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História My Heart Stays With You - X - My Heart Stays With You


Escrita por: gimmethelight

Notas do Autor


my heart stays with you (c) backstreet boys
...e quatro meses depois eu estou aqui ;; eu tive e estou tendo tantos problemas além do bloqueio criativo e meu teclado que quebrou e que ta me obrigando a usar o digital que nossa ;;
mas superei isso e aqui estou eu, com a última (ou quase rs) parte da fanfic ;;
espero que gostem ;; <3

Capítulo 10 - X - My Heart Stays With You


Confie em mim, quando estivermos separados, eu não vou partir seu coração. Onde você estiver, eu sei que você me sente. Meu bem, pois eu também posso sentir você. Não importa o que você faça. Eu penso em você. (...). Eu estarei de volta, para sentir sua doce face, seu abraço querido. Ninguém pode tomar seu lugar...

(Backstreet Boys – My Heart Stays With You)

 

Do alto de um prédio, eu observo a cidade e a praia se conectando.

 

Dia após dia, eu vejo essa cena e me sinto sortudo por morar e trabalhar em uma cidade como essa há alguns anos. Anos que se passaram devagar, mas que ao mesmo tempo correram diante dos meus olhos. Anos de dor e de felicidade, de conquistas e derrotas. Memórias e lembranças novas, uma vez que as antigas ficaram presas a um passado que eu não quero mais me lembrar. Quanto se passou? Ah, dez anos.

 

Dez longos anos se passaram desde que saí do meu país e vim para os Estados Unidos. Cidade de Huntington Beach, Califórnia, para ser mais exato. Já tem dez anos que vim para cá, e confesso que demorei muito mais do que deveria para me adaptar e aprender inglês – mais a primeira parte. Foi como um isolamento por algum tempo, por raiva e tristeza, um misto amargo que me deixou no meu próprio mundo por longos anos.

 

Mas, hoje, eu tento deixar isso para trás e continuar a minha vida.

 

Eu, Lee HyukJae, advogado renomado e reconhecido por ser tão jovem e competente, estou completando vinte e sete anos de idade. Minha pequena princesa sorridente Lee EunSung completa dez. Do último andar do luxuoso prédio onde trabalho, observo o céu azul e penso em algo para que nós dois pudéssemos aproveitar mais um aniversário juntos, como fazemos todos os anos. O terno não me incomoda, embora o calor da Califórnia fosse insuportável algumas vezes. Estar aqui agora é maravilhoso, e algo que eu jamais imaginei fazer quando adolescente.

 

Como o tempo passa e a gente nem percebe, não é mesmo?

 

- Appa, appa!

 

Ouvi a voz da minha pequena Eunsung após a porta se aberta de repente. Ela vinha correndo até mim, então a peguei no colo e a abracei. Acompanha-la nos últimos dez anos foi a melhor que me aconteceu até hoje. Vê-la tão bem e tão saudável sempre me deu razão para continuar a viver, principalmente nos momentos mais difíceis de minha vida. Enquanto ouvia suas doces palavras animadas, pude ouvir também os passos rápidos da minha secretaria Lee Sunkyu – ou apenas Sunny, como ela prefere.

 

- Senhor Lee, mil desculpas por isso, mas ela não quis esperar. – Dizia a minha adorável secretária, rindo tímida em seguida.

- Deixa disso, Sunny, sabe que ela é minha cliente preferida de todos, não? – Ria, enchendo o rosto dela de selares.

 

Após Sunny nos deixar, coloquei minha pequena no chão e ela me puxou até a janela, pois ver o mar dali era uma de suas atividades favoritas. Eunsung sempre dizia o quanto adorava a água e mar, e que se pudesse, viveria lá para todo o sempre. Isso me lembra tantas coisas, mas eu não posso retomar minhas emoções passadas agora. Não quando tenho um namorado, na verdade, um noivo, há três anos e meio.

 

Seu nome é Lee Sungmin. Nos conhecemos na faculdade, quando eu ainda estava numa crise emocional. Eu já tinha me fechado completamente a tudo e a todos, pois as lembranças da adolescência ainda voltavam com força. Ele veio com aquele olhar meio e sorriso doce, algo que há muito tempo eu não via. Viera da Coreia também e, pouco a pouco, fomos nos ajudando em tudo, criando assim um laço de amizade – que tempos depois se tornou amor verdadeiro, algo belo e que ambos correspondiam.

 

Parecia até que ele era mesmo um pequeno anjo caído do céu.

 

Mas, no fundo, a verdade é outra: Donghae sumiu. Pouco a pouco, suas mensagens foram de “lidas” à “não enviadas” no celular, e os e-mails de “enviados” à “não enviados por erro”. A cada dia, o sumiço foi tornando-se mais comum e eu nem sequer recebi um motivo para isso, mesmo que ele se desculpasse no começo. A sua ausência tornou-se algo sério e me magoou, destruiu por completo, sem que eu jamais pudesse me reconstruir totalmente.

 

Em parte, senti meu coração parar de bater por algum tempo.

 

- Appa, o Minnie omma vai vir comemorar com a gente? – Ouvi a pergunta da pequena de repente. – Ele quase nunca vem me ver, mas sempre parece bravo quando está comigo.

- Hey, o que é isso, gatinha? – Pergunto num tom triste, a fazendo olhar para mim enquanto pensava no que ia dizer. – Ele te adora, só está cansado ultimamente.

 

Sinceramente, eu fico triste com esses comentários dela, porém eu noto que Sungmin muda por completo quando está com ela já tem algum tempo. Comigo, ele é uma pessoa doce, com ela já nem é tanto assim, embora tente se forçar a sentir algo positivo por ela. Ele, ciumento possessivo e não gosta quando ela está comigo, mesmo sabendo que ela veio antes dele. No entanto, acredito que seja justamente por isso que ele muda tanto.

 

Sungmin sempre soube do meu relacionamento com Hyoyeon e de algumas partes da história com Donghae. Ele sempre cismou com essas histórias, e com razão, pois ele também é um ótimo advogado, e sabe quando alguém está mentindo. Mas nunca me cobrou muito alguma resposta, então sempre ficamos numa boa com isso. Mesmo que eu me sentisse mal lhe escondendo algumas coisas sobre mim, eu ainda preferi isso. Não por ele, mas por mim mesmo e também por minha filha. Foi sofrimento demais para nós dois – para mim, viver com as lembranças do passado, e ela, sem uma mãe e sendo hostilizada por isso algumas vezes.

 

O fato é que dificilmente eu coloco os dois no mesmo ambiente, pois, por mais educada que minha menina seja, ela não consegue gostar de Sungmin e sinto o mesmo dele. Sempre fica uma tensão no ar com eles dois juntos, e eu nunca soube lidar com isso. Eunsung se dá bem com todo mundo, é apaixonante e risonha, mas em se tratando de seu quase padrasto, ela não consegue se sentir muito bem junto dele.

