-Você pode por favor, me falar o que está acontecendo? -Cristina perguntou a Harry.
-Eu vou explicar, quando estivermos num local mais calmo.
Eu andava de um lado para o outro tentando entender o que estava acontecendo. Primeiro Harry rouba minhas listas. Depois convence Emma a me tirar do caso. Então ele aparece na festa e me tira dela. Daí papai é levado preso. Onde eu havia me perdido nisto tudo?
Voltei novamente para a casa da piscina afim de organizar meus pensamentos. Eu precisava descobrir o que estava acontecendo. Eu precisava pensar, precisava ficar sozinha. Mas Harry Styles tinha que estragar meus planos. Ele tinha que se intrometer.
-Precisamos conversar? -Ele entrou na casa e fechou a porta.
-Eu realmente não quero conversar agora. -Apoio-me na mesinha a qual nós tínhamos transado em poucos minutos atrás.
-Isso não muda o fato de que nós realmente precisamos conversar. -Ele se coloca de frente para mim
-Eu não vou te xingar, nem vou gritar... Não quero brigar com você. Estou cansada disso. -Até o momento eu olhava pra baixo, mas agora, eu fitei seus olhos. - Eu só quero entender. Onde foi que eu me perdi nisso tudo, Harry?
-Sophie, eu... -Harry foi interrompido pelo celular. Ele não atendeu de imediato, ficamos apenas nos olhando até o aparelho parar de tocar. Quando ele abriu a boca para falar, o toque retornou e ele bufou irritado, puxando o celular do bolso.
-Hmm? -Ele continuava me olhando enquanto falava no telefone. -Pra Sophia? -Arregalei levemente meus olhos ao ouvir meu nome. -Estamos indo. -Dizendo isso ele desligou.
-Onde estamos indo? -Peguei minha bolsa.
-Delegacia. Temos mais problemas. Ele abriu a porta e me esperou passar, fechando-a em seguida.
[...]
-O que ele quer dizer com isso? Que vai me matar na véspera do natal? -Eu amassei o papel em minhas mãos sem me importar se serviria como prova. Estava com raiva.
" 24.12
Nos vemos em breve, meu docinho."
-Não sabemos o que ele quer dizer com isso, por isso precisamos pensar. Se ele quer se encontrar com você, a tiraremos da cidade mas ele pode se irritar por isso e acabar matando alguém pra demonstrar que é ele quem manda. -Emma suspirou. Parece que estávamos começando a ficar sem saída. Na verdade, eu não me lembro nem de acharmos uma luz no fim do túnel.
-Estou cansada. De tudo isso... desse... assassino, desses bilhetes... de tudo. -Desabafei sem me importar com a presença de toda a equipe. -Eu só preciso pensar um pouco e voltarei com uma solução. Peguei a minha bolsa e sai da sala. Céus, eu queria chorar. Eu estava com tanta raiva. Raiva de tudo o que estava acontecendo. Apertei os botões do elevador e logo estava no sexto andar. Caminhei pelos corredores ja conhecidos e tão temidos. A lembrança me fez sentir vontade de vomitar novamente e eu parei pra respirar fundo.
-Não vá até lá. -A voz de Styles ecoou pelo corredor vazio. -Você sabe como é...
-Está me dizendo para não ver o meu pai porque é provável que ele esteja todo surrado? -Virei-me para ele, todo o meu corpo fervendo de raiva. -Você por acaso em noção do absurdo que está me dizendo?
-Não estou falando isso... -Ele permanecia calmo. -Estou falando que será difícil ver seu pai na cadeira oposta.
-E desde quando se importa? -Me virei novamente e continuei a caminhar. O enjoo crescente a medida que eu me aproximava... Mais e mais lembranças do maldito dia em que John falou comigo. Meus olhos começaram a lacrimejar. Não, eu não iria chorar.
-Eu não sei. Eu juro que não sei, mas eu me importo. Eu me importo com você. -Parei subitamente. Harry se importava? Ele se importava comigo? -Eu não desejo me importar, não desejo me preocupar com você. Mas parece que é inevitável. Porra, eu me importo com você.
De repente tudo tinha ficado demais. Todas as lembranças ruins, os bilhetes, os assassinatos... Tudo me fazia sentir que eu estava chegando ao meu limite. A sensação de desespero que aqueles corredores emanavam foram o estopim para que eu colocasse tudo o que havia comido para fora, e o vômito fora o estopim para que todo o choro reprimido fosse liberado. Harry correu em minha direção e segurou meus cabelos, como da outra vez, ele me amparava.
