História My Dear Angel - Edgar Allan Poe

Angelina's P.O.V - 3 anos antes

-Droga!

Reclamo ao tropeçar em um galho estirado no chão, escondido entre as folhas. Odeio quando somos forçados a ir à florestas. Claro, que essa não é exatamente uma mata selvagem, é uma área de camping, mas ainda assim é extremamente incômodo e inoportuno. Além disso, por ser inverno (ainda mais na Inglaterra) as florestas não são exatamente um lugar agradável de se estar por causa da umidade do ar, que torna tudo ainda mais frio. Um vento cortante e gelado bate contra o meu corpo, fazendo eu me encolher na blusa fina. Por que eu nunca lembro de trazer um casaco? Bufo mal humorada até que sinto algo contra os meus ombros, me assustando. 

-Não trouxe casaco de novo, Morelli?

Lee pergunta com seu típico sorriso charmoso. Tudo nele o fazia ser extremamente atraente. Sua simpatia, seu cavalheirismo, suas covinhas...Ainda me lembro da vez que resolvemos um caso em uma faculdade, e as garotas fizeram cartazes pra ele, pedindo que ele ficasse lá. Patético. Por algum motivo que eu não consigo entender, ele tem uma queda por mim. E o mais estranho é que eu não consigo gostar dele amorosamente falando. Ele é um bendito Príncipe da Disney e eu não consigo gostar dele. 

-Feliz aniversário, pequena. -Me abraça de lado, me permitindo sentir seu cheiro, muito bom por sinal. Uma caixinha lilás é estendida pra mim, e pelo embrulho precário eu consigo dizer que ele foi o autor. Sorrio e a abro, me deparando com um livro. Contos de Terror e Mistério -Edgar Allan Poe.

-Eu não acredito nisso. -Rio e dou um empurrão de leve no seu ombro, o fazendo me acompanhar na risada.

Vou esclarecer pra vocês. Semana passada, estávamos conversando sobre esteriótipos, e ele usou uma metáfora. "Existem dois tipos de mulheres", ele disse. "As que leem John Green e as que leem Edgar Allan Poe. É simples, Lena.". Quando eu perguntei a ele qual tipo eu era, ele apenas sorriu, como se fosse óbvio. Eu pertencia as que leem Poe. Ainda que só tenha lido algumas histórias aleatórias dele. Admito que não sou uma leitora assídua dele, prefiro Stephen King, ou Lovecraft, mas não classificaria seu trabalho como ruim ou simplório. Me deixa feliz que ele tenha lembrado. 

-Tem uma dedicatória maravilhosa que eu mesmo escrevi. Você vai gostar.

-Garanto que sim. -Sorrio e ele umedece os lábios, olhando pra baixo. Quando seu olhar levanta, e encontra o meu, ele se prepara pra falar algo, mas somos interrompidos por algo. Ou melhor, alguém. 

-Angel! Ai você está! Você vai adorar isso! -Ian aparece e eu olho pro Lee como se pedisse desculpa, o que ele apenas concorda. Sigo Ian até aonde os corpos estavam e paro ao vê-los. 

É simplesmente lindo. 

Um casal estava de joelhos. A moça estava com as costas mutiladas formando asas. O rapaz, tinha os olhos arrancados, e a pele de suas costas também foram arrancadas, mas para formarem chifres.  Olho pro Ian que parece entender meu recado, porque tira todos do local, me deixando sozinha com os corpos. Dou mais alguns passos até chegar perto o suficiente pra poder analisá-los. Não eram cortes limpos, mas ele sabia manusear facas. Provavelmente um açougueiro ou estudante de medicina. Alguém sem experiência cirúrgica. 

Me afasto e fecho os olhos, então na minha mente se forma a imagem que está à minha frente. Está na hora de contar. 

Um, os dois estão como estão. 

Dois, suas costas estão intactas, mas eles ainda estão mortos. 

Três, os dois estão vivos. 

Ando até os dois e olho pra faca de caça na minha mão. Eu sou um caçador, e encontrei esse casal na mata. Ele é um demônio e ela é o anjo. O rapaz está fazendo algo ruim com ela. Eu tenho que impedir. O ataco, mas a garota começa a gritar loucamente, então a mato também. Mas não posso deixar os dois assim. Deus não ia me perdoar. Preciso mostrar ao mundo o quanto ela é pura, e o quanto ele é cruel. Então eu dou a redenção a ela e o condeno ao inferno. Agora eu me sinto como Deus. Agora eu me sinto completo. Agora eu...

-Morelli! -Ouço a voz de Ian e abro os olhos, cambaleando levemente. Ele me segura e eu me estabilizo, agradecendo com um sorriso fraco. -Tudo bem? O que você viu? 

-É um caçador. O casal brigou e ele matou o rapaz, a garota interviu e ele a matou também por desespero. Procure por alguém que passe sempre por aqui. 

Minha cabeça começa a latejar e meu corpo esquenta, então deixo o Ian falando sozinho enquanto eu volto pro carro. Seria muito bom se eu soubesse o caminho. Vou pisoteando as folhas com dificuldade, até que sinto que não vou mais conseguir andar. Quando isso acontece, e estou prestes a cair, alguém me segura, e é tudo de que eu me lembro antes de desmaiar.