História Mutter - Conflito

     No dia seguinte, Tatsuki foi trabalhar logo cedo e Orihime ficou tomando conta da casa. Aparentemente era uma manhã normal, mas para cada vértice do triângulo amoroso havia algo de extraordinário nela.

     Ichigo, apesar de ter sido acordado pelo seu pai com um chute na bunda, foi trabalhar muito bem humorado, ele estava realmente feliz pelo desfecho do encontro da noite anterior. Desde que a Tatsuki começou a procurá-lo que ele a olhava de uma maneira especial, digamos assim, e apesar de tê-la chamado pra sair, Ichigo não tinha a intenção - ou esperança - de que fosse acontecer algo mais e o beijo que ela roubou foi uma agradável surpresa para o homem, que estava empolgado com a sua possível nova namorada.

     Tatsuki também estava feliz. A dúvida que tinha sobre o que sentia pelo Ichigo finalmente se desfez, agora ela tinha plena certeza de que estava apaixonada por ele.

     Se por um lado ela tinha certeza sobre seus sentimentos pelo Kurosaki, por outro a sua grande dúvida agora era a Orihime. Será que ela havia deixado de amá-la? Seria possível amar os dois ao mesmo tempo? Caso a resposta for não, deveria manter seu relacionamento de tanto tempo ou se entregar a uma nova paixão? Pensar nessas questões deixou a mulher com dor de cabeça e como não conseguiu formular uma solução,resolveu deixar tudo como está e ir logo trabalhar.

     Orihime estava em casa e, apesar de estar com a pulga atrás por causa do estranho comportamento que a sua parceira vem apresentando ultimamente, essa não era a sua maior preocupação. Os resultados dos exames que fizera no sábado sairiam no dia seguinte, o que a estava deixando muito ansiosa.

     Tentando deixar a ansiedade de lado, Inoue foi se ocupar com suas tarefas domésticas. Ela estava lavando a louça quando deixou um prato cair e se quebrar no momento em que pensou em uma possibilidade terrível.

     E se o resultado dos exames não for favorável?

     Seus olhos ficaram úmidos ao pensar nisso. Até agora ela considerava certo que engravidaria, mas na véspera do resultado o medo começou a tomar conta dela.

     Imediatamente ela correu para o seu quarto, ligou o computador e foi pesquisar sobre inseminação artificial. Depois de consultar vários sites especializados, descobriu que mesmo se os exames inicialmente não forem favoráveis não significa que o procedimento não poderá ser realizado, mas poderá demorar mais para ser feito e também pode ficar mais caro. De qualquer forma, ela ficou mais tranquila depois dessa de ter essas informações.

     – Eu estou passando tempo demais sozinha e por isso ando pensando besteira. Já sei, tive uma ideia!

Inoue pegou o telefone e ligou para um velho amigo, que após vários toques finalmente atendeu.

     – Uryu?

     – Oi Ohirime, você se machucou? Quer que eu mande uma ambulância? – ele parecia preocupado.

     – Eu tô bem, só liguei porque tô com saudade, você é o meu melhor amigo esqueceu?

     – Ô Orihime chan, assim vou chorar bem na minha sala e o meu disfarce de machão vai por água abaixo... Pronto, já me recompus! Eu tô bastante ocupado essa semana, mas que tal um almoço e um cinema no domingo?

     – Combinado então. Entrada do Karakura Shopping ao meio dia?

     – Ótimo! Agora vou desligar, e quero saber direitinho que história foi aquela de você sair correndo atrás do Kurosaki aquele dia.

     – Pode deixar que conto. Beijo, tchau.

     Mesmo tendo sido bem rápido, falar com seu amigo deixou Inoue feliz e logo ela voltou à sua rotina diária.

*****

     Durante o almoço, Tatsuki segurava o par de hashis com uma mão e o celular com a outra, esperando uma possível ligação do Ichigo, porém ela terminou a refeição e nada do telefone tocar.

     Ela já estava prestes a ligar pra ele, todavia não queria mostrar desespero, afinal, foi ela quem tomou a iniciativa na noite anterior. Além disso, Arisawa já ouviu mulheres heterossexuais reclamarem que os homens costumam desprezar garotas que ficam correndo atrás deles demais, e como ela não tinha experiência nenhuma nesse sentido, preferiu não ligar.

     Quando já estava voltando para a quadra, seu telefone tocou e ela atendeu prontamente ao ver que era o ruivo.

     – Ichigo! – disse sem conter a alegria.

     – Oi Tatsuki! Eu queria ter te ligado antes, mas estava com um cliente pentelho que resolveu me contar a vida dele toda e quase roubou o meu horário de almoço inteiro.

     – Beleza. Mas e aí, qual é a boa?

     – Eu queria te ver hoje à noite.

     – Tá bom, só não vou poder demorar muito.

     – Você me disse que trabalha no Fundamental 4 não é isso? Eu posso te encontrar aí na saída.

     – Não! – ela ficou nervosa – eu sei onde você mora, te encontro aí!

     – Como quiser. Agora eu vou comer um podrão e voltar pro trabalho.

     – Eu também tenho que ir, até de noite.

     A tarde passou normalmente e depois que o seu expediente acabou, Tatsuki partiu para a casa do Ichigo. Quando chegou ao local, chamou por ele, porém ninguém atendeu. Concluindo que ele ainda estava no trabalho, sentou na calçada, encostada no muro, e vinte minutos depois o ruivo chegou.

