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História My Answer - Game


Escrita por: livealasca

Notas do Autor


Aqui está mais um capítulo.
Estou me esforçando bastante para conseguir cumprir fielmente as datas.
Espero que gostem.
Enjoy.

Capítulo 7 - Game


Fanfic / Fanfiction My Answer - Game

 

 

Game.

 

 

Quase duas semanas se passaram desde nosso último contato, a última conversa que tivemos fica se repetindo em minha mente me torturando profundamente. Estou ficando cada vez pior, não consigo dormir direito à noite pensando nele, e quando consigo cochilar entre as aulas ele invade meus pensamentos de novo, é cansativo, é chato. Eu mesmo não estou mais me aguentando, vejo que estou me desgastando a toa, mas não consigo evitar. Meus amigos não percebem o quão acabado estou por causa da máscara que coloquei, sorrio mais, converso mais, parei de ser tão ignorante com Sulli, mas tudo isso só me faz ir mais fundo, é difícil fingir que está bem quando não está, mas quero impedir perguntas desnecessárias. Apesar de meu esforço para parecer bem, minha aparência não colabora muito com meu disfarce, minhas olheiras estão mais fundas e escuras pela falta de uma boa noite de sono, estou mais magro... A anemia me ajuda a me safar de explicações. Comecei a me tratar novamente, quase todos os dias a enfermeira me faz ir até a maldita enfermaria para me examinar, será que ela desistiria se eu dissesse que estou pouco me lixando para a porcaria da anemia? Talvez valha a pena tentar, mas não vejo um motivo para não aceitar sua ajuda, é uma escolha dela e também me distrai quando estou com lá, não para de falar e dar sermões, é um dos poucos momentos em que minha mente fica limpa. Em casa minha irmã fica pegando no meu pé para eu comer direito e tomar os remédios, ela não me perguntou nada mais sobre Kyungsoo, mas eu sei que ela percebeu algo errado, ela me conhece melhor que eu mesmo. Heera também está tentando me ajudar, acabou se tornando minha confidente quando em um momento de desespero precisei desabafar e lhe contei um pouco da minha situação um tanto alterada, agora vive tentando levantar o meu astral e me dizendo para partir pra outra. Mal sabe ela que eu queria mesmo conseguir fazer isso.

Às vezes me pego comparado a mim mesmo, o eu de antes de conhece-lo e o eu depois de conhece-lo, e a conclusão que cheguei não é muito boa. Antes eu era vazio, não enxergava graça em nada, apenas esperava o dia de minha morte. No meu estado atual, não mudei muito, só que agora tem uma dor lacerante que domina meu peito e por mais que eu tente me recuperar, por mais que eu diga o quanto é ridículo tudo isso, eu não consigo. Eu o vejo às vezes pela escola, quando os “alta classe” raramente visitam aqueles que chamam de pobres, ou então nas reuniões para o festival, e todas as vezes que ele aparece diante dos meus olhos meu coração dói e me falta o ar, minha mente não funciona, simplesmente se apaga e não consigo desviar o olhar, parece que só de eu olhar um milésimo de segundo para o lado ele irá desaparecer. Mesmo que ele me ignore, mesmo que desvie o caminho quando me vê, ou prefira ficar em pé ao sentar ao meu lado, não quero que ele desapareça, e isso me transforma em um doentio fixado em olha-lo, mas não me importo. 

- Jongin, acorda. O professor chegou! – Sulli toca em meu braço me balançando, sinto uma vontade de bater em sua mão, são preciosos os momentos em que consigo dormir.

Ergo a cabeça e a encaro, minha vontade é de dizer foda-se, mas estou tentando melhorar com ela. Espreguiço-me e me escoro no apoio da cadeira, fito o quadro negro a frente lotada de lição da aula anterior, cuja eu dormi metade do tempo. O professor apaga a lousa habilmente e começa a falar sobre sua matéria, não gosto das aulas de coreano, já sabemos nossa própria língua então por que temos que estuda-la até nos formarmos? Meus olhos pesam, mas a minha mente não me permite dormir de novo, eu quero matar a Sulli.

