Joshua afogou-se e tossia compulsivamente, os olhos ficaram lacrimejados enquanto tentava recuperar a respiração e eu apenas observava sem mover um músculo, seu rosto ficou vermelho agora que tinha se recuperado e desviava o olhar do meu sempre que possível. Ri baixinho e atrai atenção do mesmo para mim, sorri de lado e esperei ele se pronunciar.
― Do que está falando? – Rolei os olhos e bebi mais um gole, sentindo todo o efeito da bebida ir embora.
― Na verdade está muito óbvio, mas se não quiser falar sobre. – Dei de ombros e coloquei a xícara em cima do balcão levantando da cadeira. Fitei-o nos olhos e inclinei um pouco em sua direção, senti seu corpo ficar tenso e sorri de leve. ― Boa noite Joshua e obrigada pelo chá.
Afastei-me e passei a mão na franja que já caia, olhei meu celular e bufei ao ver o horário, Minghao me devia uma refeição por tudo. Segui o caminho até a porta e sai sem olhar para trás, o mais velho devia estar confuso e resolvi não mais provoca-lo. Suspirei ao sair na rua gelada, meu corpo tremeu e agradeci aos céus ao ver um táxi passando, fiz sinal e entrei no mesmo dizendo meu endereço.
Meu celular não parava de tocar e queria sinceramente jogar pra fora do táxi, olhei no visor e vi o nome de Jeonghan, franzi a testa e atendi.
“― Jun? – Ele perguntou com a voz preocupada.”
― Aconteceu algo? – Perguntei imediatamente.
“― Já está em casa? “
― Estou indo pra ela agora. – Respondi e vi que faltava ainda umas duas quadras.
“― Ah, então ta. Amanhã estou indo pra sua casa, ok? – Ele riu baixinho e neguei com a cabeça.”
― Pode deixar mamãe, estou chegando em segurança. Tudo bem.
Ouvi a gargalhada dele e mandou beijos antes de desligar. Meu hyung nunca mudava mesmo, suspirei e agradeci quando o motorista acelerou, cheguei em dez minutos e agradeci ao motorista que sorriu e partiu com o carro. Entrei rapidamente e sai jogando minhas roupas fedidas á cigarro em qualquer lugar, me joguei na cama e depois não lembro de mais nada.
Acordei com o sol batendo na minha cara, resmunguei e me virei, uma péssima ideia ao perceber que meu corpo doía e meu estômago dava voltas. Abri os olhos lentamente e senti minha cabeça rodar, meu ouvido apitava pela música alta de ontem. Por que eu bebia mesmo? Levantei vagarosamente e segui me arrastando pra cozinha, estiquei meu corpo e senti tudo estralar, peguei a caneca e quando ia por pó de café meu celular começou a tocar.
Resmunguei e comecei a procurar ele pelas roupas que estavam pela sala até meu quarto, encontrei o aparelho na calça perto do banheiro.
― Já estou chegando, beijos. – Jeonghan falou rapidamente e desligou na minha cara.
Abusado mesmo, mereço isso não. Suspirei e fui até a cafeteira começando a passar o café, peguei uma maça e senti meu estômago ficando melhor, o cheiro de café fazendo-me salivar e pegar afobado quando acabou de escorrer, e a campainha começou a tocar. Mais inconveniente impossível, pessoa nem pode começar a tomar o café.
Tocou novamente e aposto que ele fez isso para me irritar, bufei e abri a porta dando de cara com um Jeonghan sorrindo sapeca com uma sacola.
― Bom dia Junnie. – Ele disse com a voz fofa entrando no meu apartamento, rolei os olhos e fechei a porta. ― Sr. Yoon continua o mesmo.
Sr.Yoon é meu porteiro que fez amizade com meu amigo em questão, então tinha passagem livre pra ir e vir quando quisesse.
― Bom dia.
Andei até onde minha caneca jazia abandonada, tomei um gole e sorri satisfeito, agora sim meu dia havia começado. Observei meu amigo andar pela minha cozinha pegando as coisas necessárias para o café da manhã, franzi o cenho e apenas observei. Geralmente ele fazia isso quando tinha muitos pensamentos na cabeça e tentava sempre arranjar algo para esvaziar a cabeça.