     – Desculpe a demora, tá esperando há muito tempo?

     – Fica tranquilo, foi só um pouco. Mas e aí, vai me convidar pra entrar ou vou ter que pular o muro de novo?

     – Ó bela senhorita, seria uma honra convidá-la para adentrar ao meu humilde lar.

     – Deixa de ser irônico e vamos logo.

     Ele abriu o portão e os dois entraram.

     – Eu tive um dia cheio e preciso de um banho. Volto logo, pode ligar a televisão se quiser.

     Ichigo foi para o banheiro enquanto a Tatsuki ficou na sala esperando. Minutos depois, o homem voltou com os cabelos molhados e usando apenas bermuda e uma camiseta branca, que ficou transparente devido ao fato dele não ter se secado muito bem.

     – Eu...eu...você... – Tatsuki engasgava com suas próprias palavras.

     – Ih, desculpa ter saído assim, vou botar uma roupa decente e já volto.

     – Não precisa! – ela praticamente gritou.

     –Já que insiste...

     Ichigo sentou ao lado dela, a olhou nos olhos e finalmente a beijou.

     – Pensei que eu ia ter que te agarrar de novo – brincou Tatsuki.

     – Eu já levei muito tapa na cara no por causa disso no passado...

     – Esquece o passado, sou eu quem está aqui com você agora – disse Arisawa, com um tom de voz um pouco mais severo.

     – Você está certa, vamos aproveitar o momento.

     O ruivo segurou forte a Tatsuki pela cintura vigorosamente, a puxou até seus corpos ficarem totalmente colados e deu um beijo bastante "caliente" nela.

     A visão parcial do corpo do rapaz, complementada por essa pegada mais forte de agora, deixou a mulher excitada. Se aproveitando de um momento em que o Ichigo parou de beijá-la para respirar, Tatsuki, acostumada a controlar esse tipo de situação, subiu no colo do rapaz, o segurou pelos cabelos e deu longo beijo.

     Eles não paravam de se beijar e ambos estavam muito excitados. Kurosaki percorria suas mãos pela cintura, quadril e pernas da moça, e Tatsuki conseguia sentir “algo” bem duro em baixo dela, uma experiência nova e da qual ela estava gostando muito.

     – Ichigo, já pediu...

     O som nada discreto do Isshin chegando fez o casal pular do sofá, com os corações acelerados.

     – Pai, essa é Tatsuki - Ichigo a apresentou, envergonhado.

     – Prazer Kurosaki san - Tatsuki o cumprimentou com a face vermelha feito um tomate.

     – O prazer é todo meu – falou Isshin, com um sorriso de orelha a orelha – eu já estou de saída, podem continuar o que estavam fazendo!

     – Na verdade já tenho que ir, prazer em conhecê-lo! - disse a moça.

     – Eu te levo no portão.

     Ichigo levou a garota até o portão, se despediu dela com um rápido e discreto beijo e voltou para dentro de casa.

     – Pai, é que...

     – Ah moleque safado, eu sabia que você dava no couro! Vamos combinar uma coisa? Quando você estiver querendo estacionar o seu carro na garagem dela se tranca no quarto e fecha a porta que eu vou entender o recado, vocês não vão nem perceber que eu tô em casa.

     – Não vou fazer um acordo desses – Ichigo ainda estava sem graça.

     – A oferta está feita. Como eu tô de bom humor, hoje o rango é por minha conta.

*****

     Tatsuki chegou em casa um pouco tarde, mas não tanto quanto na noite anterior.

     – Boa noite Tati chan! Como foi o seu dia?- cumprimentou Inoue.

     – Boa noite Hime. Foi... normal! Agora vou pro banho.

     Orihime estranhou a frieza da resposta, Tatsuki adora o seu trabalho e sempre fala muito sobre ele. Enfim, serviu a mesa enquanto a parceira tomava o seu banho.

     – O cheiro está ótimo! – logo que saiu do banheiro, a morena sentou para comer.

     – Amanhã os meus exames ficam prontos.

     – Ah sim, tomara que dê tudo certo!

     – Amor, me responde uma coisa?

     – Claro.

     – Você quer mesmo esse filho?

     Nesse instante, Tatsuki gelou. Ela não esperava essa pergunta e definitivamente não tinha a resposta.

     – É lógico que quero, é o seu sonho! Por que dessa pergunta besta agora?

     – Sei lá, tô achando você estranha ultimamente.

     – Eu não tenho te dado muita atenção não é? – Tatsuki pegou na mão da ruiva - me desculpe por ser tão insensível.

     – Tudo bem – Inoue sorriu discretamente.

     – Eu tenho uma hora de almoço, se você me encontrar lá na frente podemos almoçar juntas amanhã, que tal?

     – Não acha muito ousado?

     – Por mais que a maioria não apoie, todo mundo lá sabe que somos casadas, além disso, vamos só comer e conversar, não vamos ficar nos beijando ou coisa assim.

     – Tá bom! – Orihime deu um sorrisão e um beijo na sua esposa – eu te encontro na porta da escola ao meio dia.

     As duas foram para a sala, sentaram no sofá e foram assistir tevê até que Inoue adormeceu no colo da parceira. Tatsuki a levou no colo até a cama, apesar do seu pensamento estar com Ichigo naquele momento, ela tinha muito zelo pela sua companheira e em alguns momentos, esses sentimentos conflitantes a faziam sofrer.