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História My love...you have. - Conformidade


Escrita por: Aquarius-

Notas do Autor


Olá, olha eu aqui novamente.
Gente que semana corrida o.o
Capitulinho novo para vocês, não se assustem com a quantidade de palavras, me empolguei de novo como podem ver, haha, mas esse tem bastante diálogos ♥
Obrigada por todo o carinho e apoio, eu não esperava esse repercussão toda, estou muito feliz que estejam gostando.
Sem mais delongas... ótima leitura para vocês.
Obs. Qualquer erro ou duvida, sintam-se a vontade para me avisar. Beijos.

Capítulo 7 - Conformidade


Fanfic / Fanfiction My love...you have. - Conformidade

VISÃO DO LEVI

Acordei no sofá do escritório com um vento gelado batendo sobre o meu corpo. Levantei, fechei a janela da sala e sentei-me na cadeira. Tsc. Estou faminto, optei por não almoçar essa tarde, não estava com cabeça para encarar os pirralhos. O que? Com certeza Eren foi correndo exibir seus morangos para eles, como vou encara-los, como posso explicar isso? O que, agora comecei a dar presentinhos? Tsc. Cerrei os olhos. Porque ele? 15 anos, ainda não acredito que me interessei por alguém tão novo e inocente. Encarei a sala, estava tudo tão limpo. O rosto do pirralho passou pela minha mente.

- Aquele sorriso... - Sussurrei e comecei a bater as pontas dos meus dedos na mesa. Estou inquieto. Quero vê-lo.

Levantei e dirigi-me ao refeitório, pois provavelmente o jantar já estava servido. Adentrei no salão e observei que Christa, Jean, Sasha e Connie estavam em uma das mesas conversando animadamente, enquanto Eren e Mikasa estavam em outra junto a Armin, que falava algo que os outros dois demonstravam interesse. Tsc. Dirigi-me a cozinha e fiz meu prato, a sopa de legumes ainda estava quente, e então voltei ao salão e encarei os pirralhos. Tsc. O sorriso de Eren veio novamente em meus pensamentos. Quero vê-lo. Aproximei-me da mesa e sentei a sua frente. Tsc. O que eu estou fazendo?

- Boa noite! – Exclamei.

- Boa noite senhor – Respondeu-me Armin com um sorriso. Mikasa somente me encarou incógnita.

- Boa noite Heicho - Eren também sorriu.

Esse sorriso. O que estou fazendo?

- Já jantaram? - Perguntei.

- - Respondeu Mikasa.

- Entendo. Gostou da sopa Eren? – Encarei-o.

- An? Ah, sim. Está muito gostosa, foi Armin quem fez. - Respondeu me encarando enquanto coçava a parte de trás da sua cabeça.

- Apenas ajudei Christa a ter uma ideia para o jantar, não foi nada demais. -Armin sorriu - Apesar de que você não comeu muito em Eren, acho que não gostou hahahaha – Brincou com o amigo, meio envergonhado.

O que estou fazendo?

- Não gosta de sopa Eren? – Perguntei.

- An? Bom, não sou muito fã. Haha - Disse constrangido.

- Entendo - Comecei a comer - Também não sou muito fã - Conclui.

O que estou fazendo? Tsc.

- Eu não sabia senhor, acho então que tiraremos do cardápio - Disse Armin. Mikasa continuava me encarando.

- Não tem problema, é um prato fácil e prático - Continuei a comer.

Eren e Armin riram meio sem jeito.

O que estou fazendo?

- Suas mãos estão melhores? - Voltei a encarar o pirralho.

- An? Ah sim, estão melhores Heicho. Provavelmente, logo poderei voltar a treinar. - Sorriu meio sem graça.

O sorriso. Quero vê-lo.

- Provavelmente sim - Desviei os olhos para a janela. - Gosta da noite? - Retornei a encara-lo.

- An? Bom, depende, mas acho que prefiro o dia. - Eren continuava a sorrir envergonhado.

- Depende? - Ergui uma sobrancelha.

O que estou fazendo?

- Ham.. Bom é que... Acho a noite meio assustadora se você está sozinho, tem mais perigos... - Coçava as bochechas, pensativo.

- Perigos? – Continuei.

- Bom... animais, bandidos, essas coisas, haha - Respondeu com uma risada sem graça.

