História My Little Sweet - Colega de quarto

Suspiro pela quarta ou quinta vez.

São 3:47 da manhã e o Coringa ainda está na parte térrea da boate.Fico olhando o relógio de 5 em 5 minutos.Bruce deve estar enlouquecendo.Saí de casa às 8:00 e fui direto para a faculdade,quando saí avisei meu primo de que eu iria passar a tarde na biblioteca.Meu pobre primo deve estar parindo cachorrinhos nesse exato momento.

Suspiro novamente.Depois que o Coringa se jogou na cama junto comigo e fez aquela...proposta,Jonny bateu na porta dizendo que o Crocodilo havia chego.Depois de resmungar um pouco,o Palhaço saiu de cima de mim e foi para baixo,avisando que em pouco tempo voltaria.

Pelo visto,meu ex-paciente não tem uma noção de tempo muito boa,mas estou agradecida por isso.Sinto-me desconfortável estando tão perto do Coringa sem uma mesa e algemas nos separando.Tenho receio do que ele possa fazer comigo,mas há vezes em que me sinto calma e até mesmo segura quando estou com ele.Não que eu vá admitir isso,é claro.

Rolo na cama e sinto seu cheiro impregnado nos lençóis,assim como o meu cheiro que começa a se misturar com o dele.Assim que ele saiu eu tomei a liberdade de tomar banho naquela linda banheira.A água quente relaxou meus músculos e aproveitei pra lavar o cabelo.Vesti um roupão felpudo e roxo.Percebi rapidamente que roxo devia ser a cor favorita do Coringa.

Peguei uma camisa e uma cueca de seu guarda-roupa;claro que me senti uma aproveitadora,mas já que fui eu a sequestrada,acho que tenho direito a roupas limpas e um banho.

Já estou quase dormindo quando a porta do quarto se abre.O Palhaço entra e fecha a porta com cuidado.Finjo que estou dormindo enquanto ele vai até o banheiro;escuto o som do chuveiro ligando e abro os olhos.Seu casaco está jogado em cima da cadeira de balanço e o roupão foi-se embora.Após uns 15 minutos ouço a água parar.Fecho os olhos rapidamente quando escuto o clique da porta sendo aberta.

-Pode abrir os olhos,docinho.

Eu espio-o rapidamente,vejo que ele está usando uma calça de seda preta.E só.Da cintura pra cima a única coisa que cobre sua pele translúcida são suas tatuagens.Não posso dizer que ele tem um corpo ruim.Uma figura esbelta mas,surpreendentemente musculosa.Penso se ele vai perceber se eu limpar a baba no canto da minha boca.

-Como sabia que eu estava acordada? - começo a conversar com ele como meio de fugir dos meus pensamentos estranhos e perigosos.

-Sua respiração.No carro,quando você tirou uma soneca,percebi que sua respiração é bem irregular.Você não chega a roncar,mas...

Merda,me esqueci disso.Tenho um sono agitado desde pequena.Fui levada ao médico porque Bruce pensou que isso poderia ser sinal de algum problema respiratório,mas ainda bem que não era nada.

-Entendi.Você é bem observador,não?

-Geralmente,sim.Caso queira saber,neste momento estou observando você com minhas roupas - um sorriso malicioso se estica em seu rosto.

-Bem,eu tomei banho e não podia andar por aí de roupão - digo sentindo meu rosto esquentar.

-Não estou reclamando,docinho,se bem que a perspectiva de ver você usando apenas o meu roupão é muito tentadora.

-Já te disseram que você é muito atrevido? - pergunto rabugenta e vejo ele se aproximando da cama.

-Já te disseram que você é muito fascinante?Na verdade,essa palavra te descreve muito bem.Você parece uma dessa meninas ricas,mas não se importa de ficar perto de gente como o Jonny Jonny. É uma psicóloga mas está deitada confortavelmente na cama de um louco.É uma boa garota mas ajudou um cara a fugir da prisão.Você é uma contradição ambulante e isso é simplesmente delicioso.

Fico quieta por um momento e depois falo:

-Meu primo é rico,mas não acho dinheiro algo tão importante assim. Jonny me tratou com respeito e eu devolvi.Estou deitada na sua  cama porque você me sequestrou e te ajudei a fugir porque você me salvou do Jhonson. Por falar nisso,como você conseguiu?

