1. Spirit Fanfics >
  2. My Immortal >
  3. Você já se cortou?

História My Immortal - Você já se cortou?


Escrita por: ysm_ozean

Notas do Autor


EAWEEE \O/ Eu não demorei tanto dessa vez, né? *-* Eu só esqueci que esse capítulo tava pronto ¬¬ e eu tô postando esse capítulo pelo celular (eu revisei ele inteiro pra não ter erros e não ficar mal escrita) e é só um teste, se sair bom por aqui eu vou poder postar com mais frequência, senão eu volto pro PC ^^'
ENFIM! Ah é, antes eu queria dizer que TUDO que acontecer na fic não é por acaso >.> nem a Yasmin descendo até o chão no cap passado (?) foi por acaso, tudo vai ter um propósito, ok? ^^
Ah! Eu tenho duas recomendações pra fazer!
Um é um filme que tem MUITO dessa fic e o outro é um anime perfeito que tem o enredo meio parecido com esse (bem pouco, mas tem)
-As Vantagens de ser Invisível <3 recomendo muito, pois o Patrick e o Charlie são MUITO parecidos com o Hiroto e o Fubuki, respectivamente. Inclusive a dublagem deles são as mesmas do Buki e do Hiro em Super Onze. E Orange <3 admito que chorei assistindo essa poha, sim, você não leu errado. EU CHOREI COM ESSE ANIME! Ele é shoujo e é um amorzinho, super recomendo <3
Agora sim, CHEGA DE ENROLAR! Vamos ao capítulo! O/
Nos vemos lá em baixo <3

Capítulo 5 - Você já se cortou?



 A noite era fria, a névoa encobria as estrelas e a lua escondia-se timidamente atrás de uma enorme nuvem cinzenta. A brisa suave fez seus cabelos vermelhos agitarem, assim como os meus, e seu olhar sombreado deixava suas esmeraldas quase que inexpressivas, escuras, sem brilho algum. Ao meu lado ele permanecera em silêncio até que nos afastássemos completamente da casa de Endo, a tensão era visivel entre nós. 

- Obrigado por ter entendido. 

 Eu não entendi bem a que ele se referia no início, mas lembrei-me do beijo atrás da casa e de como ele me olhava assustado enquanto se afastava do Midori.

- Não precisa agradecer. -Falei com simplicidade, estava sendo sincero com ele. -Eu acho que vocês se combinam muito. -Hiroto riu. 

- Concordo plenamente, fomos feitos um pro outro. -Rimos e claro, concordei com ele, mas não havia dito aquilo por falar, eu realmente acreditava nisso e só depois de descobrir sobre seu relacionamento eu pude ver a sintonia dos dois. As trocas de olhares, os sorrisos, as vezes em que saíam da sala escondido, estava tudo na minha cara e eu não percebi. 

- A Yasmin me disse que te contou... Espero que isso não mude nada entre a gente. -Mordeu o lábio inferior olhando-me nervosamente. 

- Não vai mudar... Pra falar a verdade, eu fiquei surpreso com o que ela me disse. Se eu soubesse que isso acontecia com ele antes, eu mesmo teria dado um jeito de impedir a madrasta dele.

- Eu também... -Suspirou com pesar, passou rapidamente a mão sobre o rosto e virou-o para o lado oposto ao meu. -Mas nós vamos conseguir, estamos juntando uma grana e vamos tentar alugar uma casa bem longe daquela velha. 

- Hiroto. -Ele fungou ainda com o rosto virado e depois olhou-me com um sorriso. -Pode contar comigo para o que precisar, eu sempre estarei disposto a ajudar vocês, não importa o que aconteça. 

 Paramos de andar por um momento, ele me olhou sério e aos poucos seus lábios curvaram-se, suas sobrancelhas franzidas demonstravam tristeza, ele deixou algumas lágrimas cairem e acabou me abraçando. 

- Você não sabe como isso é importante pra mim. 

