História Mutual - Chapter 12

Depois que todos haviam ido embora da minha casa os pensamentos voltaram a me atormentar, suspirei profundamente ao lembrar aquele mesmo rosto que eu havia visto faz três anos, era ridículo como eu deixava isso me afetar até hoje. Bufei desistindo de esquecer isso, escutei o barulho do micro-ondas e tudo ligou no meu apartamento me fazendo suspirar aliviado, sorri bobo ao lembrar do que havia acontecido mais cedo com Joshua.  Baguncei o meu cabelo ao perceber que o trouxe para esse clima, eu gostaria que acontece-se em um momento totalmente diferente. Meus pensamentos foram interrompidos por um telefonema de Jeonghan.

― Jun, venha me ajudar. – Escutei o barulho de coisas caindo e fiquei preocupado levantando num pulo.

― Já estou indo.

Não sabia o que estava acontecido e sai pegando qualquer casaco, tranquei a porta e peguei o primeiro táxi que passava quando sai correndo do prédio, cheguei rapidamente por estar de madrugada. Apertei a campainha nervoso e um Jeonghan descabelado avermelhado atendeu a porta, olhei para trás de si vendo a sala toda bagunçada. O menor me deu passagem para passar.

― O que aconteceu? – Levantei uma sobrancelha ao pegar uma almofada totalmente estraçalhada.

― Adotei um cachorro, mas acho que me deram um possuído. – Ele resmungou catando as coisas do chão.

Gargalhei alto ganhando um olhar feio do outro, dei de ombros e sai procurando pelo apartamento atrás do pestinha, cheguei ao quarto do outro e ouvi a respiração pesada do animal, agachei-me e visualizei os olhos brilhantes com um chinelo na boca, sorri pela fofura e o chamei fazendo-o sair correndo de baixo da cama para a sala.

― Sua peste! Meu chinelo favorito.

O cachorro encarava Jeonghan que segurava o chinelo como se fosse um filho, comecei a rir daquela situação atraindo a atenção de ambos, sentei no sofá e bati em meu colo, o cachorro pulou e deitou em meu colo.

― Por que o adotou? – Perguntei curioso enquanto fazia carinho nos pelos felpudos. Ele é totalmente preto, sua pelagem parecida com Husky e suas orelhas eram dobradas na ponta.

― Uma garota me parou na rua totalmente desesperada dizendo que seu pai ameaçou matar o cachorro se viesse com ele novamente em casa. – Jeonghan sentou no sofá e suspirou aliviado.

― Fico feliz que o adotou, já deu um nome? – O citado ficou de barriga pra cima, ri soprado e acariciei a mesma.

― Ainda não, me dê sugestões.

― Bolinha.

― Não.

― Charlie. – Disse animado, porém Jeonghan me encarou como se eu tivesse problemas.

― Sério, você é péssimo nisso.

― Xiumin! – O cachorro levantou animado e saiu correndo até o colo de Jeonghan que levou um susto, mas logo riu e fez cafuné na cabeça. ― Viu, ele gostou.

― Ok, ele vai ser o Xiumin.

Ficamos em silêncio brincando com o Xiumin, ele já era grande e tinha três meses, sua esperteza já presente.

― O que aconteceu? – Jeonghan perguntou depois desse tempo em silêncio, ergui meu olhar e sorri fraco. Era inegável o quanto ele me conhecia.

― Woozi apareceu no meu serviço.

― Ta de brincadeira? É só falar no capeta mesmo. – Jeonghan resmungou chateado e Xiumin chorou baixinho se aconchegando mais em seu colo voltando a dormir.

― Jeong...

― E como foi?

― Estranho, derrubei o pedido das pessoas. – Ri sem graça acompanhado por Jeonghan.

― Como está se sentindo agora?

― Hm, triste pelas lembranças. Feliz por ele estar bem apesar de tudo, e com raiva. – Disse sincero e meu amigo assentiu.

― Preferia só a raiva, mas tudo bem. – Neguei com a cabeça e ele riu. ― Conversaram algo relevante?

― Não, nos cumprimentamos e ele foi embora. Depois disso fui embora pra casa junto com Joshua.

― Por que eu senti um tom feliz nisso? Já venho reparando seu interesse excessivo nele.

― Bem, a gente se beijou.

― Hm. – Jeonghan sorriu malicioso e eu ri.