- Entendo - Voltei a tomar a sopa.

Armin e Mikasa me encaravam pensativos. Eren parecia perdido em pensamentos. O que estou fazendo?

- Tem medo da chuva também? - Encarei- o novamente.

- An? Bom, não é que eu tenha medo, só acho perigosa, acho que depende da situação em que se está haha - Voltou a coçar as bochechas.

Tão jovem. Encarei-o por um tempo. Tão fofo... Fofo ? Que merda eu estou pensando.

- Tsc. - Revirei os olhos. – Você é cheio de dependes. - Encarei a janela. Iniciava uma chuva fina e calma.

- Me desculpe por isso Heicho - Sorriu sem jeito.

Encarei-o. Porque tão desalinhado? Tão descuidado? O cabelo ainda estava molhado, provavelmente do banho. Tão despreocupado...

- Deveria secar melhor seu cabelo, pode pegar um resfriado se dormir com ele nesse estado - Comentei o encarando.

O que estou fazendo?

- An? - Eren tocou as pontas molhadas dos cabelos. - Me desculpe, não tinha reparado que ainda estavam molhados. - Sorriu sem jeito, novamente.

- Que desleixado - Voltei a tomar a sopa.

O que estou fazendo?

- haha, me desculpe por isso - Coçou a parte de trás de sua cabeça.

Que mania boba, porque ele sempre faz isso? Porque sempre fica sem jeito? Porque desse sorriso bobo? Tsc. Voltei a escarar a janela. A chuva havia aumentado e trovões baixos podiam ser ouvidos. Voltei meu olhar ao pirralho e ele encarava o prato de sopa vazio, enquanto Armin sorria sem jeito e Mikasa me encarava diretamente.

- Gosta da chuva? - Perguntei.

- An? - Foi tirado de seus pensamentos.

- Ele já te respondeu isso - Mikasa encostou-se à cadeira e cruzou seus braços, me encarando com os olhos meio cerrados.

- Perguntei se tinha medo, e ele disse depende – Olhei-a de canto e voltei a encarar Eren que agora já sorria amarelado e mexia em seu colar.

- Bom, acho que não gosto muito - Respondeu sem jeito.

- Acha? - Ergui uma sobrancelha.

- Desculpa - Abaixou o olhar novamente para o prato.

Connie e Jean se aproximaram da mesa.

- Hei Armin, estamos indo para o quarto, você vem? - Perguntou Jean.

- Ah sim, já vou. - Respondeu levantando-se da mesa - Boa noite e com licença senhor - Despediu-se e foi em direção à porta atrás de Jean e Connie que conversavam animadamente.

Voltei a encarar Eren, que intercalada seu olhar entre mim, Mikasa e o prato vazio. Esses olhos... Porque tão lindos? Porque tão verdes?

- Você gosta de verde? - Perguntei cruzando meus braços.

- An? Como assim, verde? Planta? - Me encarou meio corado e coçou a parte de trás da cabeça, novamente.

- Da cor mesmo - Desviei o olhar para a janela que agora já estava molhada e embaçada. Está ficando frio.

- Entendi, gosto sim, mas prefiro o azul. Haha - Respondeu e voltou o olhar para o prato.

- Entendo - Continuei a encarar a janela por um tempo, depois voltei o meu olhar a ele - Eu gosto de verde. – Senti os olhos de Mikasa atravessarem-me.

- Com licença senhor, eu fiz chá de maracujá, se quiser posso lhe trazer uma xícara - Christa aproximou-se da mesa junto a Sasha.

- Não quero, obrigado - Continuava a encarar Eren, que agora me olhava meio corado. Porque está corado?

- Entendo senhor, então já vou me retirar com Sasha, você vem Mikasa? - Voltou seu olhar a morena.

- Não, irei com o Eren - Continuava a me encarar com os olhos cerrados.

- Tudo bem, então boa noite pessoal. –Despediu-se e saiu para a porta seguida de Sasha que começou a falar algo sobre uma receita.

Tsc. O ar do ambiente está se tornando mais frio e a chuva e os trovões aumentaram.

- Acho melhor também nos retirarmos - Levantei-me, peguei os pratos que estavam nas mesas e me dirigi à cozinha, onde comecei a lavar a louça.