Ele se deita ao meu lado na cama,põe um dos braços atrás da cabeça e o outro passa pela minha cintura,então acabo colada na sua lateral e com a cabeça em seu peito.Estou tensa como a corda de um arco.

-Quando você se atrasou eu percebi que algo não estava certo.Foi fácil me livra das algemas e mais fácil ainda me livrar dos guardinhas.Te procurei como um louco - nesse momento ele dá uma risadinha pelo trocadilho - Como não te achei fui até a sala de segurança,onde ficam as câmeras.Por sorte não havia ninguém lá e descobrir a senha dos monitores foi mamão com açúcar.Vi em uma das filmagens o cachorro te empurrar para a sala do zelador e fui até lá.Entrei,matei ele e te HÁHÁHÁ sal-HÁ-salvei.Eu sou um vilão e te salvei HÁHÁHÁ.

Seu corpo se sacode com as risadas.Seu sorriso é meio cativante e,apesar de não me sentir confortável com as lembranças,me vejo querendo sorrir com ele.

-Ah,a ironia.Tão linda,tão engraçada - ele limpa as lágrimas dos olhos e me abraça mais forte.Sua mão faz círculos lentos em minha coxa,subindo a camisa dele cada vez mais.

-Pare com isso!

-Parar com o que? - pergunta cínico.

-Com...com o que está fazendo!

-Vamos,não me diga que nunca fez isso - seus dedos começam a se infiltrarem por debaixo da roupa.Arrepios sobem pela minha espinha.Se são de medo ou de desejo,não consigo descobrir.

Fico em silêncio,com as bochechas mais coradas do que nunca.Ele olha para mim,olha nos meus olhos.Se me perguntassem o que eu mais acho bonito no homem a minha frente,eu responderia que são seu olhos.São tão azuis e tão claros.Me lembram faróis ou uma lanterna dentro da água,com uma escuridão os envolvendo.

-Oh,meu santo caralho!Você nunca fez isso antes!Minha docinho é virgem!Ho,ho,ho, parece que tirei a sorte grande,hein? - seus olhos brilham de animação.E de safadeza.

-Não devia caçoar de mim.Sou virgem porque quero,ok?Nunca tive intimidade o suficiente para fazer sexo com meus ex-namorados.

Seu rosto perde o sorriso.

-Não fale de outros homens enquanto estiver na minha cama! - seu olhos se tornam cruéis enquanto ele aperta meu quadril.Seus dedos machucam e sinto sua unhas curtas arranhando minha pele.

-Pare,por favor - faço com que minha voz permaneça calma e suave - Coringa,você está me machucando.

Seus olhos focam em mim.É como se ele saísse de um transe.

-Ah - ele olha para suas mãos e para meu rosto -Ah.

É tudo o que diz.Ele me solta e deita-se de costas para mim.Apago a luz e fico encarando seu contorno,até que suspiro e me movo pra perto dele.Encosto meu peito em suas costas e passo meu braço pelo seu tronco,fazendo com que minha mão pare em seu peito.

-Está tudo bem - murmuro - Já me acostumei com suas mudanças de humor. - Ele continua em silêncio.Seu corpo é firme e muito quente.Com sua palidez,seus olhos azuis e sua temperatura corporal alta,ele me lembra um daqueles mosquiteiros elétricos.Me pergunto se isso faz de mim uma inocente mariposa que é atraída pela luz só para morrer queimada.Espanto esses pensamentos da minha mente.No momento,o Coringa ainda não é perigoso para mim,então me permito ficar com a guarda baixa.

-Boa-noite,Coringa - sussurro perto do seu pescoço.Além de quente,o Palhaço também cheira muito bem,o maldito.Acabo de perceber que usamos o mesmo shampoo e sabonete,ou seja,temos o mesmo cheiro,apesar de ainda ter um leve aroma de café emanando dele;isso meio que me dá uma uma boa sensação.Estou quase dormindo,embalada pela sua quentura e pela seu perfume, quando escuto:

-Boa-noite,pra você também,docinho - percebo um sorriso em sua voz,antes da escuridão finalmente me envolver.