― Mas não foi como eu queria, estava abalado e parece que apenas rolou porque estava nesse clima. – Suspirei e deitei a cabeça no sofá fitando o teto.

― Ah, isso é chato. – Ele assentiu e resolveu colocar Xiumin na cama improvisada que havia feito com as almofadas destruídas, voltou a se sentar e me fitou. ― Acha que gosta dele?

― Atraído por ele, sim. Com toda certeza. – Sorri de lado e recebi um tapa de Jeonghan.

― Sabe que não falei nesse sentido. – Sua voz era triste e entendi sua preocupação. Jeonghan ainda se sentia péssimo pelo fora que deu no mesmo, eu sabia disso e também tinha noção que o Joshua havia superado isso. Minha intenção não é machucar novamente seus sentimentos.

― Sabe que não é desse jeito. – Suspirei e deitei a cabeça para poder olha-lo, seu olhar ficou triste e eu fiz carinho em seu rosto fazendo-o resmungar.

― Você não pode ficar preso no passado, sabe disso. Joshua não vai fazer a mesma coisa que Woozi fez, eu sei que sabe mais do que eu que ele não é capaz disso.

― O problema não é esse...

― É sim Junhui! – Jeonghan falou alto irritado. ― Dane-se que o Woozi fingiu estar apaixonado por você e te expôs para a escola toda por uma brincadeira idiota! E nem vem com essa que ele fez por que gostava do Hoshi, estou cansado de você o defendendo pela merda que ele fez com você.

Meu interior enjoou-se com as lembranças voltando, mordi os lábios e fitei o teto para não encarar Jeonghan que falava a plena verdade, mas que aquilo ainda me afetava muito era inegável.  Ele continuou impassível me fitando, apenas assenti e respirei fundo.

― Olha, eu vou tentar. – Falei sincero e o fitei receoso, o mesmo assentiu satisfeito. ― Também quero deixar aquilo para trás, mas isso afetou minha capacidade de entregar meus sentimentos.

― Eu sei disso Junnie, porém se nunca mais tentar algo vai simplesmente ficar sozinho para a vida toda?

― Ok Jeong, já entendi que você tem razão. – Resmunguei contrariado e ele riu me abraçando, relaxei em seus braços e o apertei forte.

― Acha que ele vai aparecer de novo? – Jeonghan perguntou e notei em seu tom o medo.

― Provavelmente não, ele não tem mais nada a tratar comigo. – E quando eu disse isso tentava torcer para que fosse verdade.

Decidi dormir na casa de Jeonghan e no outro dia resolvemos ficar em casa mesmo, estávamos vendo  um filme aleatório quando a campainha tocou, franzimos o cenho e levantamos para atender, vimos um Mingyu completamente descabelado e com marca de tapa em sua cara.

― Mas o que diabos? – Jeonghan resmungou enquanto o maior adentrava na casa e se jogou no sofá, Xiumin correu alegre para recepcionar a visita.

― Mingyu, o que aconteceu? – Sentei no braço do sofá para fitar o rosto do outro em que ele esfregava a marca.

― Bem, isso aconteceu porque briguei com a minha ex namorada. – Ele sorriu sem graça e Jeonghan me fitou estranhando por o mesmo ter apanhado.

― Ok, mas por que ela te bateu? – Jeonghan semicerrou os olhos e vamos dizer que estou ainda mais curioso porque ele corou da cabeça até os pés.

― Enquanto a gente transava...

― Lá vem bomba. – Jeonghan riu pegando Xiumin no colo que começou a lamber seu rosto.

― Fala logo peste. – Bati nas pernas do mesmo que resmungou do tapa recebido.

― Vamos dizer que eu gemi o nome do Wonwoo.

Eu e Jeonghan ficamos em silêncio fitando a cara do mesmo, até que eu não aguentei e comecei a gargalhar alto batendo no sofá, as lágrimas já viam nos meus olhos e Jeonghan também ria.

― Poxa gente. – Mingyu fez bico e sentou no sofá envergonhado.

― Ai meu Deus, é melhor do que eu imaginava. – Falei rindo sentindo minha barriga doendo.

― Foi um bom motivo para receber um tapa, realmente. – Jeonghan já parava de rir e tentava recuperar o ar.

― Eu sei. –Ele bufou e levantou indo até a cozinha ao ver que eu não pararia de rir.

