Angel's P.O.V
"I've got shackles on, my words are tied
Fear can make you compromise
With the lights turned up, it's hard to hide
Sometimes I want to disappear"
Abro os olhos preguiçosamente e pego meu celular, desligando o despertador. Bufo e volto a deitar na cama macia. Aperto o travesseiro, sentindo seus ossos, e...
O que?
Olho pra cima lentamente e identifico o Spencer. Sua expressão era serena e eu não queria acordá-lo, mas íamos nos atrasar. Sorrio ao ver seu peito subindo e descendo conforme ele respirava e brinco com meus dedos no seu peito, fazendo desenhos imaginários. Então, de repente, ele me puxa mais pra si, abrindo um sorriso leve, mesmo enquanto dormia.
-Maeve...-Murmura e eu sinto como se fosse um soco no estômago. Respiro fundo afim de me recompor e saio da cama com cuidado pra não acordá-lo, tirando meu pijama e colocando uma calça jeans. Como estava calor, resolvo ficar de regata mesmo, então escrevo um bilhete pro rapaz ainda adormecido e saio do quarto me sentindo sufocada, me dirigindo ao elevador.
Entro no espaço cinzento e claustrofóbico, me sentindo estranhamente desconfortável. Aperto o botão do térreo e em poucos minutos estou descendo na recepção e andando em direção ao refeitório, aonde o farto café da manhã estava servido. Havia uma diversidade enorme de frutas, bolos, tortas, e geleias para as torradas cheirosas e com aparência boa. Para os mais tradicionais, também tinham ovos e bacon, tirando os chás e sucos (além do clássico café preto).
Opto por um cupcake de morango com creme, uma torrada com manteiga e uma xícara de café sem açúcar. Perfeito. Sorrio e me sento em uma das várias mesas vazias que haviam no recinto, começando a comer calmamente. Pra ser bem sincera, não estava com um pingo de fome, mas sabia que passaríamos o dia inteiro trabalhando, então era bom comer alguma coisa. Tomo um gole do meu café e queimo a língua, a colocando pra fora.
-Droga. -Xingo.
-Quem mostra a língua pede beijo. -Morgan aparece com um sorriso divertido no rosto, me fazendo rir.
-Ou queimou a língua com o café. -Digo com a língua pra fora. Ele pede um minuto com o dedo e pega o sachê de açúcar, o abrindo e salpicando um pouco dele na minha língua. -Receita antiga do meu pai. -Sorri e eu franzo o cenho. Isso é ridículo, açúcar é completamente incapaz de...
E então a dor passa.
Coloco a língua de volta pra dentro e passo ela pela minha boca inteira, não sentindo mais nada.
-Não está mais doendo. -Murmuro confusa. -Obrigada, Morgan. -Sorrio e ele apenas pisca.
-Disponha. Então... O que aconteceu entre você e a Tara? -Pergunta e eu franzo o cenho.
-Quem? -Ele me olha e reprime uma risada, então eu me lembro. -Ah...Eu não sei. Acho que ela apenas não gosta de mim. -Dou de ombros e ele franze o cenho.
-E é recíproco?
-Eu gosto de todo mundo, Megamente. -Sorrio satisfeita com o novo apelido.
-Até de mim? -E então ele me olha indecifrável. O analiso por alguns segundos mas consigo apenas detectar seu interesse na minha resposta.
-Até de você. -Respondo por fim e ele se dá por satisfeito.
Nós então começamos a conversar sobre coisas aleatórias, já que estávamos quase uma hora adiantados. Aparentemente ele teve insônia, e eu apenas gosto de estar adiantada mesmo. Então começamos a conversar sobre coisas engraçadas do nosso cotidiano e o que seríamos capazes de transformar em crônicas, até que o assunto vira uma competição de quem conta a melhor cantada.
-Eu vou ganhar. Está pronto? -Pergunto convencida e ele apoia o cotovelo na mesa, repousando sua cabeça na mão. Jogo o cabelo pro lado e me inclino na mesa, o olhando sugestivamente. -Lindo, se você fosse um refrigerante, seria soda.
-Por que? -Pergunta confuso.
-Porque no meu coração soda você. -Pisco e ele começa a dar risada.
