História My letters to you - Ninth letter

Não sei quanto tempo fique encarando a parede do quarto, mas logo voltei a real quando o barulho do lado de baixo começou a ficar mais alto. Além das músicas, eu podia ouvir as vozes e risadas das pessoas. Como elas poderiam rir? Acho que eu não conseguiria rir mais, e então o aperto em meu peito voltou.

Resolvi descer antes que alguém reparasse que eu não estava ao lado de Ashton, e então começasse a fazer perguntas para o garoto, e eu sabia que Ashton era um péssimo mentiroso.

Joguei as cartas novamente na mochila, arrumei a cama que estava um pouco bagunçada e sai do quarto, descendo as escadas. Apesar da casa já estar cheia, não foi difícil encontrar meus amigos sentados em nos sofás da sala. Luke estava com Arzaylea, uma das melhores amigas de Judy no colo, enquanto Rena, Ashton e Niall conversavam sobre qualquer outro assunto

-Até que enfim você aparece Hood – Luke disse dando um gole em sua cerveja – Que história é essa de festa surpresa de última hora?

-Maluquices da Judy- disse me ajeitando no sofá, colocando a mochila ao meu lado

-Judy né...- Arzaylea disse rindo enquanto Luke passava a mão pela sua coxa – Vocês fariam um belo casal, sabia Calum?

-Hmm, não estou interessado no momento – disse, cortando a garota

-A onde está o Mike? – Rena perguntou fazendo voz de choro, me fazendo revirar os olhos

-Ele não vai vir Rena – Ashton respondeu – Ele está em casa com Eleanor, a namorada dele se lembra?

-Que droga! – Rena resmungou- O que essa garota tem, que eu não tenho?

-Cérebro – Niall responde fazendo com que todos na roda dessem risadas, de menos Rena

-Vai se foder Horan – Garota gritou, dando alguns socos no braço do loiro, que parecia não sentir nada

Eu ria da cena, quando senti um tapa em minha cabeça

-Aí – disse massageando o local – Oi para você também Nia

Nia e Rena eram irmãs, mas totalmente diferentes exceto por ambas serem líderes de torcidas. Porém Nia, ao contrário da irmã, não era insuportável e nem dava em cima de caras comprometidos

-A onde você estava palerma? – Ela disse brincando e eu não pude deixar de sorrir

-Não é da sua conta – disse em tom de deboche

-Vamos lá na cozinha idiota, quero conversar com você – ela disse em seu tom mandão

Eu me levantei rindo, colocando a mochila nas costas, seguindo a garota e minha frente. Quando chegamos na cozinha, que estava bem mais vazia que a sala, a garota se sentou no balcão, me fazendo ficar de frente para ela

-O que houve? – Perguntei direto

-hmm... é verdade que você era apaixonado pela Violet Sylvan, e que ela te deixou cartas? – Ela perguntou de supetão, me fazendo engasgar com a minha própria saliva

-Como você sabe...Ashton! – Disse puto com meu amigo

-Ei, não fica com raiva, você sabe que ele só quer o melhor para nos dois – ela disse segurando meus ombros

Respirei fundo, as mãos pelos meus cabelos

-Ele quer né?

-Sim, do jeito estranho dele, mas quer – ela disse dando um sorriso fraco- Nós somos um trio imbatível, não se esqueça

-Jamais – disse rindo dela

-Você...você quer desabafar? – Ela pergunta e eu aceno que sim com a cabeça -Vem – a garota disse descendo da bancada – Vamos dar o fora daqui

Rio novamente, Nia era bem menor que eu e a maioria das pessoas, mas seu jeito mandão sempre foi uma característica sua. Desde que eu me lembro eu e Nia éramos amigos, ela sempre esteve lá por mim

-Babaca – ela gritou para Ashton, quando chegamos na sala

-Babaca é você – ele respondeu sorrindo

Ela fez um sinal com a cabeça indicando para ele ir lá para fora, meu amigo se levantou e nós voltamos a andar

-Você é um fofoqueiro, não acredito que contou sobre as cartas! – Disse assim que saímos da casa, e começamos a caminhar para o carro de Ashton

-Eu não tive escolha – ele disse arrependido – Você conhece a nanica, ela começou a me encher de perguntar e eu não sabia o que fazer

-Você podia mentir!

