História My Little Sweet - Miosótis significam fidelidade.

Acordo assustada com os gritos,olho em volta afobada até perceber que eles vem do outro lado da cama.O Coringa está se debatendo entre os lençóis,sua testa suada faz com que diversos fios verdes se grudem na pele e,para meu completo espanto,lágrimas correm livremente pelo seu rosto.Isso me assusta pra cacete.Eu nunca o vi chorar durante o sono.Gritos,suor,tremores,palavras desconexas,soluços,sim;mas nunca lágrimas.

Estendo minha mão até seu rosto,porém não chego a tocá-lo,pois ele começa a se debater com mais brutalidade,fazendo com que toda a cama trema junto com ele.Respiro fundo e o abraço com cuidado.Ele luta e me machuca e faz com que eu queira gritar também,mas não posso soltá-lo.Não quero soltá-lo.Nunca.

-Shhh...shhhh,tá tudo bem,meu amor.Tá tudo bem - murmuro enquanto faço carinho em sua nuca.Passo as mãos entre suas omoplatas,deito sua cabeça em meu peito enquanto ele soluça e encharca minha camiseta com suas lágrimas - Eu estou aqui,querido.Não tenha medo.

O Palhaço continua tremendo.Às vezes ele grita,outras ele se debate,e acho que terei alguns roxos mais tarde.E eu não poderia me importar menos com isso.Pelo que eu analisei durante o nosso tempo no Arkham,o Coringa realmente teve um gatilho que o transformou no que é hoje.Não acho que tenha sido culpa do meu primo,apesar de tudo.Claro,eles possuem uma clara relação de amor e ódio,mas creio que o problema do Rei de Gotham possa ser bem mais profundo,complexo e antigo do que o Batman.

Continuo a acariciá-lo,falando calma e carinhosamente com ele.Quero perguntar com o que ele sonha,mas sei que o Palhaço nunca me dirá a verdade.

Sei o momento em que ele acorda,pois sua respiração fica muito regular.Muito firme.Claro que o Coringa aproveita a oportunidade para me assediar.Sinto suas mãos nas laterais do meu corpo enquanto ele encosta a boca em meu pescoço.Gemo suavemente quando ele abaixa as mangas do meu pijama e assopra meus mamilos.Seguro seus cabelos com força enquanto ele suga um dos meus bicos e acaricia o outro com os dedos longos e esguios.Os dentes dele arranham minha pele,não me contenho,enlaço minhas pernas em sua cintura e puxo seu corpo para mais perto do meu.Quando olho em seu rosto,me surpreendo.Ele tem um olhar tão...suave.Tão terno.

Eu pisco e toda a afeição desaparece.Seus olhos pálidos voltam a transmitir luxúria e sua costumeira loucura.

-Diga-me seu verdadeiro nome - não percebo o que falei até o instante em que ele se afasta de mim como seu estivesse em chamas.Sento-me na cama;nem ao menos me preocupo em esconder meus seios desnudos.

-Docinho,não se engane - ele volta a se aproximar,porém toda o desejo foi embora de suas feições - Só porque quero te comer,não significa que eu tenha que te contar porra alguma.Já disse que meu passado é irrelevante,e isso inclui meu velho nome.

"Só porque quero te comer..." Meu coração falha uma batida com essas palavras,apenas para voltar a pulsar de uma maneira mais dolorosa do que eu me lembrava desde a última vez que um homem me magoou.

Engulo a dor e ponho minha expressão mais leve.

-Tudo bem,tudo bem.Só foi um momento de curiosidade - a mentira rola em minha língua facilmente.Levanto-me e me espreguiço,sentindo minha coluna estalar;devido a posição em que fiquei o últimos...Dou uma olhada rápida no relógio.Nos últimos 20 minutos,eu suponho.Sigo em direção ao banheiro e fecho a porta com um estalo.Tiro minhas roupas como se elas estivessem cobertas por aranhas e minha fachada desmorona quando entro no boxe.Diabos,eu não o entendo.Numa hora,ele é quase doce,na outra,um canalha.Fico dividida entre a vontade de beijá-lo e a vontade de espancá-lo com um gato morto até o gato miar outra vez.

Felizmente,quando termino o banho,já estou mais calma e não tão ferida.Infelizmente,eu percebo que não trouxe minhas roupas.Saio do banheiro e vejo que o Coringa continua no quarto.Seus olhos me escrutinam e sei que ele procura alguma falha,algum sentimento de mágoa,ou coisa parecida.O homem mais parece um animal selvagem,pelo amor de Deus!Fica procurando um traço de insegurança para,então,atacar a presa.Que nesse caso sou eu.Uma onda de coragem me engole e faz com que eu tome a decisão de provocá-lo um pouco.Deixo a toalha deslizar pelo meu corpo enquanto vou até o closet pegar minhas roupas.Opto por um shorts preto de malha fria e uma camiseta larga e cor-de-rosa.

-Não sabia que tinha uma tatuagem,docinho.

Oh,me esqueci disso.Apesar dele já ter visto mais do meu corpo do que qualquer outra pessoa,o Palhaço ainda não havia visto a pequena tatuagem que eu tenho no quadril.É um diminuto ramo de miosótis,minha flor favorita.Eu queria fazer um desenho pequeno,então decidi por uma flor.Pesquisei um pouco e adorei o significado,então foi essa mesma que eu fiz no meu aniversário de 19 anos.Nem preciso dizer que Bruce quase teve um infarto quando soube.

Tenho consciência de seu corpo se aproximando de mim.Seu peito junto às minha costas manda um arrepio pela minha espinha e estremeço quando ele levanta um pouco a barra da minha camiseta e encosta um dedo na tatuagem.

-É bonita.Que flor é essa?

-São miosótis.Significam fidelidade.

-Jura? - seus lábios roçam na ponta da minha orelha - Isso me deu uma ideia. HAHAHAHA,isso me deu uma ótima ideia.

Ele me solta e pega seu paletó preto de cima da penteadeira.Agarra minha cintura e sua boca se cola na minha de um um jeito selvagem.Seu abraço é tão feroz que sou levantada do chão.

-Não me espere para jantar,docinho.

Olho abismada enquanto ele sai do quarto feito um furacão.

Pelo amor do Deus-das-psicólogas-azaradas!Nada de bom acontece quando ele fica animado assim.Isso com certeza não pode significar coisa boa.Resumindo?'Tô fudida.