxando pra baixo pelo pescoço e abraçando-o com força, ele tentou se aconchegar porque eu não o soltava e acabou sentado no meu colo de frente pra mim. Seu peso contra minhas pernas me fazia sentir bem e sentir seu cheiro era um calmante natural.  

Ele permaneceu naquele posição comigo, mesmo que as pessoas passassem e conversou, mesmo que provavelmente estivesse sendo difícil entender minhas palavras abafadas pelo abraço que eu não queria soltar. Depois que expliquei a situação pra ele, ele só ficou repetindo a mesma frase: "Não tem problema!". Como se fosse a maior verdade do mundo. E ele repetiu tanto isso que em algum momento eu acreditei nele, confiando que ainda tinha jeito.