-Só preciso de respostas, Matteo! -Luna resmungou enquanto o anjo lhe seguia em direção as escadas.
-Como pode me pedir respostas, Luna? Estou tão surpreso quanto você! -o anjo respondeu irritado.
A verdade era que Matteo sabia o que estava acontecendo, só não queria contar a Luna que estava se arriscando por ela.
-Bom, temos que descobrir, isso nã...
-Descobrir o que, Luna? Com quem estava falando? -Miguel, o pai da menina, perguntou ao adentrar a sala surpreendendo a filha e também o anjo, que por sorte, ainda era invisível a olhos humanos.
-Uma música, papai. Estava cantando! -Luna mentiu pensando rápido. -No fim, a gente vai descobrir, que complicamos demais, demais. Eu sei, o amor não se vive assi...
-Tudo bem, filha. Já entendi. -Miguel interrompeu a filha, que fez careta. -Só queria avisar que Carmen virá almoçar conosco! Não se atrase!
-Tenho outra opção? Tipo, ficar no meu quarto, ou qualquer outra coisa do gênero. -a menina pediu entediada e o pai a olhou feio. Ele detestava que Luna fizesse tão pouco caso de sua namorada. -Certo.
Luna achava aquilo um completo inferno. Ela se perguntava quando seu pai perceberia que Carmen também não gostava nada dela?
-Que música antiga, Luna! -Matteo queixou-se assim que Miguel entrou em seu escritório.
-Foi a primeira coisa que me veio a cabeça, mauricinho! -a garota bufou, jogando-se no imenso sofá branco de sua casa.
-Do que me chamou? -o anjo ergueu os olhos, observando-a a certa distância.
-De mauricinho.
-Por que?
-Porque se parece com um toda vez que debocha de mim com esse seu ar superior. -Luna respondeu revirando os olhos. -Você me irrita as vezes, Matteo.
-Não se equivoque, Luna. Você está irritada por não saber o que está havendo e também por ter que aturar a namorada mala do seu pai! -o anjo a confrontou debochado, fazendo com que a amiga o fuzilasse. -Sem contar essa história do Simón...
-Você disse que ia me explicar, pois comece! -Luna exigiu.
-Só se me chamar de mauricinho mais uma vez! -Matteo pediu e cruzando os braços.
-Mau-ri-ci-nho! -a menina disse pausadamente, soltando uma risada divertida logo depois. -Você é um idiota, Balsano!
[...]
-Então quer dizer que a garota beijou o Simón e a Ambar viu? -Luna ergueu os olhos surpresa com toda a história que o anjo lhe contara. -E como é que você sabe disso, mauric... Matteo? Isso vai virar uma mania...
-Porque aconteceu ontem, enquanto estávamos no restaurante! Eu não tinha muito no que prestar atenção...
-Por isso aquelas caras de infelicidade! -Luna molhou os lábios lentamente, o que fez Matteo desviar seu olhar do rosto da menina. Ele tinha mais idade que qualquer um ali naquela casa, óbvio que tinha tanta malícia como qualquer pessoa. -Bom, resolvo isso depois, agora tenho que descer para almoçar com a naja!
-Te desejo boa sorte! -Matteo desejou a menina, que ajeitava o cabelo na frente do espelho.
-Agradeço, mauricinho.
Os dois deram risada e em seguida Luna acenou, saindo do quarto e deixando o amigo ali, sozinho.
Matteo estava preocupado, o que faria agora? Ele não era mais o anjo de Luna e tinha que contar isso a ela. Ele não poderia mais protegê-la. As pessoas já podiam escuta-lo e não demoraria muito para que pudesse, vê-lo. Tudo isso porque salvou Nina de uma queda das escadas e os amigos de Luna de um trágico acidente. O que ele não fazia por Luna afinal?
Seu maior medo era a reação de Luna, e se ela não quisesse mais sua amizade agora que ele não iria mais protegê-la, ser seu anjo da guarda? Onde ele iria ficar quando voltasse a ser humano?
Há quase 88 anos, Matteo vivera em uma imensa casa com seus pais, os Balsano. Ele era rico, tinha tudo o que queria, mas sempre fora infeliz. Seus pais não permitiam que ele brincasse com as outras crianças com condição financeira não tão boa quanto a dele, e os amigos ricos, não passavam de mauricinhos, como Luna havia o chamado há alguns minutos. Depois de morrer tragicamente por causa de um câncer aos dezesseis anos, o menino encontrou a felicidade ao se tornar um anjo, e agora isso lhe seria tirado.
-Não sei se quero viver no mundo humano novamente, há tanta desigualdade... -Matteo sussurrou enquanto segurava em mãos, a foto da mãe de Luna, a qual a menina havia guardado em sua gaveta. -Eu preciso da sua ajuda, Mônica. Me dê um sinal do que fazer.
E então, Matteo foi surpreendido por uma rajada de vento, que trouxe até ele um pedaço de papel onde estava escrito "Sempre vou amar você, anjo Matteo." dentro de um coração cor de rosa. E então, o anjo sorriu, era isso. Luna não quebrava promessas, ela sempre estaria com ele. Sempre.
Enquanto isso, Luna estava sentada a mesa com uma cara nada boa enquanto Carmen sorria -de acordo com Luna, falsamente- para todos ali.
-Miguel disse que temos novidades! -Carmen comentou levando a taça transparente até a boca, ingerindo no máximo uma gota de água, o que fez Luna revirar os olhos incomodada. -Algum problema, Luninha?