- Não se esqueçam do trabalho em dupla, é para daqui a duas semanas, vale metade da nota! – o professor nos lembra. Solto um suspiro pesado e massageio minhas têmporas, esqueci completamente desse trabalho e acho que não tenho mais tempo para arranjar uma dupla... Bom tanto faz, prefiro fazer sozinho mesmo.

- Eu coloquei seu nome como minha dupla espertinho, não vai escapar dessa. – Sehun tenta sussurrar para mim e novamente massageio minhas têmporas, acho que prefiro fazer o trabalho com Gongchan ao invés de Sehun, ele é chato com esses assuntos.

O dia segue como sempre, com as mesmas pessoas, mesmos lugares, só que ao invés de cinza, está uma cor mais escura, esquisita, nojenta. Não sei se há um nome para essa cor, mas com certeza é algo que ninguém gostaria de ver. Sehun pede para que comêssemos a fazer o trabalho hoje, sua dupla inicialmente era Go Ahjong, com certeza ele percebeu que eu havia me esquecido e trocou de dupla na última hora, eu deveria agradece-lo, mas não tenho vontade alguma de fazer isso, tentei fugir com a desculpa de dor de cabeça, mas ele me entupiu de remédio e ficava perguntando de cinco em cinco minutos se já havia passado. Quando o sinal para podermos ir embora toca mal tenho tempo de pegar minha mochila, Sehun sai me arrastando pelos corredores até a biblioteca, temos que fazer a biografia de algum escritor coreano mundialmente famoso e nem sei se há um que tenha chegado tão longe assim. Sentamos perto a janela por insistência minha, pelo menos poderia de vez em quando me perder em pensamentos olhando para o céu, não que ele fosse deixar isso acontecer, mas vale a pena tentar. O prédio dos classe média é maior que o outro, já que tem mais pessoas nessa classe, então pela janela da biblioteca dá para ver o telhado do prédio da alta classe e da turma avançada, que é quando escolhemos se queremos fazer alguma aula extra durante o ensino médio como música, artes cênicas ou matemática, geralmente quase todos os alunos que escolhem entrar para a turma avançada vão para a música na esperança de serem lançados como ídolos, pura besteira. Metade dessas pessoas só desperdiçam suas vidas.

Sehun se concentra em um livro procurando por algo interessante, eu preferiria usar a internet, mas ele diz que nos livros captamos essências que a internet deixa a desejar, então não me resta outra escolha a não ser ficar enfiado aqui enquanto poderia estar dormindo.

São quase cinco horas e começa a escurecer mais rápido, acho que uma chuva está por vir. Fico me perguntando quanto tempo teríamos que ficar aqui, a escola é o último lugar em que eu quero ficar por mais tempo que o necessário, mas pela expressão de Sehun isso vai longe. Pego um livro e começo a folear, literatura é tão chato, tão monótono, não sei como alguém se interessa por isso. As letras a minha frente parecem se fundir, a escrita coreana é complicada, sempre me perguntei o motivo de o mundo todo não falar a mesma língua, escrever com os mesmos caracteres, seria tão menos complicado, tudo seria tão mais “mundial”, mais universal. Nada de perder sua vida aprendendo outra língua, algo que é bem cansativo, falo isso pelas aulas de inglês, não que eu seja ruim, eu sei falar inglês, mas é bem chato ter que aprender. Desisto cinco minutos depois de iniciar a leitura, não estou a fim de fazer isso hoje nem em dia nenhum. Olho pela janela na esperança de me entreter, mas o céu está ficando tão fechado que sinto a melancolia em meu interior aumentar, mesmo assim não consigo desviar o olhar.

- Jongin acho que não vai encontrar nada gratificando para o trabalho lá fora! – Sehun infelizmente lembrou-se de minha existência e resolveu me encher o saco.

- Você não sabe, vai que um dos grandes escritores aparece ali, ai é só nós o entrevistarmos. – zombo sem humor nenhum e claro que ele não achou graça nenhuma também.