 

Meus pais sempre me disseram para ficar de olho nisso, crianças costumam falar a verdade e serem sinceras, mas eu nunca quis acreditar muito nisso. De qualquer forma, Sungmin ainda a trata bem e eles nunca brigaram feio, pelo menos não que eu saiba. Fico pensando em algum jeito de fazê-los se entenderem e se aproximarem um pouco mais, mas como? Nunca tenho ideias boas o suficiente, e isso me entristece bastante.

 

- Como estão os meus amores?

 

De repente, ouvi a voz de Sungmin ecoando no escritório. Deixei Eunsung no chão e a vi correndo até ele, para o abraçar com carinho. Ele trazia um embrulho grande para ela e outro um pouco menor para mim. Enquanto a pequena se divertia abrindo a caixa da boneca que ganhava, meu noivo me abraçou e me roubou alguns muitos beijos.

 

- Feliz aniversário para o melhor homem do mundo! – Ele disse, sorrindo, me arrancando um sorriso bobo. – Que tal irmos os três juntos almoçar?

- Obrigado, meu lindo. – Sorria, lhe admirando completamente apaixonado. – Vamos sim, amor, a pequena vai adorar ir com a gente!

 

Embora eu me sinta um pouco estranho de vez em quando, sair com os dois sempre me fez bem. Logo estávamos os três no carro de Sungmin, indo até um restaurante o qual gostávamos de ir. Perto da praia, de frente para o mar, um local bem reservado e calmo, romântico, até. Durante todo o caminho, ouvia os dois animados, tagarelando sem parar, enquanto eu me perdia em pensamentos o tempo todo, me distanciando um pouco da realidade.

 

Meu aniversário sempre me deixou chateado, embora eu tenha um motivo para sorrir nesta data há dez anos. Me faz pensar na minha vida, no passado, em tudo o que aconteceu nos últimos tempos e em como mudei nesses anos aqui. Minha vida está melhor, posso ajudar meus pais mesmo que a nossa relação tenha se tornado mais frágil ao longo dos meses.

 

Mudamos para cá apenas uma semana depois do julgamento de Hyoyeon. Foi tudo tão corrido que eu nem sei como explicar como ou porquê isso aconteceu, exatamente. Meus pais mudaram por completo, e mesmo minha mãe, que era bem mais próxima de mim, parecia evitar falar comigo sobre esse e qualquer outro assunto sobre essa viagem. Viemos para cá quase como refugiados, e eu não sei até hoje o motivo de tanta pressa. Mas, a essa altura, não me importa mais.

 

Foram anos e anos tentando me entender e me encontrar, tentando saber o que diabos aconteceu e porque fiquei tão preso ao passado por tanto tempo. Foram tantas perguntas que fiz a mim mesmo, que me perdi no meio delas. Talvez tenha sido por isso que me dediquei tanto à carreira de advogado e cheguei onde cheguei em tão pouco tempo. Saber a resposta de tudo, nos mínimos detalhes, me guiou por esses anos, em relação à minha carreira. E isso fez com que eu me tornasse alguém completamente novo.

 

O meu novo eu e essa mentalidade me obrigaram a deixar o passado onde ele merecia estar.

 

Já no restaurante, podia ver a animação dos meus dois amores juntos, conversando animados e um tratando o outro bem. Talvez os medos de Eunsung para com Sungmin e vice-versa tivessem passado, uma vez que não me senti tenso com os dois juntos ali comigo. Ouvia uma conversa animada sobre o mar, como a pequena adorava peixes e queria, um dia, trabalhar com isso quando mais velha. Suspirei alto e sorri triste.

 

Por que isso me faz pensar em tantas coisas passadas?

 

Durante todo o almoço, tentei me enturmar e fazer parte do assunto. Sorria com os comentários, me intrometia na conversa e até tirei algumas fotos. Tirar fotos tornou-se uma paixão para mim, e um belo tratamento para minhas dores de cabeça e preocupações idiotas do dia a dia. Eunsung possui vários books que eu mesmo fiz para ela, a parti do momento em que fiz um curso e precisava treinar e fazer trabalhos para tal. Tê-la como minha modelo principal me deixa até hoje muito contente e confiante comigo mesmo.

 

Ela se tornou o meu porto seguro e amor maior.

 

O tempo foi passando e, mesmo assim, ainda faltava muito para voltarmos ao escritório. Por insistência da pequena, fomos até a praia. Caminhávamos pela areia, portanto estávamos descalços e sentindo a areia quente sob nós. Os dois mais animados iam na frente, já eu ia devagar, um pouco mais atrás. Não tenho pressa, afinal de contas. Admirar as pessoas e as coisas à minha volta sempre me fez bem, afinal de contas.

 

Mas, por algum motivo, voltei a me sentir estranho com isso. Olhava sempre para os lados, procurando por algo que estivesse fora do comum. Pelo calçadão, não reparei quando dois rapazes vinham correndo. Um deles, pelo visto, também não reparou em mim. O resultado mais do que óbvio foi um belo de um esbarrão e eu tropeçando lindamente, caindo de joelhos e rasgando minha calça, machucando meu joelho.

 

Que belo presente esse, não?

 

- Ei, está tudo bem? – Ouvi uma das vozes falando, logo vendo o rapaz que esbarrou em mim veio me ajudar. – Eu sinto muito, está tudo bem? Lhe pago outra calça agora mesmo, não tem problema, senhor.

- Ah, que isso, não foi nada de mais. – Respondi, rindo, sendo acompanhado por ele. E então finalmente voltei meu olhar a ele.

 

Em meio aos seus pedidos infinitos de desculpas, eu me perdi em seu olhar. Como é lindo este homem! Algo nele de diferente me fez parar para pensar e reparar nele mais e mais. O jeito dele, a preocupação em deixar tudo bem mesmo que não fosse nada. Seu rosto tão familiar, aqueles lábios tão conhecidos e aquela voz que me fez sorrir ao enfim me fazer lembrar de tudo e o reconhecer. Será mesmo? Os nossos olhares se encontrando de maneira até mesmo saudosista, aquilo me aqueceu o coração, e então eu tive a certeza.

 

- D-Donghae?

 

Acho que murmurei seu nome alto demais, pois ele parou de falar imediatamente. Olhou diretamente em meus olhos, atônito, como se não me reconhecesse, mas sorriu, mesmo nervoso. Mas eu o reconheci, sentindo meus olhos marejarem ao notar o seu sorriso sincero, algo que há muito tempo eu sequer sonhava em ver de novo. Segurou uma de minhas mãos, beijando-a e sorrindo em seguida. Como você cresceu, meu amor, ele dizia, fazendo meu coração acelerar.