― Vem, vamos comer. – Ele chamou já sentando a mesa e pegando um croassan que havia trago. Gemeu satisfeito e limpou a boca do chocolate que escorreu quando mordeu.
Sentei com minha caneca agora novamente cheia com café e peguei uma rosquinha de doce de leite, minha favorita, a massa derreteu na boca. Meu Deus, isso sim que é café da manhã.
― Saudade de fazer refeições com você. – Jeonghan falou sorrindo e assenti confirmando.
― Eu sei que sou um colírio mesmo de manhã cedo. – Passei a mão no cabelo e o outro riu negando.
Terminamos rapidamente e fui praticamente expulso da cozinha quando iria lavar a louça, sentei no sofá e coloquei em qualquer coisa na TV, logo senti o mesmo sentando e encostando a cabeça no meu ombro, soltou um suspiro e comecei a fazer carinho em seu cabelo.
― O que lhe atormenta? – Perguntei baixinho e lhe fitei com o canto do olho.
― Seungcheol. – Disse e mordeu o lábio.
Virei de frente para o mesmo e beijei sua testa acariciando seu rosto, ele sorriu de leve e mostrou a língua pra mim.
― Pode desabafar.
― Bem, o problema é que eu gosto de alguém heterossexual. – Sua expressão era triste e aquilo cortou meu coração.
― E como tem tanta certeza? – Ergui uma sobrancelha e apertei de leve seu nariz fazendo-o rir.
― Ontem na boate deu pra confirmar bastante sabe? – Respondeu com a voz magoada.
― Você também era hétero quando lhe conheci, sei que lembra disso.
― Não me faça lembrar do passado. – Sua expressão fechou e ficou sério.
Aquele era um assunto delicado em questão, quando ele soube que eu era bissexual afastou-se de mim e sempre respondia ácido, e foi quando um amigo nosso revelou que era homo mesmo e que estava namorando, aquilo deixou Jeonghan arrasado e isolou-se cada vez mais. Até que eu fui falar com o mesmo e ele desabafou que desconfiava que gostava de garotos, mas sua família era extremamente religiosa e rejeitaram seu tio que se assumiu, ele acompanhou toda a trajetória de sofrimento do outro e guardou pra si reprimindo em repulsa. Mas por fim decidiu aceitar-se e contou para a família, porém já tinha seu apartamento e emprego para conseguir se sustentar na faculdade, não afetando nada além da relação entre os familiares. Foi uma época difícil e muito dolorosa do nosso passado.
― Desculpe por isso. – Suspirei e mordi o lábio. ― Mas não sofra antes de tentar, certo? Ficar fazendo suposições não ajuda em nada e só piora seu emocional.
― Eu sei Jun, mas é inevitável. – Ele grunhiu e bufou irritado.
― Me conte como começou isso, já que estou desatualizado. – Sorri largo e ele riu.
― A faculdade resolveu misturar o grupo de Estética com o de Biomedicina, e eu fiquei no mesmo grupo que ele. E foi aí que comecei a reparar demais no mesmo, os cílios longos, a pele pálida e o sorriso gentil, a atenção que dava em todos os detalhes do trabalho. Tudo isso me fez cada vez mais aproximar dele, e a cada toque do mesmo fazia meu corpo arrepiar-se. – Respirou fundo e começou a brincar com seus dedos. ― Esconder durante dois meses o que estava sentindo estava difícil, Seungkwan queria me matar a cada vez que tentava evitar ele, mas era impossível não responder quando ele me chamava animado.
― Entendi. – Abri os braços e meu amigo logo agarrou meu tronco suspirando aliviado, comecei a acariciar suas costas e senti seu corpo relaxar cada vez mais.
― Você acha mesmo que devo tentar? – Sua voz era abafada pelo meu corpo, ouvi o mesmo fungar e depois limpar seu rosto.
