Suas mãos circulam minha cintura no momento em que ele me levanta.Nós giramos um pouco,até que sou jogada na cama,seu rosto pairando sobre o meu.Nós sorrimos como loucos.Acaricio a bochecha dele com uma mão enquanto repouso a outra sobre seu peito.
-Você tem as mais estranhas reações,docinho - murmura.
-Está tudo bem com você?Está ferido?E o seu braço? - pergunto preocupadamente,tocando-o,checando se o Coringa tem algum ferimento.Isso o faz rir.
-Preocupada?Comigo? - sinto sua respiração em meu pescoço quando ele encosta sua testa em meu ombro - Assim você me deixa envergonhado.
-E alguma vez na sua vida você sentiu vergonha? - o ar frio me faz estremecer no instante em que seu calor se afasta,junto de suas mãos e do seu corpo.
Os olhos dele estão diferentes.Desfocados.Esses são os olhos de uma criança perdida.Então,ele solta uma gargalhada,o som me assustando.
-Tudo...bem?
-Sim,sim,só a minha maldita mente - ele dá uns tapinha na têmpora - Gosta de me incomodar.É como se eu tivesse alguém realmente chato raspando as paredes do meu cérebro com as unhas.
-Não parece muito confortável - digo suavemente.
-Está certa sobre isso.
Bocejo e me espreguiço.Pergunto com voz cansada:
-Que tal uma soneca antes irmos embora dessa espelunca?
Tiro meu casaco,dobro-o e ponho em cima da mesinha.O Coringa retira seu coldre e o coloca ao lado do meu moletom,também tira a camisa e os sapatos (tirei os meus há décadas)
-Não acho tão ruim.Tem um certo charme,esse lugar - diz enquanto nos deitamos.Deito em seu peito,meus olhos presos no nascer do Sol.Ele continua - Do lado de fora,uma construção abandonada;por dentro um hotel cheio de segredos.Sabe por que fecharam o local?
Nego com a cabeça.
-Mataram alguém aqui.Um pobre coitado que viajava com a esposa.Parece que ela enlouqueceu e abriu o cara no meio usando uma faca de cozinha que ela carregava na bolsa,para proteção,dizia a todos.Depois,deitou-se ao lado do corpo e enfiou a faca na própria garganta.Foram encontrados juntos,de mãos dadas,em meio a um mar de sangue.
Olho incrédula pra ele.Eu quero dormir e ele vem e me conta uma porra dessas?!E ainda usa o tom de quem está narrando um conto de fadas!Qual seria o nome da história? "Bela Adormecida põe o Príncipe pra dormir"? "A degolada e o esfaqueado"? "Vermelha de sangue e os sete caras que limparam toda a sujeira"?
-Por que diabos está me contando isso?
Ele lambe os lábios e sorri perversamente.Sinto uma pontada no estômago.Não...
-Pensei que gostaria de saber.Afinal,a história desse quarto é bem interessante.Escolhi o melhor para nós.
-Sim,você é muito romântico,querido - resmungo sarcasticamente e volto a repousar minha cabeça,escutando seus batimentos cardíacos.
Apenas agora percebo que eu poderia nunca mais escutar esse som.Ele poderia ter sido tirado de mim essa noite.Mas não deixarei isso acontecer.Jamais. Encaro a sombra que está perto da janela.Tem formato humano,claramente feminino.Orelhas de gato.Selina.Sinto seu olhar sobre mim.Estico meu braço,enfio os dedos nos fios verdes do Palhaço,viro seu rosto para mim e o beijo.Meus olhos continuam presos ao da Mulher-Gato,até que ela pula.
Espero que a mensagem seja passada para Bruce:O Rei de Gotham é meu.E ninguém vai tocar nele.
_ . . . _
Acordo com os roncos de Jonny. Ele dorme encolhido no divã,enquanto eu e o Coringa cochilamos na cama.O Sol já está alto,e escuto o barulho de trânsito lá em baixo.Me desvencilho do Palhaço;seus braços parecem os tentáculos de um polvo faminto,já que toda noite ele dá um jeito de me prender,quase me esmagando contra o colchão.
-Coringa - balanço seu ombro - Coringa,acorda!
-Que merda,docinho!Me deixa dormir! - resmunga e rola pro outro lado.
-Coringa,precisamos ir embora desse hotel.Logo,outros caras irão descobrir onde estamos - penso um pouco - E também preciso de um banheiro,droga!
Levanto-me e vou acordar Frost. O loiro desperta,calça os sapatos e vai até uma cafeteria próxima.Quando ele volta,estou terminando de me vestir.Uso a mesma calça de ontem,mas troco de camisa,colocando uma verde-oliva.Penteio meu cabelo com os dedos e tento acordar o Palhaço mais uma vez.Como um bolinho de amora e tomo o café que Jonny trouxe.O Coringa se levanta,o cabelo verde espetado para todos as direções,olheiras profundas,parecendo hematomas.Entrego o conjunto do terno pra ele.Peguei uma calça azul-marinho, e um camisa cor de cobre;seu rosto parece surpreso no momento em que dou as roupas para ele.
-Você pegou roupas pra mim também? - questiona enquanto se veste.Assinto,corando levemente.
Sua mão levanta me queixo e me perco no céu de seus olhos.A risada dele me dá vontade de...sei lá,morder seu rosto?Deixar que ele me jogue contra uma parede?É,algo assim.
-Boa menina - faz um afago em meu cabelo.
-Eu tento,às vezes - digo sorrindo.Ele dá uma mordida no meu bolinho e rouba o café de Frost.
-Bem,vamos ter que arranjar outro lugar para criarmos nosso filhos,docinho.
Engasgo com minha própria saliva (um pouco patético,eu sei).
-Que filhos?
-Ora,eu quero uns dois ou três.Se for menina,quero que se chame Lyle.
-Jura? - pergunto levantando minhas sobrancelhas para ele.
-Uhum - assente diversas vezes,sorrindo como um maluco.Começa a mexer na minha mochila - O que mais trouxe,docinho?
-Meu notebook e as facas que você me deu.
-Ótimo.Vamos sair daqui.
_ . . . _
Jonny foi pra outro lugar enquanto o Palhaço e eu estamos indo para um apartamento que ele tem no centro.O prédio é gigante e terrivelmente perto de uma das sedes da Wayne Enterprises.O elevador nos leva até a cobertura.
O lugar é muito bonito.E ostentoso. Grande,polido e brilhante.O chão é de mármore carrara marrom,uma mesa de centro feita de vidro,um sofá de canto roxo-escuro.Um enorme aquário está perto da cozinha coberta de azulejos pretos e com armários de mogno.Vamosaté o único quarto. Terrivelmente espaçoso,com uma cama que cobre quase toda a parede.Closet,banheiro branquíssimo,penteadeira.Estante coberta de clássicos.
-Bem-vinda ao nosso novo lar! - ele abre os braço e pula na cama,bagunçando os lençóis verde-esmeraldas.Suspiro e deixo minha bolsa cair,jogando-me ao seu lado.Entrelaço nossos dedos e sei que ele sorri.Também sorrio.Gosto do cheiro de casa nova.Enfio meu rosto na curva do seu pescoço e respiro fundo.
Mas gosto ainda mais do cheiro dele.
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