- Dá para levar isso a sério? Vale metade da nota! – ele aumenta um pouco a voz e consegue me fazer fita-lo, um pouco com raiva.

- Não pedi para você fazer comigo, me colocou junto porque quis! – retruco no mesmo tom que ele e posso perceber o ódio em seus olhos.

- Seu animal, eu sou seu amigo! Queria te ajudar! – ele grita, e sinto uma onda de raiva percorrer meu corpo.

- Você não me perguntou se eu queria ajuda! – grito de volta e ele fecha o livro com força.

- Vocês dois, façam menos barulho. Isso aqui é uma biblioteca! – a garota que cuida da biblioteca quando a bibliotecária não está ralha conosco, fazendo-nos voltarmos a nós.

Sehun abre o livro novamente, mas sei que não está lendo, ele sempre faz alguma coisa do tipo quando está bravo, finge estar fazendo outra coisa enquanto remoí o que lhe causou transtorno. Sinto-me mal por ter falado desse jeito com ele, Sehun sempre me ajuda desde que nos conhecemos e eu nunca lhe agradeci. Não sei como ele aguenta meu gênio, eu teria desistido há muito tempo.

- Sehun... – o chamo baixinho, quase num tom de manha, mas ele me ignora. – Sehuuun... – o cutuco com os dedos e ele bufa, mas finalmente me olha. – Desculpa. – faço um bico, o que arranca um sorriso forçado dos lábios dele.

- Você é um grande babaca. – ele fala baixo, tentando manter a pose de bravo.

Por algum motivo ele nunca conseguiu ficar muito tempo bravo comigo, desde que nos conhecemos em uma festa onde nossos pais eram amigos dos anfitriões e fomos obrigados a ir, acabamos nos tornando amigos por puro tédio, mantivemos contado desde então e acabamos na mesma escola. Sehun volta sua atenção ao livro enquanto eu o observo, ele é o único que eu não tive medo de estar por perto apenas por interesse, sei que os outros são, mas ele não. Talvez nossa relação seja do tipo que podemos chamar de melhores amigos, mas nada concretizado com palavras.

- Sehun. – o chamo baixo, mas ele continua concentrado no livro, me respondendo com apenas um “hum”. – Você já se apaixonou? – não pensei muito para falar, as palavras simplesmente pulam de minha boca como se eu estivesse planejando aquilo há muito tempo. O livro cai de suas mãos.

- Isso é uma pergunta que se faça? – ele está visivelmente envergonhado, mas eu estou cansado de não falar sobre isso, quero ter um amigo que não seja a Heera com quem eu possa desabafar, mesmo que eu minta em algumas partes.

- Nós somos amigos há um tempinho Sehun e eu não sei quase nada sobre você, só algumas manias estranhas.

- E precisa saber sobre isso?

- Sim. – tento forçar uma expressão mais suave, mas estou tão agoniado que meus lábios não conseguem formar nem a sombra de um sorriso.

Ele olha para cima, depois para os lados, inspira, expira, olha ao redor mais uma vez, até que se focaliza em mim com um olhar que me fez arrepender de ter feito essa pergunta.

- Tudo bem, eu te falo sobre isso, mas só se você me prometer responder uma pergunta depois. – eu estou realmente arrependido de ter perguntado, Sehun não é do tipo de pessoa que faz algo sem esperar nada em troca, mais cedo ou mais tarde ele sempre cobra o que lhe devem. E mesmo relutante eu aceito sua proposta. – Eu gosto da Sulli. – isso realmente me pegou de surpresa. – Eu fiquei com muita raiva quando ela se declarou para você, e eu tenho vontade de te socar quando é grosso com ela. Mas ela gosta de você e quer ficar por perto, e você é meu amigo, então não posso fazer nada.

Eu me senti mal ouvindo aquilo, sei que não tenho culpa de ela gostar de mim, mas consigo compreender os sentimentos de Sehun, gostar de alguém e não ser retribuído é o pior tipo de castigo que poderíamos desejar para alguém.

- Me desculpe. – foram desculpas sinceras, tenho vontade de dizer que irei ajuda-lo, mas se eu me meter provavelmente só iria estragar tudo.