 

Senti meu coração acelerar de verdade, como há muitos anos não acontecia, e o tempo à nossa volta parar. Nos levantamos, mas ainda assim ficamos a nos admirar. Ninguém sabia o que dizer a partir dali. Tinha tanta coisa para falar, e ao mesmo tempo, não sabíamos como começar. Se eu estiver certo, Donghae vai completar trinta e oito anos este ano, e continua tão jovem como dez anos atrás. Algumas marcas de expressão no rosto ou algo assim, mas ainda mais bonito do que eu me lembrava.

 

Donghae ainda parece um anjo que caíra do céu, e eu, dentro de um sonho.

 

- Hyukkie! O que aconteceu? – Acordei do transe ao ouvir Sungmin me chamando, ao mesmo tempo que Eunsung vinha correndo até mim, me trazendo de volta para a realidade. Suspirei triste, pensativo. – Estamos atrasados, amor!

 

Senti meu coração gelar na hora ao ver o olhar assustado de Donghae sobre mim ao me ouvir ser chamado de amor. Vejo que tem outro agora, ele disse triste. Tentou esboçar um sorriso quando a pequena lhe deu oi, sorrindo animada como não fizera o dia todo, ganhando um afago no cabelo em seguida. Respirei fundo e tentei me mover e contornar a situação o mais breve possível. Peguei um cartão meu no bolso e dei a ele, que mesmo relutante aceitou. Me liga, por favor, me liga. E fui embora contra a minha vontade.

 

Mesmo olhando para trás algumas vezes, além de o perder, Sungmin resmungava o tempo todo comigo, me fazendo perguntas e mais perguntas sobre o que acontecera ali. Além do meu joelho doer e sangrar bastante, mas isso era o de menos. O ciúme bobo do meu noivo me deixou péssimo. Mesmo que por nada, ele simplesmente surtou. Porque você passou tempo demais com aquele cara, aposto que se conhecem, ele dizia o tempo todo, me fazendo enlouquecer a cada segundo.

 

A minha sorte foi lembrar-me de que Sungmin ainda teria consultas e casos a resolver pelo resto do dia, e assim consegui despachá-lo para o seu escritório. Quanto à minha filha, a deixaria comigo, Sunny adora crianças e nunca se importou em cuidar dela caso aparecesse algum cliente afobado e de última hora. Mas eu sabia que isso não aconteceria hoje, e que eu teria mais tempo para pensar no dia caótico que tivera.

 

Quem diria que eu veria Donghae de novo?

 

As horas se passaram devagar. Mesmo com Eunsung me distraindo com suas perguntas bobas e desenhos distintos, minha mente sempre voltava para o ocorrido na praia. A ficha ainda não caiu, e eu ainda não sei como reagir sobre o que acontecera. Era mesmo ele? Não podia, eu não acredito nisso. Mas então, por que eu me senti tão conectado a ele assim e tão facilmente? Me fechei para pessoas novas, poucas me deixam assim como eu fiquei hoje.

 

- Appa, quem era aquele moço bonito na praia? – De repente, ouvi minha filha comentando, me assustando com aquilo. – Ele parece mais legal que o Sungmin omma.

- O que está dizendo, filha? – Ri, sem jeito, enquanto ia até ela, a pegando no colo. – Ele é só um desconhecido!

 

Tentei parecer calmo, mas ela notou meu nervosismo. Eunsung ria, e eu não entendia o porquê. Certo, agora eu já não sei de mais nada, mesmo. Por mais que Donghae a conheça, não é possível que ela se lembre dele, ela era apenas um bebê! De qualquer forma, isso não me importa mais. Eu nem sei se ele virá me ver. E se ele ficou com medo de Sungmin? E se ele ficou com medo de mim?

 

Me arrependo por cada segundo que não peguei o contato dele volta. Agora fico aqui, me amargurando e pensando se ele virá algum dia falar comigo. O dia está passando, e nada dele sequer me ligar. Será que ele se lembra de que é meu aniversário? Bem, não o obrigo a nada, afinal, foram dez anos e vai saber o que ele passou nesses anos todos. Me dói muito só de pensar o que houve com ele nesse tempo todo. Será que ele foi condenado? Será que ele foi preso? Como ficou a carreira dele depois de tudo?

 

O sentimento de culpa voltou mais forte do que eu imaginava.

 

Os dias foram se passando lentamente, me torturando cada dia mais. Esperava que todas as ligações e-mails novos fossem dele, mas nada. Isso me deixou frustrado. Eu tentaria acreditar que era um sonho, mas a ferida no joelho ainda dói um pouco, e ainda não mandei arrumar a calça – por pura preguiça, também. De qualquer forma, mesmo que eu não pense mais nisso, há algo dentro de mim que ainda me incomoda, e muito.

 

Eu só sei que já é outubro de novo. E eu vou me casar em uma semana. No dia quinze, me tornarei um homem casado e Sungmin será padrasto de Eunsung oficialmente falando. Eu gostaria de estar mais feliz, mas não estou. Há uma tensão forte no ar há algum tempo e eu não sei nem como surgiu. Não tenho mais me cuidado como antes, e emagreci bastante. O que me mantém bem mesmo é a minha pequena, algo nela ainda me deixa bem o suficiente para estar pelo menos vivo e apresentável ao mundo.

 

Faz algum tempo que Sungmin e eu não fazemos nada no sentido romântico. Até saímos juntos, mas nunca passa disso. Acabei me fechando de tal maneira, que nem me toquei mais de qualquer coisa. E é claro, o senhor reclamão vive apontando tudo e de todas as maneiras possíveis, jogando na minha cara que eu voltei a ser uma pedra de gelo enorme e impenetrável por completo. Ao longo do nosso namoro, terminamos e voltamos várias vezes por detalhes mínimos, e isso nos desgastou muito ao longo do tempo.

 

Eu já nem me importo mais, sinceramente.

 

Há alguns dias decidi que seria legal eu voltar a ficar em forma, voltar a ter meus músculos e deixar de ser o magrelo que era na adolescência. Coincidentemente, abriu uma academia nova perto de casa – literalmente era só atravessar a rua. Talvez fosse mesmo um sinal para eu parar de preguiça. Após um dia cansativo, consegui fugir um pouquinho e ir treinar um pouco. Soube, pelos comentários que li, que o lugar era bom, então por que não tentar? Caminhar até lá foi relaxante, embora eu não soubesse o que esperar disso tudo.

 

Quando entrei, notei algumas pessoas animadas e distraídas com suas atividades. Reparei em um e outro funcionários, todos dispostos a ajudar a quem precisava. Depois de guardar minhas coisas e ser orientado na recepção, fui me aquecer e começar algo. Um tal de Aiden Lee iria vir me ajudar e me dar as boas-vindas assim que pudesse. Que nome diferente, não? Por algum motivo me soou agradável, apesar de tudo. Vai entender.