-Ele ia começar a chorar – Nia disse entrando no banco de traz do carro – Igual ele fez quando estávamos na quarta serie

-Aquilo só aconteceu uma vez, e por que você começou a berrar comigo sem parar – ele disse ligando o carro

-Como que eu ainda sou amigo de vocês dois? – Pergunto rindo da situação ridícula que nos encontrávamos

-Você não viveria sem a gente linduxo – Nia diz sarcástica – Nós vamos para o lar do chocolate quente

-Você não quer nem saber a nossa opinião? – Ashton pergunta

-Eu não estou nem ai para a opinião de vocês dois, só dirija para lá Irwin

-Mandona – Digo e ela me dá um tapa na nuca

-Não sou não, eu apenas gosto as coisas do meu jeito – ela diz e nos dois rimos – Não riam de mim, alguém liga o som para eu ter que parar de ouvir as vozes de vocês

Ashton rapidamente faz o que Nia pede, com medo da garota voltar a gritar com ele

-Aí meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus – ela diz desesperada quando alguma música que eu não conheço, começa a tocar – É Mcfly

-Essa banda ainda existe? – Ashton diz e recebi um tapa no pescoço – Aí Nia, eu perguntei na boa e não bata no motorista!

-Sim, ainda existe meu caro amigo, e eles são incríveis

-Não sabia que você gostava dessa banda Nia – digo me virando um pouco para encara-la no banco de traz

-Aaa eu conheço a alguns meses, a... – Nia começa a falar, mas para a frase na metade

-O que houve? – Ashton pergunta preocupada, mas sem tirar os olhos da estrada

-A Violet que te apresentou né? - Digo me virando para frente- Ela diz em alguma das cartas que gostava dessa banda, que eu deveria ouvir

-Ela me mostrou alguns meses atrás – Nia diz baixo – Desculpas Cal

-Tudo bem Nia – Digo me virando para ela, dando um sorriso fraco

[...]

-Obrigada Barney – Nia agradece o garçom que havia nos entregado nossos copos com chocolate quente – Certo, você pode me contar agora

-Não há muito o que dizer, Ashton deve ter te contado tudo – digo dando um gole na bebida – Eleanor, cartas, Violet me contando que me amava, eu descubro que a amo

-Certo – ela diz encarando a caneca e logo depois me encarando – E como você está se sentindo?

-Confuso, muitas emoções para um dia só, não é um bom dia – digo sendo sincero – Parando para pensar, tem um tempo que eu não tenho dias bons

Nia engole o seco e encara Ashton

-Cal, eu sinto muito, eu não sabia que você gostava tanto dela, eu queria poder fazer algo para que você se sentisse melhor

-Obrigada Nia – digo sorrindo para ela – Vocês estando aqui comigo, já é uma ajuda

-Cal, posso te fazer uma pergunta? – Ela diz e eu a encaro – Você já chorou? Por que se não, saiba que não tem problema, não é vergonha nenhuma chorar

-Eu não chorei hoje Nia, não é por vergonha, mas sim por que não consegui colocar nada para fora ainda, entende?

-Você surtou hoje no quarto – Ashton me lembra

-Verdade, tirando isso, eu não coloquei nada para fora-  Me corrijo

-Acho que o Calum precisa de um pouco de privacidade Ash – ela diz batendo de leve no ombro do meu amigo –Vamos, vamos lá pegar uns donuts

-Você quer algo cara? – Ele pergunta se levantando

-Não, estou de boa, obrigada cara – digo sorrindo

Observo os dois caminhando até o balcão, provavelmente se zoando, eu nunca havia parado para pensar em como eles eram importantes para mim, eles eram meus amigos desde sempre, e eu não me imaginava sem nenhum dos dois, a dor de perder alguém era algo que não se passava pela minha cabeça

Peguei a minha mochila e tirei de lá de dentro a nona carta

“Hey Calum,

Sabe quando você é pequeno e está doente e tudo que você pede sua mãe te atende? Se você quer faltar a aula ela deixa, se você quer ver tv o dia todo ela deixa, se você quer comer doce ela deixa, então isso aconteceu comigo. Qualquer coisa que eu pedisse aos meus pais, eles me davam, podia ser coisas banais, mas eles atendiam.

