JunHong POV's.
Acordo com o despertador tocando. Suspiro algumas vezes e depois suspiro de novo. Criar coragem de levantar, tomar banho e me arrumar é a pior parte. Mas claro que a pequena já está acordada e obviamente batendo na minha porta, criança endiabrada.
— Já to' acordado JiYumi...— Falo, talvez baixo demais, pois a capetinha continua batendo na porta, respiro fundo. — To' acordado merda! — Grito e ouço suas risadas escandalosas.
Desisto de dormir mais 5 minutinhos e me levanto da cama, sentindo uma baita dor nas costas. A cama da minha omma sempre foi muito dura. Ao abrir a porta do quarto minúsculo, vejo a menina dos cabelos negros e cortados muito bem – por mim – curtos, exatamente o mesmo corte que o meu e do seu irmão – único que sei – o que fazia ela parecer ainda mais com YounHong, mesmo que ele seja menino, mas eles são gêmeos e praticamente idênticos. Seus olhos negros de cílios longos, como de nossa mãe, me olham com uma curiosidade que eu não sei identificar. A lebre – como eu a chamo por ser pequena e muito rápida, no sentido agitada – passa a mão no meu olho, me abaixo para ela poder tocar, e ela levanta a sobrancelha escura.
— Você está parecendo um panda punk oppa! — Agora quem levanta a sobrancelha sem entender sou eu. Dou uma risada estranha e vou ao banheiro para fazer minha higiene matinal e, claro, ver o tal panda punk.
Olho no espelho e compreendo. Meus olhos estavam muito fundos, olheiras enormes se encontravam em meu rosto, entendi o panda, agora falta entender o punk... Olho bem para o espelho e bagunço meu cabelo rosa com as próprias mãos... Pera. Cabelo rosa! Panda Punk, na verdade é uma boa definição minha para o momento. Fecho os olhos me lembrando do que fiz ontem e quase durmo em pé. Cheguei em casa por volta de meia noite e os gêmeos estavam acordados, mesmo que eu os mande dormir quando passa das onze horas, eles estavam com fome, e eu não podia pedir que eles dormissem com fome, afinal. Estava tão cansado, mas além de ter que fazer uma "comida" e colocá-los para dormir, tive que arrumar a bagunça que eles sempre fazem, lavar a louça, limpar a geladeira e nem tomei um banho, apenas me joguei na cama dura que minha omma deixou para mim.
Olho para a escrivaninha rústica e velha da sala, um dos únicos e poucos móveis que tenho e vejo uma carta. A carta da minha omma para mim... Foi a primeira carta que ela me deixou, e eu chorei tanto, sem nem saber que a cada mês que passava ela mandaria outras– ou escreveu todas e deixou para cada mês para alguém mandar– e todas suas cartas parecem saber o que eu passei no último mês, mas simplesmente não sei se nossa omma nos espiona de longe ou ela previu isso antes de... Não sei.
Flashback on...
Quatro meses atrás.
Não dormi praticamente a noite toda, fiquei conversando com meu amigo JunGup no celular, mesmo sabendo que eu tinha trabalho no dia seguinte. Levantei cansado da cama, umas cinco da manhã, a hora que eu e minha omma estávamos já acordados. Dormia na sala à uns anos e por isso minha coluna tem tantos problemas, entro no banheiro apressado para fazer minhas necessidades e tomar meu remédio antidepressivo sem que minha omma visse, mas tinha algo errado, eu não estava ouvindo o barulho na cozinha de todas as manhãs, será que ela estava dormindo? Acreditei que sim e continuei me arrumando no banheiro. As crianças ainda estavam dormindo e eu só as acordava no último minuto, pois sempre tive pena de fazer com que eles acordassem muito cedo.
Estava tudo tão quieto que dava medo. Fui até o quarto da minha mãe.
— Dona Hyunna? Está na hora de...— Nada entendo ao ver a cama arrumada e nada de minha omma ali. Suspiro. Ela deve estar querendo me dar um susto... Não vai rolar. Minha cabeça trabalhava ingenuamente e eu vou até a cozinha pensando que ia vê-la abaixada para passar um terror para o seu pobre filho e até chego rir com meus pensamentos.