- Não tem motivo para se desculpar, não é culpa sua. A não ser a parte de ser grosso e você deveria melhor isso, com todos seu ignorante. – apesar da forma séria como fala, e até um pouco grosseira, sei que é para meu bem que ele diz isso, não consigo nem me sentir ofendido. Ele me encara e cruza as mãos em cima da mesa. Seu olhar me dá calafrios. – Agora vamos ao que interessa meu caro... – ele apertar seus olhos, quase os fechando. – Qual a sua relação com Chanyeol e Kyungsoo?

Meu coração simplesmente afundou em meu peito, eu estava sentindo que seria algo relacionado a isso, a pergunta foi tão direta que nem mesmo uma mentira eu consigo inventar. Levo minhas mãos até a nuca e a esfrego, mordo meus lábios e passo a língua sobre eles, não sei como contar, nem mesmo como mentir, não consigo inventar nada para esconder e não consigo falar a verdade, eu tenho medo da verdade. Eu sei que ele está percebendo meu incomodo maior que o normal, mas se mantem impassível me fitando com intimidação, queria uma resposta e iria ter a qualquer custo. Desvio meu olhar para a janela a procura de uma resposta como se ela fosse cair do céu, mas tudo que vejo é um infinito cada vez mais escuro e o telhado do outro prédio. Por mais que eu quisesse virar e lhe cuspir tudo não consigo, meu pescoço parece ter travado naquela posição. Me concentro um pouco nos bancos que há sobre o concreto do outro lado esperando que ele desistisse, mas é claro que não ia, por isso não quero olha-lo, iria entrar em pânico. Uma movimentação estranha se faz presente no outro prédio, vejo uns garotos arrastando outro pelo corredor abaixo do telhado, estavam indo em direção a porta que os levaria para cima. Em menos de segundos a porta para o ar livre é escancarada e quatro garotos aparecem, três segurando o quarto pelos braços e pela cabeça, enquanto um quinto fecha a porta. Aquilo prende minha atenção, me fazendo esquecer de Sehun por completo. Forço minha visão para tentar focalizar e reconhecer alguém, e pela segunda vez meu coração afunda. O garoto arrastado era Kyungsoo.

Sem pensar nem ao menos uma vez me levanto de súbito e disparo para fora da biblioteca, escuto Sehun me gritar assustado, mas pouco me importo com isso. Minhas pernas se movem tão rápido chegando a me surpreender, meus pulmões queimam e estou só na metade do caminho, mas não posso me dar por vencido. Sehun me segue por caminho inteiro gritando para eu parar, e mesmo ignorado continua atrás de mim.

Finalmente chego ao outro prédio já quase sem ar, algumas pessoas que ainda estão por aqui me encaram assustadas, a maioria é do curso especial que tem mais aulas que nós.

As escadas massacram minhas pernas enquanto pulo os degraus para subir mais rápido, o último lance de escadas está mais difícil e também não tenho certeza do que irei fazer quando chegar lá, talvez apenas se eu aparecer eles parem o que estão fazendo ou talvez eu deva gritar para chamar a atenção de alguém, pensando melhor eu deveria ter chamado algum professor para vir comigo, eles seriam mais eficientes, mas não há tempo para voltar agora. Avisto a aporta que me levará até aquela seção de tortura e me choco contra ela para abri-la, meu ombro e joelho latejam de dor por serem os mais atingidos pela porta de metal e já quase não há ar em meus pulmões. O vento como sempre bate mais forte aqui em cima, isso me ajudar a respirar enquanto tento controlar minha vista para que se foque em algo. Todos me olham aturdidos.

- Olha só, seu namoradinho veio te salvar Kyungsoo! – sinto meu estomago embrulhar ao escutar aquela voz, o pânico se instaura... Eu estou com medo. Por mais que eu queira salvar Kyungsoo, eu sou fraco, tão fraco que chega a ser um absurdo. Sei que ele vai me bater, e muito. – Acho que ele precisa de mais do que lhe dei da última vez.

