- Acho que hoje podemos dormir em casas diferentes. - começa Rick. - Claro, sempre atentos mas, separados. Qualquer problema em uma das casas não tenham êxito em me avisar.
Todos assentem, quando digo todos são todos mesmo. Até Gabriel ouvia tudo ao canto da sala.
⁃ Como vamos nos dividir? - pergunta Carol.
⁃ Uma parte do grupo vem comigo pra casa branca. Vamos eu, Carl, Judith, Glenn, Maggie, Nina, Sasha e Michonne. O resto do grupo fica aqui, Daryl estará no comando. - Rick olha para Daryl que assente.
Todos ficaram em silêncio até que Rick volta a se pronunciar.
⁃ Escolham os quartos - disse se referindo a outra parte do grupo. - E vocês venham comigo.
Todos o seguimos até a outra casa, quase numa fila indiana, que ridículo. Entramos na casa e Rick prosseguiu:
⁃ Andei vendo as casas, dá pra nos dividirmos bem, ninguém ficará sem cama. Glenn e Maggie, o quarto no final do corredor é de vocês. O seguinte é de você Nina, espero que não se importe de dormir com a Judith. - balancei a cabeça negando - Sasha e Michonne ficam com os de frente a Nina, o outro é meu e de Carl, todos entenderam?
Balançamos a cabeça em um sim e sem mais delongas subimos a escada.
Entrei no quarto e a primeira coisa que vi foi um berço lilás, bem ao lado de uma janela enorme. Uma cama de casal ocupava o espaço ao lado da porta. Uau! Uma cama de casal! Nunca na minha vida tivera uma dessas, nem antes disso. Corro os olhos pelo resto do quarto e a última coisa que vejo é uma cômoda com um quadro metálico acima dela. Essa casa deveria custar mais do que qualquer um de nós aqui pudesse pagar.
Volto ao quarto e abro minha mochila. Tiro minha adaga, a máquina e as fotos que tirei ontem, deixando somente meu colete jeans surrado e meu short verde-musgo, os colocaria pra lavar amanhã. Coloco minha máquina em cima da cômoda e pego todas as minhas fotos, seria legal pendurá-las . Desprego todos os imãs do quadro e organizo todas as fotos de um jeito meio bagunçado, prego a última.
A última foto era de Glenn e Maggie, eles não viram quando eu a tirei. Era incrível o modo como ficavam bem juntos. Ele arranjou alguém que o completasse apesar de tudo.
Observar as fotos me fazia bem, todos de algum jeito estavam animados, esperançosos. Até mesmo Rick, ou o caipira do Dixon. Carl estava como sempre feliz, ele não ficava realmente triste nunca. Ele era perfeito, em todos os sentidos, tanto por dentro quanto por fora.
Duas batidas na porta me despertam. Me viro.
⁃ Posso entrar? - pergunta Carl com Judith no colo.
Balanço a cabeça em um sim e ele entra, fechando a porta logo em seguida. Ele coloca Judith no berço.
⁃ Meu pai mandou trazê-la. - falou ele e parou ao meu lado. - As fotos ficaram legais.
⁃ Claro, fui eu que tirei. - brinquei.
⁃ Convencida ainda por cima. - disse ele e eu dei a língua.
Sua mão foi até uma das fotos, era minha e dele. E eu não fazia a mínima ideia de como essa e outras duas foram tiradas.
⁃ Quem tirou essa? - perguntou.
⁃ Eu não sei. Deve ter sido a Maggie, talvez o Noah.
⁃ Hm.
Ele continuou olhando as fotos, até que se virou pra mim.
⁃ É melhor eu voltar, antes que meu pai pense coisas demais. - diz ele um pouco envergonhado.
⁃ É. - concordo.
Seu rosto se aproximou do meu e depositou um beijo no canto de minha boca. Sorri involuntariamente e ele se virou indo em direção à porta.
⁃ Hey! E minha foto? - pergunto um segundo antes dele sair.
⁃ Vou ficar com ela.
[...]
Estava a tempos na cama, não conseguia dormir. Judith ressonava levemente pelo quarto mas isso não me acalmava. Estava desacostumada a dormir em uma cama, no meu próprio quarto. Respiro profundamente e me viro na cama, pego o relógio de pulso que ganhara e vejo as horas. Já passava da meia-noite. Bufo e me sento. Decido ir beber água.
Levanto da cama e calço minhas botas, pego minha adaga e saio do quarto em silêncio. Desço as escadas fazendo o mínimo de barulho e vou até a geladeira, tirando a jarra de água. Pego um copo e o encho com a água e antes de poder colocá-lo em minha boca ouço um barulho no corredor. Vou até ele bem devagar, atenta a qualquer movimento.
Tiro minha adaga da calça e me preparo para caso venha a ver um zumbi. O movimento vai pra trás de mim e me viro rapidamente, levo um susto quando ouço um "buuu" e minha mão ainda segurando a água vai até a parede. O copo explode, sinto uma dor aguda na mão e minha roupa ficar completamente molhada. Me viro para ver o engraçadinho.