-Uau. Você não espera que isso realmente funcione, certo? -Pergunta e eu rio, dando um tapa de leve no seu ombro.
-Sua vez. -Reviro os olhos e ele começa a procurar alguma coisa na mesa.
-Você tem um brigadeiro? -Olho pros pratos e nego com a cabeça. Ele então sorri e se aproxima, acariciando meu rosto. -E que tal um beijinho?
Antes mesmo de eu poder raciocinar a cantada, Spencer aparece, sentando junto conosco. Morgan então recolhe sua mão e só então eu entendo a cantada, começando a dar risada. Que uma coisa fique bem clara: Eu não consigo respirar e rir ao mesmo tempo, então chega uma hora que eu passo de fazer barulho algum e começo a me sacudir pra frente e pra trás, tentando respirar. Os dois então começam a rir da minha risada e ficamos nisso por uns cinco minutos, até que eu finalmente consigo me recuperar.
-Adorei, vou aderir. -Digo pro Morgan que pisca.
-O que estão fazendo? -Reid pergunta confuso.
-Estávamos num concurso de quem passa a melhor cantada.
-E quem ganhou?
-O Morgan. -Admito e ele faz uma pose, que me faz revirar os olhos.-Não se acostum..
-Precisamos de vocês na delegacia. Agora. -Tara aparece na nossa mesa e logo se vai. Nos levantamos rápido e pegamos nossas coisas, indo pra frente do hotel aonde um carro nos esperava. Morgan e Reid começam a conversar sobre algo aleatório, e o mais novo havia acabado de começar mais uma das suas lições de Química quando eu sinto meu celular vibrar continuamente, indicando uma chamada.
-Angelina Morelli. -Atendo.
-"Sobrevivente, nunca cantei pra mim.
Nunca cantei pra minha nação
Eu canto ao mais forte
Me despeço da aldeia
Minh'alma ainda existe
E certamente a darei
De bom grado ao meu Rei" (*1)
Sinto meu estômago gelar e meu coração parar quando ouço a melodia conhecida. Tudo a minha volta começa a girar e de repente eu me pego batucando minhas têmporas com os dedos, assim como ele costumava fazer. Respiro fundo e pisco algumas vezes, tentando me recompor, quando sinto mãos encostarem no meu corpo, mas tudo que eu quero é sair de lá.
-Angel...-Uma voz grita distante e eu abro a porta, saindo do carro e correndo pra floresta. Preciso ir pra casa. Não vou deixar ele me levar de novo.
Flashback on ~
Sobrevivente, nunca cantei pra mim
Nunca cantei pra minha nação
Eu canto ao mais forte
Me despeço da aldeia
Minh'alma ainda existe
E certamente a darei
De bom grado ao meu rei"
A música ecoa pelos auto falantes da casa, me fazendo tapar os ouvidos. Me balanço pra frente e pra trás, gritando com todos os meus pulmões pra tentar abafar o som terrível, mas ele não diminui. É como se tivesse tocando na minha cabeça. Preciso sair daqui. Me levanto rapidamente, começando a bater nas barras da cela que servia de quarto pra mim, como se magicamente uma das barras fosse desaparecer e eu pudesse escapar livremente daqui, mas nada acontece.
-Calada, feiticeira! -Grita o homem, chegando perto. A música então para de tocar mas sua melodia ainda paira no ar, me deixando tonta.
-Me tira daqui. -Murmuro já sem forças, escorregando da parede ao chão, enquanto a música latejava na minha cabeça.
-Cuidado com os insetos. -Diz e eu começo a gritar.
Era uma rotina. Uma vez por semana, essa música tocava. E quando ela tocava, significava que estava na hora dos insetos. Ele então abre a minha cela e me tira do chão. Fraca demais, tenho noção de que lutar é inútil, mas ainda assim o faço por instinto, sendo facilmente dominada. Ele me amarra numa cadeira e pega um balde, despejando todo tipo de insetos no meu corpo. Ficamos assim por meia hora, mas a sensação deles percorrendo a minha pele suja não se vai tão cedo.
Quando ele recolhe os insetos, me desamarra, fechando a cela e me trancando lá novamente. E então vem a coceira. A sensação de que eles ainda estão lá.