Seu punho veio de encontro com meu rosto me fazendo cambalear para o lado e cair no chão, automaticamente minhas mãos vão ao meu maxilar e o aperto, a sensação horrível que ele deslocou me assusta, e por sorte isso não aconteceu. Faço menção de levantar, mas ele me impede com seu pé atingindo minhas costelas. Sinto vontade de chorar, mas não pela dor e sim por eu não conseguir reagir. Talvez Kyungsoo esteja certo, talvez eu deva realmente ficar longe dele se não irei conseguir protege-lo, só seria um estorvo.

- Agora fique quietinho ai enquanto eu termino com nosso amiguinho ali. Depois me concentro em você. – Chanyeol dá uns tapas em minha bochecha enquanto fala, se levanta e vai de encontro a Kyungsoo.

Ele está desesperado, solta urros ao invés de gritar por causa de uma fita em sua boca, seus olhos estavam arregalados e do mesmo jeito de quando o encontrei na rua, frenéticos e escuros. Ele se debate nos braços dos outros três, mas nada consegue fazer, são todos maiores e mais fortes que ele. A manga de sua camisa está torcida até seu cotovelo, me lembrei que dá primeira vez que o encontrei ele tinha um machucado naquele braço, quando ele ficou em casa a marca já tinha desaparecido quase que por completo, não dava mais para ler o que havia escrito antes. Um dos garotos segura seu braço bem esticado o mantendo reto enquanto Chanyeol retira de seu bolso um canivete pequeno apontando para Kyungsoo e estala a língua enquanto se aproximava.

- Nossa, já está praticamente cem por cento, mas que coisa Kyungsoo passou alguma coisa para cicatrizar mais rápido? Que feio, acho que terei que fazer algo mais fundo dessa vez. – ele passa a lâmina superficialmente na bochecha de Kyungsoo e o mesmo o acerta com um chute no joelho, deixando o mais alto com raiva que o acerta com um soco no estomago.

Eu tento me levantar, mas minhas pernas fraquejam. Eu estava com medo antes, mas agora tudo que consigo sentir é raiva. Eu quero espanca-los até que não respirem mais e quero me espancar por ser tão inútil ao ponto de ver fazerem essas coisas com a pessoa que gosto e não conseguir ficar em pé. Chanyeol segura os cabelos de Kyungsoo e puxa sua cabeça para trás, diz algo que eu não consigo escutar e leva a lâmina até o braço que havia ferido antes. Ele aperta a ponta afiada contra a pele branca e Kyunsoo urra mais alto. Meu coração e minha respiração começão a acelerar de forma assombrosa, sinto cada músculo de meu corpo latejar e relaxar ao mesmo tempo, e quando escuto mais um grunhido de Kyungsoo me levanto.

Tudo fica escuro.

xXx

- Para Jongin! – alguém grita e me desperta. Acho que desmaiei com o estresse que passei, mas por que a pessoa está gritando para e não acorda?

Aos poucos minha visão volta ao normal e a cena mais estranha da minha vida surge diante de meus olhos. Estou segurando Chanyeol pelo colarinho, seu nariz escorre sangue e há cortes em sua boca, outros dois garotos também estão machucados, um deles jogado ao chão apertando suas costelas, o único que não esta machucado se encolhe em um canto parecendo querer se proteger. Minha mão lateja e olho para ela, está toda cortada e vermelha, alguns pontos já ficando roxo. Eu fiz tudo isso? Olho assustado ao redor e vejo Kyungsoo de joelhos no chão chorando, seus olhos fixos em mim.

- Jongin solte o Chanyeol, por favor. – um homem fala atraindo minha atenção. É um professor, ele está a uma distancia razoável e as mãos esticadas me pedindo calma. Sehun está bem atrás dele me olhando assustado.

Solto o garoto com desespero e ele bate no chão com força. Cambaleio para trás com as mãos puxando meus cabelos tentando entender o que aconteceu, mas nada vem a minha mente. Puxo o ar com força de forma ritmada para me acalmar, o que funciona para minha surpresa. Me viro e vou direção a Kyungsoo, seus olhos arregalados com as lágrimas escorrendo logo abaixo deles me fazem vacilar, talvez ele esteja com mais medo de mim agora. Me agacho a sua frente e tento toca-lo, mas ele se afasta encolhendo os ombros e o pescoço.