Nada. Onde ela está? Olho bem para toda a pequena casa e apenas vejo a luz do sol adentrando a única janela do aposento. O raio solar refletia exatamente no móvel rústico que minha omma amava e um papel me chama a atenção. Ando lentamente até lá e vejo que haviam quatro desses envelopes e cada um tinha um nome escrito com a letra dela. "JunHong", "JiYumi", "YounHong" e um nome que chega a fazer meus olhos arregalarem... "YongGuk".
Pego a minha carta lentamente e ouço meu coração bater mais rápido do que já ouvi na vida. Conseguia sentir meu sangue correndo nas veias e o tempo pára ao perceber que essa carta não parece ser uma coisa boa.
" Zelo,
Meu querido filho, meu primogênito e meu maior orgulho...
Eu peço que não tenha raiva de sua omma antes de tudo, sei que o que estou fazendo não vai lhe trazer coisas agradáveis, mas eu não consigo mais.
Você já deve estar pensando no pior... Mas eu estou em um lugar melhor e peço que você interprete isso da forma que menos lhe faça sofrer possível.
Tudo estava difícil para mim e eu precisava fugir desse meu sufoco... Tudo desmoronou em minha cabeça. Seus irmãos nasceram e isso fez com que você perdesse sua infância, por causa de descuidos meus.
Não me arrependo de ter os dado a luz, pois eles eram(ou são) minha razão de viver. Eu apenas não aguentava mais dívidas, essa vida de só trabalho, vendo você sofrer e ainda por cima sofrendo.
Tomar antidepressivos todo santo dia, saber que meu próprio filho também toma... E eu sei, sempre soube que você tomava meus antidepressivos reservas escondido de mim. Eu não queria ter te feito sofrer tanto.
Você foi pai, irmão e ainda por cima filho. Você é um orgulho para mim JunHong, e eu espero que consiga alcançar seus sonhos sem mim, onde eu estiver, o lugar que for, pois nem eu mesmo sei onde fica, não importa, estarei torcendo por sua felicidade.
Não chore! Pois sei que você está agora derramando lágrimas... Com o tempo minha falta passará.
Você não precisará mais dormir no sofá querido...
Sei que estou lhe deixando um peso muito grande, seus irmãos, cuide deles por enquanto. Entregue a carta para YongGuk e não a leia! Depois disso, depois que você decidir que é a hora certa de entregar, depois de que ele saiba de tudo, você poderá viver sua vida.
Vai ser o Rapper mais lindo... Todos vão querer te ouvir e vão querer ser seus pretendentes! Case com quem você ama...
Não interprete isso como uma carta de suicídio. É apenas uma carta de adeus, pois estou em outro lugar agora.
Eu te amo com todas as minhas forças... Assim como amo seus irmãos.
Cuide de YounHong e JiYumi... Seja o melhor irmão que você consegue ser.
Carinhosamente...
Da pessoa que mais te ama do mundo.
PS.: Não seja malcriado e entregue a carta de YongGuk!
Im Hyunna."
Meu corpo tremeu e eu estava prestes a desmoronar no chão. Lágrimas minha encharcavam o papel levemente amarelado e com as letras suaves dela. Um soluço silencioso me consumiu e eu me sentei no sofá ainda com o papel que havia sido dobrado tão cuidadosamente. Minhas mãos tremiam descontroladamente e eu não sabia o que fazer.
O que fazer?
Alguém me ajude!
Eu, mesmo sofrendo e chorando, me levantei e coloquei a carta no envelope branco novamente. Pego os envelopes das crianças e os escondi, pois para mim aquilo seria dor demais para duas crianças de apenas 6 anos. Meus dedos longos e pálidos tocaram levemente o nome escrito no último envelope e alisei.
Abri com a maior cautela, como se minha omma fosse passar por aquela porta a qualquer momento e me pegar lendo algo que eu não devo.
"JunHong... Caso você ler essa carta, eu irei te amaldiçoar do lugar que eu estiver."
Respiro fundo e fecho a carta a colocando no mesmo lugar que estava antes.
Flashback off...
