História Mundo dos sonhos. - A Vila.

Não entendi de imediato, mas ao sair do banheiro parecia estar em outro mundo.

Era tudo diferente, não era a mesma coisa, a madeira da casa estava podre e gotas vermelhas caiam do teto, comecei a andar com passos breves e silenciosos, mas eram interrompidos pois cada passo dado era um rangido da madeira. Encosto na parede e vejo teias de aranha no teto, sem muita importância vejo de canto a mesa onde eu estava, o prato quebrado que antes era inteiro, tinha vermes e animais mortos, ratos, raposas apodrecendo na mesa, as pessoas que antes pareciam normais agora estavam se lambuzando e engolindo de forma monstruosa a carniça, tinham dentes e dedos faltando, onde eu estava naquele momento?

Meu Estômago revira e eu tenho nojo do que estava mastigando a alguns minutos atrás, sinto ânsia de vômito mas seguro para não alertar os meus anfitriões.

Decido subir para ver mais a casa, quem sabe oque eu iria descobrir ali.

Passo rapidamente mas ainda sim tentando manter o silêncio para não alertar, ainda encostado na parede eu chego ao corrimão da escada, me apóio e começo a subir, degrau por degrau, até chega no primeiro andar, vou devagar, escutado uma conversa sobre a comida vindo dos que estavam abaixo, ignoro e continuo a andar, até que chego em um corredor, com uma Porta na direita, outra na esquerda e uma no teto, levava ao sótão. Vou no quarto a direita, abro e não vejo nada fora do normal, uma cama de casal e uma de Solteiro, uma cortina na janela, uma mesa empoeirada, uma máquina de escrever e algumas velas apagadas, saio e vou ao banheiro, deve ser dali que vem as gotas vermelhas, errado mais uma vez, um banheiro com várias caixas de remédios, maços de cigarro e seringas, não era normal mas ainda sim não era assustador. Saio do banheiro e puxo a corda que baixa uma escada, subo lentamente, um sentimento de medo, arrependimento e terror invade meu coração, vejo uma mulher, provavelmente a mãe da criança que está segurando, ambas sem cabeça e ainda derramado sangue, ela tinha algo na mão, um papel, assim que o puxo, no mesmo momento não consigo segurar, vomito ali mesmo, me ajoelho meio tonto.

Deu tempo apenas de ler o papel que estava escrito algumas frases.

"Nós salve"
"Tenha piedade de nós"

"Salve meu filho".
"Tenha piedade dele".

"Me salve".
"Tenha piedade de mim".

"O leve, mas me deixe viver".

Escuto passos rápidos e depois um silêncio, atrás de mim o homem. Ele me agarra e me joga contra a parede, segura meu pulso e quanto usa a outra mão para socar meu rosto, fico ajoelhado no chão em frente à escada, o homem me chuta e eu caio rolando.

Me levanto, ainda meio tonto e começo a correr, passo em frente a cozinha e vejo a mãe comendo o braço da filha, provavelmente recém morta.

Ao sair da casa a vila estava completamente destruída.

Animais mortos e apodrecendo, com vermes saindo de suas carcaças, as pessoas que antes dormiam em árvores estavam com uma corda no pescoço, plantações que antes estavam vivas e prontas para colheita estavam destruídas e queimadas, alguns homens, mulheres e crianças estavam vagando pelas estradas de lama e corpos, o único som que se podia ouvir naquela noite era o grito, pedindo socorro e implorando por misericórdia, talvez eu não fosse o único a acordar sem saber quem era, talvez eu não fosse o único a chegar nessa vila, mas talvez eu tenha sido o único a não ser morto, ainda...