- Vai ficar tudo bem agora. – falo baixo para que apenas ele escute e puxo a fita com cuidado de sua boca.

Sua respiração está pesada e mesmo que ele estivesse com medo do que fiz, seu medo daqueles garotos era maior fazendo-o pular em meus braços e me abraçar deixando as lágrimas caírem sem vergonha alguma.

- Sehun leve aqueles dois para a enfermaria do prédio de vocês, eu irei cuidar desses quatro. – o professor se aproxima de Chanyeol para ver o quão machucado está e apesar de eu estar assustado de ter feito aquilo, quero que ele esteja mal o suficiente para não levantar por um bom tempo.

Sehun coloca a mão em meu ombro me pedindo para levantar e a contragosto eu afasto Kyungsoo e o ajudo a levantar, seu corpo está duro e anda de forma mecânica apoiando em meus ombros. Conforme andamos as minhas dores começam a incomodar, meu maxilar e minhas costelas alternam as pontadas de dor, minha mão fica cada vez mais inchada e roxa. Quando chegamos à enfermaria não é a “minha enfermeira” que está lá, é uma senhora que entra depois do turno de Kanghee até os alunos do curso avançado serem dispensados, apesar de eles serem do outro prédio às vezes a enfermaria de lá não dá conta de todos os alunos que se machucam treinando. Ela se assusta ao entrarmos, acho que nunca recebeu duas pessoas tão esfarrapadas igual a Kyungsoo e eu, sorte a dela que não terá que ver a situação dos outros. Ela tenta me atender primeiro, mas eu me recuso e peço para que atenda Kyungsoo primeiro, ele está com outros machucados  além do braço e aquilo me doía, demorei demais para vê-los, demorei demais para me mexer. A bondosa senhora nos deixou sozinhos na sala branca provavelmente para descobrir o que havia acontecido. Kyungsoo está na cama ao lado da minha, toma um remédio para dor e em seguida pega outro frasco de seu bolso e toma outro comprimido, provavelmente o é o remédio para dormir, e isso não me agrada nada. Quatro minutos foi o suficiente para ele se deitar e não se mover mais, não tive tempo nem ao menos de lhe perguntar se estava bem.

- Sabe que eu vou querer explicações não é Jongin? – Sehun me faz desviar o olhar do pequeno. Está sentado a frente da minha cama, os olhos ainda mostram o quão assustado estava.

- Eu não consigo lembrar o que fiz. – desconverso mesmo sabendo que não adianta.

- A enfermeira me disse que você teve um surto de adrenalina. É normal quando estamos em uma situação de alto estresse ou medo. – ele me explica, mas nada faz sentido. – Não faz ideia do quanto eu fiquei assustado e com medo, eu te chamei mais de três vezes e você não respondia. Se eu não tivesse chamado o professor acho que teria matado o Chanyeol de tanto bater! – ele esfregou a mão na franja suada e fitou o chão, me senti mal por tê-lo feito passar por isso, mas mesmo que tenha sido sem consciência, não irei me desculpar pelo que fiz.

- Você viu o que ele fez? – pergunto baixo e ele assente com a cabeça sem me olhar. – Você viu ele me bater e cortar Kyungsoo? – novamente ele assenti sem desviar o olhar do chão. – E porque só procurou ajuda quando eu me descontrolei?

- Eu fiquei com medo.

- Mas não ficou com medo quando eu estava batendo neles?

- Eu não sou como você Jongin, minha família não é rica igual a sua. Se eu me metesse em encrenca com aqueles caras eu seria expulso da escola, meu pai poderia perder o emprego e minha família ficaria marcada para sempre, é isso que acontece com alguém da classe média ou mais baixo se mete com os alta classe, eu não quero perder minha vida. – ele desabafa com raiva, tanto de mim quanto dele mesmo e me arrependo do que eu disse. Às vezes eu me esqueço que todos aqui não estão no mesmo lugar que eu por opção.