Com um lenço macio, Harry limpava os cantos da minha boca sujos pelo vômito. As lágrimas insistiam em cair e logo, senti seus braços me envolverem. Me permiti chorar até ficar inconsciente.
[...]
-Seu pai foi chamado para prestar depoimento, mas ele se recusou a nos acompanhar e sumiu de nossa vista. O procuramos em todo lugar e o encontramos fazendo as malas. Ele foi pego tentando fugir, por isso o algemamos e o levamos na viatura. -Harry me explicava os acontecimentos da noite anterior. -Ele prestou depoimento e logo foi liberado.
-E sobre ontem... Você... -Olhei pra baixo e mordi o lábio. -Você cuidou de mim?
-Eu a levei pra casa. Estava dormindo e não quis te acordar... -Ele parecia estranho... assim como eu.
Fui até a janela onde ele estava e fiquei de frente para ele. Seus olhos fitaram os meus da mesma maneira que ele sempre fazia. Era tão intenso.
-Obrigada. -Timidamente, coloquei as mãos em seu pescoço o acariciei com o polegar. Fui quebrando a distância entre nós e logo, o envolvi num abraço. Harry retribuiu o gesto de uma maneira forte. Seus braços me apertavam contra seu corpo e pude sentir sua cabeça encostar em meu ombro e seus cabelos provocarem leves cócegas em minha pele. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Eu sabia que Zayn estava errado, eu não estava apaixonada por Harry. Mas eu não sabia ao certo meus sentimentos em relação a ele. Uma hora eu queria ele bem longe de mim, outra eu o queria perto. Uma hora eu quero matá-lo e na outra quero arrancar suas roupas. Se tratando de Harry eu não sabia de mais nada, eu só sabia que eu não queria sair do seu abraço jamais.
Harry lentamente afrouxou o abraço mas não me soltou. Ficamos novamente nos olhando intensamente até ele pousar a mão no meu queixo, aproximando meu rosto do seu. Calmamente, ele colou seus lábios nos meus num selinho. Harry mordeu de leve o meu lábio inferior e em seguida iniciou um beijo lento. Prontamente, correspondi o beijo. Eu não entendia em como o meu corpo podia corresponder os toques de Harry quase que automaticamente. Era uma coisa sobra a qual eu não tinha controle e isso me irritava muito pois eu queria poder evitá-lo, mas sempre que ele colocava os olhos em mim, ou me tocava, eu queria mais. Eu acabava criando uma expectativa de que nossos encontros acabassem em sexo ou em pelo menos um beijo. Eu estava ficando dependente de Harry Styles e aquilo me deixava furiosa.
-De nada. -Ele disse assim que paramos o beijo. Meu corpo inteiro pedia pelos seus toques, era quase como uma doença e Harry era o meu remédio. Assustada com meus desejos e pensamentos, sai da sala a passos rápidos.
-Hey, calma aí baby. -Zayn me puxou de leve pelo braço, o que me assustou um pouco.-Pra que a pressa?
-Estou confusa. Precisamos conversar. -Peguei sua mão e o levei até uma sala vazia. Era a sala de arquivos dos funcionários. -Isso aqui é uma bagunça.
-Pode crer. Hey, o que será que tem escrito na minha ficha?-Ele passou os olhos pelo local.
-Você não pode mexer nisso, Zayn. Ficou louco? -Ri de suas ideias malucas.
-E nós nem deveríamos estar aqui. O que foi? Vai me dizer que você quer abusar de mim? -Ele fez uma cara maliciosa. -Estou disposto.
-O que? -Abri a boca em surpresa. -Claro que não, seu pervertido. Eu jamais abusaria de alguém. -comecei a rir com as besteiras de Zayn. - Escute-me.
-Escutarei.
-Eu não sei o que está havendo comigo. Eu sinto uma coisa estranha toda vez que estou com Harry e não me venha com essa conversa de que eu estou apaixonada por ele que não é verdade. Eu sinto algo, mas não sei o que é. -Baixei a cabeça.
-Oh, Sophie... Claro que você está apaixonada. Se não for isso, o que será?