 

Em pouco tempo, comecei a ter uma sensação diferente de tudo que sentira antes.

 

Quinze minutos se passaram e eu já cansei. Parei para buscar um pouco de água e um pouco de ar. Fiquei a observar os outros, pensativo sobre tudo o que acontecia lá dentro. Como eu gostaria de ter a energia de muitos ali dentro. Ainda assim, estou cansado. Acho que fazer exercícios físicos sozinhos não é mais para mim. Abaixei o rosto e assim fiquei, pensativo sobre o que estava acontecendo. E então, não reparei quando mais alguém chegou e veio falar comigo na maior boa vontade.

 

- Com licença, está tudo bem? – Ouvi uma voz masculina dizendo, que me atraiu um olhar surpreso. – Desculpe não ter vindo antes. Sou Aiden Lee, e você?

 

Enquanto ele dizia aquilo, enfim me recuperei e voltei meu olhar a ele. Meu queixo caiu e o dele também, pelo visto. Donghae você..., murmurei baixo, o vendo sorrir. Ele estava à minha frente, mais uma vez, e não é um acidente desta vez. Tão belo quanto me lembrava de meses atrás. Ele sorria, tímido, realmente ele não esperava me ver – e nem eu a ele. Apesar da pouca tensão ali, não falamos nada por alguns instantes. Faltou-me coragem, mais uma vez. Sua mão delicada me tocou o rosto devagar, como se ele quisesse mesmo ter certeza de que eu era eu mesmo.

 

Por um momento, o mundo parou. Só tinha olhos para ele e seu sorriso tão belo. Finalmente nos reencontramos mais uma vez, e senti que nada iria nos separar desta vez. Mesmo com o silêncio entre nós dois e alguns olhares de terceiros. Desviamos os olhares mais uma vez, e suspirei baixo, chateado comigo mesmo. Que diabos está acontecendo comigo, afinal? De qualquer forma, ainda tínhamos várias questões a discutir, mas nada saía.

 

Por que tem sido tão difícil assim, céus?

 

- Por que... por que não ligou? – Perguntei sem pensar, me arrependendo em seguida. O olhar dele mudou por completo e eu suspirei. – Acho que fui muito direto, me perdoe.

 

Donghae riu e eu não entendi. Ele ainda era o mesmo de sempre, não é mesmo? Tão compreensível e amoroso, cuidadoso e debochado. Senti falta disso, de certa forma. Essa áurea dele, toda iluminada enquanto mantinha seu sorriso tão belo para mim. Eu podia sentir que ele queria muito mais do que aquele contato, porém nada fez num primeiro instante além de voltar a me segurar as mãos, mesmo com alguns olhares curiosos sobre nós. Quando ele fez isso, eu me senti em paz. Mais do que isso, uma sensação maravilhosa, que há muito tempo eu não sinto. Com ele, eu me sinto feliz e apaixonado como nunca antes.

 

Acho que o seu amor por mim não morreu mesmo nesses anos todos longe.

 

- Está tudo bem, eu o entendo. – Ele riu, voltando a sorrir como sempre fazia. – Olha, eu quero conversar. Por que não termina seu treino e aí vamos comer algo?

 

Sorri e concordei com o que ouvira. Donghae decidiu por me ajudar a terminar meus exercícios, e assim, tudo acabou mais rápido. Embora não tivéssemos tocado em assunto algum sobre o que acontecera, nos sentimos confortáveis um com o outro ali. O pouco que ele me disse, é que ele é um dos donos da academia. Isso me surpreendeu bastante, mas não tanto quanto as pessoas o chamando sempre de Aiden. De onde surgiu essa ideia, afinal?

 

Mas isso não me importa tanto assim, na verdade. Ver seu sorriso e sua animação nesse pouco tempo em que ficamos juntos é maravilhoso. Ele está tão bem! Os anos parecem que não passaram para ele, muito embora eu saiba o quanto foi doloroso para ele tudo isso o que aconteceu, e eu não o culpo. Talvez um pouco a mim mesmo, mas ainda assim, sinto que ele não pensa desse jeito, então isso me consola, de certa forma.

 

Talvez ainda haja amor, mesmo que guardado bem no fundo de nós.

 

Após terminar o treino, fui tomar um banho enquanto Donghae ia resolver algumas coisas com seus sócios. Ainda há tanta coisa em minha mente. Por exemplo, seu novo nome. De onde ele tirou Aiden? Tudo bem que por aqui as pessoas demoram a entender nomes coreanos, mas daí mudar para algo completamente diferente? Vai saber. Fora que eu penso porque ele demorou tanto para me procurar – ou melhor nunca veio.

 

E mesmo que eu não queira sentir, isso dói muito.

 

Quando saí, já arrumado e com minhas coisas, Donghae me esperava ao lado de fora da academia. O reconheci enquanto falava no celular, distraído. Ele parece cada vez mais belo a cada vez que olho para ele. Sorri bobo ao ter sua atenção quando saí do local. Como ele ainda consegue fazer isso comigo?

 

- Bem, imagino que esteja com fome. Seja meu convidado para jantar hoje, por favor. – Ele insistiu, sorrindo de maneira adorável para mim.

- Tudo bem, eu aceito, hyung. – Sorri, sendo segurado pela mão enquanto íamos ao estacionamento.

 

Donghae me guiou até seu carro, sorrindo o tempo todo. Senti-me como na primeira vez em que fui ao seu apartamento ainda lá em Seul. Fiquei nervoso, não nego, mas não posso fazer muito agora. Podia notar, em seu silêncio, algumas marcas que ficaram nele, não somente as físicas, porém psicológicas também. Algo de diferente nele, não que eu não soubesse, no entanto que ficavam mais visíveis agora.

 

Por todo o caminho, preferi ficar em silêncio, e pelo visto ele também. Enquanto observo as luzes da cidade, quis pensar em como tudo ia acontecer a partir de agora. Meu coração parece mais confortável quando estou com ele. Como se eu ainda me atraísse por ele de alguma maneira, mas que eu não soubesse como. Porque eu realmente, nesses dez anos, que eu iria superar tudo isso e que nunca mais iria vê-lo. E agora estou aqui, no carro dele, indo para sua casa, como dez anos atrás.

 

Eu estaria tendo um replay da minha adolescência?

 

Quando chegamos, tive a mesma sensação de anos atrás: um prédio velho e todo o cavalheirismo de Donghae comigo. Ao subirmos, algo bem simples em seu apartamento, mesmo que grande. Tudo arrumado em perfeitas condições, como ele sempre fez questão de organizar tudo. A simplicidade do local me fascinou – ao contrário do meu noivo, que adora tudo exagerado. Um ambiente mais limpo me deixou mais calmo.