- Eu sei...-O confortei alisando suavemente suas costas com a mão, era incrivel como eu podia tentar amenizar sua dor, mas não conseguia lidar com a minha. -Não se preocupe, tudo vai dar certo.

- Obrigado. -Me soltou secando com a ponta dos dedos seu rosto úmido e sorriu novamente, animado como quando o conheci pela primeira vez. -Eu já te disse que você parece um principe? 

- Um o que? -Ri e continuei a andar na direção de minha casa, já estava tarde da noite e não era bom bobiar e ficar passeando por aquelas ruas escuras. Ele me seguiu e apoiou-se em meu ombro. 

- Um principe. Você sempre é gentil, calmo, doce, respeitador, um pouco ingênuo, eu admito, mas mesmo assim, você parece ter saído de um conto de fadas. 

- Principes não existem, Hiro. -Respondi sorrindo. 

- Eles foram extintos, mas tem um bem aqui na minha frente. -Piscou para mim e no mesmo instante chegamos a minha rua. Rapidamente ele correu a caminho de sua casa e enquanto o fazia deixou escapar um "Tchau príncipe!". 

- Hiroto... -Ri e revirei os olhos deixando de lado o "principe" e também fui embora ao me despedir. Abri com cuidado a porta de casa, entrando pela cozinha só pude ver a luz da TV acesa e minha tia deitada no sofá dormindo. Sorri a observando, ela parecia tão cansada do trabalho e da faxina em casa, eu era mais um fardo que ela precisava carregar e mesmo assim, quando o dia trazia consigo o seu brilho, ela esbanjava seu melhor sorriso. Ela é uma mulher incrível. 

 Desliguei o aparelho e suavemente toquei em seus ombros, a chamando para ir domir em sua cama, onde era obviamente mais confortavel para ela. Resmungou um pouco pela minha demora, mas o sono facilmente a venceu e então ela foi para o quarto, e eu fiz o mesmo, nem troquei de roupa. Meu pulso estava ardendo, o curativo havia saído do lugar. Ajeitei-o e fui pra cama também, minha cabeça estava explodindo. 

~*~

 Midori fechou os olhos, apertou o pequeno galho daquele dente-de-leão com força entre seus dedos. Sorrindo, ele fez um pedido, uma leve brisa tocou seu rosto e então ele assoprou a flor, que se despedaçou ao vento levando para longe suas fragéis pétalas brancas, agora era esperar para que uma delas voltassem e realizasse o seu desejo. 

- Midori! -Nem precisou olhar pra trás para saber quem era, virou-se de costas para a mureta de madeira e esperou ele chegar mais perto, enquanto corria velozmente até ele. 

- Bom di... 

 Hiroto o abraçou com toda a força que tinha deixando seu Bom Dia incompleto, enchendo-lhe de beijinhos em seu rosto e depositando alguns rápidos selinhos em seus lábios, Kiyama não dava tempo nem de Ryuuji respirar. 

- Ahhh Hiroto! -O ruivo segurava em seu rosto com as duas mãos e o beijava enquanto ria das reações do esverdeado, parou no momento que Midorikawa brigou com ele. Olhou-o sorrindo. 

- O que foi? -O de rabo de cavalo sorriu hipnotizado pelos lábios vermelhos e sedentos de Hiro, olhou novamente as esmeraldas o olharem curiosas. 

- Você nem me deixa retribuir... -Encostaram suas testas uma na outra e encararam-se em silêncio, Hiroto fechou os olhos e Midorikawa tocou de leve seus lábios, roçando-os de leve entre os suspiros de ambos. 

- Senti sua falta... -Sussurrou. 

- Eu também senti a sua... -Midori respondeu normalizando seu coração acelerado, afastou-se dele quando algumas garotas passaram pelo pátio conversando escandalosamente alto. 

- Ah, eu falei com o principe ontem, ele disse que... 

- Principe? Que principe?! -Midorikawa berrou enciumado, arrancando de Hiroto uma boa gargalhada. -Tô achando graça nenhuma! 

