História Mutual - Chapter 2

Olhei-me no espelho pela décima vez, meu cabelo loiro estava ajeitado em um topete, a blusa preta social aberta três botões, a calça jeans rasgada era colada nas minhas coxas, um coturno branco completava o visual. Assenti para mim mesmo e verifiquei a hora, eram nove horas, escutei a buzina alta de Jeonghan e desliguei a luz correndo, tranquei a porta e desci os dois lances de escadas logo já o vendo e ele ajeitava sua franja teimosa.

― Wow, quem é essa linda senhorita do meu lado? – Provoquei e resmunguei ao ter meu estômago socado.

― Wen, cala a boca. – Ele falou mal humorado e gargalhei alto só fazendo-o me fuzilar pelo canto do olho.

― Mas é sério, está muito bonito. Aquele... Qual o nome mesmo? – Fingi pensar e já sentia a fúria do mesmo – Ah, é Seungcheol. Ele vai estar lá? – Provoquei rindo de lado e notei o rosto do outro ficando vermelho, gargalhei alto.

― Aish Junhui, você é um chato de primeira. Por que senti sua falta mesmo? – Ele resmungou e soprou a franja que caia na frente de seu rosto novamente.

― Onde vai ser a festa? – Perguntei tentando desviar o assunto já que eu corria sério risco de ser jogado do carro em movimento.

― Num clube perto da faculdade do Mingyu. – Respondeu-me rapidamente e assenti. Resolvi ficar em silêncio e apreciar as ruas movimentadas do local, as luzes destacavam-se uma sobre as outras pela velocidade que estávamos, sorri ao perceber o quanto aquilo me fazia falta.

Chegamos depois de dez minutos, o local já tinha uma fila com várias pessoas, todas com a mesma faixa etária que a nossa, sorri animado e me ajeitei no banco, pulei do carro assim que Jeonghan estacionou. Fomos andando em direção ao final da fila quando senti meu corpo sendo puxado com tudo sobre braços grandes e firmes, ri quando ouvi a voz de Mingyu brigando com Jeonghan por ele estar me monopolizando.

― Mingyu, você está exagerando. – Soltei de seu abraço de urso e vi seu sorriso com suas características presinhas aparecendo. ― Você ficou mais alto.

― Até parece Jun, exagerado. – Ele riu e saiu puxando a gente pra dentro do lugar, ignorei a reclamação das pessoas ao verem a injustiça.

A batida ecoava alta fazendo meu coração acompanhar o ritmo, o cheiro de cigarro já impregnava no local, nossos corpos eram esmagados até conseguirmos chegar ao camarote do curso de Engenharia, que Mingyu prestava. Suspirei aliviado e sorri quando me foi estendido uma cerveja, tomei um gole generoso e o gosto de cevada ficando na garganta, lambi os lábios e observei o clube com as luzes de led variando de cores, o DJ animado enquanto curtia a música junto com a galera, o bar lotado de pessoas fazendo os barmens ficarem perdidos.

― Oh, Jeonghan. Olha quem eu achei. – Puxei meu amigo que conversava com um desconhecido, apontei para Seungcheol que estava junto com um baixinho que mais parecia uma criança naquela multidão.

― Já estão na caça? – Mingyu emergiu por trás e olhou onde fitávamos. Sorriu malicioso e ri alto.

― Junhui que não para de encher meu saco. – Jeonghan reclamou e o mais alto me olhou cúmplice.

― Faz seu estilo Hannie. – Observei Mingyu sussurrar no ouvido do outro que rolou os olhos e saiu da beirada do camarote.

Fui até Jeonghan o puxando para a pista de dança, fazia meses que não pisava em um lugar desses, precisava dançar até meu corpo pedir arrego. Ele sorriu quando me viu começar a dançar, o som fazia cada parte do meu corpo vibrar e uma felicidade apossar do meu corpo. De vez em quando observava os olhares interessados em mim, me incentivando a fazer movimentos mais sexys, foi quando fui puxado pelo meu melhor amigo para o bar, onde ele pediu uma dose de alguma coisa e eu pedi apenas um drink igual da pessoa que estava do meu lado.

