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História My Answer - Grey


Escrita por: livealasca

Notas do Autor


Olá, como prometido, aqui está o primeiro capítulo.
Alguns personagens que irão aparecer são de outros grupos, porém não os coloquei na descrição da fic porque utilizei apenas os nomes, personalidade e aparência física (caso eu venha a descreve-los) são completamente diferentes dos originais.
Como eu disse antes, irei postar esse capítulo hoje e o outro só vai ser postado daqui a uma semana.
Espero que gostem.
Enjoy.

Capítulo 2 - Grey


Fanfic / Fanfiction My Answer - Grey

 

 

Grey.

 

 

Novamente estou nessa mesma cadeira, rodeado pelas mesmas pessoas, cercado pelas mesmas paredes. Tudo é tão monótono, tão triste, tão... Cinza. Sim, cinza, tudo aqui é igual a está cor. Nem tão forte quanto o preto, nem tão ambíguo quando o branco, simplesmente cinza. Uma cor sem graça, sem força, sem nada para causar dúvidas. É como enxergo minha sala de aula, meus colegas, minha rua, minha casa, minha vida.

Não tenho nada para seguir em frente, qual o motivo de eu estar aqui? Já sei o que o professor está escrevendo inutilmente na lousa, já sei qual foi o resultado do jogo de futebol de ontem que meus “amigos” não param de comentar inutilmente, já sei que a garota ao meu lado irá tentar pela milésima vez dar em cima de mim inutilmente, e que o garoto sentado na primeira mesa da sala irá mandar todo mundo calar a boca inutilmente. Tudo igual, tudo inútil, tudo... Cinza.

Escuto o sinal tocar baixo, talvez por eu já tê-lo ouvido tanto que já me acostumei, ou talvez a sensação de abafamento em meus ouvidos não me permita escutar direito, acho que foi uma técnica que aprendi para ignorar tudo, ou talvez esteja ficando surdo, vai saber. Forço meu corpo pesado para cima a fim de me levantar, está na hora do almoço e não quero ficar quase que o tempo inteiro na fila para pegar comida. Jogo a mochila sobre o ombro e começo a caminhar enquanto um dos meus amigos se joga sobre meus ombros gritando para os outros irem logo, igual aos outros dias, acho que é por isso que nem me importo mais com o peso extra que ele faz, e aquela garota ira xinga-lo e tentar empurra-lo para longe, e acabar me empurrando também, então apenas preparo meu corpo para não ir ao chão quando acontecer. As vozes nos corredores me incomodam, é a única coisa com qual não consigo me acostumar, qual é o problema dessas pessoas? Como conseguem estar animadas todos os dias? Como conseguem ficar feliz vendo exatamente as mesmas pessoas, as mesmas coisas? Talvez eu seja o problemático por não conseguir ser igual a elas.

A fila da loja de comida já está enorme, as pessoas embarrando-se umas nas outras para pegarem os melhores produtos, então paro um pouco atrás e entrego um punhado de dinheiro ao meu colega e peço que ele compre qualquer coisa para mim, e claro, para todos os outros, é só por isso que eles são meus amigos, meu dinheiro os mantem perto. Não sei dizer se isso é bom ou ruim, quer dizer, ao menos aparentemente eu pareço um garoto feliz, cheio de amigos e bem de vida, uma pena eu não me sentir assim. Mas o que as pessoas não sabem, não comentam, então é melhor pensarem que sou um herdeiro rodeado de amigos interesseiros e feliz com isso, do que ficarem falando que sou um melancólico sádico, que se afoga na própria tristeza, apesar de ter tudo na vida, e no fim serei apenas um fracassado que não sabe o que quer. Não que eu seja muito diferente disso, mas pelo menos só eu sei.

Observo tudo ao redor enquanto enfio a comida em minha boca e a forço a descer, esses lanches parecem ter o mesmo gosto. Os garotos sentados ao meu lado falam algo sobre mulheres e dão risada, não sei por que, o que há de tão engraçado nas mulheres? O fato de eles as acharem atraentes não deveria ser motivo de risada não é mesmo? Mas terei que fingir achar graça, ou eles iram começar a me perturbar perguntando o que tenho hoje, e eu não tenho nada, esse é o problema. Jogo um pouco de conversa fora respondendo a perguntas inconvenientes que eles fazem, é claro que todos querem saber como é minha casa, como é o meu pai, minha conta bancária e como arranjar um emprego na “minha futura empresa”. Será que eles continuariam sendo meus amigos se eu dissesse que minha casa é normal, de um tamanho normal, meu pai e minha mãe são normais, a empresa dele é normal e que eu não tenho milhares de carros na minha garagem? Bem provável que não, afinal o que simples alunos iriam entender de uma fábrica de sabão? Não é algo tão lucrativo assim, mesmo que os negócios do meu pai estejam indo muito bem. E o que eles pensariam se soubessem que minha família já passou tanta fome que até mesmo meu irmão mais velho morreu por causa disso? Foi bem antes de eu nascer, eu nunca passei fome, mas acho que meus pais não saem por ai esbanjando dinheiro por saberem como é ficar sem nada e acham idiotice desperdiçar com coisas fúteis, ou talvez por pensarem que ser perderem tudo de novo não será tão triste assim se não estiverem acostumados ao luxo. Acho que a segunda opção é mais válida, mas apesar disso nunca faltou nada para mim então está de bom tamanho, se eu preciso de dinheiro eles me dão, se eu peço algo eles me dão, se eu não estou feliz, eles pensam que é por alguma dessas duas coisas e me dão dinheiro também, não há o que reclamar, ou pelo menos não era para ter.

