História My Little Sweet - Final Feliz?

24 dias depois.

1 hora,33 minutos e 47 segundos antes do casamento.

A maquiadora está fazendo os últimos detalhes no meu rosto,enquanto Aimee fica tagarelando ao meu lado.Ela está linda em seu  vestido longo azul-cobalto,a cor que as madrinhas estão usando.Eu a escolhi,juntamente com Louis,para serem meus padrinhos no casamento,enquanto que Barry escolheu Iris e Bruce para serem os dele.Por mim,meu primo nem ao menos seria convidado,mesmo que seja ele quem está pagando tudo isso.Barry o escolheu por causa disso,foi a única maneira que ele achou para que eu deixasse que Bruce comparecesse à cerimonia.

-Prontinho - diz a maquiadora loira,e se move para o lado,permitindo que eu veja meu reflexo no espelho.

Estou linda.Minhas pálpebras estão pintadas com um suave tom de rosa,com um pouco de dourado nos cantos.Pareço saúdavel por causa do blush e porque a mulher conseguiu fazer o milagre de esconder minhas olheiras.Minha boca carmesim manda uma onda de saudade pelo meu corpo e quero tanto chorar neste momento que parece que vou explodir de angústia.Meu cabelo também está perfeito,arrumado em um coque alto,com algumas mechas soltas perto da minha nuca e rosto.Estou linda,mas não estou arrumada pro cara certo.Ele teria odiado toda essa leveza e elegância.

Aimee é quem me ajuda a por o vestido e,no momento em que ela o fecha,percebo que estava certa.

Ele teria odiado tudo isso.

O vestido é lindo,mas não é pra mim.Eu acho que algo mais simples,menos cheio e mais ousado teria combinado mais com a nova eu.É um modelo princesa,e eu sei que não sou princesa alguma.Ainda por cima,é branco.Eu até tentei arranjar um vestido roxo,porém Bruce vetou a ideia.O desgraçado participou ativamente de todos os preparativos,e foi ele quem escolheu esse vestido.

Quero rasgar o cetim branco entre minhas mãos.Quero quebrar esse maldito espelho que mostra essa noiva tão perfeita e adorável que eu sei que não sou.Quero bater em Aimee porque ela diz que estou linda.

Eu não faço nada disso,é claro.Simplesmente abraço minha amiga bem forte,desviando o olhar de todos esses malditos espelhos.

-Eu sei que você sente falta dele,Leigh. Mas as coisas vão melhorar agora,prometo.Você tem um noivo lindo,e vai começar uma família.Tudo vai ficar bem.E você terá seu final feliz.

Toda a raiva que eu sinto se esvai de mim,como o ar saindo de uma bexiga furada.Só sobra o cansaço.E a dor,que nunca vai embora.

-Ok,eu estou bem - murmuro me soltando dela e abrindo o sorriso mais falsamente feliz que eu consigo.

-Sei que esse seu sorriso é falso,mas é melhor que aquela sua carranca - resmunga a ruiva,revirando os olhos.

-Você me conhece bem demais - falo ao estreitar meus olhos na sua direção.Ela simplesmente ri de mim.

-Vamos,se não nos atrasaremos.

-Não posso ficar aqui mais um pouco? - praticamente imploro.Ela me olha hesitante - Juro que não vou fugir.

-Tudo bem,vamos,meninas - diz ela à maquiadora que eu esqueci o nome,a cabeleireira chamada Jéssica e à Iris que estava no canto do meu quarto o tempo todo.Bruce achou melhor que eu me arrumasse na Mansão Wayne,ao invés de num hotel qualquer.Estar no meu antigo quarto,me preparando para meu casamento é muito estranho.Vivi neste quarto a vida inteira e agora parece ser o lugar de uma estranha.

-Bem,apenas não se atrase.Tudo bem se já formos para a igreja?

-Sim,podem ir.

As três saem,me deixando sozinha.Bem,não tão sozinha,meu filho está aqui comigo.Eu gostaria que ele se mexesse,mas o médico disse que isso ainda vai demorar um pouco.Passo a mão pela minha barriga,que ainda está plana.Barry também gosta de fazer isso,quando tem certeza de que eu não vou pirar.