Respiro fundo e limpo os olhos que agora estavam marejados por lembrar de minha mãe.
As crianças estavam acordadas para as aulas on-line, pois não posso pagar uma escola, não consigo quase pagar o aluguel e trazer comida pra casa, imagina uma escola.
Passei meu uniforme e penteei meu cabelo com o maior cuidado possível. O rosa já estava ficando gasto, e meu cabelo negro já era bem visível na raiz. Pintar de rosa de novo ou esperar para descolorir e pintar de outra cor? És a questão.
YounHong estava escovando os dentes em frente ao computador, junto com sua irmã mais velha – alguns minutos – que estava sentada em uma cadeira de madeira comendo o cereal que eu trabalhei muito para conseguir. Sorrio ao ver a cena.
Me despeço e tranco a porta, para eles não fugirem. Não, eles não colocam fogo em tudo, pois, mesmo sendo novos, são espertos e responsáveis, pelo menos o tartaruga – YounHong pelo motivo contrário de sua irmã – é.
Chegando no trabalho percebo que estava cedo demais, pois não tinha chegado nenhum funcionário e apenas o meu chefe estava lá.
— Senhor Jung!— Me curvo e ele sorri para mim, chega até me elogiar por ter chegado.
Aos poucos os meus colegas de trabalho vão chegando. "Lollipop" ouço isso todos os dias que venho para cá, alguns falam amigavelmente, alguns com grosseria e outros... Com desrespeito.
O homem que toda semana estava lá, apareceu batendo a porta com força, o estrondo da madeira batendo contra o vidro da lanchonete fez com que eu me assustasse, senti até um frio na espinha. Ele estava estranho, pior que antes, eu nem mesmo sei como me referir a ele, nunca parei para decorar seu nome, não que eu queira.
Se sentou em uma mesa e eu ia me esconder para não ter que atendê-lo, ouvir o jeito que "lollipop" sai de sua boca me dá repulsa. Mas meu chefe faz um movimento com a cabeça e entendo, teria que ir até lá.
— O que deseja senhor?— Falo sem olhar para ele, mas quando o olho, em seu rosto tem um sorriso assustador.
— Ah... Lollipop...— Ele geme meu nome e eu reviro os olhos. Seu bafo era de álcool, um cheiro repugnante.
— Deseja comer alguma coisa do nosso cardápio?— Digo educadamente e ele segura meu pulso com força.
— Do cardápio não.— Responde baixo em meu ouvido e eu sinto meu estômago revirar.
— Senhor me larga. Quer comer algo ou não?— Tento continuar com minha calma. Mas então ele ri e murmura um "só se for você" e morde meu pescoço, logo chupa outra parte dele e eu dou um grito de dor.
O empurro e todos olham para nós. Suas costas batem no chão e ele começa a rir como um louco. A raiva me consome e começo a socar seu rosto, sua barriga, mas não para de rir nenhum momento. Quando ele revida uma ou duas vezes, sinto dor no olho e no lábio. Estava prestes a parar de bater nele, ninguém nem mesmo tinha tentado me parar, porém sua mão adentra minha blusa e arranha minha barriga, dou um gemido alto de agonia e dor.
— Está gostando né, vadia? — Sinto um nojo tão grande que pego sua cabeça e bato no chão. Ele grita "vou processar esse lugar". Me levanto e olho envolta, todos estão me olhando com medo, menos o Sr. Jung, ele me olhava com raiva. Aponta para a porta e, depois de certo tempo, entendo. Demitido.
O que você vai fazer agora JunHong?
Chego em casa depois de ter chorado muito. Meus irmãos estão comendo a sobra de comida que eu deixei dentro do forno e me olham sem entender. Era cedo demais para eu chegar, mas eu estava mal demais para explicar, entrei no cubículo que eu chamo de quarto e me jogo na cama.
Não sei o que fazer... Eu já tenho dois meses atrasados do aluguel, agora sem emprego eu não tenho como pagar nem a escola online para os meus irmãos.
"Depois de você decidir se é a hora de entregar." A frase que minha mãe escreveu apareceu na minha cabeça e eu suspiro.
Eu já desconfio do que está escrito naquela carta...
Será que a hora é agora?
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