 

- Por que não se senta? Vou buscar algo para bebermos. – Ele sorria, sempre tão gentil e dócil, com o coração gigante de sempre. – Prometo não demorar.

 

Sentei-me no sofá grande e confortável que havia ali, sentindo meu corpo relaxando ao ter aquele móvel tão fofo me acomodando. Estava de frente para a janela, admirando a noite linda que fazia. Comecei a pensar em como a noite seguiria, e eu fiquei um tanto quanto sem o que pensar. Eu jamais imaginei que iríamos nos ver de novo, pelo menos não depois de anos sem respostas dele.

 

O que iria acontecer, afinal?

 

Donghae voltou, de repente, cantarolando baixo enquanto tinha taças e uma garrafa de vinho nas mãos. Colocou tudo na mesa de centro e então nos serviu. Agradeci-o prontamente, sorrindo e tomando um pouco do líquido, tão doce e misterioso quando ele próprio. Agora, ele tem um olhar talvez mais maduro, mas que ainda assim guarda um pouco daquela inocência de anos atrás.

 

Ainda assim, são os olhos mais lindos que já vi na vida.

 

- Então... Aiden? – Disse após algum tempo, rindo baixo em seguida e sendo acompanhado por ele. – Mudou de nome, hyung? Por que?

 

Donghae sorria, e não parecia desconfortável com a pergunta. Se ajeitou no sofá e pareceu pensar, enquanto observava o vinho em sua taça. Foi como se ele estivesse entrando num transe, tentando se recordar bem de como tudo aconteceu. Na hora eu senti como se ele estivesse magoado com algo que acontecera, mas principalmente magoado consigo mesmo, no final das contas. Vejo pelo seu olhar distante o que ele sente, e isso me faz repensar em tudo, desde o princípio até hoje.

 

Se for isso, eu não o culpo. Sinto a mesma coisa por mim mesmo, ainda dói demais me recordar de tudo, embora eu esteja aonde estou hoje. Para mim doeu fundo, porém sei que, o que aconteceu, tinha de acontecer, cedo ou tarde. E se ter reencontrado Donghae agora e ver que ele está ligeiramente bem era para ter acontecido, então eu fico feliz.

 

- Depois que você veio para cá, aconteceu meu julgamento. Eu fui expulso do exército e preso depois alguns meses, cumprindo prisão por quase quatro anos e meio quando me prenderam. Tentei recorrer, mas não me ouviram de início. – Ele iniciou, tímido, o que me deixou apreensivo.

 

Meu coração doeu. Mesmo sorrindo, eu vi no olhar dele a dor que foi conviver com isso nesses anos todos. Porque por mais que ele soasse inocente para mim, eu nunca consegui encarar a realidade de que talvez ele tenha mesmo cometido algum crime. Segurei em sua mão, sendo correspondido em seguida. O seu olhar mudou um pouco, mas pouco.

 

- Eu tenho meus advogados, que acompanham minha família há anos. – Ele voltou a falar, sorrindo um pouco mais sincero. – Graças a eles, a minha sentença foi reduzida. Se dependesse dos pais daquela menina, eu estaria preso até hoje.

 

Senti meu coração gelar na hora. Como era possível aquela menina conseguir manipular as pessoas mesmo presa? Isso se ela não foi solta depois do julgamento, vai saber. Abaixei o rosto, suspirando alto em seguida, sentindo minha culpa aumentar mais enquanto repensava em tudo o que ouvira dele. Isso tudo aconteceu mesmo? Quando eu pude imaginar que dez anos depois de ter me apaixonado por ele tudo isso iria acontecer?

 

A vida é mesmo uma caixinha de surpresas, não?

 

Um silêncio se instalou no cômodo, nenhum de nós sabia como continuar aquilo, ou se realmente deveríamos. Donghae parecia bem distante, pensativo. Muito sério para os padrões dele, o que me preocupou bastante. Ali eu soube que só faltava mais uma coisinha, e eu sabia bem o que o incomodava. Enquanto me preparava para ouvir, ele me soltou a bomba.

 

- Sua filha está tão linda, Hyukkie! Ficou tão parecida contigo. – Ele sorria, mas não manteve o sorriso por muito tempo. – Mas, e aquele rapaz? Quem é ele?

 

Suspirei fundo. Agradeci o elogio à minha pequena, então voltando ao meu silêncio, pensando em como lhe falar sobre Sungmin. Sei que eu não tinha culpa, no final das contas, dez anos longe um do outro foi bem difícil. Não tinha como mantermos um relacionamento com cada um em um lado do planeta, enquanto eu estudava como louco e ele enfrentando o que enfrentou. Ainda assim, senti uma dor em meu peito tão forte que me entristeci.

 

- O nome dele é Sungmin. O conheci na faculdade. – Comecei a falar, finalmente, vendo uma expressão triste em seu rosto. – Ele cuidou de mim, viramos grandes amigos e então nos apaixonamos. E vamos nos casar daqui uma semana.

 

Pude notar uma mudança no clima. Donghae realmente pareceu se magoar com aquilo, e eu não o culpo. Quando seu olhar se voltou para o meu, reparei que havia algo a mais nele, e eu fiquei triste por não saber o que era. Ainda sinto uma conexão com ele, algo forte e intenso, porém que se perdeu nesses dez anos longe um do outro.

 

Enfim virei-me de frente para ele, e ele fez o mesmo comigo. Estarmos assim, segurando nossas mãos enquanto nos encaramos mesmo que em silêncio fez a tensão sumir. Como se dez anos não tivessem sido nada. Me senti com dezesseis anos de novo. Eu vi meu professor de educação física na minha frente, sorrindo como sempre fazia para tentar me animar e me ajudar. Como os planos bobos que fazíamos um com o outro.

 

Lembrei-me da vontade que tinha de fugir com ele. No entanto, acho que nunca tive coragem o suficiente de fazer isso. Acho que fugir foi a minha palavra favorita nos últimos tempos, porque eu sempre dei um jeito de fazer isso quando mais novo. Mas eu não posso e nem quero fazer isso agora. Eu não posso ir. Tudo aquilo que eu sentia dez anos atrás voltou e eu não posso não fingir que não estou sentindo nada.

 

- Donghae, eu ainda amo você. – Enfim volto a dizer, sentindo meus olhos marejarem, tendo meu rosto tocado por ele em seguida. – Mesmo que eu esteja com outro, te ver de novo me fez repensar em tudo o que aconteceu nesse tempo.

 

O carinho dele em meu rosto se intensificou, provavelmente ele não queria me ver chorando, porém é quase inevitável isso. Há tanto tempo que não coloco meus sentimentos para fora que isso machuca. Há tanto tempo que não me sinto conectado com meu noivo, que isso me deixa péssimo. Ver Donghae depois de todo esse tempo esperando por ele me deu uma nova esperança, mesmo que ela fosse só uma luzinha no final do túnel.