-Eu não sei... -uma lágrima boba caiu e rapidamente a limpei
-Você verá que estou certo, só está em fase de negação. -Assenti com a cabeça e Zayn se curvou para me dar um selinho. Uma outra lágrima boba caiu e Zayn a limpou com o dedo, nossos rostos estavam muito próximos, o que pode ter dado a impressão errada à Harry no momento em que ele entrou na maldita sala de arquivos.
-Vejo que atrapalho o casal. -Raiva era perceptível tanto na sua voz quanto no seu olhar. Pensei em falar algo mas a luz apagou, nos deixando apenas com a pouca luz vinda das janelas do corredor.
-Pode acender a luz, Styles? Não precisamos ficar na escuridão para fazer sexo, Sophie gosta de me ver. -Puta merda, Zayn Malik, eu vou te matar.
-Vá se foder. -Harry bateu a porta com força quando saiu e eu repreendi Zayn.
-Por que falou aquilo? Agora ele vai achar que tem algo entre a gente. -tateei a parede em busca da maçaneta e quando a achei abri a porta para sairmos da sala. Apertei no interruptor só para ter certeza que a luz estava em bom estado. -A luz queimou. Ou faltou energia.
-É o destino querendo nos deixar no escurinho. -Bati em seu ombro e gargalhei.
-Você é muito palhaço sabia? -Ele riu junto comigo.
-Sophie, falando sério agora. Preciso que vá atrás de Harry. Aqui na delegacia não falta energia do nada, procurarei minha equipe para ver o que está acontecendo. Vá para Harry antes que ele suma de nossa vista.
-Por que não posso ir com você? -Ele sorriu pra mim.
-Porque você quer ir com ele. -E assim, ele pegou sua arma e foi no sentido oposto ao meu. Droga, ele tinha dito a verdade.
Me virei e vi Harry ja longe, corri até ele que nem se deu o trabalho de me esperar.
-Hey, dá pra ir mais devagar? -Coloquei a mão no joelho, respirando com dificuldade. Harry estava e ignorando e aquilo me deixou chateada. Onde estava o Harry de minutos atrás?-Você está me ouvindo? -Ele continuava a me ignorar... -Então se fode, Styles.
Parei e me virei na outra direção, completamente perdida. Eu não saberia para onde ir com toda aquela escuridão.
-O que você disse? -ouvi passos atrás de mim. Seria capaz de eu ter deixado ele com mais raiva?
-Olha só quem está falando de novo. -Ele agarrou meu braço e me virou de frente pra ele. Ja mencionei que nossa diferença de altura me irritava?
-O que porra você disse? -Mesmo no escuro, seus olhos pareciam ameaçadores.
-Eu disse, se fode, Styles. -Repeti a frase lenta e desafiadoramente. -O que você vai fazer a respeito? Me prender por desacato?
Um barulho de vidro quebrado ecoou pelo ambiente e impediu que ele desse sua resposta. Um calafrio percorreu todo meu corpo com a possibilidade de ter alguém por perto e esse alguém não ser uma boa pessoa.
-Vá para nossa sala e não saia de lá. Só abra a porta para quem confia e conhece. -Harry pegou a arma que estava na cintura e eu fui até a nossa sala, trancando a porta.
O medo dominou meus sentidos. Minha respiração estava dificultosa, minhas mãos suavam frio e tremiam sem parar. Barulhos de tiro ecoaram pelo corredor e eu comecei a me desesperar. Passos rápidos podiam ser ouvidos pelo corredor a qual estava a minha sala
e meu medo parecia apenas aumentar. Um silêncio absoluto se instalou e tudo parecia estar normal de novo. Lembrei dos tiros e pensei que Harry poderia estar ferido em algum lugar e ninguém o ajudaria. O pensamento me fez levantar e abrir a porta, procurando ele.
Meus passos eram lentos e cuidadosos. Procurando fazer o máximo de silêncio possível. Cheguei até a recepção do 3° andar e parei. Tudo estava no mais absoluto escuro, a partir dali, eu teria que chamar.
-Harry?? -Minha voz era baixa, mas suficiente para ecoar pelo recinto. -Harry?? Você está aí?
De repente um vento quente bateu em meu pescoço me fazendo estremecer dos pés a cabeça. Merda, merda, merda, merda, merda, merda. Meu corpo petrificou, eu não conseguiria sair dali nem que eu quisesse.
Dedos afastaram meu cabelo para o lado enquanto a voz rouca preencheu o ambiente.
