História My Little Sweet - Sonhos estranhos.

Mais uma vez,acordo sozinha.Começo minha rotina,feliz pela sensação de familiaridade que me preenche.Caminho pela sala enquanto esquento a água pra meu café,e passo as mãos pelos móveis,apreciando as texturas.Noto que tem lágrimas nos cantos dos meus olhos,mas decido dar um desconto pra mim mesma,afinal,pensei que não conseguiria voltar para casa.

-Droga,se continuar assim vou ter um ataque histérico e me afogarei em meu próprio choro quando ver a privada... - resmungo comigo mesma ao secar uma lágrima fujona.

Volto pra cozinha,termino meu café e sento-me no sofá,suspirando levemente e sorrindo por cima da xícara.O aroma da bebida me faz lembrar do Coringa,e fico curiosa com o que ele está fazendo no momento.Pego meu celular de cima da mesinha e mando uma mensagem:

"Bom dia :) O que você tá fazendo?

Depois de alguns minutos ele responde:

"Quer mesmo saber? :)"

"Ah...melhor não..."

"Resposta certa"

"Isso é não é um jogo de perguntas e respostas,Coringa :/"

"Não?Que pena.Logo agora que eu ia perguntar a cor da sua calcinha!"

Sorrio e mando de volta:

"Não estou usando calcinha."

"Acho que vou chegar mais cedo hoje..."

Depois disso,não recebo mais nenhuma mensagem.Ele deve estar ocupado,mas prefiro não saber com o que.Quando percebi que estava apaixonada por ele,jurei pra mim mesma que não tentaria mudá-lo e que não interferiria em seu "trabalho",então prefiro deixar o assunto de lado.

Termino de tomar meu café,lavo e arrumo a louça,para depois me sentar no sofá novamente,usando apenas uma das camisas de Jack que surrupiei do nosso guarda-roupa.Claramente,já me acostumei com minha nudez,seja ela completa ou parcial.Nem uso mais sapatos dentro de casa.Martha Wayne deve estar se revirando no túmulo a essa altura.E Alfred provavelmente teria uma síncope se me visse.Pobrezinhos,ambos sempre se esforçaram na minha educação,e tentaram me tornar uma dama, porém,acho que não deu muito certo.

Pensar neles me deixa um tanto melancólica.Martha sempre tentou ser uma boa mãe pra mim,e conseguiu.Sou muito grata a ela,e perguntarei para o Coringa se algum dia eu possa ir visitar seu túmulo e o de tio Thomas.Tenho certeza que nenhum dos dois aprovaria minhas decisões,muito menos meus pais,e isso dói.Balanço a cabeça de um lado para o outro,tentando esquecer esses pensamentos depressivos e de que nada adiantam,pois já tomei minha decisão a tanto tempo que seria difícil mudar algo agora.Isso sem falar que sou tão teimosa quanto Bruce,quando tenho algo na cabeça,ninguém consegue fazer com que eu mude de ideia.

Penso em ligar a TV,mas sei que apenas verei desgraças e,provavelmente,algo sobre Harvey,o que eu dispenso.Não estou com vontade de ler,nem de limpar a casa,ou de fazer qualquer coisa,para ser sincera.

Então faço a única coisa que me parece viável:volto a dormir.

                                                                                                                  _ . . . _ 

Um pequeno garotinho me encarava com olhos aterrorizantemente castanhos e familiares.Os cabelos era um loiro escuro,quase castanho,e formava pequenos cachos a redor do rosto arredondado.De repente,a imagem mudou.Agora,a criança era outro garoto,de cabelos negros e olhos azuis,de mãos dadas com um garoto idêntico a ele,só que de cabelos verdes.O mundo rodou novamente,e agora apenas sobrava o garotinho loiro,sorrindo pra mim.Ele veio até mim,e enlaçou sua mãozinha com a minha e perguntou:

-Mamãe,que horas o papai vai chegar?

Caio do sofá,o coração aos pulos e a bunda dolorida pela queda.Deito-me no mármore,ofegante e pensando o que diabos foi isso.Meu Jesus,esse sonho não pode significar o que acho que significa.Eu não posso estar querendo ter um filho,caralho!Eu não posso ter um filho!

Meu subconsciente está claramente querendo me matar.O garotinho e os gêmeos são os mesmos do outro sonho que tive,e não posso deixar de reparar nas semelhanças entre os três e entre mim e o Coringa.O primeiro menino é parecido comigo,tirando os cachinhos e o rosto mais arredondado,mas essas características lembram as do meu pai,Andrew. Os outros dois são claramente parecidos com o Coringa,mas eu tenho mais a sensação de eles são o Coringa.Figuras criadas pela minha mente,representando a infância solitária do Palhaço e sua dupla personalidade.Minha parte psicóloga diz que isso vem da minha vontade de ter uma criança com o Coringa,ao mesmo tempo em que me lembra das dificuldades dele durante a infância e me alerta sobre os problemas do meu amado,que possivelmente trariam problemas para toda nossa possível família.Minha outra parte,a parte de garota-normal-de-21-anos-e-que-namora-um-vilão grita para que eu deixe de ser idiota e esqueça essa porcaria de ideia de ter um filho!

Concordo com a segunda parte,eu não posso ter uma criança.Primeiramente,sou muito jovem.Segundo,meu namorado é um criminoso procurado,com dupla personalidade(uma delas sendo de um palhaço insano) e alguém que não parece querer um filho,ou que ao menos saiba o que fazer com um.Terceiro,eu nem ao menos tenho um emprego ou um diploma ou um lugar pra morar sem ser o apartamento do amante mentalmente perturbado.

Realmente,não parece um bom momento para meus instintos maternais quererem entrar em ação.Me levanto do chão e vou até o banheiro,onde tento me afogar na pia,mas como não consigo,simplesmente termino de lavar o rosto e enxugo-o com uma toalha.Olho para o espelho,e uma loira magricela me encara de volta,com cabelos lisos e um pouco abaixo dos ombros e olhos muito arregalados,num dos quais uma grande mancha roxa-azulada o cobre parcialmente e continua até a bochecha.

Isso vai estar num lindo tom de amarelo-puz daqui algumas semanas,é só esperar.

Bufo e sigo para o quarto,me jogando na cama e analisando as possibilidades de voltar a dormir sem ter outro sonho estranho.Acho que consigo,pois não percebo quando o Palhaço entra no quarto e só desperto ao ser chacoalhada com violência e ao escutar:

-Levante-se rápido,docinho!Temos que ir embora daqui já!

-Por que? - pergunto já correndo pra fora do quarto,tropeçando ao vestir minhas calças.Pego meu casaco e minhas facas,e espero o Coringa em frente a porta.Ele vem e pega meu cotovelo,puxando me pra fora.Finalmente responde:

-Porque,docinho,nosso amigo Batsy chamou a Liga da Justiça pra vim brincar com a gente.