Flashback off ~
Spencer's P.O.V
-...só quero dizer que nem sempre o mais útil é o mais reconhecido. Darwin após criar a Teoria da Evolução passou o resto dos dias estudando minhocas. Ele tocava piano pra elas e analisava suas reações, e 10 anos depois ele publicou um livro sobre isso que vendeu mais do que "A origem das espécies". -Finalizo meu discurso e Morgan revira os olhos. O celular da Angelina então começa a tocar e ela o atende, parecendo submersa em pensamentos.
-Angelina Morelli. -Atende e tanto eu quanto Morgan ficamos um minuto em silêncio pra que ela possa ouvir o que está sendo dito. Depois de alguns segundos, ela pisca algumas vezes, hiperventilando e começando a batucar as têmporas com os dedos.
-Angel! -Chamo, mas ela parece distante demais. -Para o carro! -Peço pro policial assustado que dirigia o carro preto e ele obedece.
-Angel, respira. -Morgan pega seu braço e ela começa a se sacudir, murmurando algumas palavras sem nexo.
De repente, ela abre a porta e sai correndo pra floresta que havia no caminho entre o hotel e a delegacia.
Merda.
-Liga pro Hotch, vamos atrás dela. -Morgan pede pro policial que apenas assente veemente. Nós dois saímos correndo do carro e entramos na floresta, procurando a moça de cabelos escuros.
-Angel! -Grito, não obtendo nenhuma resposta.
-Ratos! Ratos em todos os lugares! -Uma voz diz e começa a dar risada. Olho pro Morgan que franze o cenho.
-Morelli?-Chama novamente e então ela aparece de trás de uma pedra com um sorriso enorme no rosto.
-CUIDADO COM OS RATOS! VOCÊ ESTÁ PISANDO NELES! -Aponta pros nossos pés e eu então a analiso.
Ela estava claramente no meio de um surto psicótico. Aparentemente ela não havia saído tão intacta do cativeiro.
-Aonde estão os ratos?-O homem ao meu lado pergunta cuidadoso. Ela se encolhe um pouco atrás da pedra e ele ergue as mãos em sinal de rendição.
Ela então se levanta e eu consigo notar todos os arranhões espalhados pelos seus braços, e pescoço. A menina dá um sorriso e seu corpo começa a cambalear. Corro para pegá-la antes que ela caia no chão, e é justamente nos meus braços que ela desmaia.
-Me dá ela, abre a porta do carro e avisa o Hotch que vamos pro hospital. -Morgan pede e eu o faço, dando o corpo mole da menina pra ele. Corro pro carro e abro o banco de trás, tirando as coisas e jogando no porta malas.
-Acharam? -O policial pergunta com os olhos levemente arregalados.
-Sim. -Respondo apenas. Minha mente estava a mil, e eu não conseguia pensar em mais nada a não ser o que pode ter deixado ela assim.
Entro no banco da frente e poucos segundos depois Morgan entra com ela no banco de trás. Seus arranhões eram profundos e sua roupa estava completamente suja de terra. Não muito tempo depois, chegamos ao hospital, aonde Morgan desce com ela.
-Vá para a delegacia e avise o Hotch que a Dra. Morelli teve um surto psicótico. -Peço pra ele que concorda. Desço e vou andando pelo hospital até que encontro Morgan sentado na sala de espera. Me sento ao seu lado e noto sua feição. Nunca tinha o visto tão sério. Suas mãos estavam cruzadas na frente da sua boca e sua perna não parava de chacoalhar no chão. Ele estava ansioso. E preocupado.
-O que você acha que aconteceu com ela lá? Pra deixar ela assim? -Pergunta e eu suspiro, negando com a cabeça. Queria eu saber. -Eu peguei o celular dela. A última chamada é de um número desconhecido. Acha que pode ter sido ele? O homem que a sequestrou?
-Ele foi preso. -Explico franzindo o cenho.
-Ela afirmava que ele tinha um cúmplice.
-Isso nunca foi comprovado, não haviam provas o suficiente.
-Havia ela. -Ele me olha e então eu respiro fundo.
Seja quem for, eu espero veemente que não seja ele. Ela não merece passar por isso de novo. Eu me recuso a permitir que ela passe por isso de novo.
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