Flash back on:
Karim e eu estávamos deitados no sofá e Rolly estava largado coladinho no “pai”. Apesar da implicância de um com o outro, eles ficavam sempre colados.
- Você nunca me falou sobre sua família... – comento.
Percebi que Karim sempre falava de Gressy, mais se limitava a falar apenas dele e isso me gerou uma certa desconfiança em torno disso.
Ele suspira.
- O que você quer saber? – ele pergunta.
- Eu não sei... o que você pode me contar?
Não quero ser a invasiva.
- Você sempre fala muito do Gressy, mais nunca fala do resto da sua família... não sei dos seus pais, seus irmãos, se tem sobrinhos... – comento.
- Meus pais são, Wahida e Hafid, eles são argelinos. Eu tenho oito irmãos. – ele fala.
- Hum... ok.
Não tenho o que dizer, ele parece não estar a vontade para falar sobre a família e eu não irei forçar nada.
- Eles se afastaram depois do escândalo com Valbuena. – ele volta a falar.
Eu fico atenta ao que ele irá dizer.
- Karim Zenati, o cara que chantageou Valbuena, era amigo de Gressy. Ele por vezes veio a Madrid e mesmo tendo se envolvido com coisas pesadas, nós nunca cogitamos que ele faria algo como aquilo... quando tudo estourou na mídia, eu levei a fama de chantagista e minha família foi afetada.
Ele faz uma pausa.
- Eles saiam nas ruas e eram apontados, minha sobrinha teve que parar de ir a escola porque lá diziam que ela além de imigrante era uma delinquente... com isso a distancia entre nós foi estabelecida. – ele explica.
- Mais e agora? Tudo já foi esclarecido... – digo.
- Eu prefiro deixar as coisas como estão, eu e Gressy aqui e eles lá... – ele fala.
- Vocês não se falam? – questiono.
- Gressy fala com eles, por vezes vai para lá, mais eu prefiro ficar longe... quero deixar eles longe de problemas. – ele fala.
O que dizer numa situação dessas?
- Para mim, minha família é o que eu tenho de mais importante e eu vejo que para você também, só que nós agiríamos de formas diferente, sabe? Enquanto eu iria querer ficar perto deles e enfrentar tudo junto com eles, você prefere se afastar e encarar tudo sozinho... eu acho isso uma atitude bonita da sua parte, mais muito sacrificatória. – falo.
- É o melhor que eu posso fazer...
- Já pensou que eles sentem sua falta? Eles também devem sofrer com toda essa distancia... acho que já chegou a hora de romper a barreira que foi criada e vocês voltarem a ser uma família. – digo.
Ele fica calado.
- Eu adoraria conhecer sua família. – digo e beijo seu rosto.
Ele sorri.
Flash back off:
Desembarcar na Alemanha me trouxe uma sensação estranha, mais uma vez. Fui direto para Gelsenkirchen e junto com os pais de Manuel, nós fomos para a fundação.
Eu me esbaldei com as crianças, desenhei, pintei, fiz escultura, corri. Por algum tempo voltei a infância e me diverti como nos velhos tempos.
- Onde está o senhor Peter? – pergunto a Dona Marita na hora de irmos para a casa dela.
- Ele foi fazer uma visita a um velho amigo, que andou enfermo, mas antes do jantar ele irá chegar. – ela fala.
Entramos no carro e fomos para a casa deles.
Eu tentei voltar para Munique no mesmo dia, mas Dona Marita insistiu para que eu ficasse aqui para colocarmos o papo em dia.
Quando chegamos a casa deles, nós fomos para a cozinha. Enquanto ela preparava o jantar, eu a observava, já que ela não me deixou fazer nada.
- Nós não nos vemos desde o casamento do Manu... – ela comenta e revira os olhos.
Ela não é uma amante da presença da Nina, muito menos ficou feliz com o anuncio de casamento, mais ela não pode fazer nada.
- Verdade. Eu me mudei, viajei e acabei não vindo me despedir direito... – digo e encolho os ombros.
- Não se sinta culpada... eu sei o que te levou a fazer isso e te admiro por ter tido coragem de partir ao invés de ficar e talvez se submeter a alguma coisa... – ela diz.
Sei o que ela quis dizer e minha consciência pesa ao pensar na noite anterior ao casamento dele.
- Eu sei dos seus sentimentos por Manu e confesso que torci até o ultimo momento para que ele desistisse da Nina e percebesse que você e ele seriam felizes juntos... mais as coisas não são como a gente quer. – ela fala.
Balanço a cabeça positivamente.
- Vi fotos suas com o seu namorado. – ela comenta.
Dou risada.
- Vocês parecem felizes juntos. – ela diz.
- E nós estamos... parece que eu e ele nos conhecemos a anos... – digo.
Eu e Karim tínhamos sintonia e isso se mostrava a todo o momento, desde conversas ao sexo.
- Você esqueceu o Manu de uma vez por todas? – ela questiona.
Quando iria responder, escutamos a voz do Senhor Peter.
- Marita! Vem ver quem eu encontrei quando estava voltando para casa! – ele grita da sala.
- Venham para cá, deve ser alguém de casa! – ela grita de volta.
Alguns instantes depois Senhor Peter entra na cozinha acompanhado por Manuel.
- Manu? – Dona Marita pergunta sem acreditar.
- Oi mãe... vim visitar vocês... – ele diz e sorri para a mãe.
Não esperava que ele viesse.
- Oi Jô. – ele diz sorrindo para mim.
- Oi Peter. – falo.
Senhor Peter estranha.
- Ai meu Deus, chama ele de Manuel porque senão irei ficar confuso. – ele diz rindo.
- Ah... tudo bem, é força do habito. – digo sorrindo sem graça.
- Coincidência ou não, eu estou fazendo almondegas. – Dona Marita diz rindo.
O sorriso de Manuel se alarga.
- Você e eu comeremos as melhores almondegas da Alemanha inteira. – ele diz descansando o braço no encosto da minha cadeira.
Essa proximidade não me agrada...
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