Consegui me acalmar enquanto ele voltava com um saco de gelo, engoli a risada e o encarei curioso.

― Ok Junhui, você tinha a merda da razão.

― Obrigado, obrigado. – Agradeci sorrindo debochado.

― Ah, você não ouviu os conselhos do Jun. – Jeonghan finalmente entendeu e negou com a cabeça.

― É, ele negou até a morte que não estava gostando do Wonwoo e eu dizia que sim. – Rolei os olhos e o outro bufou.

― Qual o problema de ficar confuso. – Ele cutucou e Jeonghan riu.

― Gyu, desde que você me beijou você não é hetero, no mínimo é bissexual. Teimoso. – Resmunguei e ele me bateu, apenas dei de ombros.

― É sério que ele ainda não tinha descoberto que era bi? – Jeonghan negou com a cabeça e sentou no sofá ao lado do mesmo, sentei no colo de Jeong recebendo reclamação.

― Descoberto tinha sim, por que a mão boba dele era bem firme. – Recebi um soco na minha costela e gargalhei. ― Desculpa, eu paro de falar desse momento. Ele só estava sendo teimoso feito uma porta mesmo.

― Entendi. – Jeonghan abraçou minha cintura e Xiumin latiu para mim, ri soprado e acariciei o mesmo fazendo resmungar satisfeito.

― Ta, agora que admiti. Qual o próximo passo? – Ele suspirou fundo e bagunçou seu cabelo.

― Bem, ser sincero com o coitado. – Disse simples e Jeonghan assentiu.

― Mas e se...

― Eu vou bater em você se completar a merda dessa frase. – O fitei mortalmente e Mingyu desistiu de falar.

― Tenho uma dúvida Mingyu. – Jeonghan falou de repente e ambos fitamos o menor.

― Qual? – O mais novo parecia confuso.

― O Jun beija bem?

E foi com essa pergunta que caímos no chão pelo chute fraco de Mingyu e riamos da cara vermelha do mais novo.

― Vão se foder. – Falou chateado e cruzou os braços emburrado.

Passamos a tarde comendo besteira e falando também, e foi bom passar um momento assim já que nossas rotinas sempre convergiam, até resolvemos deixar Quarta para nos encontrarmos para não ficar tanto tempo sem se ver. Fui embora juntamente com Mingyu que chutava pedrinhas no caminho, sorri sozinho ao ver o quanto ele parecia perdido e fiquei em silêncio até ele se pronunciar.

― Jun, o que exatamente devo fazer? – O fitei e ele mordia o lábio, ergui o olhar vendo o céu negro com algumas nuvens.

― Falar com ele.

― Isso é muito abrangente. – Mingyu resmungou e bufou.

― Se vira ué, não posso ficar guiando você pra sempre na vida não viu.

― Você é muito malvado.

― Sou mesmo. – Concordei e o outro riu negando.

Despedimo-nos quando entrei no metro, sentei e pude respirar fundo, cheguei em casa e deitei na hora. Acordei sonolento e olhei a hora no celular, arregalei os olhos pulando da cama e tirei minha roupa andando pela casa tentando achar meu material, tranquei a casa com uma torrada na boca e quase fui atropelado atravessando a rua, cheguei na faculdade e sai correndo até meu prédio indo pelas escadas. Ao chegar suspirei aliviado ao ver que a professora havia passado pouca coisa, dei um bom dia envergonhado e sentei ao lado de meus colegas que riam de mim.

Agradeci quando chegou o recreio e sorri ao ver Seungkwan abraçando Dokyeom ambos sorrindo, é fofo ver ambos assim juntos. Minghao acenava desesperadamente e Joshua estava rindo observando o desespero do mesmo, sorri e segui andando calmamente até lá.

― Sentindo minha falta Ming? – Sorri debochado e ele rolou os olhos.

Dei um beijo na testa de Joshua fazendo-o rir e sentei ao seu lado, Wonwoo e Minghao nos encaravam sorrindo me fazendo negar com a cabeça.

― E aí gente bonita. – Jeonghan sentou ao lado de Wonwoo que cumprimentou o mesmo formalmente. Era engraçado ver o quanto ambos não eram íntimos.

― Está feliz demais para uma Segunda-feira. – Joshua comentou maldoso e entrelaçou nossas mãos, ri soprado ao ver que ele corou ao todo mundo nos olhando maliciosos. Meus amigos são foda.