-Teimosa. Não consegue fazer uma coisa que eu digo não é? -Harry beijava lentamente meu pescoço enquanto falava. Meu corpo ainda não relaxara mesmo sabendo que eu estava segura agora. -Não consegue ficar longe de mim não é?
-Eu só queria saber se você estava bem. Poderia estar ferido. -Minhas mãos estavam tremulas e suadas.
-Mentirosa. -Sua mão agarrou a minha cintura e enlaçava meu corpo como se ele estivesse me abraçando por trás. -Admita que você não consegue ficar longe. Admita que você me quer, tanto quanto eu te quero. -Sua voz rouca e baixa falando ao meu ouvido só pioravam o meu estado de nervosismo, mas também contribuíam para molhar minha calcinha. -Admita que você falou pra si mesma que estava preocupada mas que na verdade só queria estar comigo. Perto de mim... Admita...
-Eu não vou admitir nada. -Sua mão apertou minha cintura como forma de punição pela minha rebeldia.
-Então eu irei fazê-la falar. -Ele me virou para si, largando a arma no balcão da recepção e colando nossos corpos. -Ou melhor, vou fazê-la gritar.
Dizendo isso, Harry me beijou intensamente. Era incrível como meu corpo respondia as suas carícias. Parecia automático. E não importava se a delegacia estava sendo invadida ou fosse naquele momento, parecia que o beijo era mais importante que qualquer coisa. Parecia que o fato de estarmos juntos anulava todos os acontecimentos ao nosso redor.
Agarrei seus cabelos como eu sempre fazia em nossos beijos e intensifiquei ainda mais o beijo. Todo meu nervosismo não assava de desejo. Desejo reprimido. E o pior de tudo é que não passou nem dois dias da última vez que fizemos sexo. Harry Styles estava me deixando louca.
Harry desceu os beijos pelo meu pescoço, distribuindo chupões por toda aquela extensão. Minha calcinha já se encontrava encharcada por causa de suas carícias e meu estado só parecia piorar.
-Gostosa... -Harry levantou minha blusa (1) até retirá-la e jogar longe. -Delícia.
Meus pés abandonaram o chão e eu envolvi a cintura de Harry com as pernas. Colei novamente nossos lábios, e puxei tanto seus cabelos que arranquei alguns fios. Logo, minhas costas encostaram na fria parede e Harry desceu os beijos pelo meu pescoço até os meus seios cobertos pelo sutiã. Afastando um pouco a peça de roupa, ele liberou meu seio direito e o chupou com intensidade. Minha intimidade pulsou de desejo e eu gemi em resposta ao delicioso gesto.
-Eu quero ouvir você gritar. Quero ouvir você admitir. -Harry fez o mesmo com meu seio esquerdo. Quando o sutiã começou a atrapalhar realmente seu trabalho, ele levou as mãos até o fecho, fazendo com que eu me sustentasse sozinha em seu colo. Mas barulhos de tiros o fizeram parar.
-Merda. Eu tenho que te tirar daqui. -Desci rapidamente do colo de Harry e passei a procurar minha blusa. Harry pegou sua arma novamente e eu me vesti. -Preciso que faça silêncio absoluto e quando eu mandar correr, você corre. Ok?
-Ok. -Andamos devagar pelos corredores. Tentamos achar alguém que pudesse nos explicar o que estava acontecendo mas não encontramos nenhuma alma viva na delegacia.
-Não posso ficar com você, é perigoso. Preciso que encontre uma sala e se tranque lá. Só saia com alguém que você conhece entendeu.
-Entendi. -Eu não queria ficar sozinha, mas era preciso. -Preciso de algo para me defender, caso apareça alguém.
-Claro. -Harry pegou uma arma pequena que ele escondia no pé e me entregou. -Está carregada mas travada. É só destravar aqui. -Ele me mostrou como fazia e ficou me olhando. -Tenha cuidado.
Pude ver a tensão tomar seu corpo. Não sei se era porque ele estava me deixando sozinha, o que é um pouco presunçoso da minha parte, ou se era por medo de encontrar algo que ele não queria. Mas eu sabia que ele estava tenso. Harry me olhou pela última vez e me deu as costas. Fiquei parada o vendo se afastar até que me dei conta que eu tinha de procurar algum lugar para me esconder. Entrei na primeira sala que achei e tranquei a porta.
[...]
