História My Angel - Blood.

Tudo estava confuso agora.

Matteo andava de um lado para o outro no quarto de Luna. O ex-anjo, agora tentava entender todos aqueles sentimentos, afinal, há quantos anos o garoto não respirava? Não sentia frio, nem calor e muito menos fome? Ele estava chateado, afinal, não sabia o que aconteceria dali em diante. Estava tudo uma bagunça, mas dentro dele ainda havia uma pontinha de felicidade, agora ele poderia abraçar Luna todas as vezes em que sentisse vontade.

-Vou comprar vários doces diferentes para você comer! -Luna comentou batendo palminhas ao ver o quão atordoado o amigo estava.

-Já fui humano, Luna! -o garoto disse deixando que uma risada sem humor escapasse de seus lábios agora vivos e rosados.

-Eu sei, mas faz anos, quase um século! -ela deu de ombros e abriu uma caixinha verde que ficava sobre sua mesinha. -Inventaram muitas coisas gostosas que você nunca provou, uh? Vou ao mercado, fique ai e deixe a porta trancada! Ninguém pode ver você por enquanto.

-Tudo bem, menina delivery! -Matteo disse divertido, deitando-se na cama da garota e sentindo uma leve dor nas costas. Sua pele coçava e tudo isso estava o irritando.

-Por que me chamou assim? -Luna ergueu os olhos, cruzando seus braços magros enquanto encarava o amigo.

-Porque vai buscar coisas no mercado e trazer para mim enquanto usa patins! Na minha época, essas garotas ou garotos eram chamados assim! -ele explicou e Luna deu risada, achando o apelido um tanto engraçado.

-Muito engraçadinho, mauricinho! -ela mostrou-lhe a língua. -Só é estranho ver você falando "minha época" tendo a mesma idade que eu! Ou aparentando ter...

-Vai logo! Minha barriga dói e acho que isso é fome! -ele abanou as mãos na tentava de apressar Luna.

Enquanto o anjo olhava para o teto tentando pensar no que faria, Luna seguiu em direção ao mercado com uma pressa impossível de ser controlada. Seus patins deslizavam no chão e Luna sentia estar voando, mas não por correr usando seus patins, e sim por saber que agora seu anjo, melhor amigo, estava ali, em carne.

Seus braços moviam-se rapidamente fazendo impulso para que seu corpo fosse cada vez mais veloz em direção ao supermercado. A garota nem havia chegado em seu destino e já queria estar de volta em casa, se divertindo com Matteo. Os pés de Luna tropeçaram em uma pequena pedra a qual ela não havia enxergado, impulsionando suas costas para frente, e se não fosse por mãos ágeis que a seguraram, nesse momento, seu rosto estaria colado ao chão da calçada.

-Deveria olhar por onde anda, mocinha! -o garoto, a quem Luna conhecia muito bem alertou. Ao erguer sua cabeça, percebeu que aquele era o garoto por quem ela mantinha um sentimento oculto. -Luna!

-Marco?

-Sou eu!

-Meu Deus! -ela riu. -Obrigada, impediu um desastre comum na cidade, meus tombos!

-Você é tão desastrada assim?

-Praticamente uma mula!

-Não ofenda as mulas! -o garoto disse de forma debochada e Luna lhe deferiu um tapa, fazendo cara feia. -Desculpa! -ele ergueu os braços em rendição e logo depois começou esfregar o lugar onde Luna havia batido forte. -Foi uma brincadeira!

-Me desculpe você, pelo tapa... -ela murmurou envergonhada e Marco, mais alto que ela bagunçou seus cabelos.

-Onde está indo?

-Ao mercado.

-Quer companhia?

-Se não for incomodar... -ela sorriu de lado. Suas bochechas pareciam tomates.

-Se eu ofereci é porque não vai incomodar, lerda! -Marco deu um tapa fraco na testa de Luna que riu do ato, dando um empurrão no menino. -Vamos logo, ou vai voltar pra casa na chuva, o tempo não está muito bom!