- Me desculpe. – o pedido sai baixo enquanto eu fito o lençol.

Ele não me respondeu, fito seu rosto para tentar decifrar o que pensava, mas ele olha para a janela impedindo-me de ver seus olhos. A porta é aberta e a senhora entrou chamando Sehun para a diretoria, eu já sabia que eu teria que ir lá, só não esperava que ele fosse metido nisso. Ele não me olha ao sair, parece tenso, provavelmente estava com medo de que sobrasse para ele e isso seria o fim. Eu quero me levantar e ir atrás dele, explicar o que aconteceu, mas provavelmente eu estar junto só traria mais problemas, caso contrario eu teria sido chamado também... Certo?

Deito-me na cama e cubro meus olhos com os braços, minha mente está a milhão e isso me incomoda, não gosto de pensar muito, não gosto de ter as mesmas coisas me assombrando repetidas vezes. Pensamentos e lembranças são venenos, nos infectam e mesmo que nos enganem como sendo algo bom, sempre nos deixa para baixo. Por isso não gosto de pensar muito, se eu pensar demais serei capaz de dar um basta em tudo.

Mas o que mais me irrita que coisas embaralhadas em minha mente é o fato de metade dessa bagunça é sobre Kyungsoo, e ele está do meu lado! Qual o meu problema? Retiro um dos braços de meu rosto e de canto de olho o fito, dorme tranquilamente, tão sereno que se não fosse os machucados jamais iria adivinhar que ele sofre, e tenho medo e raiva de imaginar quando ele transformou as horas de sono nos seus momentos de maior tranquilidade.

- Kim Jongin. – uma voz masculina atrai minha atenção para a porta. É o professor que nos ajudou. Ele entra e se senta na cadeira a minha frente, muitas pessoas estavam sentando naquela cadeira ultimamente. – Você sabe que se meteu em uma confusão e tanto não sabe?

- Sei. Mas eu não agi por besteira, eles estavam torturando uma pessoa! Eu só o ajudei. – rebato me defendendo, talvez assim eu consiga ajudar ao Sehun.

O professor solta um sorriso de deboche e joga a cabeça para trás aparentando estar mais cansado do que deveria realmente estar.

- Você é jovem, não entende o que está acontecendo aqui. Isso é jogo de adultos rapaz, você não deveria se envolver se não tem capacidade de chegar ao final. Não se envolva nos assuntos da alta classe, tudo aqui é resolvido através de dinheiro, se você não tem é eliminado sem rodeios.

- Não estou entendo onde você está querendo chegar. – eu na verdade estou entendo, acho que estou para ser mais exato, mas queria ter certeza.

- Eu irei lhe contar isso só por que aparentemente você não se importa muito com o que pode lhe acontecer. Esse dois tem uma longa história, não irei entrar em detalhes, mas o ponto principal é: Chanyeol faz essas coisas com o Kyungsoo desde que os dois eram do primeiro ano. E toda vez que ele machuca severamente Kyungsoo, seus pais se reúnem e tudo é resolvido através de acordos ou subornos, esse é o motivo de Kyungsoo não falar nada, não pode já que seu pai é pago pelo silêncio. Está entendendo onde quero chegar Kim Jongin? Você tem o que é necessário para comprar o silêncio do Chanyeol?

- Se ele não tem, eu tenho. – Kyungsoo fala assustando a nós dois. – Não deveria estar contando essas coisas para ele professor Byun. – o garoto ralha com a voz rouca e baixa, não sei há quanto tempo está acordado ou se em algum momento realmente chegou a dormir, mas a pior parte da conversa ele pegou.

- Estou tentando ajudar esse rapaz Do Kyungsoo. Não deveria estar me agradecendo por eu me preocupar com seu amigo?

- Ele não é meu amigo. – isso faz meu corpo inteiro doer, não basta eu ter apanhado, ele tem que bater em meu coração também. – Você fala demais professor, não se meta na minha vida.