- E depois diz que não é ciumento... -Assim que Ryuuji abriu a boca para protestar em sua própria defesa, Hiroto o cortou. -O Fubuki, eu falei com ele sobre o que ele viu. 

 Uma angústia desesperadora atingiu o peito de Midorikawa, de maneira alguma ele queria que o amigo tivesse visto os dois juntos, não do jeito que aconteceu. Sentia-se envergonhado por ser o que ele era, e principalmente por ter sido descoberto. 

- Eu não queria que ele tivesse visto... -Uma onda de silêncio prencheeu o ouvido de ambos naquele momento. - O que ele vai pensar de mim agora... 

- Foi exatamente sobre isso que eu falei com ele, e ficou tudo bem, ele não tem preconceito. Disse que nos ajudaria no que fosse preciso... Eu sabia que podíamos contar com ele. -Disse com um sorriso, seus olhos miravam o céu de maneira sonhadora, alegre, como Hiroto geralmente era com todos. Seus sentimentos sempre transparenciam atráves de seu jeito espontâneo. 

- Ele disse isso? -Kiyama assentiu, a expressão abismada de Midori o fez rir mais ainda. -E não perguntou mais nada?! Sério?! 

- Sim, o que você esperava vindo dele? 

-... Sei lá... Eu fiquei com medo de... Ser ofendido... 

- Por ele? Midorikawa, até parece que você não o conhece. Vamos entrar, já demoramos muito aqui. 

- Vamos... -Hiroto passou por trás dele e o guiou segurando em seus ombros, como se fosse um trenzinho.

- O que você tava fazendo aqui antes de eu chegar? 

- Eu... -Quando estava prestes a responder, uma das petalas do dente-de-leão sobrevoou sobre ele e caiu em sua mão. Não escondeu o sorriso ao vê-la, seu desejo iria ser atendido. -Não estava fazendo nada. 

- Hum... Espero que não esteja com nenhuma vadia daqui. 

- Claro que não. -Respondeu convicto e do nada parou de andar, fazendo Hiroto esbarrar nele. 

- Por que parou? 

- Me dá um beijo e eu continuo. 

-... Tsc, baka... -Revirou os olhos rindo e atendeu ao seu pedido, inclinando a cabeça de Ryuuji para trás, ele se inclinou na ponta dos pés e o beijou, um selinho demorado que arrancou suspiros de ambos. -Podemos ir agora? 

- Sim! -E correu em direção das salas, o inspetor já estava verificando se todos os alunos haviam entrado e eles ainda estavam ali. 

~*~

 Todos já estavam dentro da sala, e mais uma vez eles foram os ultimos a entrar junto com o professor. 

- O Fubuki faltou? -Hiroto perguntou vendo a mesa do garoto vazia e Yasmin com cara de bunda olhando pra ela. 

- Sim... Eu fui chamar ele pra irmos juntos e a tia dele falou que ele tava com muita dor de cabeça...  

- Que droga. -Ryuuji fez biquinho e Atsuki suspirou debruçando na mesa, olhando o movimento do lado de fora da janela. 

- Muito bem, pessoal. Sentem-se em duplas DE DOIS, hoje vai ter prova de Português. 

- Ahh que droga.../ Sabia que devia ter faltado hoje... /Aff! -Quase a sala inteira reclamou, e só arrumaram as mesas depois do professor bater com o livro -enorme- sobre sua mesa, assustando a todos com o barulhão que havia feito. Hiroto, obviamente fez dulpa com Midori; Endo com Goenji, Fudou com Kidou e Yasmin com Kazemaru, a prova seria sobre gramática, um assunto fácil até, mas isso não significava que todos estavam felizes com ela. 

~*~

 A imagem da TV começava a ficar embaçada, por horas ela escurecia completamente e seu corpo cansado não conseguia impedir. Suas pálpebras abriram só mais uma vez tentando lutar contra o sono, mas já era tarde demais para tentar despertar. Deixou o cansaço vencer e fechou os olhos para tirar um cochilo, seu corpo relaxou melhor no sofá, colocando sobre a barriga uma almofada para "abraçar", até um clarão iluminar a casa inteira e um estrondoso barulho estremecer suas estruturas, fazendo o albino despertar. Da cozinha ouvia barulhos de pedras caindo e a chuva vindo com mais força batendo contra o telhado o deixou atônito.