― Vamos dizer que dei um foda-se para Seungcheol.

― Como assim? – Perguntei chocado e Joshua riu do meu lado.

― Joshua foi conversar com o mesmo e praticamente me intimou a falar com ele, então hoje de manhã eu me declarei e literalmente disse foda-se para ele. – Jeonghan deu de ombros e eu gargalhei.

― Está desistindo do crush? – Levantei uma sobrancelha e acariciei a mão de Joshua.

― Não, isso é estratégia. Você que não notou. – Jeonghan sorriu malicioso.

― Ignorar, se declarar e fingir não se importar? Você é mau Jeonghan. – Wonwoo disse impressionado e sorriu.

― Só assim para esse lerdo começar a me notar, cansei de ficar me lamentando pelos cantos.

― E eu me preocupando atoa.

― Você acha que sabe de tudo Jun, mas você é tão inocente. – Joshua sorriu gentilmente, mas eu notei o olhar maldoso e rolei os olhos.

― Vocês me dão medo. – Minghao sussurrou nos fazendo gargalhar concordando.

Despedimos da turma já que nossa aula começava agora, fitei Joshua que parecia pensativo e ele ficava muito fofo daquele jeito, ressaltando esse detalhe. Mordi o lábio o puxando para o beco dentre os dois prédios onde nos separávamos, um sorriso bonito surgiu no rosto do menor, puxei sua cintura colando nossos corpos.

― O que estava pensando? – Sussurrei em seu ouvido e sorri ao ver que ficou arrepiado, beijei seu pescoço fazendo-o suspirar.

― Em coisas. – Ele passou a mão em meu pescoço e acariciou minha nuca.

― Hm, seja mais exato. – Beijei sua testa e o fitei sorrindo.

― O quanto eu queria beijar você novamente. – Ele aproximou seu rosto do meu e selou nossos lábios rapidamente.

― Quem diria que eu conseguiria fisgar Hong Joshua, não é mesmo? – Disse brincalhão e ele bateu em minha cabeça me fazendo rir.

― Culpa desse seu charme irresistível. – Ele disse debochado e mordeu o lábio.

― Sei que sou incrível. – Levantei uma sobrancelha e sorri presunçoso.

― Ah, cala a boca Junhui. – Ele disse irritado e me beijou com vontade.

Sorri entre o beijo e puxei seu corpo contra o meu fazendo-o ofegar, seus lábios entreabriram e nossas línguas agora brigavam por espaço, ele puxou meu cabelo me fazendo acariciar sua cintura, fiquei surpreso quando ele me pressionou contra a parede e sua mão foi em meu abdômen, gemi quando suas unhas fincaram em minha barriga. Paramos o beijo para respirar, encostei nossas testas e sorri ao ver o rosto calmo e corado do mesmo ainda de olhos fechados, deixei vário selares em seus lábios.

― Adoro esse seu lado, você é uma caixinha de surpresa. – Ele abriu os olhos e sorriu docemente, esse garoto mexe com meu psicológico, assim não dá.

― Vamos nos atrasar. – Ele se afastou e ajeitou meu cabelo, sorri ao vê-lo concentrado naquilo e eu beijei novamente seus lábios fazendo-o rir. ― Vamos logo.

Pegou minha mão e me puxou para fora do beco, beijei sua mão antes de nos separar e ele ficou envergonhado fitando o chão, gargalhei e recebi um olhar repreensor.

― Boa aula Josh.

― Boa aula Junnie. – Sorri quando ele falou meu apelido e acenou entrando no prédio.

― Vai fazer uma poça aí. – Jeonghan gritou saindo correndo antes que eu bate-se no mesmo.

As aulas passaram voando e eu agradecia aos céus por isso, sai andando pela rua e peguei o metrô até o meu trabalho, novamente me desculpei com o meu chefe que entendeu e por precaução me deixou no caixa. Graças ao movimento constante da cafeteria o dia passou voando e já estava acabando o meu turno, já havia começado a contar o dinheiro e me perdi tentando voltar a conta.

― Boa noite Junhui.

Ergui o olhar rapidamente e o ar sumiu quando vi que ele estava ali novamente.

― Boa noite Woozi, o que vai querer? – Perguntei educadamente tentando rezar para que ele fosse logo embora.

― Um café preto e também conversar.

Jeonghan, por que você foi abrir essa maldita boca.