- Você está estranho hoje Jongin. – Sulli deu a cartada que eu estava esperando, e queria evitar o máximo possível.

- Acho que estou um pouco doente. – sempre jogar a culpa em doenças, quantas vezes já fiquei doente esse ano?

- Você é uma garotinha, se enfia em uma bolha meu camarada! – Gongchan fala, movendo suas mãos um pouco a cima de minha cabeça como se estivesse me cobrindo com algo, ele é muito idiota.

- Deixe ele em paz turchan. – Sehun dispara e Gongchan faz uma expressão irritada, ele odeia esse apelido.

- Não quer ir para a enfermaria? – Sulli se pronuncia novamente, fazendo-me fechar os olhos e respiro fundo sem chamar atenção.

- Não precisa, vou descansar um pouco. Não cubram minha falta, iram acabar se encrencando com isso. – falo enquanto me levanto e pego minha mochila.

Caminho em direção à porta sem dar mais nenhuma explicação e saio daquele lugar cheio de gente, personalidades diferentes e máscaras que parecem coladas. Andar sem rumo pela escola não é algo muito legal de se fazer, afinal o que espero encontrar aqui? A resposta para minha agonia? Acho que a única resposta plausível que irei encontrar é me jogar do terraço. Talvez eu devesse ir para lá mesmo, ou talvez parar com todos esses talvez e dar um rumo a minha vida, de alguma forma. Não deve ser tão difícil assim fazer isso.

Sento-me em um canteiro que há atrás da escola, aqui a brisa bate mais forte e o céu é bem nítido. É uma das poucas coisas que eu gosto, essa imensidão azul, tão alto, tão forte, tão livre, tão incomparável. Não há nada igual ao céu, talvez o mar, e talvez seja por isso que as pessoas falam tanto que eles são amantes, o fato de eles serem tão imponentes faz com que as pessoas acreditem nisso. Mas o céu ainda é maior que o mar, e por isso estão separados, no fim o mar ainda é impotente diante da imponência do céu. O mar nunca ficara com o infinito, não importa o quanto ele se expanda.

Acho que sou um pouco como o mar, não importa o quanto eu cresça, me esforce ou me alto satisfaça, jamais alcançarei o infinito, é impossível, então é mais fácil deixar tudo cinza como está agora. Dói menos. Essa é a minha resposta.

Sou tirado de meu transe por um barulho de graveto sendo esmagado, pensei que todos já estivessem indo para a classe, não é muito comum os alunos daqui fugirem das aulas. Mas que mal há se mais alguém quer fazer isso? Contando que o dito cujo não me perturbe ele pode ficar onde quiser.  Um garoto aparece diante de minha visão, não é muito alto, talvez um palmo ou mais baixo que eu, e eu não sou tão alto assim. Seu cabelo é pouca coisa mais curto que o meu, e tem um tom castanho tão lindo, o que deixa os fios bagunçados mais atraente do que esquisito, a franja caída e grudada sobre a testa revelando sua fase logo abaixo. Seu rosto está com manchas de sangue, que pude perceber que era de cortes em sua boca e em sua sobrancelha, a manga de sua blusa também está muito manchada com o tom escarlate e suas calças sujas. Ele chora silenciosamente, apenas as lágrimas escorrendo sobre as bochechas, mas é possível ver a dor que estava sentindo, e não me refiro apenas à dor física que de certo sentia também. Os olhos dele se encontram com os meus, e por um segundo pude jurar que o tempo parou, meu coração começa a disparar gradualmente, aqueles olhos são tão penetrantes, tão negros, tão vazios. Sinto uma vontade enorme de me aproximar, mas minhas pernas estão congeladas, o jeito que me olha não me permite mover um milímetro de qualquer parte de meu corpo.

Então seu olhar se desencontra do meu, e ele se apoia em uma árvore que estava por perto, e seu corpo desliza vagarosamente até tocar o solo, e uma expressão de dor é bem nítida. Ele fecha os olhos e respira fundo, levando as palmas até a face cobrindo-a parcialmente. Só então tomo coragem e consigo me levantar, dando um passo de cada vez como se estivesse aprendendo a andar agora, ou como quando alguém curioso quer se aproximar de algo perigoso, mesmo sabendo que iria acabar morto. Era exatamente assim que eu estava me sentindo. Chego perto do corpo imóvel e me abaixo, deixando nossas cabeças pareadas, e ele retira as mãos de seu rosto e me encara novamente, sinto um tremor percorrer meu corpo. Aqueles olhos...