-... A janela aberta! Tsc, droga! -Descalço mesmo, correu até o cômodo ao lado para fechar a dita cuja, estava chovendo granizo e as pedrinhas de gelo que se espalhavam pelo lugar só o dificultavam ainda mais. 

- Fubuki! -Alguém o chamou do lado de fora. Era a voz de uma garota e parecia despesperada batendo como uma louca na porta. 

- Espera aí, eu já vou! -Tentava a todo custo apressar-se a empurrar o vidro da janela para fora e finalmente tranca-la, mas estava sendo difícil. Assim que conseguiu, seguiu para a porta e estando apenas encostada, ele só precisou puxa-la para revelar do lado de fora a garota ensopada à sua porta. 

- Yasmin? Entra! -Puxou-a pelo braço, ela tremia de frio. -O que você tá fazendo nessa chuva? 

- E-eu q-queria ver se você tinha m-melhor-rado, mas no meio do caminho a chuva me pegou. Você tinha que ver, o céu estava limpinho e do nada... -Suspirou gaguejando, nem precisava terminar de falar para saber o quanto aquela chuva chegar do nada havia a surpreendido.

- Entendi... Eu vou pegar uma toalha pra você se secar. 

- N-não precisa não... 

- Precisa sim, você vai adoecer se ficar molhada desse jeito.-Sorriu para ela, que tentava disfarçar seus tremores passando as mãos em seus braços. -Me espera aqui, já volto. 

 Esperou ela confirmar antes de ir e depois partiu para os fundos da casa, deixando-a sozinha a olha-lo até que ele sumisse de sua vista, na TV passava o filme Gente Grande, mas o barulho da chuva em conjunto com o volume baixo do aparelho fazia ser impossivel de acompanhar as cenas. 

- Aqui. -Shirou voltou a tirando de seus pensamentos silenciosos entregando-lhe duas toalhas. -Seque-se, eu vou procurar uma roupa seca pra você. 

- O que? Não Fubuki, não precisa, é sério. -Apavorou-se com a decisão dele. 

- Você não pode ficar com as roupas assim, você vai... 

- Pode deixar, eu não estou tão molhada assim. -Afirmou passando a toalhas pelos cabelos, Fubuki ainda não estava convencido, mesmo se fizesse o que ela queria, ela ainda podia se resfriar, pois estava sem blusa de frio. 

- Tudo bem, mas eu vou te emprestar uma camiseta e uma blusa, ok? 

- T-ta.

 Deixando mais um sorriso surgir em seus labios, saiu em busca dos itens que disse que traria e não demorou muito para voltar. 

- Vai mesmo deixar eu usar suas roupas? -Atsuki murmurou quase em um sussurro, enquanto olhava as peças dobradas sobre suas mãos. 

- Sim... Ao menos que você não queira... -Seus olhos azuis pareciam estar úmidos ou então era a baixa iluminação da sala que dava essa impressão a ela ao olha-lo, de qualquer forma ele aparentava estar magoado com sua pergunta, ela precisava se retratar. 

- C-claro que eu quero, eu só... Fiquei surpresa... Eu acho... 

 Ficaram encarando-se em silêncio, ele foi o primeiro a desviar o olhar quando este começou a ficar incômodo entre os dois e foi para o sofá. 

- O banheiro fica depois do primeiro quarto perto da cozinha, você pode se trocar lá... -Encolheu-se entre as almofadas, puxando ainda mais para baixo as mangas de sua blusa e segurando-as com as mãos, deitou no sofá olhando com desinteresse para a TV. 

-... Eu posso ficar aqui? -Disse Yasmin apreensiva ainda sem ir trocar-se. -Tá chovendo muito lá fora... 