Isso aconteceu umas duas vezes,só nesse mês.Uma vez,ele chegou por trás de mim,e envolveu meu estomago com as mãos.Não sei como fui tão rápida,pois em um milésimo de segundo,eu já tinha a faca que estava usando para picar cebolinha encostada a garganta dele.Demorou um tempo até eu perceber que era Barry. Nunca falamos sobre isso,até que alguns dias depois,aconteceu de novo.

Eu tinha acabado de acorda,e havia corrido para o banheiro.Tive uma grave crise de vomito.Quando Allen apareceu pra me ajudar,acabou pondo a mão na minha barriga.Eu não o ataquei dessa vez,eu apenas surtei.Comecei a me debater e a gritar feito louca,até mesmo tentei rastejar pra fora do banheiro.Foram 30 minutos para eu me acalmar e deixar que Barry se aproximasse.Ele tentou conversar comigo depois e eu o ignorei.

Eu não consigo me sentir segura.Todos que se aproximam,parecem ser inimigos.É paranoia,eu sei,mas não consigo me controlar.Preciso proteger essa criança.Ele é a minha vida agora.

-Não é verdade,Heath?A mamãe vai te proteger.O papai não vai poder ajudar,mas eu vou trabalhar o dobro para proteger a nós dois.Tio Barry vai ajudar.Acho que tio Bruce também,mesmo que a mamãe esteja brava com ele agora.

Gosto de fazer isso,conversar com o bebê.Me acalma.Flash também faz isso,é fofo ver como ele fica entusiasmado com a minha barriga.Quem olha,pode pensar que ele é o noivo perfeito,apaixonado por mim e louco pelo nosso filho,mas só o último item está correto.Ele só gosta de ser pai.Gosta de falar sobre como ele quer ser bom como o próprio pai.

Só que ele não sabe que,quando Heath tiver idade o suficiente pra guardar segredo e para entender toda a história,eu contarei a ele sobre seu verdadeiro pai.Ele precisará saber.Saber que o pai era um criminoso louco,vilão de Gotham e arqui-inimigo do Batman.Ele terá que saber que,apesar do que todos diziam,o pai foi um homem bom,a medida do possível.

Afinal,como alguém pode entender o seu presente e planejar o futuro,sem saber sobre o seu passado?

                                                                                                       _ . . . _

A limusine está a minha espera em frente a Mansão Wayne.O motorista me ajuda a entrar,assim eu não corro o perigo de amassar ou sujar o vestido.Agradeço ao senhor,que já deve ter uns 50 anos,suponho.

Partirmos,comigo mergulhada em pensamentos.Não falamos durante uns 20 minutos,até ele dizer que precisamos ir até o posto de gasolina para ele estacionar.Acho estranho,afinal,ele não deveria ter enchido o tanque pra me levar até a igreja?

Em menos de 5 minutos,escuto a porta do motorista se fechando.Damos partida novamente e eu fico olhando as ruas passarem.Vejo a loja que assaltei com o Coringa uma vez e o riso borbulha dentro de mim.Essa com certeza é uma história que um dia eu contarei ao Heath.

É observando a cidade,que percebo quando passamos reto em frente a catedral.Posso ter um vislumbre dos convidados,alguns ainda do lado de fora.A limusine continua,a imagem sendo deixada para trás.

-Ei,cara,você acabou de passar em frente a igreja! - grito do banco traseiro,para o caso de ele não poder me escutar.

Bato na divisa do carro,entretanto,não tenho resposta.Tento de novo.E de novo.Até que começo a me apavorar.Tento abrir a porta,mas está trancada.

-Cara,acho bom você me dar uma explicação,ou então serei obrigada a quebrar essa maldita divisa e enfiar uma faca no teu pescoço - exclamo,levantando a barra do meu vestido e pegando as facas que o Coringa me deu e as quais eu coloquei nos coldres em minhas pernas,por baixo do vestido.

A divisa desce lentamente,enquanto me preparo para atacar.Mas algo me para.Quando finalmente tenho um visão completa do motorista,vejo que não é o mesmo de antes.Cabelos verdes espreitam por de baixo de seu quepe.E as mãos que seguram o volante não estão de luvas,deixando a pele extremamente pálida a mostra.

Só percebo que prendi a respiração,quando vejo seus olhos assombrosamente azuis pelo retrovisor,e como eles se enrugam nos cantos quando ele sorri e fala:

-O que estava dizendo mesmo,Leigh?