- Desculpe, mas estou cansado demais para divertir você também, já tive o bastante por hoje. – sua voz saiu ríspida, mas mesmo assim suave. Um timbre tão lindo, e de repente pude ver mais do que apenas cinza, uma cor linda.

Não pude responder aquilo, não conseguia falar, como se minhas cordas vocais tivessem sido arrancadas. E mesmo que conseguisse falar, o que diria?

- Olha... Poderia, por favor, parar de me olhar? Só faz eu me sentir pior. – sua voz dessa vez foi mais baixa, o tom de suplica de cortar qualquer coração.

Ele solta uma risada resignada vendo que continuo do mesmo jeito, e é quando percebo que devo estar parecendo um maluco obsceno. Movo minha mão para dentro de minha blusa calmamente, na tentativa de não assusta-lo, como se isso fosse adiantar alguma coisa, ele não é um cachorro ou qualquer coisa do tipo afinal. Alcanço um lenço no bolso de dentro e o retiro, e sua expressão muda de dor e cansaço para completa dúvida. Estico o lenço em direção a seu rosto esperando ele desviar e gritar comigo, mas ele fica parado, os olhos arregalados fixados em minha face, o que está me deixando nervoso e até posso sentir minha pele esquentar, mas não paro o que estou fazendo. O tecido finalmente alcança sua pele alva, e mesmo através dele posso sentir o quão quente ele está, talvez seja culpa do sangue, ou medo, ou vergonha, afinal aquela cena não era algo muito normal. Esfrego cuidadosamente o liquido de seu rosto, algumas partes já secas e coaguladas são mais difíceis, mas eu tento ao máximo sumir com todo aquele vermelho. Não obtive sucesso completo em deixar sua pele completamente branca novamente, mas ao menos a situação parecia “menos pior” por assim dizer.  Tento retirar minha mão, mas ele coloca sua mão sobre a minha e a aperta contra seu rosto, parecendo desesperado por um toque de carinho, como se não sentisse isso há muito tempo. A pele quente, molhada, macia. Não sinto nenhuma vontade de desfazer esse toque.

Mas a mancha vermelha em sua manga me deixa inquieto, quero ver o que há ali. Solto minha mão da dele, e ele volta a cobrir o rosto. Pego no braço onde a mancha está e a puxo para mim, sua mão livre começa a tremer, me deixando mais inquieto ainda, e entendo o motivo do tremor assim que dobro a manga até o cotovelo. Uma marca foi feita em sua pele, a causadora de todo aquele sangue, e apesar de falhada e irregular entre cortes mais profundos e mais rasos, a palavra que queriam deixar era bem nítida: “gay”. O garoto olha fixamente para a marca, soluços escapam de sua garganta, as lágrimas escorrem mais grossas e mais pesadas. Minha respiração está descompassada, meu coração bate mais forte chegando até a machucar, quem quer que tenha feito isso não tem direito de ser chamado de racional, não pode ser chamado de humano. Olho para o rosto do garoto, seu lábio inferior treme tentando controlar os ruídos do choro e ele já não olha mais para a ferida, está cobrindo seus olhos com a mão livre com o rosto virado para o outro lado, parecendo sentir repulsa daquela palavra. Num impulso me jogo contra seu corpo e o abraço forte, não sabia e muito menos queria pensar no porque estava fazendo aquilo, só senti que aquilo era o certo. O cheiro, o seu cheiro, era tão bom. O cheiro de suor misturado a algo doce, que nem mesmo o cheiro de sangue foi capaz de apagar.

Não sei quanto tempo passou até que ele parou de chorar e se soltou de mim, empurrando-me  um pouco para trás, as bochechas e os olhos tão vermelhos, e pode parecer estranho, mas foi a cena mais linda que já vi em minha vida.

- Obrigado... – o pequeno garoto fala, levanta-se e segue cambaleante para outra direção, sem dizer mais nada, sem demonstrar mais nada, sem olhar para trás. Andando sozinho, sem rumo, sem direção.

E eu fiquei aqui, observando-o se afastar, ainda sentindo o seu cheiro, sua pele quente.

Não é a primeira vez que o vejo, parando para pensar já o trombei várias vezes entre os corredores da escola, mas nunca o notei. Então por que agi assim agora? Qual é o meu problema? O que deu em mim?

Ele já não está mais à minha vista, mas eu ainda o enxergo, eu ainda o sinto, eu ainda o quero abraçado a mim. Será que é isso que chamam de amor à primeira vista? Que idiotice, logo eu, o maior problemático e cético sobre tudo, terei me apaixonado a primeira vista? Ainda mais... Por um garoto? Não, não, não. Eu apenas senti compaixão por ele. Mas, aqueles olhos... São os olhos mais lindos que já vi. Ele por inteiro para dizer a verdade. E eu não fui capaz de dizer uma palavra, isso sim foi idiotice.

Não sei se irei conseguir esquecer sua imagem tão cedo. A pele alva, olhos vazios, alma forte. Ele é a minha resposta, agora basta achar a pergunta para completar esse enigma. E pode parecer estranho, mas nem tudo agora está tão cinza.


Notas Finais


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Desculpe qualquer erro de português, eu reviso, mas sempre passa algo para nos fazer passar vergonha.


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