[...]

Como previsto por Marco, a chuva inundou a cidade, mas felizmente Luna já estava na porta de casa. Matteo, preocupado com a demora da amiga e a chuva que ficava cada vez mais forte, conferia a janela a cada minuto, e logo se martirizou por isso. Junto de Luna, estava Marco, ambos na porta da mansão Valente. Matteo sentiu uma forte dor no peito, mas não fazia ideia de que aquilo era denominado ciume.

Antes que Matteo pudesse tirar seus olhos da janela e deixar de ver a cena que nada lhe agradava, Marco puxou Luna para perto e beijou-lhe. Um líquido escorreu pelas bochechas do ex-anjo no mesmo instante, mas isso ele sabia o que era, conhecia bem, desde sempre. Estava chorando.

Enquanto o Balsano tratava de limpar as lágrimas e esconder sua decepção, Luna estava estática, não sabia se devia correr ou simplesmente retribuir o beijo, mas antes que fizesse qualquer coisa, Marco a soltou, deixando que respirasse e recuperasse seu fôlego.

-O que foi isso? -Luna perguntou imediatamente sentindo as bochechas corarem.

-Você não gostou? -Marco perguntou desapontado e Luna se apressou em pegar suas mãos.

-Claro que gostei!

-E o que há então?

-Fui pega de surpresa, apenas isso!

-Desculpa, mas não pensei em nenhuma maneira melhor para me despedir de você. -o garoto explicou fazendo com que Luna sorrisse de lado. -É melhor você entrar...

-Até porque se meu pai me vir aqui com você...

Antes que terminasse, Marco selou os lábios da garota com um beijo breve e em seguida saiu patinando pela chuva, sem nem dizer "tchau".

Luna subiu para o seu quarto sorrindo feito uma boba, ao entrar no mesmo, percebeu que seu amigo fazia a leitura de um de seus livros favoritos. Ela trancou a porta, colocou as sacolas sobre a mesa e sentou-se na cama bem ao lado de Matteo.

-Demorou.

-Só um pouco. Livro bom, né?

-Já li.

-Hum, certo... trouxe coisas para a gente comer! -ela disse animada, esquecendo-se por um segundo do beijo e pegando as sacolas, jogando todas as guloseimas sobre a cama, mas Matteo nem se importou em olhar. -Você está estranho...

-Não estou.

-Está sim, o que houve mauricinho?

-Já disse que não tenho nada, Luna. Que droga!

-Matteo! -ela aumentou o tom de voz, irritada com seu antigo anjo, que não estava sendo nada simpático.

-Não vai me contar do beijo? -Matteo disse tentando não transparecer os ciumes.

-Ia, achei que poderíamos nos divertir antes, mas já vi que não! -ela bufou, cruzando os braços. -É por isso que está bravo, por que não te contei?

-Já disse que estou legal, Luna! Está sendo chata!

-Ridículo! -ela reclamou revirando seus belos olhos. -Come isso, se chama dentadura, porque tem o formato de uma, mas é só uma geleia muuuuuito gostosa!

-Aposto que está exagerando! -o anjo fez careta pegando o pacote das mãos da amiga.

-Prove.

-Certo, menina delivery! -ele assentiu deixando por fim, o assunto sobre Marco de lado. Ele sabia que não daria em nada afinal. -Vamos lá!

Uma, duas, três e vários "huuuuuum"  saíram da boca de Matteo, ele nunca provara em seus dezesseis anos de vida algo tão gostoso.

-Tinha me esquecido como era a sensação de comer outra vez! Nunca precisei colocar nada na boca durante os últimos noventa e sete an...

Matteo foi impossibilitado de falar no momento em que algum líquido estranho saiu de sua boca. Ele, assim como Luna soltaram os pacotes de doce e a garota tentou ajuda-lo.

Luna se assustou ao ver que o líquido que escorria da boca de Matteo não era saliva, era sangue, muito sangue.