História My Darkness - Eu me sinto seguro com ele...

       Nós estamos ainda na estrada, já havia anoitecido e eu não fazia ideia que horas eram. Eu estou com medo ainda, não sei se Oliver e essa mulher são confiáveis, mesmo sendo eles que aparentemente me salvaram. Meus pais… estou com medo de nunca mais ver eles, ou nunca mais escutar eles me dando sermões. Sinto meus olhos marejarem, é melhor eu não pensar nisso por agora, se não vou voltar a chorar e não quero parecer um bebezão.

  —O-Onde estamos indo...? — Eu falei tão baixo que saiu como um sussurro.

  —Para a minha casa. Lá você estará seguro... por enquanto. —Foi Oliver que respondeu, ele aparentava estar cansado. Em resposta apenas murmurei um “ok” .

Monstros… magia… coisas sobrenaturais... pactos. Nunca pensei que isso seria real, eu definitivamente queria que isso fosse um pesadelo terrível.

  Encostei minha cabeça na janela, meus olhos estavam se tornando pesados, e assim adormeci.

   Eu estava em um campo aberto, havia flores ao meu redor. O sol brilhava. O som dos pássaros era como um calmante. Ao longe pude ver minha mãe e meu pai. Eles estavam dando as mãos. Ambos sorriam para mim, pareciam felizes. Automaticamente meus olhos se encheram, e as lágrimas corriam livremente pelo meu rosto agora. Sorri.

  —Mãe! Pai! — Gritei correndo até eles, mas quando estava perto deles, eles sumiram.

   E quando dei por mim, o lugar que eu estava era apenas escuridão.  Só uma luz vinha de cima de mim, como um holofote. E eu me encontrei sozinho. Apenas eu e a escuridão. Cai de          joelhos e meus olhos encararam o chão. As lágrimas saiam pelos meus olhos sem permissão. Eu sentia frio e um vazio em meu peito. Sentia-me sozinho.

 —Foi sua culpa. — Uma voz grossa diz, e se fez presente uma sombra negra em minha frente.     —Seus pais morreram por sua culpa.

 —Não... n-não foi minha…c-culpa. E eles não morreram. — Encarei raivosamente a sombra.

 —Oh, morreram sim. E você sabe disso. Sabe também que fora sua culpa!

 Eu negava com a cabeça repetidamente, ainda chorando.

 —Foi sua culpa! Sua culpa! SUA CULPA! —Aquela voz gritava mais alto.

 —Pare! — Eu tampei meus ouvidos, mas era insignificante, pois a voz monstruosa ainda era ouvida mesmo abafada. Fechei meus olhos.

 —VOCÊ NUNCA MAIS IRA VÊ-LOS. POR. SUA. CULPA!

 —CHEGA! PARE! POR FAVOR! —Eu implorava, chorando desesperadamente, soluços escapavam pela minha garganta. Ainda com os olhos fechados.

 —Alex?

 —P-pare — Minha voz estava rouca de tanto gritar que havia sido um murmúrio.

—Alex!

—PARE!

  E de repente quando abri meus olhos eu estava em um quarto na cama, nos braços de Oliver que me olhava preocupado.

 —Até que enfim você acordou, você estava gritando para parar e estava chorando, fiquei preocupado. — Ele passou o dedo abaixo dos meus olhos, secando algumas lágrimas que nem percebi que haviam saído.

 —Ei me diga… meus pais, eles… eles morreram? — Minha voz estava trêmula.

 Sua postura se tornara tensa.

 —Não pense nisso ag-

 —Não! Eu... preciso saber...— Minha voz estava ficando embargada. Eu já sabia a resposta. Mas precisava da confirmação de alguém.

 —Sim. —Ele disse firme. Mas sua expressão se tornara arrependida quando me viu abaixar a cabeça.

 Eu sabia. Sempre soube na verdade, mas era mais fácil imaginar que eles estavam vivos.

  Eu queria gritar até minha garganta doer, chorar até doer minha cabeça. Mas não fiz. Reprimi todas as lágrimas que teimavam cair.

—Ei tudo bem, pode chorar se quiser. Estou aqui. — Ergui meu olhar para ele que estava com os braços abertos, convidando-me para abraça-lo.

  Sem hesitar o abracei desesperadamente, me permitindo chorar inalando seu cheiro. Ele afagava meus cabelos enquanto murmurava um "Tudo vai ficar bem, você está seguro comigo.”

           Porque eu me sentia seguro com ele?

                         Visão de Oliver.

   Alex havia adormecido enquanto estava em meus braços, o coloquei na cama e me sentei na cadeira ao lado. Permiti-me sorri enquanto admirava seu belo rosto, ele fica melhor dormindo, com essa expressão calma e relaxada, sem aquela expressão de culpa ou pesadelos.

    Confesso que tenho certa empatia com ele. Afinal, acompanhei sua vida toda, mesmo só observando. Lembro-me quando ele tinha mais ou menos uns nove anos, um garotinho estava mexendo com ele na escola. Mesmo o garoto o ofendendo, Alex não revidava. Ele ficava indiferente. Mas quando o garoto passou a mexer com um menino mais indefeso, ele o defendeu com unhas e dentes. E Isso me encantou, era tão pequeno, mas tão bondoso e forte. Desde então passo a olhar cada passo que ele dava. Em seus momentos tristes e felizes, eu estava lá. Acho que com isso passei a nutrir um sentimento de protegê-lo a todo custo.

—Você gosta mesmo desse garoto não é? —Nyara apareceu na porta.

—Sim… bem o que vamos fazer agora?

—Ele acabou de descobrir que seus pais são outros, e os que ele achava que eram morreram. Sem falar em que seres de outro mundo existem. Dá um tempo para ele.

—Eu sei, estou falando de Elijah. Você acha que ele sabe onde Alex está?

—Talvez, não faço ideia. Sabe como ele é imprevisível. Você vai contar para Alex o que ele é?

—Vou. Eu devo, se ele souber que tem poderes, talvez ele pode se defender caso ocorrer alguma coisa.

A ruiva riu. A encarei sério.

—Desculpa maninho, mas só se você ensina-lo. Duvido muito que aprenda a controlar o poder sozinho.

—Eu estava pensando nisso mesmo. — Digo me levantando, estou bastante cansado.

—Vou dormir, amanhã converso com ele. Boa noite, maninha. —Vou até ela e beijo sua testa.

Caminho até meu quarto e deito em minha cama, deixo o sono me levar.