 

- Eu também amo você ainda, meu amor. – O vi sorrindo novamente, emocionado por tudo o que ouvia. – Mas, você seguiu em frente. Seria justo você jogar tudo isso fora agora?

- Eu não sei, e isso me dói muito. – Abaixei o olhar, tentando engolir o choro que insistia em querer cair. – Isso tudo o que vem acontecendo, eu estou tão confuso.

 

Donghae então me abraçou, e eu chorei. Senti meu coração desabando, deixando que tudo fluísse como deveria. Segurar tudo isso que estou sentindo não me fez bem, e chorar está me fazendo melhorar. Mesmo que isso não resolva minha situação, ao menos poderei ver tudo com mais clareza a partir de agora. Ajeitei-me em seu colo, sendo guardado em seus braços, ouvindo sua voz calma cantando baixo. Como sua voz é linda, e eu não conseguia me lembrar disso. Fico impressionado em como ele ainda se importa.

 

Dez anos não estragaram o nosso amor. Como dez anos atrás, ainda nos amamos muito.

 

- O que vamos fazer, Hyuk?

 

Aos poucos, fui parando de chorar. Quando me acalmei, voltei a encara-lo, pensativo sobre a sua pergunta. Não soube responder num primeiro momento, não mesmo. Ainda doía ter de fazer uma decisão assim tão rápida, e ele compreendia.  Olhar para ele me dá a paz necessária para que eu fique bem de novo. Minha mente está completamente vazia. Mesmo que meu coração esteja mais agitado, eu não consigo pensar em nada mais.

 

Mas alguém além de nós provavelmente sabe. Meu celular começou a tocar e nos tirou do transe. Sungmin, com certeza prestes a dar um de seus ataques malucos. Suspirei fundo e então o atendi. Suspirei fundo quando ele começou a tagarelar sobre ter chegado em casa e eu não estar lá. Isso me cansa, sinceramente. Me faz lembrar de Hyoyeon, só que felizmente numa versão menos agressiva e doentia.

 

Ao desligar, fiquei quieto. Não soube como lidar com tudo aquilo, embora eu quisesse terminar com tudo e ser feliz, independente de quem estivesse ao meu lado. Preciso ir, disse depois de algum tempo. Donghae concordou, e então nos levantamos. Não quis me despedir nem nada, porém fora necessário. Ele me abraçou forte, e então eu fiz o mesmo, não querendo nunca mais sair daqueles braços.

 

Donghae ainda tem o melhor abraço do mundo.

 

- Não some, por favor. – Pedi num tom baixo, ficando na dúvida se ele tivera me ouvido, mas prefiro acreditar que sim. – Preciso muito te ver de novo antes do casamento, se houver...

 

Ele riu baixo, e me fez rir também. Enfim nos separamos do abraço e, mesmo com medo, virei-me de costas. Suspirei baixo e comecei a andar de volta ao elevador, porém não fui muito longe. Donghae segurou em minha mão, me puxando para ele de volta. Não vou deixar você se casar com outro e nem que a nossa história acabe, ele disse, me fazendo abrir um sorrindo em meio às lágrimas.

 

E em meio à tantas emoções, um beijo. Donghae me roubou um beijo, e parecia sério. Retribuí o ato, mesmo que parecesse errado. Envolvi aquele homem tão incrível e belo em meus braços, aumentando um pouco o ritmo do selar, aprofundando-o aos poucos. A sensação de dez anos atrás estava de volta: proibido, mas apaixonante. Errado, mas verdadeiro. Escondido, mas pronto para ser mostrado ao mundo.

 

Então eu entendi porque eu não desisti dele mesmo quando tentei seguir em frente. Mesmo com outro, eu nunca havia entendido o motivo de não me sentir totalmente conectado a ele, sempre brigando e até nos separando algumas vezes. O reencontro me fez abrir os olhos para o que parecia ser certo. Eu amo Sungmin? Amo, e como amo. Não posso jogar fora minha história com ele, mas no fim das contas, talvez ele não seja o certo para mim.

 

Mesmo que eu ainda esteja encrencado e fodido emocionalmente, Donghae ter voltado me fez abrir a mente. Eu não quero um replay da minha vida aos dezesseis. Sungmin é uma ótima pessoa, mas talvez não para mim. E mais uma vez, meu hyung aparece para me mostrar isso tudo. E que eu o amo do fundo do coração. Amei no passado e o amo hoje ainda, mesmo depois de tudo o que passamos juntos.

 

Donghae é o meu grande amor e talvez valha a pena lutar por ele agora também.

 

• • •

 

Sete longos dias se passaram até eu reunir a coragem suficiente para me decidir, e em cima da hora. Como sempre, deixei tudo pronto para explodir na minha cabeça e não me surpreendo mais comigo mesmo. Os dias passaram mais devagar do que eu gostaria – mas ao menos dessa vez eu sinto que sei o que estou fazendo. Meu peito dói e meu coração parece sangrar, ao mesmo tempo que minha alma se sente finalmente livre depois de anos.

 

Hoje é – ou deveria ser – meu casamento. Mas chove tanto que mal posso ver o lado de fora do escritório. Tudo se seguiu para que desse errado ou ficasse realmente muito difícil: Eunsung ficou doente, e Sungmin viajou para negócios. Foram dias difíceis, porém meu noivo sabia que precisávamos conversar, e por algum motivo, ele aceitou tranquilamente o que eu dissera, por incrível que pareça. Marcamos uma reunião, uma conversa franca e sincera entre nós.

 

Pedi a ele para que repensasse tudo o que vivemos. Eu soube, depois de algum tempo, que nós dois tínhamos dúvidas sobre esse casamento. A distância era tanta, que mal nos conhecíamos mais. No fundo, devia agradecer a Donghae por isso, pois se dependesse da nossa insegurança, não conversaríamos nunca. De qualquer forma, e depois muita insistência, ele aceitou, e concordou em pensar sobre nós dois. O que seria mais uma semana longe um do outro, não é mesmo?

 

Iríamos os dois tirar o peso de nossos ombros depois de um longo tempo.

 

Sungmin chegou tem uns quinze minutos e ainda não dissemos nada. Absolutamente nada saiu de nós dois. Talvez ele soubesse, no fundo, que estava tudo condenado entre nós, e que não tinha nada a ser salvo mais. Eu podia ver em seu olhar que ele já sabia, e eu também. Não digo isso por eu ter reencontrado Donghae: embora tê-lo visto tenha me feito pensar muito, eu acordei e pensei que se me casasse com Sungmin, talvez não seria tão feliz quanto acreditei que seria anos atrás.

