História My Dingy Boss (Meu Chefe Sombrio) - Shiro

Acordei com pessoas conversando ao meu lado. Continuei com os olhos fechados para ouvir do que se tratava. Pela voz, parecia ser o Nevra conversando com alguma menina.

Me deu vontade de abrir os olhos na hora e descobrir quem era a novinha, mas me contive.

Eles conversavam sobre a missão que tivemos. A missão que eu estraguei... Nevra deve estar muito irritado. Ele leva isso bem a sério. – Miiko, relaxa. Vou conversar com ela. Não precisa se preocupar.

Miiko? Essa voz era da Miiko? Abri os olhos de tão espantada e a vi junto a Nevra, em pé, ao meu lado. – Já está acordada, Danna? – Ele se virou para mim.

Miiko arregalou os olhos e voltou a sua voz rigorosa de sempre. – Já vou indo então. – Ela falou indo para a porta. Antes de sair eu percebi que ela falou algo, mas não consegui entender.

– Estava me espionando? – Nevra se sentou ao meu lado, esbanjando charme como sempre. Eu engoli em seco. – Como você está?  

– Estou bem. – Me sentei na cama também, olhando ao redor. Shiro, minha mascote estava deitada ao meu lado. Sorri ao vê-la e fiz um carinho em seu pelo macio e cintilante.

Encarei Nevra que estava com uma cara diferente do normal. Parecia preocupado. – O que aconteceu depois que eu desmaiei? Conseguiram pegar o velho né? – Falei com um pouco de esperança, não queria ter estragado tudo.

Ele falou sério. – Não. – E virou o rosto. Parecia não querer olhar pra mim. Fiquei nervosa. Ele estava com raiva de mim? – Me desculpa. – Falei e pus as mãos no rosto.

– Se eu não tivesse subido naquela escada idiota, você não precisaria me salvar e teria conseguido completar a missão. – Nevra segurou os meus pulsos fortemente. Ele estava mais perto que antes e olhava tão intensamente, que eu fui até para trás e bati a cabeça na cabeceira da cama.

– Não foi sua culpa, Danna. Não pense isso nem por um momento, está bem? – Ele fez um carinho nos meus braços, e eu me arrepiei. – Eu estava tentando fazer bonito na sua frente e acabei estragando tudo.... Pelo menos eu consegui te salvar. – Ele pôs a mão no meu rosto e eu corei. Ele parecia estar vermelho também.

– A Miiko está brava com a gente? – Perguntei ainda paralisada pelo seu olhar. Ele negou. – Nada. Ela está feliz por você estar bem. – Ele sorriu amarelo.

– Eu vi como ela estava feliz mesmo, conversando com você naquela vozinha fofa... – Nevra começou a gargalhar. Eu acabei de dizer isso alto mesmo? – Está com ciúmes? – Ele falou tirando o cabelo do olho. Eu o olhei sem graça.

– Claro que não! – Falei um pouco alto demais. Ele continuou a rir e se levantou. – Ciumentinha, fique descansando por hoje, está bem? – Ele se inclinou e me deu um beijo na testa. Eu me arrepiei inteira com a delicadeza do toque. – Pus uma bandeja com frutas ali na mesa, caso fique com fome. – Ele sorriu. – Tchau, Danna.

E saiu do quarto. Fiquei pensando em como seria beijá-lo... Pera, ele disse frutas?

...

Depois de devorar todas as frutas da bandeja, (afinal era a única comida normal por aqui além de pão), resolvi dar uma volta pelos jardins, para brincar com a Shiro. Ela estava saltitando pelo quarto que nem uma louca, querendo atenção.

Eu tirei um vestido roxo que estava no meu guarda roupa. Ela ia até metade das minhas coxas e era todo rendado. E na gaveta embaixo vi um sapato com cadarço, (tipo um tênis, mas não era) preto.

Terminei de me arrumar e gostei do que vi. Sinceramente, tenho que agradecer a pessoa que colocou essas roupas aqui.

Peguei Shiro no colo e saí do quarto. A levei para o Caminho dos Arcos e sentei na grama para ver ela se divertir.

Ela corria bem, apesar de ter uns cotoquinhos de pata. Eu ri da cena e fiquei sentada ali bastante tempo, até o sol se pôr. Eu me deitei um pouco e observei o céu que estava alaranjado. Era mais bonito que o da terra.

Fiquei pensando em como será que Nevra ficou ao me ver desmaiada no seu colo.... Será que ele me carregou até o QG? Meu coração deu um pulinho só de pensar nisso. Ele realmente me salvou de ficar paraplégica ou até mesmo morrer.... Eu sentia que estávamos mais próximos um do outro por causa disso.