Não sei quanto tempo eu passei ali, mas parecia que era uma eternidade. Cada fibra de meu corpo estava tensa, nem parecia que um tempo atrás, eu estava completamente entregue aos carinhos de Harry em meu corpo. Harry, por que tudo tinha que levar a ele? Por que diabos eu precisava lembrar dele? Cacete, alguém havia invadido a delegacia e eu estava pensando em Harry. Qual era o meu problema? Aquilo já estava beirando a insanidade.
A escuridão total foi substituída pela intensa claridade da luz em meus olhos. Num súbito momento, a energia voltara e eu me vi na sala de arquivos. A sala de arquivos novamente. Olhei para o meu braço e lembrei da foto da caixa. Tirei a pulseira de meu pulso e olhei novamente os escritos.
"RF24957"
Saí procurando alguma caixa que tivesse esses escritos até achar uma enorme com a palavra "EVIDENCIA" escrita com letras maiúsculas. Peguei a caixa e a coloquei no chão, abrindo em seguida.
O que vi a seguir me deixou extremamente confusa. Eram fotos minhas. Em diversos momentos. Na infância, adolescência... Fotos com Sebastian... Havia uma foto minha e de Sebastian na frente da padaria em que transamos pela primeira e última vez. Havia fotos de mamãe, Cristina, papai... Eram fotos e mais fotos... Lágrimas queriam escapar pelas lembranças de um passado doloroso. Deixei as fotos de lado e mexi um pouco mais na caixa. Papéis com laudos médicos meus, de mamãe e de papai estavam ali. Meus boletins escolares, prints de e-mails pessoais, matérias que eu escrevi pra redação... Havia também um cordão que Matt havia me dado logo quando começamos a namorar. Eu peguei o objeto analisando-o minuciosamente e lembrando do dia em que ele me deu. Matt disse que havia sido presente de sua mãe e que agora queria que ficasse comigo. O pingente da peça era uma turmalina negra que servia pra trazer proteção. Eu pensei que o havia perdido quando Matt morreu.
Sem querer, deixei o cordão cair no chão. Ele havia se aberto ao meio e um pequeno objeto saiu de lá. Era uma escuta. Uma escuta.
-Eles estavam me espionando. -Disse num fio de voz, tentando fazer a ficha cair. -Todo esse tempo. Eles estavam me espionando.
Vi um pendrive e o peguei. Guardei todas aquelas coisas e coloquei e volta na prateleira. Eu estava pouco me lixando para quem quer que estivesse lá fora. Segui meu caminho até a sala que eu dividia com Harry. Minha mente parecia estar no modo automático. Eu só andava e olhava pra frente, parecia mais um robô do que qualquer coisa.
Cheguei a maldita sala e liguei o computador. Enquanto esperava, resisti contra as lágrimas, que ameaçavam cair. Tirei o pendrive do bolso e o conectei na entrada USB do computador. Logo, uma pasta com vários arquivos e áudios preencheu a tela do aparelho tecnológico. Cliquei no primeiro áudio e fiquei abismada com o que ouvi. Era uma gravação do meu primeiro encontro com Matt. Avancei para o próximo áudio e escutei Harry e Matt discutindo porque ele parecia estar se apaixonando por mim, o que não devia acontecer pois, segundo ele, eu serviria apenas para captar informações. Passei para os próximos áudios e ouvi mais momentos com Matt. Nossa primeira vez, quando falei de meu relacionamento com papai ele, quando falei sobre mamãe, quando contei os planos que havia feito. Ouvindo tudo aquilo, eu não consegui segurar as lágrimas. Tudo havia sido mentira. Todo o nosso relacionamento. Ele estava comigo apenas para me espionar e o pior era que eu nem sabia o porque.
Abri os arquivos e me deparei com um BO. Foi de mamãe. Ela fizera quando papai a agrediu. Como assim papai havia batido em minha mãe?