Mikasa: Eren vamos indo, eu te levo até o porão.

Eren: Melhor esperarmos o Heicho.

Ouvi-os cochichar.

Mikasa: Não! Ele está agindo estranho com você. Eu não gosto disso.

Eren: Mikasa, ele só estava conversando conosco. Não é nada demais.

Mikasa: Conosco não, com você. E também tem os presentinhos dele. Eu não gosto disso.

Eren: Que presentinhos? Eu já te expliquei que foi só um pedido de desculpas.

Mikasa: Era só ter pedido desculpas, não precisava ter te dado nada.

Eren: Mikasa eu não te entendo, são somente morangos. Eu até te ofereci, você que não aceitou.

Mikasa: Não mesmo, enquanto você devora-os com aquele sorriso idiota, como se tivesse ganhado o melhor presente do mundo.

Eren: Você sabe que eu amo morangos. Eu gostei mesmo do presente.

Mikasa: Pois eu acho que você não deveria ter aceitado.

Eren: Mikasa, não se recusa um presente e ele é nosso superior.

Mikasa: Não ligo, ele é chato e arrogante.

Eren: Você não o conhece para dizer isso.

Mikasa: Porque você está defendendo ele?

Eren: Não estou defendendo, só estou dizendo que você está errada.

Mikasa: Não estou não. E essas perguntas que ele te fez? E você ainda ficou dando corda.

Eren: Mikasa! Foi só uma conversa e eu só tive a educação de respondê-lo.

Mikasa: Não foi uma conversa, foi um questionário. Ele estava querendo saber mais sobre você.

Eren: Mikasa deixa disso!

Mikasa: O que, ele é sempre quieto e dramático, aí do nada te dá presentinhos e te faz um questionário?

Eren: E o que tem? Talvez ele só queira se aproximar de seus novos subordinados, só isso, qual o problema?

Mikasa: Eu não gosto disso. Mas eu não vou falar mais nada para você, já percebi que vai defender o seu grande ídolo.

Eren: É, eu admiro ele mesmo, sempre admirei e você sabe. Ele é o soldado mais forte da humanidade e eu sempre quis fazer parte da tropa, e veja só onde eu estou! Então se o Heicho quiser ser meu amigo, eu vou deixar. Você gostando ou não.

Mikasa: Porque você é tão cabeça oca? Admirar o que nele? Não percebe? Ele é chato, grosso, baixinho, te espancou porque quis, grita com você e ainda por cima te acorrenta todo dia feito um animal selvagem.

Eren: Hei, eu não vou explicar de novo o porquê de ele ter me batido no julgamento.

Mikasa: Quando é que você vai perceber que ele te trata mal!

Tsc. Voltei ao salão e senti o olhar cerrado de Mikasa sobre mim. Eren me encarou mais corado do que antes.

- Vamos Eren, está na hora de ir - Disse me dirigindo a mesa.

- Eu o levo hoje! - Mikasa levantou-se abruptamente da mesa - Vamos Eren.

- Esse não é o seu trabalho – Encarei-a.

- TSC – Virou-se e saiu furiosa do salão, batendo a porta ao sair.

- Me desculpe por isso - Eren levantou-se sem jeito e envergonhado - Mikasa é difícil de lidar, não fez por mal - Coçava suas bochechas.

- Tudo bem, acho que ela não gosta de mim - Desviei o olhar e caminhei em direção ao corredor. Eren me seguiu.

- Não Heicho, é só que... ela não te conhece, só isso - Veio acelerado em minha direção.

Parei e o encarei.

- E você conhece? - Ergui uma sobrancelha.

- Não muito bem... - Sorriu sem jeito.

Voltei a caminhar para o porão. Tsc. Porque tão lindo? Que merda estou fazendo? Percorremos o restante do caminho, calados e acelerados. Estou inquieto. Ao chegarmos ao quarto improvisado de Eren, abri a porta da cela e adentrei, parei perto da cama e Eren sentou se.

- Vai me acorrentar essa noite? - Disse com uma voz brincalhona e com um sorriso. (N/A: Que isso Eren? Apressadinho...)

Esse sorriso. Porque tão lindo? Porque tão sincero?

- É o que eu faço certo? Acorrento-te feito um animal selvagem. - Cruzei meus braços e encarei a parede.