― Como está calor. – Resmunguei enquanto tentava me abanar e o outro apenas riu.

― Só faltou à boate inteira lhe comer com o olhar. – Jeonghan disse e depois bebeu sua dose rapidamente. Apenas neguei sorrindo.

Peguei meu drink e ao provar o líquido azul senti a doçura adornar meu paladar, sorri satisfeito e segurava o copo firme enquanto tentava não derrubar em ninguém naquela multidão, chegamos com dificuldade ao camarote que agora estava parcialmente vazio, foi quando meu olhar parou em Minghao e Wonwoo, este parecia extremamente deslocado no local.

― Ming? – Perguntei já com a voz alterada lhe abraçando.

― Jun! Seu amigo nos arrastou ao reconhecer-me daquela foto que você postou e disse: Amigo do meu amigo, também é meu amigo.

Gargalhei e neguei com a cabeça, isso tinha a cara do Mingyu mesmo, estendi o drink e o chinês aceitou de bom grado, fitei Wonwoo que parecia querer fugir dali á qualquer momento. Apontei com a cabeça para trás do Minghao que riu.

― Foi uma vitória conseguir trazer ele aqui hoje. Wonwoo é muito tímido e fechado, precisa se acostumar a vir em festas.

― E o Joshua? – Maldita língua traiçoeira, mas foi automático perguntar pelo mesmo.

― Tinha que ficar em casa pra cuidar da prima dele.

― Ah. – Soltei e o assunto acabou por ali, andei até Wonwoo e sentei ao seu lado, estendi o copo e ele fez careta.

― Não sou muito bom com álcool. – Ele confessou e achei adorável quando sentiu com vergonha por este fato.

― Esse aqui não tem tanto, pode ficar com o copo. – Estendi novamente e pegou-o ainda hesitante, ao dar ao primeiro gole arregalou os olhos e lambeu os lábios.

― Obrigada. – Wonwoo agradeceu bebendo mais e parecia estar em seu próprio mundo agora.

― Só você mesmo para conseguir convencer alguém. – Minghao observava Wonwoo que parecia agora mais leve e sentia-se mais agradável.

― Hyung! – Mingyu aproximou-se já alterado e sentou no meu colo, o cheiro forte de vodka me acertou em cheio.

― Diga criatura. – Perguntei enquanto arrumava seus fios rebeldes e ele sorriu de leve com o carinho dado na bochecha.

― Senti sua falta. Jeonghan é muito chato, sempre me bate e me chama de idiota. Você é idiota junto comigo. – Ele falou com a voz manhosa e totalmente alterada.

Gargalhei negando e fiquei com ele um bom tempo no meu colo agora sentado de frente para Minghao, onde os dois conversavam algo totalmente paralelo da festa, suspirei e senti um dedo me cutucando. Virei meu olhar para o lado e fiquei sem fôlego, Wonwoo estava com a face corada e os olhos brilhantes, a boca levemente aberta e o cabelo bagunçado.

― Jun, eu quero mais. – Ele sussurrou ao aproximar-se para eu puder ouvir, ri baixo e neguei com a cabeça.

― Ming. – Chamei carinhoso e os dois que conversavam me fitaram. ― Estou autorizado a dar mais bebida pro meu dongsaeng? – Indiquei Wonwoo que tinha um olhar pidão.

― Desde quando ele tava aí? – Mingyu riu ao ver que não notou o moreno que sorriu sem graça e ainda segurava o copo, agora me encarando com os olhos mais fofos.

― Aish Wonwoo, se me fizer te arrastar pra casa vai ver só. – Minghao resmungou consentindo o pedido do moreno.

Bati nas costas de Mingyu que saiu do meu colo e peguei a mão de Wonwoo puxando-o junto comigo para o bar, estava lotado e minha irritação aumentando ao observar o aglomerado de pessoas que estava ali, mandei Wonwoo segurar em meus ombros para não se perder e finalmente cheguei ao balcão. Estendi meu cartão e pedi o mesmo que antes, o maior deitou a cabeça no meu ombro e começou a balançar ao escutar a batida forte da música, a respiração quente faziam meus pelos arrepiarem e meu corpo esquentar consideravelmente, Deus era muito cruel comigo. Contei até dez tentando acalmar meus nervos e quase ouvi um aleluia quando peguei o copo, puxei o maior até o camarote e subir as escadinhas, estendi o copo e ele agradeceu sorvendo um grande gole.