 Esperava ansiosa por uma resposta dele, Fubuki a olhou surpreso por cima do encosto do sofá, que escondia seu sorriso. 

- Pode. -Ela sorriu dessa vez. -Vamos assistir algum filme. 

- Uhum. Eu já volto! -Concordou e foi correndo trocar de roupa, seu corpo já implorava por algo mais quente para cobri-la do frio daquele temporal que havia tomado. 

~*~

- Tá chovendo muito... -Hiroto, observando as grossas gotas molharem o vidro da janela a ponto de deixa-la embaçada, disse melancólico. Era como se a chuva para ele trouxesse um sentimento de tristeza, que o fazia sentir-se para baixo. 

- E parece que ela vai demorar a passar... -Aquela simples frase fez um sorriso brotar nos lábios de Kiyama, que ligeiramente aproximou-se de Ryuuji e o abraçou por trás, encostando seu queixo sobre o ombro do verdinho. 

- Tomara que ela demore mesmo, assim eu posso ficar mais tempo com você. -Sussurrou ao pé de seu ouvido, Midorikawa estremeceu deixando um riso escapar, com jeitinho ele virou-se de frente para o ruivo e calmamente selaram seus lábios, iniciando um beijo lento e apaixonado, aproveitando os momentos a mais que teriam juntos antes de enfrentarem o olho do furacão. Hiroto deslizou as mãos pelas costas de Ryuuji, acariciando-o antes de se separarem e ambos permanecerem com os olhos fechados. 

- Hm, Hiroto... -O ruivo revelou seus orbes esmeraldas a brilharem quando o outro o chamou. -O único problema é a Nora, ela vai reclamar. 

- Não vai não, quando a chuva passar eu vou pedir para o Kaze te acompanhar até em casa pra que aquela maldita não te faça nada. 

- Espero que ela não desconfie... -Ele mirou os olhos para o chão com o semblante triste, aquilo partia o coração de Hiro. Quando este estava prestes a reconforta-lo, Midori olhou-o com um sorriso travesso e agarrou-o entre seus braços, passando-os em volta de sua cintura e o puxando para perto, colando seus corpos um no outro. 

- Eu não quero pensar nisso agora, vamos aproveitar que tá chovendo e fazer coisas que as pessoas não vão poder ouvir. -Hiroto deu-lhe um selinho, onde ambos sorriram entre ele enquanto andavam -ou tentavam- abraçados para o canto daquele porão vazio, um lugar abandonado que ficava próximo a escola e fora escolhido pelos dois para ficarem juntos, longe de todos.

~*~

 A cena do rapaz levantando as mangas de sua blusa e mostrando ao amigo os seus cortes fez Shirou fechar os olhos, não queria ver mais daquele filme. Enquanto Yasmin assistia a tudo sem nem piscar, ele queria desaparecer dali. O nome era Para Salvar uma Vida, e falava sobre o bullying que um garoto sofria em silêncio e só descobriram sobre isso após sua morte, onde um rapaz se prôpos a ajudar um outro garoto que sofria do mesmo problema. Cada cena era impactante, principalmente para o albino, ele permanecia deitado no sofá, quieto, enquanto a morena sentada na outra ponta fazia alguns comentários sobre o filme, mas diante da cena dos cortes ela permaneceu calada e aquele era o momento que Shirou mais queria que ela dissesse algo.

 - Você teria coragem, Fubuki? 

 Seus olhos ergueram-se minimamente para ela. 

- Teria coragem de... Se cortar? 

 Seu coração batia incrivelmente calmo em seu peito, mesmo com a pargunta que lhe fora feita. Ele não respondeu, olhava para ela calmo, impássivel. Sua confiança nela não permitia que ele se surpreendesse ou se assustasse com o que ela disse. O silêncio quebrou-se quando Yasmin, mordendo o lábio desviou o olhar para o televisor novamente. 

- Eu não conseguiria... Não sou tão corajosa. 

 Não é a coragem, é a necessidade de se livrar de uma dor muito pior. 