- Então você ouviu... - Eren abaixou o olhar envergonhado para as mãos.

- Vocês não estavam falando baixo, não foi culpa minha ter escutado. – Dirigi-me a cadeira que ficava no canto da sala e sentei o encarando.

- Me desculpe por isso, Mikasa é complicada. - Eren começou a se desculpar meio sem jeito.

- Ela só é ela, não podemos fazer nada sobre isso. E você não precisa pedir desculpas pelas ações dela. - Ergueu o olhar para mim.

- Bom, é só que ela não entende às vezes - Se ajeitou mais na cama.

- Ela somente se preocupar com você - Observei-o se enrolar nas cobertas.

- Mas a preocupação dela às vezes me irrita. Sério! Parece uma louca correndo atrás de mim e se jogando para o perigo. É frustrante sabe, deveria ser eu a protegê-la, sou o mais velho. - Falou abaixando a voz e se encolhendo nas cobertas.

- Vocês são irmãos? Não possuem o mesmo sobrenome. - Perguntei apoiando meu braço no encosto da cadeira.

- Sim, mas de criação. Mikasa perdeu os pais quando ainda era criança e meu pai era amigo deles, então acabou convidando-a para viver conosco – Abraçava seus joelhos e estava com a coberta enrolada sobre si.

- E Armin? Seu pai o acolheu também? - Perguntei.

Esta tão adorável... Vendo-o assim nessa posição, tão frágil, nem parece que possui toda aquela determinação. Mas é como Hanje disse Eren ainda é uma criança, é jovem e está encarando sua maturidade agora.

- Ah não, Armin sempre foi o meu melhor amigo. Conheci-o em Shiganshina quando éramos crianças. Tinha uns garotos que viviam implicando com ele, aí um dia eu o ajudei , depois disso acabamos nos aproximando cada vez mais - Encarava seus pés, enquanto seu rosto se escondia entre a coberta e seus joelhos.

- Deveria ter imaginado que foi algo parecido com isso - Revirei os olhos e encarei o porão, estava juntando poeira nos cantos, precisava de uma faxina.

- Porque diz isso? – Me encarou.

- Porque é briguento – Encarei-o e ergui uma sobrancelha.

- Não sou não, só defendo os meus amigos quando eles precisam. - Seu olhar ficou determinado.

- Então porque ajudou o Armin? Ele não era seu amigo antes disso. - Continuei o encarando, Eren corou e voltou seu olhar aos pés.

- Porque eu não gosto de injustiças... – Abaixou sua voz.

- Viu, é briguento. - Desviei os olhos para as paredes e Eren afundou seu rosto corado ainda mais dentro das cobertas.

Tão frágil, despreocupado, fofo. Tsc. Quero toca-lo. Cruzei os braços e cravei minhas unhas neles. Quero toca-lo. Porque ele? Porque eu o acho tão lindo? Quero tê-lo. Tsc. Delinear meus dedos em suas curvas. Tsc. Um vento gelado passou pelo corredor e entrou com tudo na cela. Arrepiei ao senti-lo tocar em meu rosto. Eren estremeceu e se aconchegou mais nas cobertas.

- Está frio aqui – Comentei vestindo meu paletó, que antes estava só jogado sobre minhas costas. - Não possui mais roupas de frio? - Encarei-o.

- Não, só essas. Em Shiganshina não fazia muito frio, quase não chovia. Mas quando a noite fica mais fria por aqui, eu visto a capa da tropa e me cubro. - Puxou mais suas pernas para si, estava envergonhado.

Tsc. Que merda. Está mais frio aqui embaixo do que no andar de cima. A corrente de ar frio entra e fica presa. Eren esta com frio. Encarei a cama dele. Porque uma droga tão desconfortável daquela? Era um fino colchão em cima de um caixote de cimento, havia duas cobertas e um travesseiro. Tsc.

- Me desculpe por te tratar tão mal. - Desviei meus olhos para as paredes novamente.

- An? Você não me trata mal senhor, não precisa se importar com o que Mikasa fala, ela só é muito preocupada comigo e... - Eren me encarava nervoso.

- TSC. – Levantei-me e sai da cela

- Heicho? – Ouvi-o chamar.