 

- Hyukkie, podemos acabar logo com isso? Eu sei o que você quer, e eu também preciso disso.

 

O rapaz carregava consigo um olhar triste, magoado. Talvez o tempo longe o tenha feito mesmo pensar sobre nós, e fiz o mesmo enquanto cuidava da minha pequena. Voltando alguns dias, no começo da semana, nós brigamos de novo, e foi algo feio. Nós dois mudamos durante os anos juntos. Nós dois cogitamos várias vezes por terminar de vez e continuar só na amizade – algo que nunca deveria ter mudado. As coisas entre nós mudaram por completo, e sejamos francos, não vai dar certo esse casamento.

 

Colocando o pé no chão e sendo racional, realmente não pode dar certo.

 

- Sabe que eu te amo, Sungmin. Do fundo do coração. Mas não dá mais para mim. – Enfim começo a falar, suspirando baixo e abaixando o olhar. – Eu prefiro ser seu amigo, mas continuar sendo sincero, a entrar num casamento e mentir para você todos os dias, achando que vamos ficar bem e nós dois sabemos que não vai.

 

Quando percebi, nós dois caíamos no choro. Eu por finalmente me abrir, ele por realmente estar magoado com tudo. Mas no fundo ele sabia disso, mesmo que não quisesse admitir para si mesmo. Fato que se comprovou por ele também abaixar o olhar, manter-se calado e pensativo ao invés de brigar. Acho que a viagem dele o fez pensar que não era mesmo uma boa ideia esse casamento, e isso me deixou ligeiramente mais calmo.

 

- Você é especial, saiba disso. – Fui até ele, me sentando ao seu lado e o abraçando, recebendo um sorriso tímido. – Só tenho a te agradecer, você me salvou. Espero que continue levando consigo as memórias boas que temos juntos.

 

Demorou um pouco para pararmos de chorar, porém conseguimos. Aquilo foi deveras doloroso, porém necessário. Seguramos as mãos, ficando assim por algum tempo. Ele realmente está mudado, e eu me sinto feliz por ele estar aceitando tudo isso tão bem, não sei o que houve com ele para estar assim. Os ares do Japão devem ter mudado com ele, ou algo do tipo, vai entender.

 

Só sei que meu carinho por ele nunca irá mudar, apesar de tudo.

 

- Eu te amo muito, Hyukkie. E eu sei que tem algo aí dentro que você não quer me contar. – Ele enfim disse, suspirando baixo. – Mas, como advogado, eu aprendi que certas coisas precisam ficar em segredo, para o bem ou para o mal. Te conheço bem, e sei que, dessa vez, guardar para si mesmo será melhor para nós dois.

 

Sungmin dizia aquilo com muito pesar. Entendi suas referências, em poucos anos descobrimos como essa carreira pode te levar para as alturas ou deixar sua vida num inferno, seja pelo motivo que for. E eu concordo. Ainda tenho muitas coisas dentro de mim que eu gostaria que ele soubesse, porém, guardar seria melhor. Sei o quanto ele está sofrendo, afinal de contas ele ainda é um ser humano como eu e eu acredito em seu amor.

 

Ele ainda chorou bastante antes de decidir ir embora. Nos despedimos brevemente, sem muito o que dizer um para o outro. Nos vemos em breve, ele disse. Não reparei quando ele saiu, não olhei para trás e não me movi por um bom tempo. Chorei silenciosamente por alguns instantes, pelo menos uns cinco ou dez minutos. Ficar sozinho assim e chorar desse jeito sempre me fazia bem. A chuva ainda caía densa, mas não me importei mais.

 

Chorar sempre foi o meu refúgio, no final das contas.

 

Depois de uma hora do ocorrido, enquanto termino de cancelar tudo relacionados ao casamento, ouvi os passinhos rápidos da minha menina, que logo entrava no cômodo, toda animada. Mesmo assim, ela ficou quietinha. Não disse nada, apenas se aproximou e veio me abraçar. É incrível como ela sabe quando eu estou triste e preciso de um abraço como os dela. Ficamos assim juntos, com ela sempre sorrindo, me animando o máximo possível, segurando em minhas mãos por fim.

 

Por anos, tentei parecer forte e ser o melhor pai do mundo para ela, embora ela sempre tenha sido mais forte que eu. Mesmo ela tendo uma saúde frágil, ela sempre foi mais forte, sempre no mundinho dela. Algo belo de se ver e até mesmo inspirador, se pensar bem. Em meio a todo o caos rondando sua vida, ela ainda trouxe calmaria. Isso me lembra tanto Donghae, e eu nem sem bem por que.

 

Falando nele, eu sinto sua falta. Não nos falamos mais desde aquele dia, embora eu não me sinta tão preocupado. Ao contrário, sinto que tudo irá se encaixar em breve. Como se tudo fosse se encaixar e fazer sentido quando eu menos esperava ou talvez já tivesse me esquecido de tudo ou algo do tipo. Aos poucos a chuva passou e sol saiu, forte e brilhante, bem como um sorriso em minha pequena.

 

- Appa, você não falou mais com o moço bonito da praia? – Eunsung quebrou o silêncio de repente, rindo ao me ver envergonhado.

- Mais ou menos, filha, por que? – Respondi, rindo junto dela enquanto ele me apertava as bochechas.

 

Quando menos esperava, ouvi uma risada masculina vinda da porta do escritório, e ao voltar meu olhar para lá, eu vi Donghae. Lindo e esbelto como sempre, e não pude deixar de sorrir enquanto ia até ele o abraçar. Algo que não poderia ter vindo em hora melhor. Por mais que eu quisesse, não disse nada, apenas me acolhi em seu abraço maravilhoso que sempre fizera questão de me guardar e me proteger de tudo e todos.

 

Foi como nos velhos tempos: um abraço acolhedor e sincero, cheio de amor e muita paz. O perfume dele sempre tão doce e acolhedor, me deixando ainda mais feliz. Como é bom te ver de novo, disse, ouvindo sua risada doce em seguida. Em momento algum eu quis deixar seu abraço tão delicioso, porque depois de tudo o que passei hoje, eu precisava de algo assim.

 

O abraço só terminou porque minha filha estava com o celular e tirou uma foto, com o som da câmera ligado, o que gerou certo constrangimento. Ela tem a mesma paixão por fotografia que eu e me acompanhou bastante por algumas vezes como minha assistente pessoal. Ela então se aproximou de Donghae, que lhe pegou no colo, para mostrar a imagem. Foi como já se conhecessem há anos, e eu só observei.

 

- Hae-ah, não disse que meu appa gosta muito do oppa e sente sua falta? – Ela simplesmente soltou, me deixando completamente avermelhado.