― Com toda certeza. – Respondi firme e ele afastou-se com os olhos lacrimejados. Neguei com a cabeça e beijei o topo de sua cabeça.
― Acho que perdi a conta quantas vezes você me ajudou. – Ele riu e limpou a lágrima que escorreu.
― Sou incrível, sei disso.
― E você, quando vai se permitir gostar de alguém novamente? – Ele ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços. Rolei os olhos e permaneci em silêncio, não gostava de falar sobre isso.
― Junnie, tem que superar o passado e deixar alguém ficar no seu coração. – Ele colocou a mão em meu peito e sorriu gentil.
― Não vamos falar sobre isso. – Pedi com a voz falha e ele assentiu bagunçando meu cabelo.
― Vamos assistir um drama de mocinha pra gente sofrer. – Jeonghan deitou no meu colo e pegou o controle já procurando algum.
― Não vai pegar o sorvete? – Perguntei rindo e logo ele pulou do sofá indo no freezer.
E passamos o dia todo vendo dorama onde à protagonista e o homem demoraram um século para ficarem juntos, ele esperando ela voltar da puta que pariu e ficando juntos no final, isso nunca acontecia na vida real, era tão ridículo e a gente chorava por isso. Duas mocinhas chorando por drama, que lindo final de semana.
Domingo passei sozinho e resolvi arrumar minhas roupas finalmente, fui ao mercado e comprei tudo o que podia, já que acabou o que havia comprado antes. Nada de interessante, como sempre, aconteceu.
Cheguei relativamente cedo na faculdade, fui até o Starbucks e sentei em uma mesa do refeitório, logo via um Seungkwan saltitante em minha direção, como a pessoa conseguia ser tão feliz? Não sei.
― Bom dia Jun. – Disse cantando e sentou-se ainda resmungando alguma música.
― Bom dia. – Respondi e observei o mesmo abrindo o fichário anotando algumas coisas. ― O que aconteceu para você estar tão feliz assim? – Perguntei curioso.
― Beyonce lançou um single maravilhoso. – Ele respondeu animado e agora começou a cantar a música baixinho.
― Sua voz é bonita. – Elogiei e ri quando o mesmo começou a corar pelo elogio.
― Eu sempre digo isso, mas aí ele me bate. – Hansol falou e sentou do lado do menor que rolou os olhos.
― Por que não falou que também ia à festa? – Perguntei e fiz bico ao ver que acabou o meu café.
― Meu hyung convidou em cima da hora, daí eu fui. – Hansol deu de ombros. ― A propósito Jun, você dança bem. – Ele sorriu matreiro e corei na hora.
―Brigada. – Respondi tímido e ouvi a gargalhada do mesmo.
― O que foi isso? – Seungkwan estava com os olhos semicerrados e me encarou, levantei a mão e comecei a rir.
― Não te interessa, não quis ir quando convidei. – Hansol fez cara de nada para o outro que inflou as bochechas.
― Pra que? Para ficar sozinho enquanto pegava alguém? Me poupe. –Seungkwan rebateu ácido e o mais novo rolou os olhos.
― Você tem que ter mais confiança em si, sabia? – Hansol fitou os olhos do outro que engoliu em seco e voltou a escrever em silêncio.
Hansol bufou e saiu da mesa, fitei o mais baixo que suspirou e pediu licença também saindo para a direção oposta. Devia ter um enorme ponto de interrogação na minha cabeça no momento, mas dessa vez decidi me meter menos na vida dos outros. Deu meu horário e resolvi ir ao não ver mais ninguém, o resto das aulas passaram num piscar de olhos e sai despreocupado até o refeitório, no caminho encontrei Minghao que veio correndo na minha direção.
― Hyung, obrigada por Sexta. – Ele agradeceu e ri bagunçando seu cabelo.
― Tudo bem, não foi nada. Da próxima não entre na onda do Mingyu. – Lhe fitei sério e o mesmo assentiu sorrindo.
― Ah é, Wonwoo quer falar com você. – Logo que ele falou o maior passava por ali e foi puxado por Minghao. ― Vou indo que Joshua vai me ajudar em inglês.