Ignorei e caminhei até o meu aposento, onde peguei as cobertas que ficavam em minha cama e uma grossa que guardava no armário. Retornei a cela e joguei as sobre a cama.

 - Tome, quando voltar a Trost eu compro roupas decentes para você. Agora se cobra, não quero que fique resfriado, ainda mais com esse cabelo molhado... - Voltei a me sentar na cadeira.

Tsc. O que estou fazendo? Não era para eu me importar com esse tipo de coisa. Eren acabou com toda a minha personalidade. Quando estou com ele, sinto que quero ser melhor, que quero ser algo para ele, um amigo, alguém em que ele possa confiar para desabafar, alguém que ele possa contar. Quero ser alguém que possa protegê-lo, que ele sinta-se confortável perto de mim, quero mostrar o meu melhor lado para ele. Não tem problema certo?

- Obrigado Heicho - Respondeu sorrindo, pegou as cobertas e aproximou-as no seu nariz - Ah! Elas têm o seu perfume - Sorriu divertido - Vai passar frio por mim Heicho? Hahaha - Riu.

Não tem problema certo? Eu quero-o?

- Sim, mas você precisa mais delas do que eu - Eren me encarou surpreso, corou violentamente, e voltou seu olhar para os pés. Ergui uma sobrancelha. Ele estava brincando? Esperava que eu respondesse o que? Tsc. Quero toca-lo.

- Obrigado... -Sussurrou.

- De nada - Respondi e continue encarando-o por um bom tempo.

Suas bochechas e nariz estavam avermelhados e seus olhos moles e cansados. Tsc. Eren... Depois de tantos anos, poderia eu, amar novamente? Você me permitiria conservar esse sentimento por você? Toda vez em que te encaro tenho que lutar contra minha vontade de te abraçar, de te tocar. Por quê? Isso é errado, somos homens, sou muito mais velho do que você, é meu subordinado e eu, isso, você Rivaille, é você que está encarregado de mata-lo. Mas não será necessário, certo? O pirralho tem mostrado que é nosso aliado. Tsc. Como?... Como eu poderei mata-lo? Não tenho mais forças para isso... Não consigo... não mais. Não depois de encarar esses olhos, não depois de ver aquele sorriso, não depois de saber mais sobre ele. Que merda de vida.

- O senhor nunca me tratou mal, sempre foi gentil, do seu jeito - Fui tirado dos meus devaneios, pela sua doce voz.

- Do meu jeito? - Encarei-o.

- É. Mas eu entendo que faz parte da sua personalidade ser assim o tempo todo. Mas você sempre me ajudou, com os ferimentos, com as palavras, sempre me apontou meus erros para que eu os melhorasse e agora com as cobertas. - Eren coçava a bochecha esquerda com os dedos.

- Me desculpe por ser "assim" - Desviei o olhar para as paredes.

- Não tem problema. Eu gosto disso, se mudasse não seria mais o Heicho... Assim como Mikasa é preocupada e eu sou explosivo, o senhor é... reservado - Coçou a parte de trás da cabeça e me encarou - Me desculpa se isso pareceu estranho haha. - Deu um breve sorriso.

Porque tão lindo? Porque ele? Depois de tantas pessoas em minha vida... Porque agora? Porque eu tenho que ter sentimentos por ele? Porque eu tenho que justo a essa altura gostar dele? Eren...

- O Heicho ficou bravo com o que eu disse? - Abaixou o olhar para os pés.

- Não. Obrigado por entender - Agradeci abaixando meu olhar para os braços.

Não é isso.

- Sem problemas Heicho - Deu um breve sorriso amarelado.

Não é isso, não sou reservado, só estou cansado...

- O Heicho sempre foi assim? - Perguntou pensativo me encarando.

Não é isso. Só tenho medo de me aproximar das pessoas...

- Na maior parte do tempo - Respondi devolvendo seu olhar.

Não é isso. Só não quero perder mais ninguém...

- Ah entendi... - Eren encarou a parede na sua frente, empolgado - Estava imaginando o Heicho criança, tão estranho, hahahahaha - Deu uma risada animada.

É só porque é doloroso demais...

- Não era tão diferente do que sou hoje - Cruzei os braços e abaixei o olhar, novamente.