E sei que devo a ele, não importa o que ele diga...

Meus sentimentos por ele estavam mudando, eu sabia disso. Mas não podia me deixar levar, afinal ele era meu chefe. E também, ele é legal com todas as meninas da Guarda, não só eu...

Seria algo unilateral da minha parte. Balancei a cabeça tentando fazer esses pensamentos sumirem e me sentei de novo. Meu corpo travou ao ver o velho da biblioteca bem na minha frente.

Ele ria, com Shiro em uma das mãos e na outro um livro, – provavelmente roubado da biblioteca – aberto. Ela estava chorando e meu coração apertou. Eu me levantei rápido e lhe dei meu pior olhar. Como ele tinha conseguido entrar aqui? Ele continuou a gargalhar. Meu sangue ferveu. Eu não sei se conseguiria salvá-la, mas sei que não conseguiria ficar sem ela.

– Não se mova docinho. – Ele falou com sua voz grossa e nojenta. – Ou esse bicho morre. – Eu acabei fazendo o que ele mandou. Ele apertou Shiro, que deu um grito. Eu gritei também, parecia que eu estava sentindo a dor dela. 

– Porque está fazendo isso? – Falei, com ódio quase escorrendo pela boca. Ele gargalhou, e seus capangas apareceram atrás dele. – Para enfraquecer o Chefe da Guarda das Sombras. Ele é um verdadeiro problemas para nós. – Ele falou e começou a ler o livro que segurava em um idioma estranho.

Uma luz começou a sair através do chão, bem onde eu estava. Eu comecei a ficar com muito medo, mas ao invés de chorar, paralisei. Eu realmente não conseguia me mover. Era como se eu não controlasse mais o meu corpo. 

O olhar dele era assustador. Ele não parava de ler e meu corpo foi ficando ainda mais fraco.... Ao fundo eu podia ouvir alguém me gritando.

– DANNA! – Parecia ser o Nevra. Eu não tinha força nem para virar o rosto para ele. De repente, uma luz atravessou minha visão e eu vi o velho com uma cara apavorada, olhando para o lado.

Ele deu um urro e jogou Shiro no chão, que se machucou. Eu senti meu braço doer, mas estava com mais sono do que dor. Era estranho... 

O velho apontou sua mão para mim. Dela saiu uma luz escura. – Fiquem longe ou eu atiro nela. – Ele gritou e atirou aquela bola contra mim.

 Ela estava muito perto, ia me acertar. Mas alguém me puxou para o lado com tanta força que consegui evitar o ataque.

A pessoa ficou à minha frente, tampando minha visão. – Danna, ei, está me ouvindo? – Nevra falava com as mãos no meu rosto, me dando tapinhas. Minha força parecia estar voltando. Eu ia dizer algo, mas as lágrimas saíram primeiro. – Shi... – Tentei falar. Nevra pareceu ter entendido e olhou para trás, procurando minha mascote.

Ele me deixou por alguns instantes e foi correndo buscá-la. Nesses instantes consegui ver Valkyon enfiando uma espada no velho e Miiko e Ezarel segurando os capangas dele junto com algumas outras pessoas que eu não conhecia. 

Nevra voltou com Shiro no colo. Ela pulou para perto de mim e eu a abracei com toda a minha força. Ela estava com uma das patas torta, provavelmente quebrada. Eu comecei a chorar igual uma criança. Ela estava tão assustada, tadinha. 

Olhei para o Nevra e o mesmo não sabia muito bem o que fazer. Por fim, ele pôs uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. – Calma. Vamos cuidar dela.

Eu o encarei por um tempo. Eu estava viva por causa dele. Eu provavelmente jamais teria como pagá-lo por aquilo.

 – Eu.... Nunca vou conseguir te devolver esse favor. – Falei com muito custo. Ele riu.

– Esquece isso. Você tem coisas mais importantes para se preocupar agora. – Ele olhou para Shiro e eu segui seu olhar. – E também... – Ele segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Arrepiei com o toque. – Eu vou cuidar de você de agora em diante. Não vou deixar que nada te machuque mais, Danna. Eu prometo. – Ele me olhava no fundo dos olhos enquanto dizia aquilo. 

Eu pus minhas mãos em torno do seu pescoço e o abracei ainda mais forte. Enterrei meu rosto em sua jaqueta e fiquei agradecendo incontáveis vezes. Ele retribuiu o abraço apertando minha cintura.

Ele disse que vai ficar ao meu lado. Por quê? Não consigo pensar em uma razão. Estou sentindo tantas coisas agora. Gratidão, felicidade...

 Talvez... amor?