- Não anda tomando seus remédios Kyungsoo? – o professor fica mais sério, seu rosto parece enegrecer, assim como Kyungsoo. Um pontada de inquietação me toma, será que o professor sabia dos remédios para dormir?

- Já disse que fala demais professor. Eu vou resolver as coisas assim que estiver melhor e você não terá nenhuma dor de cabeça, assim está bom para você? – Kyungsoo estava sem nenhum traço de humor, parecia simplesmente neutro.

- Faça como quiser, só estava tentando ajudar.

- Obrigado, mas você sabe melhor que ninguém que é inútil. – ele suspira, me olha rapidamente e desvia novamente para o professor. – Pode nos deixar sozinhos, por favor, acho que terei que explicar algumas coisas para ele já que você falou demais.

- Tudo bem, já disse para fazer como quiser. – o homem se levanta e se aproxima de mim, põe a mão sobre meu ombro e se inclina até estar perto de minha orelha. – Tome cuidado Jongin. Não entre no jogo deles. – ele sussurra tão baixo que eu quase não consigo ouvir, a inquietação se alastra por meu interior.

O professor se afasta e sai da sala sem nenhuma palavra, deixando-nos num silêncio perturbador e agonizante. Penso em quebrar o silêncio, mas o que eu deveria dize?

- Você de novo. – Kyungsoo desfaz o silêncio, a voz baixa e rouca. Não consigo dizer nada.

Ele se levanta e se aproxima da minha cama, faz um maneio limitado pela dor com a cabeça para que eu vá mais para o lado e demoro um pouco para ter reação, mas jogo meu corpo ficando bem na beirada, quase caindo do colchão. Ele se senta na outra beirada e parece pensar, logo suas pernas estão sobre o colchão e ele se aconchega ao meu lado, aninhando seu corpo ao meu. O cheiro dos seus cabelos chegam as minhas narinas me fazendo esquecer de tudo, o seu corpo quente junto ao meu me distraem do mundo, fazendo nada parecer ter importância, além desses toques.

- Você definitivamente é um anjo, e já te disse que uma pessoa como eu não merece isso. Mas acho que não tenho mais forças para te manter longe Kim Jongin. – ele passa os braços ao redor de meu corpo, com certeza se esqueceu que levei um chute nas costelas ou talvez nem tenha visto isso, mas seu abraço é tão bom que a dor não me incomoda. – Você é a única pessoa que eu não tenho medo de estar perto, eu quero ficar perto de você, eu quero me sentir seguro... Quando eles me pegaram, a única coisa que me veio a cabeça foi você, eu só conseguia pensar em você, queria que aparecesse e me salvasse igual às outras vezes... Desculpe-me pelo meu egoísmo. – seus sussurros fazem meu coração acelerar, ele aninha seu rosto em meu pescoço e se cala, uma atmosfera estranha nos rodeia.

- Eu vou te proteger Kyungsoo, mesmo que para isso eu precise entrar no jogo de vocês. Eu irei vencer, eu te prometo. – sussurro levando uma de minhas mãos aos seus cabelos os afagando. Tenho tantas indagações, tantas respostas que quero ouvir, mas assim como das outras vezes, não tenho coragem de dizê-la, tenho medo que ele fique bravo e se afaste. Força-lo a dizer algo não traria nada de bom, se um dia ele quiser me explicar, fará naturalmente sem eu ter que perguntar.

Ele solta um sorriso soprado, causando-me arrepio onde o ar bate e se aperta mais sobre meu corpo. Acho que finalmente as coisas estão se acertando, claro eu precisei quase matar uma pessoa para ele perceber que eu só quero seu bem, mas talvez tenha valido a pena. Só espero que ele não desapareça igual da outra vez, não iria suportar outra vez aquele buraco em meu peito.

Minha resposta, meu branco, minha tormenta, minha ressaca, e agora o rei do meu jogo. Não irei deixar nada te separar de mim, por que só posso ser completo com você. E que venha o que vier, no meu tabuleiro, quem ditará as regras será o amor que estou sentindo. 


Notas Finais


Se você gostou, deixe-me saber!
Até a próxima...


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