Sook não podia estar mais feliz, ela estava arrumando as malas com suas três melhores amigas. O voo sairia pela manhã bem cedo e desde que chegara da escola estava se empenhando nessa tarefa difícil: o que levar?
— Acho que você tem que levar esse sweater aqui, ele é muito fofo — Ana levanta o sweater de ursinho cor de rosa pra Sook ver.
— Sim, eu nunca deixaria ele, eu o comprei naquela feira de cultura coreana — Sook pega o sweater e o abraça antes de o dobrar e o colocar na mala.
— E esses sapatos? — Bia pergunta segurando um par de anabelas amarelas.
— Acho que não vou levar... já tenho umas outras parecidas aqui e não quero repetir looks, já que não posso levar tudo — Sook coloca a mão no coração simulando dor por ter que deixar suas coisas.
— Então, posso ficar com elas? — Bia não hesita.
— Bia... — Rachel a repreende, com um moletom de coração na mão.
— Claro, Bia — Sook diz dobrando um vestido rodado lilás.
— Ai, obrigada! Elas vão ficar lindas com meu short novo — Bia comemora.
Rachel continua vendo o moletom de coração que ela sempre admirou e então o mostra pra Sook mesmo relutante.
— Hum... você vai... levar esse moletom aqui? — Ela pergunta.
Sook o olha rapidamente e dá de ombros.
— Não, pode ficar...
— Beleza! — Rachel sorri e veste o moletom na frente do espelho.
— Sook... — Ana mostra uma blusa com estampa floral com uma expressão pedante.
— Ok, Ana, é sua — Sook ri.
— Valeu, você é incrível! — Ana abraça a blusa sorrindo.
— Eu sei, eu sei...
A sra. Soo-Yun aparece na porta aberta com uma bandeja de chá e sanduíches nas mãos, ela pigarreia pra chamar a atenção das meninas.
— Trouxe um lanchinho pra vocês — ela diz e as quatro vão se servir. — Nossa, que bagunça vocês fizeram por aqui...
— Nós estávamos fazendo as malas... — Sook diz, após engolir um pedaço do sanduíche.
— E estão indo bem? — a sra. Soo-Yun pergunta duvidosa após ver toda a desordem causada.
— Sim, o problema é escolher o que levar... tem certeza de que não dá pra levar tudo? — Sook faz uma expressão de gatinho implorando.
— Tenho sim... se você levar tudo isso eu tenho certeza de que o avião vai cair com todas nós dentro — a sra. Soo-Yun sorri. — E não adianta fazer essa cara, não vai funcionar.
Sook faz biquinho, triste.
— Agora eu vou ir ver como a sua irmã está, já que está trancada no quarto desde que voltou da escola...
— Obrigada, tia Soo! — Ana diz sorrindo.
— Sim, ta uma delícia! — Bia diz, de boca cheia.
— Desculpe a falta de educação dela, tia... — Rachel lança um olhar atravessado pra Bia que nem percebe.
— Tudo bem, tudo bem... — A sra. Soo-Yun sorri e vai embora com a bandeja vazia.
Sun ouve batidas na porta e ignora, estava tentando ignorar tudo a sua volta esperando que seus problemas desaparecessem enquanto olhava para o teto do seu quarto pela última vez e ouvia Arctic Monkeys. Mais batidas. Sun expira irritada, tira os fones dos ouvidos e vai abrir. Era sua mãe que estava parada com uma bandeja na mão.
— Trouxe um lanche... deve estar com fome — sua mãe diz, Sun olha pra xícara fazendo careta, pensando que é um daqueles chás que ela odeia. — É café.
— Não estou com fome — Sun se afasta da porta e volta a se jogar na cama.
A sra. Soo-Yun entra e deixa a bandeja sobre o criado mudo antes de se sentar aos pés da cama.
— Sun... — ela diz, mas Sun a ignora e se vira para o canto. — Eu sei que você não quer ir, mas eu realmente acho que isso é o melhor pra nós no momento, filha... você vai poder estudar em uma ótima universidade lá, vai ter um currículo melhor e vai conhecer novos lugares, novas pessoas...
— Eu não quero conhecer mais ninguém, eu já tenho meus próprios amigos e eles vão ficar aqui... onde eu quero ficar.
— Mas filha, seus avós não nos veem desde que vocês eram crianças e eles são nossa única família agora.
— O papai vai ficar aqui, ele era a nossa família! — Sun se volta pra mãe e se senta na cama. — Desde que... desde que ele se foi você e a Sook agem como se não se importassem com mais nada! Não faz nem três meses que o papai morreu e a Sook só fala nessa viagem idiota com você e as amigas idiotas dela! Vocês nem ao menos mencionam ele, não dão a mínima pra memória dele!
— Sun, o fato de não falarmos sobre isso não significa que não nos importamos! Eu amava o seu pai tanto quanto você e a Sook.
— Mas não é o que parece... — Sun se interrompe, sabia que estava indo longe demais quando viu sua mãe baixar a cabeça.
Alguns minutos de silêncio se passaram e Soo-Yun encarou a filha com lágrimas no rosto.
— Eu... eu vivi com o Raul durante vinte anos da minha vida. Ele foi o meu primeiro amor — Soo-Yun diz com um suspiro. — E então, pouco depois de nos casarmos, ele me deu mais dois amores: você e a sua irmã. Você já sabe da história e sabe que ele tinha problemas com o coração — Soo-Yun seca umas lágrimas e dá um sorriso triste. — Ele dizia que seus problemas era por nos amar demais... sempre vendo a vida de um jeito divertido. Eu me lembro de cada detalhe do rosto dele e de cada mania que ele tinha, como a de cantar Roberto Carlos nas manhãs de domingo pra mim assim que acordava. Eu sinto falta disso, muita. E por mais que sinta saudades e que meu coração doa por isso, eu sei que ele não vai voltar...
Sun tenta conter as lágrimas mas não consegue, odiava chorar, isso a fazia se sentir fraca. Soo-Yun segura sua mão, confortando-a.
— Eu sei que dói, querida, eu também sinto... — ela diz. — E a Sook também, mesmo que não tenha demonstrado como você. Mas há uma coisa que você precisa saber... cada um demonstra e suporta a dor da perda de um jeito diferente. A Sook sempre vê o melhor de qualquer situação, por mais difícil que seja e você não deve criticá-la pois seu pai também era assim. Já você se parece mais comigo nisso, você sente as coisas de forma mais profunda e apaixonada... e é mais difícil desse jeito, eu sei. Por isso, eu estou tentando fazer o que o seu pai faria, pois acredito que seja o melhor pra todas nós.
— Eu não quero ir... — Sun seca as lágrimas. — Não quero deixar todos os meus planos aqui, não quero mudar.
— E não vai, querida. Você só irá mudar os planos de lugar, tente pensar dessa forma por um momento — Soo-Yun sorri suavemente. — Não precisa mudar você mesma, só enxergar as coisas de forma mais positiva como seu pai fazia... eu tenho certeza que as coisas ficarão mais fáceis desse jeito.
Soo-Yun se levanta e beija o topo da cabeça da filha.
— Agora coma um pouco e... não demore muito a fazer as malas, ok? — ela diz perto da porta, sorrindo. — Vou pedir pizza portuguesa para o jantar, sua preferida.
E ela sai. Sun respira fundo não muito conformada, mas decide começar a arrumar as malas logo, já que não tinha opção.
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