Respondeu mentalmente olhando na direção que os olhos castanhos dela miravam. 

- Eu tinha uma amiga que fazia isso. 

 Aquela pequena frase fez seu coração se sobresaltar. 

- Sério? -Olhou-a. 

- Uhum... Ela era linda e não sabia. -Ele notou a pequena mudança em seu tom. -Ela tinha os cabelos longos, loiros e lisos, enormes, batiam até a sua cintura. E os olhos azuis dela... -Ela a descrevia com um sorriso saudosista nos lábios. -Eram lindos e brilhantes, mais claros do que os seus, combinavam com a pele branquinha dela e as bochechas rosadas... 

 Ele ouvia a tudo atentamente, sabia que aquele assunto era doloroso para ela. 

- Ela era gordinha, mas isso não a fazia pior do que ninguém. Com o tempo as pessoas começaram a zoar ela por ser assim, mas ela parecia nunca se importar, sempre fazia palhaçadas pra gente. Ah é, o Kazemaru também a conhecia, os dois eram os meus melhores amigos. 

 Atsuki deu uma pausa para respirar, passou uma mecha do cabelo para trás da orelha e suspirou encostando a cabeça no sofá. 

- O que aconteceu com ela? 

- Ela odiava ser do jeito que era, ainda mais por não conseguir emagrecer, só eu sabia o quanto ela era triste por isso... Ela comia chorando, Fubuki... Era horrível... E mesmo que eu dissesse pra ela que ela era linda daquele jeito, ela não me ouvia e pedia pra eu não falar pra ninguém sobre o que ela fazia. 

 Fubuki sentia seu coração apertado, era como se pouco a pouco uma montanha de areia caisse sobre si e o sufocasse lentamente. 

- No dia que eu resolvi falar com o Kazemaru e tentar pedir ajuda pra alguém, ela se foi com uma corda pendurada no pescoço.  

 Fubuki ficou paralisado no lugar, sua mente pensava em mil coisas e seu coração assustado batia rapidamente. 

- E-ela...

- Minha melhor amiga se matou. -Seu olhar vazio olhava a tela da TV sem expressão alguma no rosto, ela expirou o ar para dentro e o soltou devagar, fechando os olhos e o privando de vê-los marejar.-Por isso eu não faço essas coisas, por pior que tudo esteja. Em respeito a ela e a todas as pessoas que se multilam e sofrem caladas. 

 O canal havia saído do ar, provavelmente a chuva teria danificado os cabos transmissores e o sinal acabou caindo. Entre os dois estava o silêncio de suas vozes e o chiado da TV, além da chuva que caía com menos intensidade naquela hora. 

- Eu... Vou pegar uma água pra você. -Nunca fora tão dificil para Fubuki segurar o choro como naquele momento, engoliu em seco a vontade que tinha e foi para a cozinha pegar um copo sobre a pia, encostando-se sobre ela, deixou copo encher-se no filtro mordendo o lábio com força enquanto suas mão tremulas tentavam sustentar seu corpo para não desabar ali. Já com o copo cheio, Fubuki o trouxe para perto, mas não sentia-se seguro para leva-lo ainda. Apertava-o com tanta força que parecia até que o quebraria, cabisbaixo ele deixou uma lágrima se encontrar com o restante da água que pegara, muitas outras vieram em seguida. Os dentes trincados impediam que qualquer ruído saísse de sua boca e ela pudesse ouvi-lo ter outra recaída, a dor o consumia e ela era devastadora por dentro. 

...

- Bêba, você vai se sentir melhor. -Deixou o copo em suas mãos sem a encarar, educadamente a morena sorriu em agradecimento tomando-o em mãos.

- Obrigada, não precisa se incomodar com isso. 

 Esperava ansiosamente que ela terminasse, quando assim o fez, ele abraçou-a com força sobre o sofá, e ela de imediato retribuiu com a mesma intensidade, o apertando calorosamente e encaixando seus corpos um no outro, como se tivessem sido moldados para estarem daquele jeito. 