    Estava sendo testado lá trás, eu não sou de ferro ao aguentar uma puta respiração no meu pescoço e mãos firmes em meus ombros, ainda mais que meu estado alterado me surpreendia de vez em quando. Peguei uma cerveja e a virei com tudo, dando mais dois goles e acabando com a mesma. Baguncei meus cabelos e pulei de susto ao sentir mãos na minha cintura, virei à cabeça e pude ver Minghao rindo de mim, rolei os olhos.

― Vamos dançar Jun. – Ele disse com um tom alegre, o que me indica que Mingyu provavelmente empurrou cerveja para o mais novo.

Assenti e ignorei Wonwoo que dançava sozinho enquanto segurava seu copo, sai sendo empurrado pelo maior até a pista de dança. Ao chegar lá o calor dos corpos já me fez sentir ainda mais quente, fechei os olhos e deixei a batida me levar, ao abri-los Minghao dançava também em um ritmo parecido. Descobri nas duas semanas na China que o mesmo também havia feito aula de dança, passamos os dias dançando e jogando vídeo game, ele era uma ótima companhia e amigo.

    Foi quando me toquei que não via Jeonghan fazia um bom tempo, percorri meu olhar pela pista e logo o encontrei conversando com Hansol, mas todo mundo veio e eu só sabia assim na lata? Ri comigo mesmo e continuei dançando sem me preocupar, foi quando senti uma mão na minha cintura e abri os olhos.

   Cabelos platinados, olhos sem pálpebra dupla me encaravam até a alma, meu coração acelerou ao seu corpo balançando no mesmo ritmo que o meu, ele mordia os lábios levemente concentrado em dançar e me fitar ao mesmo tempo. Perdi a noção do tempo enquanto ficamos naquelas danças sensuais e muito provocantes, seus movimentos eram quase pornográficos, foi quando o senti me puxando pela pista e logo ser atirado contra a parede.

   Nossas bocas se encontraram de uma forma ardente, senti todo meu corpo formigar, suas mãos apertaram minha cintura, separei-me tentando recuperar o fôlego e arrepiei ao sentir os beijos e mordidas que recebia no pescoço, agarrei seus cabelos e o joguei contra a parede, seus olhos abriram levemente e sorri de lado. Amigo, eu sou o ativo aqui e aceita. Voltei a lhe beijar, os gemidos sôfregos sendo abafados contra a boca um do outro, nos separamos e observei o rosto tonto do outro, sorri e depositei um selar no outro.

― Foi um prazer. – Sussurrei contra o ouvido do outro que sorriu e assentiu.

 Tentei me achar e vi que não estava longe onde os meus amigos estavam, caminhei pisando em algumas pessoas e esbarrando em outras, meus sentidos já estavam todos misturados e  a música tomava meus sentidos. Entrei cantarolando e foi quando vi que Wonwoo havia sumido, e Mingyu também não estava em lugar algum, fui até Minghao que estava dormindo no canto da parede. Agachei na frente do chinês e tentei acordá-lo, seus olhos abriram levemente e sorriu de canto quando me viu, arrumei seu cabelo castanho que estava grudado em sua testa.

― Onde está o Wonwoo? – Perguntei preocupado ao ver que ele ainda não estava ali.

― Mingyu o levou para dançar, por que disse que estava a fim de pegar alguém. – Respondeu-me com a voz sonolenta. ― Hyung, não to me sentindo bem.

― Ai Jesus. – Mordi os lábios e peguei meu celular avisando Jeonghan que iria levar Minghao pra casa, logo recebendo um ok. ― Vem, vamos pra sua casa.

Minghao despertou ao ouvir a palavra começando a negar desesperadamente.

― Se minha tia me ver assim me manda de volta pra China. – Resmungou e fez bico.

― E para onde te levo criatura? – Perguntei irritado.

― Para casa do Joshua, ele sempre me deixa dormir lá quando vou á festas. – Minghao disse enquanto levantou e se equilibrou na parede para não cair.