― Olá Wonwoo. – Disse depois de ambos nos despedimos do mais novo.
― Oi. – Ele respondeu tímido e achei fofa a maneira que o outro brincava com suas mangas.
― O que houve? – Perguntei preocupado ao imaginar o que o idiota do Mingyu podia ter feito, porque mais cabeça de vento que aquele impossível.
― Desculpe por Sexta, aquele realmente não era eu. – Ele suspirou pesaroso e balançou a cabeça.
― Relaxe, não se culpe. Extravasar de vez em quando faz bem. – Falei sincero e ele assentiu concordando.
― Hm. – Seu rosto ficou corado e apertou ainda mais o tecido. Levantou o olhar para me fitar. ― Eu queria o número do Mingyu, para agradecer por me levar em casa.
― Claro. – Ri soprado e peguei meu celular passando o número do meu amigo e também o meu, já salvando do mesmo.
― Obrigada, até mais. – Ele acenou rapidamente e saiu em direção ao prédio da direção.
Cheguei ao refeitório não vendo nem Jeonghan, nem Hansol e Seungkwan, rolei os olhos e fui até a cantina pegando qualquer coisa e andei até onde Minghao falava em inglês com Joshua, sentei em silêncio e ri quando o chinês falou a palavra errada.
― Hyung, pare de ser malvado. – Ming virou-se e me fitou com os olhos semicerrados.
― Você fica fofo até falando em inglês. – Sorri de lado e ele bateu em meu braço resmungando.
― Olá Junhui. – Joshua falou simpático e assenti para o mesmo.
O tempo passou rápido enquanto me divertia com os dois e quando vi era minha aula, levantei devagar e escutei a risada de Joshua que também levantou.
― Não tem aula agora Ming? – Perguntei e ele negou ainda lendo o texto enorme.
― Vamos, ele não vai responder nada. – Joshua falou já do meu lado e dei de ombros.
Ambos andávamos em um silêncio incomodo, suspirei e olhei para o céu para me distrair, foi quando olhei para frente e vi Jeonghan conversando com Seungcheol, seu sorriso era lindo e ele ficando envergonhado quando o mesmo colocou a mecha pra trás da orelha dele. Ouvi um suspiro e virei-me ao ver Joshua também observando aquilo, passei a mão no ombro do mesmo e puxei-o contra meu corpo para continuar andando.
― O tempo anda estranho hoje né. – Comentei e senti o outro me olhando.
― Junhui, está o maior sol hoje. – Ele riu de leve e tentou se afastar, mas puxei-o ainda mais perto ao passarmos por eles.
― Ainda acho que vai chover, tenho talento pra prever essas coisas. – Falei convicto e ouvi-o gargalhar, lhe fitei e sorri.
― Sabe, você é estranho.
― Obrigada.
― Não, é sério. – Fitei-o e ele me encarava firmemente, lambi os lábios e respirei fundo.
― Gosto de proteger corações partidos.
― Idiota. Eu já sabia sobre isso antes de você, por isso não é tão chocante. – Joshua disse e deu de ombros.
― Então por que nunca tentou? – Perguntei e acenei para meus seniores enquanto passavam.
― Pra que? Ia acabar pior ainda. – Ele disse e por fim deixei ele se afastar ao ver que estava incomodado com tantos olhares.
― Posso curar seu coração hyung? – Sussurrei em seu ouvido e ri quando ele me afastou com os olhos arregalados.
― Para de ser bobo. Você só ia brincar comigo, garanhão. – Ele falou com a voz irônica e ri ainda mais.
Parei de andar e o menor também, andei até ficar de frente para o mesmo e agachei até ficar próximo o suficiente de seu rosto, sorri satisfeito ao ver seu corpo tenso.
― Quando quiser brincar comigo, só avisar. – Aproximei-me e beijei o canto de sua boca. Sorri largo fitando seu olhar perdido e virei a esquerda entrando no prédio cantando a música que Seungkwan resmungava hoje de manhã.
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