-Nenhum, Carminha! -Luna sorriu falso, se divertindo ao ver o sorriso da possível futura madrasta se fechar.
''Matteo devia estar aqui para ver isso" - a menina pensou no mesmo instante.
-Conte a ela, Nina. Diga a ela qual é a novidade. -Luna pediu a irmã ao lembrar-se que Carmen detestava Gastón.
-Vou me casar! -Nina disse sem animação, mesmo estando eufórica com o noivado.
-Achou um homem decente? Finalmente querida...
-Se com homem decente quer dizer Gastón... eu o encontrei há alguns anos! Graças a Deus! -Nina disse de forma irônica, fazendo Luna soltar fagulhas por dentro.
-Querida, por que está assim? -Miguel perguntou a filha.
-Por que ultimamente não ando com muita paciência, papai! -Nina explicou e Luna assentiu em concordância, fazendo com que a irmã sorrisse brevemente. -Eu queria contar somente para você e para Luna, mas como você mesmo diz, Carmen é dá família agora, então, parabéns, vovô Miguel e titia Luna!
-Como é que é? -Miguel e Carmen questionaram espantados e Luna deu risada ao ver o pai engolir a comida de uma só vez.
-ISSO! -a mais nova comemorou. -Vou ser tia! Parabéns, Nina! -Luna abraçou a irmã, que retribuiu sorrindo.
-Parabéns, querida! -Miguel gaguejou ainda assustado e Nina deu risada, assentindo apenas.
-Além de se casar com o tal Gastón, ainda está grávida antes do noivado? Que péssimo exemplo para sua irmã você, Nina! -Carmen comentou indignada.
-Não vim ao mundo para ser exemplo para ninguém! -Nina sacudiu os ombros como quem não liga e Carmen grunhiu achando aquilo um total desaforo.
"Onde está o Matteo? Ele deveria assistir isso e se divertir comigo!"- Luna não parava de pensar.
-Touché! -Luna debochou. -Perdoem-me todos, Nina me influenciou, quero engravidar! -a garota se divertiu.
-Luna! -o pai repreendeu imediatamente desejando que aquele almoço jamais tivesse acontecido.
-Deixa ela, pai! Luna sabe ser uma Valente, ao contrário de você, que está te tornando uma pessoa tediosa. Onde está o divertido Sr. Valente? -Nina ergueu os olhos para o pai, desafiando-o. -Ah, esqueci-me, morreu junto com a mamãe!
[...]
-Não acredito que perdi um barraco desses! -Matteo se desmanchou em risadas assim que Luna contou-lhe toda a história que havia se passado no andar debaixo enquanto a família Valente almoçava. -Ah, e eu já sabia da gravidez da sua irmã.
-O que? E por que não me contou seu anjo ingrato? -Luna cruzou os braços indignada.
-Ingrato não! -a anjo sacudiu a cabeça fingindo estar magoado, mas Luna não deu-lhe importância. -Certo, chata, temos que conversar!
-Ih, coisa séria?
-Coisa séria.
-Começa logo então. -a menina pediu impaciente, sentando-se na cama ao lado do amigo.
-Vou ser breve, Luna. Não sou mais o seu anjo!
-O que? -Luna se levantou apavorada e começou a andar pelo quarto. -Não posso nem cogitar a ideia de viver sem você, Matteo. Diga que é apenas uma brincadeira idiota.
-Não é brincadeira, Luna, mas também não vai me perder. -o anjo explicou e a menina franziu a testa, parando de andar para encara-lo. -Eu não sou mais um anjo, anjo de ninguém.
-Por que não?
-Porque fiz coisas que um anjo não deve fazer e fui alertado disso. -Matteo disse entre um longo suspiro, ele estava decepcionado consigo mesmo.
-Que tipo de coisas? -Luna questionou com sua curiosidade que nunca foi pouca.
-Sendo seu anjo, eu só posso salvar você. Mas eu salvei seus amigos naquela noite e também salvei sua irmã nas escadas ontem a noite, ela perderia o bebê se caísse. Eu não pude permitir. Me desculpa! -Matteo afundou a cabeça nas próprias mãos. Ele detestava chatear Luna.
-Desculpas? Você está louco? -Luna soltou uma risada irônica. -Você perdeu seu cargo de anjo por minha causa, Matteo, eu quem peço desculpas. -a ex-protegida de Matteo sentou-se ao seu lado, respirando fundo antes de fazer a pergunta egoísta que martelava em sua cabeça. -Você não vai desaparecer, não é mesmo?
-Não, Luna. Vou viver como você, assim como vou morrer um dia, mais uma vez. -Matteo riu sem humor. -Pelo que percebi só podem me ouvir até agora, mas em breve poderão me ver e me tocar também.
-Vou poder te abraçar... -a menina sorriu com o olhar vagando pelo imenso quarto. -Obrigada por salvar as pessoas que eu amo, Matteo.
-Eu sempre esterei aqui para você, nunca se esqueça disso!
Após a fala amorosa do anjo, Luna não se conteve e agarrou o pescoço de Matteo, mas diferente de todas as outras vezes, os braços dela não atravessaram o corpo do amigo e sim se agarraram a ele. Logo os dois se assustaram, mas não ousaram dizer nada. Luna apertou Matteo contra si abraçando-o forte como se nunca mais fosse o fazer, mas no fundo, ela sabia que essa seria a primeira vez de muitas.
-Eu amo tanto você, Matteo. Obrigada por entrar na minha vida.
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