Apenas assenti e peguei seu braço passando por cima do meu ombro, segurei sua cintura e decidi lá em baixo caçar os dois idiotas bêbados.

― Mingyu! – Gritei assim que estava atrás do maior que estava pegando uma garota, essa que logo se afastou depois do beijo se encerrar.

― Fala Jun. – Ele praticamente gritou também, a música parecia ainda mais alta ou era a bebida bloqueando nossos sentidos mesmo.

― Cadê o Wonwoo? – Perguntei quando não vi o outro ao redor do maior.

― Ele foi ao banheiro.

Suspirei e puxei Minghao que estava caindo dos meus braços, cheguei mais perto para o maior me ouvir.

― Estou levando Minghao pra casa por que ele está passando mal. Espero que você vá pegar o Wonwoo depois disso e o colocar dentro de um táxi para ele ir também para casa, me entendeu? – Fitei seus olhos e ele assentiu já saindo pelo meio da multidão.

Suspirei aliviado ao ver que o outro ainda tinha consciência, depois de muito esforço e empurradas chegamos á entrada, tinham vários táxis para a disposição de quem saia do local e pegamos um, acordei o mais novo que falou o endereço e agora íamos em silêncio até o apartamento de Joshua. Chegamos em poucos minutos por conta do horário – três horas da manhã – , paguei o motorista e com dificuldade consegui tirar o corpo enorme de meu amigo de lá de dentro, eu merecia um troféu de trouxa do dia mesmo. Suspirei e sai com o outro tropeçando pelo caminho até a entrada, onde o porteiro reconheceu o mais novo e deixou a gente passar, cutuquei-o de novo para perguntar o andar e o apartamento, chegamos sem mais dificuldades e apertei a campainha.

   Demorou exatos dez apertadas na campainha para ouvir a tranca ser destravada, os olhos felinos estavam pequenos enquanto espiava pela porta, bocejou e por fim acordou quando viu Minghao praticamente babando em mim.

― Aish viu, sorte sua me ter e que minha prima já foi embora. – Joshua balançou a cabeça negativamente e foi quando notou minha presença. ― Bom dia Jun. – Ele riu e eu sorri sem graça.

Joshua saiu da porta e me ajudou arrastar Minghao até o quarto de visita, o chinês agora encolheu-se e pegou um dos travesseiros para abraçar, respirei fundo ao ter meus ombros livres e movimentei-os para tirar a tensão, foi quando meus olhos caíram no corpo magro de Joshua enquanto tampava Ming, suas coxas sendo expostas pelo short curto e a blusa enorme de manga comprida que usava deixava-o ainda mais fofo, mordi o lábio e desviei o olhar.

― Então eu vou indo. – Disse e quando iria me virar ouvi a voz do outro.

― Tome um chá primeiro.

Aquele convite tinha soado maldoso, mas se tratando do menor duvidava que obtivesse algum sentido malicioso, além da enorme queda que ele tinha pelo Jeonghan. Assenti ao perceber meu corpo já demonstrar um cansaço de fim de noite, o segui em silêncio. O apartamento era simples, com uma sala, cozinha e duas suítes, além da decoração ser harmoniosa e ter folhagens e flores espalhadas.

  Sentei na cadeira e observei o corpo esguio enquanto movimenta-se para fazer o chá, meu olhar desceu até a bunda do outro e lambi os lábios, parei de seca-lo quando o mesmo virou e fingi ler os quadros da parede do meu lado.

― Aqui. – Ele estendeu uma xícara e tomei um gole, sentindo o calor tomar meu corpo e meus sentidos tornarem-se menos confusos, sorvi mais um gole e suspirei aliviado.

Fitei-o e notei que o mesmo me encarava, ele desviou o olhar e continuou a tomar seu chá calmamente, mesmo com a cara de sono e o rosto amassado sua beleza era incontestável, botei a mão no queixo e sorri quando nossos olhares encontrarem-se novamente, dessa vez não sendo desviado. E foi naquele momento que decidi perguntar o que tinha certeza.

― Você gosta do Jeonghan hyung né? – Perguntei sem maldade, precisava confirmar.