História Muito mais do que doce - "I...don't know"

Não me lembro exatamente quando eu passei a sentir de novo, só sei que meu sentidos foram voltando um atrás do outro, minha audição estava debilitada e frágil, qualquer barulhinho mais alto já me fazia sentir muita dor e sentia uma respiração, próxima de minhas mãos, que eram seguradas com força, eu não sabia quem estava ali, mas agradecia internamente, quem quer que fosse estava afastando a sensação de estar sozinho que se tem quando você não enxerga, a propósito, meus olhos não tinham força para abrir, não até agora.Respirei fundo e tentei ver onde eu estava, e para o meu conforto estava em casa, no meu quarto, Nathaniel dormia sentado com a cabeça no espaço adjacente ao meu corpo e segurava minha mão, mesmo dormindo, era de fato um neurótico, ri mas na mesma hora meu ouvido doeu, não pude evitar um curto e agudo gemido de dor

-Candi…-Levantou a cabeça rápido

-Eu...ai!

-Não...não fale, seu ouvido está ferido, ela fez isso com você, fique quieta-Sua voz estava tão baixa que parecia mais um sussurro, ele estava maneirando a voz para não me machucar

-Está melhor?-Balancei a cabeça positivamente e ele sorriu

-Quer...comer alguma coisa?-Estava sem fome, fiz careta só em pensar em comida, estava bastante enjoada

-Entendi-Colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.Fiz um sinal apontando para o pulso, para mim e para a cama, tentei perguntar a quanto tempo estava dormindo

-Você está assim há um dia

-O quê...ai…

-Shii, já disse pra ficar calada-Tentei levantar mas ele segurou meu corpo antes que eu ao menos colocasse os pés no chão

-Você ainda não pode andar, recomendações do seu pai-Bufei de tédio e ele riu

-Não seja tão teimosa-Beijou minha bochecha e eu fiquei sem reação

-Aonde quer ir…-Colocou o dedo em frente a minha boca

-...aponte com o dedo-eu apontei pra janela, só queria ver a rua, fazia isso quando não podia sair de casa.Na verdade, fazia isso sempre

-Certo-Segurou meu corpo nos braços devagar

-Segure em mim, não quero que você caia-Dei a volta no seu pescoço com os braços e deitei a cabeça no seu ombro, ele estava com cheiro de perfume

-O que foi?-Perguntou ao reparar que eu cheirava sua camisa, balancei a cabeça negativamente envergonhada, sim ele estava cheiroso, só queria saber que perfume era, qual o problema?

-A rua está bem deserta hoje, mais do que o normal...foi chocante pra mim saber que...aquela mulher amava o Kille-Assenti com a cabeça, fiquei feliz de ele ter tocado nesse assunto, me poupava o trabalho

-Ste...lla-Pronunciei com dificuldade

-Eu sei...mas não fique assim, ela ficaria triste se soubesse que fica mal por causa dela.E além disso você foi louca de lutar com ela sozinha daquele jeito, eu disse pra não se machucar.Sabe como eu fico preocupado quando você faz esse tipo de coisa-Eu não disse nada, porque não tinha o que dizer, eu achei que aquilo era o certo a se fazer e fiz

-Por que você é tão cabeça dura?-sorri, ele era igual, não tinha o menor crédito pra me dizer isso de forma acusatória

-O que quer dizer com essa risadinha uhm?-Balancei a cabeça negativamente e apontei pra ele e depois pra mim

-Sim, somos iguais nesse quesito, sou obrigado a admitir.Vincent está resolvendo umas coisas com Kille, acho que...eu vou cuidar de você o dia todo hoje-Riu e eu reparei que estava com uma outra roupa, ele tinha me trocado?Chamei sua atenção e sinalizei a roupa

-Elara.Eu não tiraria sua roupa sem sua permissão-Apontei pro banheiro

-Eu vou te deixar sentada lá e vou sair, se precisar de alguma coisa bata na porta, não abra a boca-Fez o que tinha dito antes e saiu me deixando sentada no vaso, depois de um tempo eu tentei me levantar sozinha e consegui apesar de doer um pouco, mas no primeiro passo meu corpo bateu contra o chão.Ele abriu a porta na mesma hora quase arrancando a da parede e me segurou no colo de novo

-Teimosa!-Dei a língua pra ele que se aproximou até estarmos a milímetros de distância

-Não dê língua pra mim-Fechei a boca na mesma hora, ele era bastante ameaçador quando queria

-Ainda é madrugada…-Olhei em volta reparando na fina neblina que cobria o quarto e o escuro com poucos focos de luz, fazia frio

-Ei não te contei como Vincent me fez voltar não foi?-Balancei a cabeça negativamente e ele desceu as escadas comigo até o sofá, se sentou e me deixou no seu colo.Talvez antes eu fosse reclamar e me debater, mas além de eu não ter força física pra isso não tinha força emocional também, segurei mais forte seu pescoço