- Ah entendo, hahaha - Eren parecia se divertir com a sua imaginação.

Porque depois de tanto tempo. Não quero perde-lo... Não nessa luta, não por uma falha minha. Não quero perde-lo... É isso? Depois de tanto tempo, serei colocado a prova novamente?  Terei que encarar que mesmo que eu carregue o título de soldado mais forte da humanidade, nunca consegui salvar as pessoas que são queridas para mim. É isso? Depois de tudo, Eren veio para me mostrar que ser forte simplesmente não é o bastante. Nada nunca é o bastante. Eu não quero perde lo... não nessa vida.

- Hei, pare de ficar me imaginado aí. Tsc - Voltei a encara-lo, dessa vez com os olhos meio cerrados. - Que pervertido Eren. - Levantei brevemente a ponta do meu lábio esquerdo.

- An? - Eren corou violentamente - Não é isso, é só que achei divertido imaginar o Heicho brincando - Se encolheu nas cobertas.

- Brincando? Não sei o que é isso – Ergui uma sobrancelha.

- Que? O senhor nunca brincou na sua infância? - Eren me encarou surpreso.

- Digamos que eu não tive infância - Desviei os olhos para um canto qualquer da cela.

- Ah, entendo - Voltou seus olhos para os pés - Mikasa, Armin e eu adorávamos brincar de pega-pega, minha irmã sempre ganhava e Armin quase não aguentava correr, hahaha - Eren se divertia com as lembranças. - Mas nosso passatempo favorito era pegar os livros do avô de Armin escondido para ler - Estava feliz.

- Ler livros? Bem diferente para crianças como você – Interessei-me.

- Sim, eram livros que falavam do mundo lá fora, dos mares de areia e dos oceanos de sal. - Seus olhos brilhavam de empolgação.

- Isso são lendas - Desviei os olhos.

- Você não sabe – Irritou-se- Desculpe - Disse assim que percebeu seu tom de voz.

- É, eu não sei, mas acha mesmo que existe algo assim fora das muralhas ? - Voltei a encara-lo.

- Sim, porque alguém escreveria de algo que não existe? Havia figuras nos livros, os mares e oceanos são lindos, dizia que o mundo era redondo e que pode se ver o sol tocando a terra no horizonte - Voltou a empolgar-se.

- Redondo? - Perguntei curioso.

- Sim, estranho não é? Hahaha Eu jurei a Mikasa e Armin que ainda veríamos tudo isso juntos. Que construiríamos uma casa na frente do oceano de sal para vivermos todos juntos... - Eren abaixou o olhar entristecido.

- Pensava que esses tipos de livros eram proibidos - Ergui uma sobrancelha.

- Minha mãe sempre dizia isso, mas amávamos ler. Acabou que perdemos esse pedaço de fuga que tínhamos com a invasão da muralha. - O seu olhar se entristeceu ainda mais.

- Algum problema? - Perguntei com a voz terna.

- Não é nada... - Disse envergonhado.

- Entendo - cruzei os braços.

- É só que... - Eren abraçou os joelhos - Passei dias e noites tentando entender porque Bertholdt, Reiner e Annie fizeram isso. - Os olhos se tornaram mais tristes.

- Não necessita entender, eles são traidores e assassinos, é isso que importa - Falei grossamente.

- Eu sei disso. Mas eu queria saber o porquê deles terem matado tantas pessoas dessa forma.... É difícil pegar raiva de alguém que você confiava de olhos fechados. Eles eram os meus amigos. Acho que eu só não quero acreditar que tudo isso é real. - Me encarou envergonhado, depois voltou o olhar para os pés.

- Mas é, e você tem... tsc - Respirei fundo. Fale algo que preste Rivaille - Olha pirralho, eu entendo que seja difícil entender tudo isso, todos estão se perguntando o porquê de tudo o que está acontecendo. Sei que machuca colocar um amigo na pilha de inimigos, mas acabou que aconteceu. Não estou dizendo que o motivo deles terem feito isso não importa, só que não temos outra meio de descobrir se não capturar um deles e força-los a falar ou chegar até o porão da sua antiga casa. Foi você mesmo que disse que a verdade está lá. – Encarei-o.

- Sim - Pegou seu colar que continha a chave - Meu pai me disse para eu chegar até lá que a verdade estaria lá – Encarou-a.