 

Eunsung ria, deixando nós dois como pimentões. Como ela sabe disso? E como eles tinham essa intimidade tão grande? Queria eu ser assim com as pessoas. Vai ver Donghae chegou e foi recepcionado por ela, meus clientes sempre comentam como minha filha é uma criança inteligente e cheia de energia. Mas os jeitos como eles se olham e interagem é tão único e especial, como pode?

 

Os dois amores da minha vida é tudo o que eu sempre quis ver.

 

- Eu sei disso, pequena, ele ficou até vermelho! – Os dois riram e eu não soube onde me esconder. Ele se abaixou até ela e sorriu. – Ei, acho que seu appa quer falar comigo, mas quando acabarmos, vamos tomar sorvete na praia como prometi.

 

Donghae piscou para ela, que fez o mesmo antes de sair correndo da sala. Ver essa interação dos dois acalmou meu coração de uma forma incrível, embora eu ainda tenha muito o que conversar com ambos. Convidei o mais velho a se sentar à minha frente no pequeno sofá da sala, e assim o fizemos. O silêncio perdurou, porém, sem muita tensão entre nós, o que me deixou calmo por algum tempo.

 

Embora não seja segredo que ele sempre fez o possível para se cuidar, seus olhos entregavam um passado frio e muito doloroso, algo que talvez eu não deva saber e ele, menos ainda, relembrar. Donghae de repente segurou em ambas as minhas mãos, sorrindo da forma doce que sempre fizera.

 

- Quando cheguei, Eunsung havia acabado de chegar também, mas você estava ocupado. – Ele disse docemente, enquanto enlaçava nossos dedos. – Aí ficamos numa sala vazia, conversando. Ela é um amor, sabia?

- Ah, é? E sobre o que conversaram? – Perguntei, já sabendo sua resposta. – Aposto que descobriram muitas coisas em comum.

 

Rimos, mas então o silêncio voltou. Ele parecia pensar em como prosseguir com aquilo, e eu também estava. Seu olhar ficou distante e, aos poucos, seus pensamentos o seguiram, como se ele estivesse voltando ao passado. Eu podia perceber isso, porque eu também acabei fazendo isso. Fazíamos muito disso, ficar em silêncio, apenas curtindo a presença um do outro, muitas vezes planejando o futuro ou aproveitando as lembranças juntos.

 

Acho que certas coisas não mudam, certo?

 

Pouco tempo depois, Donghae pareceu se lembrar de algo. Pegou a carteira do bolso de trás da calça e, antes que eu perguntasse, tirou uma foto de dentro dela e me mostrou. Na hora voltei dez anos no tempo, mais uma vez, me lembrando de quando tiramos tal foto, depois de tanto insistir. Ambos abraçados, ele sorrindo e eu lhe dando um beijo no rosto.

 

No meio de tanto caos, ainda tínhamos momentos de paz. Me lembrar daquilo que me fazia bem naquela época horrível me deu paz quase que imediatamente. Era ele a quem eu recorria, fosse durante a aula ou nas noites em que eu não conseguia dormir. Donghae sempre foi muito mais que um professor e amigo. O modo como ele mexeu comigo naquele primeiro dia me fez acreditar que minha vida havia mesmo mudado.

 

- Ela me disse que já te viu vendo fotos nossas, e que você sempre sentiu minha falta. – Ele comentou, mas não parecia feliz. – Ela também disse que seu casamento é hoje.

 

Senti um certo pesar em meu coração ao ouvi-lo falando disso. Em meio a todos aqueles papéis e cancelamento do casamento – que acabou sobrando para mim – eu me esqueci deste pequeno e importante detalhe. Segurei em suas mãos e ao notar suas lágrimas, lhe acaricio o rosto, tentando lhe acalmar. Me emocionei com isso, ele realmente é mais sensível do que aparenta ser. Beijei seu rosto e sorri sincero.

 

- Era. – Simplesmente comentei, emocionado. – Nós terminamos, então fiquei de cancelar a festa toda.

 

Os olhos dele se encheram de lágrimas assim como os meus. Realmente, isso tudo é uma loucura. Ainda guardo fotos nossas e já as mostrei para a pequena, porém jamais imaginei que ela se lembraria disso melhor do que eu mesmo. De qualquer forma, Donghae está mesmo de volta, e ao que parece, não vai embora tão cedo – e mesmo que queira, eu não o deixarei ir, nunca mais. Não agora que meu casamento não vai mais rolar e eu estou livre.

 

- Hae-ah, eu ainda te amo muito. – Quebrei o silêncio, e em meio as lágrimas pude me declarar depois de tanto tempo. – Me perdoe por isso tudo.

- Shh, está tudo bem, Hyukkie! – Ele me chamou pelo apelido que há anos não ouço, e isso aqueceu meu coração.

 

Ainda assim, senti um pouco de culpa e abaixei o rosto, mas ele não me deixou ficar assim por muito tempo. Donghae tomou minha atenção e buscou meus lábios em um beijo saudoso, cheio de amor e saudade. Pouco a pouco me entreguei a ele, retribuindo o selar da mesma maneira. Ajeitei-me em seu colo, o abraçando como há muito tempo ansiei, até mesmo sonhei com tal momento. Afinal era exatamente o que eu queria: o meu amor em meus braços.

 

- Sabia que hoje é meu aniversário? – Donghae dissera durante o beijo e eu sorri surpreso com aquilo. – Acabei de ganhar meu maior presente de todos.

 

Eu mal podia acreditar, como eu não me lembrava desta data? Aos poucos o nosso beijo se tornou algo mais íntimo e apaixonado. A porta trancada, as roupas foram ao chão, e nós dois estamos nos amando como nunca. O modo como nos envolvemos a esse ponto e tão rápido não me importa. Estar no colo dele depois de tanto tempo é o que mais importa agora, o amando de maneira saudosa e apaixonada. Pouco me importou o que aconteceu mais cedo. Havia algo mais forte me dominando, que eu não podia mais negar.

 

O sorriso de Donghae me iluminou. A luz de seus olhos sempre foi e sempre será o caminho para minha felicidade. Estar com ele após esse tempo todo é algo que, por um tempo, acreditei ser impossível. Mas em algum lugar dentro de mim, aquele menino de dezesseis anos apaixonado por seu professor ainda vivia e me dava esperança. Dentro do meu coração eu o guardei e o carreguei comigo por todos esses anos, sabendo que o nosso dia chegaria – e finalmente estamos vivendo o nosso momento. Olhei em seus olhos e sorri sincero pela primeira vez em dez anos, agora com a maior certeza da minha vida:

 

- Eu amo você e meu coração te pertence.


Notas Finais


bom, eu quero agradecer pela paciência ;; em parte foi pra decidir entre fazer ou não um bônus, e eu decidi por fazer ;; prometo não demorar 4 meses de novo ;; asdfghjkl
muito obrigada mais uma vez, nos vemos em breve ;;


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