-Ele trouxe uns frascos de casa...disse que você o ajudou a pegar, explicou a situação e me deu uma escolha, afinal depois de tanto tempo daquele jeito eu não seria mais o mesmo.E como pode ver eu escolhi voltar.Eu sentia falta de mim entende?Aquele cara enfezado não era eu, eu queria ter te conhecido como realmente sou

-Eu...não...me...importo...gosto de você-Ele sorriu e desenhou a linha da minha boca com o polegar

-Se você continuar falando eu vou te trancar no quarto-Riu e eu fiz uma careta

-Doeu...lembrar de tudo, a mamãe me pedia pra sorrir sempre e eu nunca demonstrei nenhuma reação aos pedidos dela-Passei a mão na sua cabeça tentando confortá lo, realmente deveria ser terrível saber que você ignorava as opiniões de quem amava e os tratava de forma fria, pior ainda que fazia isso sem sua vontade.Ele chorou sem fazer barulho

-Minha mãe…

-Não...chore…-Passei a mão no seu rosto limpando as lágrimas, ele deitou a cabeça no meu ombro chorando em mim e eu continuei fazendo cafuné na sua cabeça, ele era muito sensível, tinha que tomar cuidado com ele

-Nat…-levantou a cabeça rápido me observando com os olhos arregalados

-Me chamou de Nat?!-balancei a cabeça

afirmando e ele sorriu e me deu um abraço

-Se chorar...eu...paro…-limpou as lágrimas rapidamente e eu sorri, levei um susto quando ele se encostou no sofá e me deitou no seu ombro

-Você, Vince e Kille são minha família, minha mãe ficaria feliz em ver isso

-Sim…-Ele passou um tempo mexendo no meu cabelo e depois adormeceu, era estranho vê lo daquele jeito, eu estava conhecendo ele de novo, uma outra pessoa completamente diferente e ao mesmo tempo idêntica, chorão, sensível e sorridente.Totalmente diferente do Nathaniel sèrio, apático e de cara feia quase sempre, mas apesar de tudo, eu gostava dele dos dois jeitos, pra mim não tinha a menor importância, porque eu o conhecia por dentro, e lá os dois eram completamente iguais, gentis ao seu modo, cuidadosos e neuróticos, e sempre com o desejo de ajudar os outros.Me afastei do seu peito para ver seu rosto, parecia uma criança, a expressão despreocupada e sonolenta que só uma poderia ter, mas ao mesmo tempo não deixando de lado sua neurose segurava minha cintura, ao mínimo movimento ele acordaria então tentei não me mexer muito.Limpei uma lágrima presa aos seus cílios e senti sua pele quase morena sob os dedos, macia como de um bebê.O sentia quase sorrindo, tão fofo, queria apertar sua bochecha, mas se fizesse isso ele acordaria.Fiquei ali passando os dedos pelo seu rosto devagar, sim, eu o achava bonito, e talvez outras pessoas o descrevessem de forma mais hiperbolizada, mas era assim que eu o definiria, na verdade era assim que eu o via, como o céu à noite: escuro, e aconchegante, e extremamente belo, com seus pequenos pingos de luz salpicados.Ele também era assim, a beleza dele estava nas pequenas coisas, e só podia ver quem realmente se predispusesse.Senti vontade de me aproximar, de alguma coisa que nem eu estava entendendo, fiquei com medo, eu poderia fazer mal a ele, estava próxima demais e aquilo era assustador.Meus olhos se fixaram sozinhos na sua boca pequena, o que estava acontecendo??Lágrimas escaparam sem eu nem sentir vontade de chorar, eu tinha feito algo que não deveria, tinha beijado ele, me afastei rápido e tentei correr mas ele abriu os olhos com o susto

-Des-desculpe…-Tentei me soltar de novo mas dessa vez ele me segurou com uma expressão séria, não como forma de repreensão, então pelo menos ele não me odiaria

-Por que está chorando?

-Eu...não...deveria ter feito isso…-Minha voz aos poucos voltava ao normal e meu ouvido parecia estar parando de doer.Ele limpou meus olhos com os dedos e me copiou, ele tinha me...beijado?Mas por quê?O que o faria querer fazer isso?

-Não se preocupe, agora estamos quites-Deu um sorriso pequeno

-Por que me beijou de volta?

-Você pode responder isso.Por que me beijou?-Sim...eu não sabia a resposta pra isso

-Eu...não sei…-O sangue percorria meu rosto, já estavam quase da mesma cor.Ele segurou meu rosto com a mão

-Não tem problema

-Achei que fosse ficar com raiva de mim-Ele riu

-Não estou.Está tudo bem…

-Por que eu fiz isso?-Eu estava mesmo assustada

-O que você sente por mim Candi?

-Eu...não sei-ele sorriu

-Eu sei o que eu sinto por você.Mas só vou te contar quando você tiver certeza dos seus sentimentos.E então isso não vai mais ser uma pergunta

-Quando eu vou ter certeza?

-Não sei…

-Eu vou dormir no quarto de hóspedes e te levar pro seu tá?-assenti com a cabeça e assim ele fez fechando a porta atrás de si, eu só podia estar ficando maluca