Limpei as lágrimas e analisei o documento. A data do BO combinava com a da minha gestação. Ele batera nela grávida? Meu espantou transformou-se completamente em raiva. Passei para o próximo arquivo e o que vi mudou completamente a minha vida. Era um documento de adoção e a criança adotada possuía meu nome. Todos haviam mentido para mim. Matt, Harry, Emma, Papai... Eu não sabia de mais nada. Tirei o pendrive do computador e o joguei na bolsa. Precisava sair dali. Pediria demissão daquela merda e me afastaria de todas aquelas pessoas. Não me importava mais com matéria nenhuma, com trabalho ou assassinos. Eu estava com raiva, triste, surpresa e chocada. Parecia que minha vida tinha sido construída a base de mentiras. Eu nem sequer sabia de minhas origens agora. Dúvidas e mais dúvidas se formavam em minha cabeça, o que me deixava extremamente vulnerável e até um pouco tonta. Vesti meu casaco e saí da sala. O movimento lá fora parecia se normalizar. Vários policiais correndo de um lado para o outro tentando concertar qualquer coisa que fosse. Continuei andando até ser parada por Harry.
-O que você tem, Sophia? -Olhar seu rosto só me fez aumentar toda a raiva que eu estava sentindo. Pensar que todo esse tempo ele sabia de tudo... Como ele conseguia olhar na minha cara? Como ele conseguia me beijar? Me tocar? -Sophia? Está tudo bem?
Meu corpo inteiro fervia de raiva. Eu tinha sido tão otária, tão usada. Eu nunca me senti tão lixo como naquele momento. Quase que como automaticamente, minha mão atingiu o rosto de Harry num tapa forte. As lágrimas voltaram com tudo. Sai andando lentamente escutando os gritos de Harry. Meu braço foi puxado com violência enquanto eu via uma marca vermelha se formar no rosto de Harry.
-O QUE PORRA VOCÊ TEM NA CABEÇA? -Ele estava se achando o dono da porra toda gritando daquele jeito... Quem ele pensava que era? -SOPHIA, EU ESTOU FALANDO COM VOCÊ!!!
-Diga a Emma que eu me demito. Diga a Emma que eu nunca mais quero ver a cara dela na minha frente, ou a sua. E que eu não estou nem aí pra essa porcaria de delegacia e também não me importo se eu morrer hoje ou amanhã. Quero que parem de mandar policiais para ficar de guarda em minha porta. Quero que me esqueçam e nunca mais ousem falar comigo. Diga isto a Emma. -Harry parecia desnorteado. Sai de uma vez daquele lugar e graças a Deus, ninguém me seguiu. Eu não estava em condições de dirigir, por isso decidi pegar um taxi. Eu não sabia como agir, estava tão perdida em relação a minha própria vida. Nunca em toda a minha existência eu havia experimentado me sentir daquele jeito. Era uma mistura tão grande de sentimentos intensos. Era tanta raiva, tanta tristeza, tanta mágoa... Eu estava tão exausta de sentir coisas que não me faziam bem, eu só precisava descansar. Só queria chegar logo em casa, não fosse uma dor forte que atingiu meu corpo. Me encolhi no banco do taxi e esperei a dor passar, mas ela não cessou. Senti algo quente em minhas pernas e vi minha calça manchada de sangue. Entrei em pânico, o que estava acontecendo comigo? Uma onda de dor intensa me atingiu e de repente tudo ficou escuro.
[...]
Eu não sabia onde estava, mas eu sabia que queria a luz apagada. Uma claridade enorme fez meus olhos arderem. Minha cabeça estava meio zonza e doía um pouco.
-Você acordou. -Uma moça sorria para mim. -Vou chamar o médico.
Médico? Pra que médico? Abri os olhos de verdade e me vi numa salinha pequena e branca. Minhas roupas foram subistituidas por um macacão daqueles de hospital e eu estava deitada numa caminha desconfortável.
-Olá, Sophia. Como se sente? -Um homem muito bonito entrou com um sorriso no rosto.
-Minha cabeça dói. -Ele abriu ainda mais o sorriso e eu achei que deveria sorrir também.
-É normal. -Ele mexia em alguns aparelhos e me olhava com eles.
-O que aconteceu? -Ele colocou uma luz forte em meus olhos e os abriu um pouco mais. Logo após se afastou e colocou as mãos nos bolsos do jaleco.
-Você teve um princípio de aborto, mas já esta tudo bem com você e com o seu bebê. Mas eu sugiro que você passe um tempo em casa descansando. Sua saúde está boa, então isto pode ter ocorrido por estresse. Mas de qualquer forma, eu passarei algumas vitaminas pra você tomar. -Ele começou a anotar num caderninho e eu ri baixo.
-Acho que você está meio maluco. Eu não estou grávida. -Ele olhou pra mim e sorriu quase que com pena.
-Está enganada, Sophia. Você será mamãe em alguns meses.
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