- Você é incrível. -Shirou pronunciou em baixo tom perto de seu ouvido, causando sobre ela uma sensação estranha na barriga. 

- Você que é. -Respondeu igualmente baixo, o apertando mais um pouco. 

  Não, eu não sou. 

Afastaram-se lentamente enquanto olhavam um nos olhos do outro em silêncio por alguns instantes, Fubuki ficou com medo de que ela percebesse a vermelhidão sobre eles e levantou-se do sofá pegando o copo do raque e o levando para o seu lugar. Agora apenas uma garoa fina impedia a rua de se secar, a chuva havia passado e Yasmin poderia ir embora. 

- Acho que eu já vou pra casa, minha mãe deve estar preocupada...

 Uma mãe preocupada com o filho... Era inevitavel não sentir inveja daquele simples fato cotidiano na vida de um adolescente, coisas que ao ver de qualquer outra pessoa eram apenas rotinas e costumes, para Fubuki significava mais um dos "privilégios" de ser orfão. 

- Tudo bem... Eu te levo até a porta. -Disse com pesar, mas ela nunca percebia quando ele estava prestes a desabar, e infelizmente ele pensava que ela não precisava saber. Nem ela e nem ninguém. 

- Tchau príncipe. -Piscou deixando Fubuki surpreso na porta. 

- O Hiroto te falou desse apelido? 

- Sim, ele disse que esse vai ser o seu apelido a partir de hoje. 

- Esse Hiroto... -Constrangido, ele passou a mão atrás da cabeça, bagunçando um pouco os fios platinados que sempre estavam vvoltados naturalmente para cima. 

- Posso te devolver o casaco e a camiseta amanhã? 

 Shirou nem lembrava que havia emprestado duas de suas peças de roupa para ela; uma blusa de moletom azul marinho com ziper e sua camisa favorita, uma azul clara com gola redonda. 

- Sem problemas, outro dia você me devolve. 

- Tá bom, obrigada Fubuki. 

- De nada. -Respondeu com simplicidade sorrindo e acenando para ela até que se afastasse de sua casa. 

 Quando estava para entrar, uma mulher empurrou a porta e também entrou, assustando o albino em um primeiro momento. 

- Que susto, tia. Achei que fosse um ladrão. 

- Calma querido, você está muito abalado. -Não deixava de ser verdade, ela entrou na casa e com a ajuda de Fubuki foi para a cozinha guardar os alimentos que havia comprado antes de voltar. -E quem era aquela garota que saiu daqui? 

- Ah, a Yasmin. Ela veio ver se eu estava melhor da dor de cabeça. -Disse enquanto guardava algumas frutas na fruteira perto da geladeira, sua tia o olhou insinuosa quanto ao que ele havia dIto. 

- Nossa, essa garota parece gostar bastante de você... 

- Sim... Mas acho que não é desse jeito que a senhora acha.

- Pois eu acho que sim, ela vem sempre te chamar pra sair e você recusa, prefere ficar trancado no quarto. Não acha que ela quer conhece-lo melhor? 

- ... -Sem nada dizer a respeito, ele sentou-se a mesa de frente para a mulher. 

- Você não gosta dela? 

- Gosto... mas eu não acho que ela vá se interessar em mim... Eu não tenho nada de especial... 

- Você está sendo modesto, Fubuki. Você é lindo! Tenho certeza que faz as garotas suspirarem na escola. -Shirou riu. 

- Com certeza não, tia. Eu vou pro meu quarto, tenho que estudar para a prova de hoje que eu perdi, amanhã vou pedir para o professor me deixar fazê-la. -Anunciou levantando-se da cadeira e arrumando-a rente a mesa. 

- Tudo bem, mas não se esforce muito, sua dor de cabeça pode voltar. 

- Pode deixar. 