- Ele te disse isso antes de morrer? - Voltei a apoiar-me no encosto da cadeira.

- Eu não tenho certeza, é estranho. Estou tão confuso com tudo - Guardou o colar em seu peito e voltou a abraçar os joelhos.

- Não tem certeza? - erguia uma sobrancelha - Você é cheio de achismos - Cerrei um pouco os olhos.

- Me desculpe por isso. É só que, eu não sei se é uma lembrança ou um sonho. É estranho, mas para um pesadelo - Falou baixo.

- Porque pesadelo? - Desviei os olhos para a parede.

- Eu me lembro de que estava assustado e com medo do meu pai, ele segurava uma seringa e chorava enquanto gritava que eu tinha uma missão a cumprir e que precisava voltar ao porão da minha antiga casa. Eu não o compreendia, só sentia medo e queria sair dali, não entendo o que aconteceu exatamente, nem quando e nem onde. Só que ele parecia querer me machucar, que estava assustado e eu não o reconhecia. Depois não me lembro de mais nada, é a última imagem que tenho dele - Continuou abraçado nos joelhos. Encolhido. Tão frágil.

- Ele morreu depois disso? – Perguntei.

- Não sei te dizer, só que ele sumiu. Mikasa e Armin só se lembram dele ter vindo me buscar em um dia aleatório. É confuso - Seu olhar entristeceu-se novamente.

Tsc. Isso me incomoda.

- Não pense muito nessas coisas Eren, está te fazendo mal, sei que é fácil falar... - Cravei minhas unhas no encosto da cadeira. Quero abraça-lo.

- Eu sei que não ando muito bem com tudo isso, mas eu juro que estou dando o meu melhor Heicho - Me encarou com os olhos trêmulos.

Suspirei.

- Eu sei que está pirralho. Desculpe-me se te pressionei, não foi minha intenção, não queria ter tacado tudo em cima de você. Eu também tenho a minha parte a fazer por aqui. - Abaixei o olhar.

- Tudo bem Heicho, eu compreendo que está todo mundo nervoso e ansioso com tudo o que está acontecendo. Mas eu sinto como se todos estiverem esperando um milagre vindo de mim e que eu simplesmente não consigo realiza-lo. Não é que eu não queira, só não consigo. Eu... - Lágrimas rolaram em seu rosto e um soluço cortou sua voz. - Me.. desculpe por parecer fraco. Eu só estou... - Cortei-o antes que terminasse a frase.

- Cansado - Me encarou surpreso - Eu te entendo Eren, você não é o único. Olha pirralho, eu só quero que você compreenda logo, que todos aqui estamos, é que você não precisa passar por tudo isso sozinho. Você pode contar com todos, seus amigos estão preocupados, mas também estão tristes. Não estou dizendo que a sua dor não importa, só que ela diminui quando se compartilha - Voltou a encarar os pés, pensativo - Tsc, pode parecer estranho isso vindo de mim, mas eu também perdi amigos importantes, em todas as missões, também vi minha família morrer sem poder fazer nada. Ficar triste não é ser fraco - Encarei-o. Tsc. Porque eu não consigo consola-lo? Porque não consigo dizer que vai ficar tudo bem? Que eu vou protegê-lo? Que merda!

- Heicho... - Eren voltou a me encarar com os olhos em lágrimas - Você sente falta de alguém também? - Limpou uma lágrima que escorria.

- Sinto e você? - Desviei o olhar para a parede, o que estou fazendo? Porque ele consegue mexer tanto comigo?

- Sim, da minha mãe e de... Hannes - Afundou a cabeça nos joelhos em lágrimas. - Eu não pude fazer nada, depois de tudo, depois de descobrir esse poder, eu não fiz nada para salva-lo. Eu... - Soluços - Eu não fiz nada - Mais lágrimas escorriam de seu rosto.

Tsc. Porque eu não consigo lidar com esse tipo de coisa? Eu quero ajudá-lo.