Eu não queria aproveitar da bondade dos meus pais, e nem utilizar da minha doença para me tornar uma garota mimada, mas o que eu realmente queria era um carro. Qualquer carro. Apenas isso. E eu ganhei

Um mustang 1987, para alguns um carro ultrapassado, para mim um carro com personalidade forte. Assim como eu. Eleanor ficou muito animada, assim como eu, ela não tinha carro, então sua sugestão foi dirigirmos por aí sem rumo

Em qualquer época eu teria topado, mas eu tinha de estar em casa as 20:00 para tomar os remédios, então simplesmente decidimos dirigir pela cidade sem rumo. Era quase a mesma coisa.

Fomos aos nossos lugares favoritos: o frango no balde, a loja de doces da senhora Tristan, o parque florestal Frank Mour, a livraria que funciona 24 horas por dia e por fim o lar do chocolate quente.

Sentamos em um canto mais isolados, por que Eleanor não gosta que as pessoas a observasse enquanto ela tomava chocolate e comia vários Donuts (ela não pode comer em casa, então ela sempre que pode, come todos possíveis na loja). Ela ficava falando sobre o encontro dela com Michael que seria na outra semana, e como ela estava empolgada para sair com o futuro pai dos filhos dela.  Eu sorria a cada frase, por que de fato eu estava feliz. Ali. Só de ouvi-la falar sobre coisa, parecia que tudo ficara melhor.

E então o sino da porta da loja soou, indicando que alguém havia entrado. E esse alguém, adivinha quem era? Exatamente, você. Mas não era só você. Era você, Ashton Irwin e Nia Lovelis. Vocês três estavam rindo de alguma coisa, você estava distraído e logo sentaram do outro lado

Eu nunca havia parado para pensar nos nossos encontros inesperados, mas cheguei à conclusão de que, não importasse o lugar, eu sempre acabaria encontrando com você. Isso parece estranho né? Mas eu gosto de pensar que algo mágico ou o destino acabasse puxando nos para perto um do outro. Eu gostava dessa sensação. Eu queria enganar quem? Eu gostava muito de você

E você parecia excepcionalmente feliz naquele dia. Sempre rindo de qualquer coisa que um dos seus amigos falassem. Era engraçado observa-lo sem você perceber, ver você se divertindo e dando sorrisos espontâneos. Eu o observava como um anjo da guarda

Dentro de mim eu torcia para que se eu tivesse que morrer prematuramente, que tivesse que partir cedo, que eu pudesse ir para o céu ou qualquer outro lugar como o paraíso, na qual eu pudesse olhar de longe em você, mamãe, papai e Eleanor.

É meio pessimista ter pensamento como esses, não é? Mas as vezes eu os tenho. É inevitável. Eu tento não ter, mas eles me veem a mente e eu tento não ter medo deles. Sei que todos morrem um dia, e que a minha vez chegará cedo, quero pelo menos ter certeza que todos que eu amo, ficaram bem.

Mamãe e papai ficariam arrasados. Tenho certeza. E só de pensar nisso tenho uma vontade enorme de chorar

Eleanor provavelmente se desligaria do mundo. Ignorando todos ao seu redor. Não gosto de imagina-la vivendo assim

E as vezes me sinto grata por você não sentir nada por mim. Nada igual ao que eu sinto por você. Por que aí, quando eu me for, você vai ficar apenas chocado por uma pessoa que você conhecia ter morrido. Isso me conforta nos momentos em que tenho vontade de estar perto de você.

Sua, Violet”

Então ela morreu achando que eu não sentia nada por ela? Que ela era ninguém na minha vida? Ela se foi com esse pensamento?

Encarei a xicara de chocolate quente em minha frente. Eu não sabia se estava bravo ou chocado demais. É claro que eu sentia algo a mais do que choque. Não era necessário estar apaixonado por ela, para sentir sua falta

Encarei a letra bonita no papel já um pouco velho, deixando-me vagar naquele dia em que ela havia narrado. De fato eu estava muito feliz naquele dia. Eu não havia notado sua presença na lanchonete. Pensei na vida após a morte, ela existia? E se na verdade, não existisse nada, e Violet apenas deixou de existir? Se não existe lugar algum como céu ou paraíso, apenas o escuro e a fria morte

Balancei minha cabeça afastando qualquer tipo de pensamento daquele jeito. Eu preferia, eu tinha de acreditar que ela estava em um lugar melhor. Observando a todos nos

Um calafrio fez meu corpo tremer. Olhei em volta, e ninguém me observava