 Em seu quarto diante dos livros na escrivaninha e os retratos de sua família decorados sobre ela, Fubuki não conseguia se concentrar na matéria. As cenas do filme que assistiu voltava várias e várias vezes a sua mente, e junto com ele, ela também voltava e trazia consigo aquela sensação de algo em seu estomago, uma ansiedade estranha, como se realmente borboletas estivessem ali. Agora livre das ataduras e das longas mangas da blusa, seus pulsos poderiam ver a luz novamente, mas ardiam muito e incomodavam o albino. Não se importava que estivessem inflamando por conta da falta de cuidados, na verdade ele agia como se aquilo fosse um bônus por ele ter fraquejado novamente naquela tarde e chorado mais uma vez, mais um castigo. 

 Depositou o lápis em cima do estojo sem coloca-lo para dentro, e foi para sua cama deitar-se um pouco. 

  "Por isso eu não faço essas coisas, por pior que tudo esteja. Em respeito à ela e à todas as pessoas que se mutilam e sofrem caladas."

  Suas palavras não saíam de sua cabeça nem por um misero segundo, será que ela sabia sobre o que ele fazia e estava esperando que ele abrisse o jogo? Ou então ela sabia e havia dito aquilo indiretamente para que ele parasse? Muitas perguntas e respostas para suas próprias paranoias o fizeram arfar, era fácil dizer que pararia, difícil era cumprir. Todas as pessoas sofriam, ninguém estava livre disso, mas sua dor era muito viva em seu peito, era como o fogo; queimava, machucava demais e não estava em seus planos ignora-la, e não era apenas por ela que ele se auto castigava, mas também por suas próprias fraquezas. 

 Você precisa mudar, precisa seguir em frente, o mundo não vai parar de girar só porque você está triste. 

 Não se esqueça que você poderia ter pedido ajuda no dia do acidente, mas você paralisou ao ver o carro de baixo de toda aquele neve, onde só você se salvou. 

 Era o anjinho e o demônio sussurrando em seu ouvido, propondo a ele o certo e o errado, enchendo sua cabeça com mais idéias suicidas. Alguém precisava sofrer, por que este alguém não poderia ser ele? 

 Talvez eu tenha ficado vivo por algum propósito, nada acontece por acaso... 

 Você acha mesmo que mereceu viver mais do que os seus próprios pais? Não é egoismo demais da sua parte? 

 A culpa não é minha, se eu pudesse daria a minha vida no lugar deles, mas não aconteceu desse jeito... 

 O que você tem de tão bom para ter saído ileso do acidente? Que eu saiba, o goleador do time juvenil era o seu irmão e não você. Você sempre foi fraco, Atsuya era corajoso para arriscar tudo em uma partida e ele foi tão bom, que te empurrou para fora do carro pra te salvar, você não faria o mesmo. Você nem sequer consegue me ignorar, porque eu estou certo. 

Você é um lixo. 

  Seus lábios tremeram e o azul de seus olhos perdeu mais uma vez o brilho, enquanto era inundado por lágrimas secas, eles ardiam por achar que nada mais podia piorar, mas sempre piorava, sempre haveria um motivo para chorar e quase sempre ele era ruim. Pegou o travesseiro e juntou-o ao seu corpo, o abraçando e despejando ali toda a sua dor em forma de choros e soluços. 

Viu? Eu estou certo, é assim que tem que ser. Você devia sentir-se honrado em carregar consigo um fardo tão grande, muitas pessoas não conseguiriam. 

 Esse é o problema; ele não estava conseguindo. 

 

 

 

 

 


Notas Finais


|Estar em depressão é como viver diariamente em uma montanha russa, horas você está tão alto que chega até a pensar que nada pode te derrubar, mas quando você desce o impacto vem com tudo e te leva de novo para o chão.|
***
Fim do capítulo \o/ YEEEY... Ééé... Eu disse que esse cap ia explicar da relação HiroMido, mas nem rolou ¬¬ isso vai acontecer, mas com o decorrer dos capítulos, nada explícito, like a Sakura Card Captors \o/ e não se preocupem, eu vou responder os reviews que faltam *-* <3
Espero que tenham gostado <3 e nos vemos no próximo o/
KYSSUS!!! ^.~/


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...