- Eu entendo... - Cravei mais minhas unhas na madeira. Não quero vê-lo chorar mais. Tsc. Infelizmente seria pedir demais para esse mundo de merda. - Eren... - me olhou surpreso - Não foi sua culpa. - Lágrimas escorreram pelo seu rosto. Quero toca-lo, quero abraçá-lo - Você pode não perceber isso por conta da raiva, mas não foi sua culpa e nem de ninguém - Seus olhos marejados tremulavam - Não vai ser nossa culpa se perdermos, só que esse mundo é injusto demais, não podemos mudar esse fato de merda - Eren arregalou ainda mais seus olhos. Tsc.

- Heicho... Eu... - Voltou a encarar os pés e ficou longos segundos em silêncio, pensativo - Acho que o senhor tem razão. A vida é injusta demais com todos - Voltou a me encarar.

- Sim, ela é - Cruzei meus braços.

- Pareço um idiota chorando desse jeito. Nem tive cabeça para conversar com o restante para saber o que está se passando - Disse com uma risada divertida.

Tsc. Meu coração disparou. Esse sorriso...

- Digamos que está tudo uma merda - Desviei os olhos.

- hahaha, Acho que sempre esteve - Gargalhou divertido.

Fechei os olhos.

Sentia meus batimentos. Cada movimento de Eren naquele quarto não passava despercebido pelos meus olhos. Cada detalhe de sua feição mexia com os meus sentidos. Por quê? Eu queria sorrir, queria me divertir ao lado dele. Como? Porque aquela merda de olhos verdes mexe tanto com a minha mente? Não entendo... como posso ama-lo? Nem ao menos sabia sua idade, não sabia nada antes de hoje, nada sobre você pirralho. Como posso ama-lo somente pelo seu olhar, somente pelas suas manias? Porque, essa merda de coração sempre dispara na sua presença? Porque sua voz mexe com todos os meus sentidos... Tsc. Como poderei eu depois de toda merda que fiz nessa droga de mundo, me apaixonar por alguém como você? Tão inocente, tão devoto, tão determinado, tão... Puro. Tsc. Sinto-me estranho, como se tudo o que eu construí e todo o meu eu estivesse se desmanchando a cada olhar seu. Como se todo o meu mundo e mente se esvazia a cada sorriso. Como se a sua determinação me cativa-se para eu fazer todos os seus malditos sonhos sobre morar na frente de uma merda de oceano de sal se realizar, somente para que não final de tudo, de todas essas suas inconstantes lágrimas, te todo nosso esforço, escutar sua doce voz dizer: "obrigado Heicho". Tsc. Eren, como poderei eu manchar essa sua inocência com os meus desejos, meus pecados e meu passado? Como poderei eu te encarar e dizer que te amo? Você provavelmente riria sem graça pensando que era uma brincadeira. Tsc. Porque depois de tanto tempo, depois de tanta dor, depois de cada tijolo que coloquei ao meu redor, alguém como você invadir meu mundo dessa forma seu ao menos saber o que está fazendo, sem os menos ter noção que cada lágrima que cai do seu rosto, aumenta ainda mais a merda da minha motivação de fazer com que esse mundo não seja uma merda para você.

- Heicho? O senhor está dormindo? - Perguntou bocejando.

- Não, só estava pensando - Encarei-o. Seus olhos não se mantinham abertos e deitou-se na cama e aconchegou-se nos lençóis.

Eren... acho que eu nunca terei coragem de te dizer tudo o que penso. Desculpe-me por ser um medroso covarde. Desculpe-me por te desejar dessa maneira.

- Em que o Heicho estava pensando?... - Dizia com a voz baixa e com os olhos quase totalmente fechados. Tão despreocupado.

Mas eu não quero machuca-lo. Eu não quero perde-lo. Somente eu ter a oportunidade de ver seus sorrisos, seus olhos, já é o bastante para mim.

- Em você - Sussurrei.

Só em fazer parte do seu mundo, já é o bastante para mim.

- Eeh, me desculpe por ... Preocupa lhe.. é só que.. os oceanos são tão lindos... - A respiração de Eren já era regular e um breve sorriso estampava seu rosto dormente.

Levantei-me da cadeira e sai em direção ao corredor, fechei a porta da cela e encarei seu corpo dormente. Suspirei fechando os olhos e sai em direção ao meu quarto.

Eren... por favor... deixe-me fazer parte do seu mundo.


Notas Finais


Arigato por ter lido até aqui.
Espero que tenha gostado.
Oyasumi, e até o próximo.


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