⁃ Carl! - gritei um pouco alto demais.
Sua mãe voa até minha boca.
⁃ Fala baixo. - me repreendeu e eu concordei, respirei fundo quando ele voltou sua mão pro lugar.
⁃ O que você tava pensando? Eu tô ensopada, não tenho outra roupa. - sussurro.
⁃ Tá sangrando também. - apontou pra meu braço.
Observo o corte pequeno e fundo em minha mão, ele escorria pelos dedos e pingava no chão fazendo uma pequena poça no assoalho.
⁃ Merda. - praguejo apertando o ferimento.
⁃ Deixa eu ver. - diz ele e estendo minha mão. - Vai ter que enfaixar, desculpe.
Ótimo. Agora em pleno fim do mundo vou ficar com a mão machucada por causa daquele maldito.
Ele se afasta e tira algumas coisas do balcão. Dou as costas pra ele e lavo minha mão podendo ver que o corte foi realmente fundo. Carl vem até a mim, tira algumas lascas de vidro do corte e passa um líquido estranho em minha mão. Ele a enfaixa.
⁃ Desculpa de novo.
⁃ Éede desculpa quando eu for atacada por um zumbi e não puder me defender por causa desse machucado. - ele sorri.
Carl se levanta e começa a limpar a sujeira de sangue que o "acidente" ridículo trouxe. Dou uma risada.
⁃ Vou pegar um resfriado, eu tô toda molhada - reclamo - Resfriados podem ser fatais nessa nova época sabia?
Ele ri do meu drama e suspira.
⁃ Vou te dar minha blusa.
Sem mais delongas ele tira sua camiseta azul de mangas compridas e a atira pra mim, ficando somente com uma outra branca.
⁃ Se vira! - ordeno.
⁃ Já te vi de sutiã, não mudou nada. Ou mudou?
⁃ VIRA! - grito, de novo um pouco alto demais.
Ele ri e se vira com as mãos em sinal de rendição.
Tiro minhas duas blusas que estavam ensopadas e visto a azul, que tinha o dobro do meu tamanho. Seu cheiro invade meu nariz.
⁃ Pode virar. - digo.
⁃ É melhor a gente ir dormir. - diz ele me fitando.
⁃ É melhor. - concordo.
Subimos a escada estranhamente e sem fazer um piu. Desnecessário pois só com o estilhaço do copo se quebrando já acordaria qualquer um. Paramos na porta do meu quarto.
⁃ Boa noite senhorito. - brinco.
⁃ Boa noite senhorita.
Ele se vira e começa a ir pra seu quarto.
⁃ Carl. - o chamo.
Dou dois passos até ele e selo nossos lábios num selinho rápido.
⁃ Obrigada.
[...]
Já estávamos alguns dias aqui, dias bons apesar de tudo.
Carol passa praticamente o dia inteiro se fingindo de boazinha, cozinhando ou ajudando com a "escola". Lugar que me recusava a ir, Carl foi só uma vez e tentou me convencer falando a típica frase "não tem graça sem você". Glenn também tentou mas desistiu quando falei que o mundo estava acabando e ter uma formação não importava mais.
Todos do grupo saíram nesse tempo, menos eu, Carl, Judith, Eugene e Gabriel. O que me deixava furiosa algumas vezes. Passava praticamente o dia todo no tédio, as vezes ia a torre para encher o saco de Sasha até ela sorrir ou me permitir atirar. E as vezes ficava com Glenn e Maggie, falando da nossa vida antes disso. Eu mais dedurava o Glenn de tudo que ele já tinha feito.
Ontem passei um tempo com Ron, lendo gibis e rindo um pouco. Ron era um cara legal, divertido até. Era estranho o modo como ele parecia um adolescente normal, talvez ficou aqui tempo demais. Carl passou a tarde inteira em silêncio e parecia incomodado, ria mais das expressões dele do que da minha conversa.
Passei essa manhã com Carl, que me contou que iria cuidar de Judith a tarde inteira e não poderíamos ficar juntos. Depois do almoço me deitei na varanda e observei o céu até ouvir um ronco de motor.
Avisto Glenn e Noah pegando algumas coisas, e Tara, Eugene, Nicholas e Aiden guardando algo numa van.
⁃ Onde vão? - pergunto colocando minhas mãos na cintura.
⁃ Vamos resolver uns problemas de energia. - responde Glenn colocando o cartucho de munição em sua arma.
⁃ Eu vou com vocês. - disse e tomei a arma de sua mão.
⁃ Não, não vai. - ele pegou a arma novamente.
⁃ Eu vou sim. - pego a pistola e a guardo. - E nada que você fale vai me impedir.
Ele dá uma inspirada e bufa. Ele entra novamente na sala e alguns segundos depois sai com mais duas munições. Ele me tampa um cartucho.
⁃ Não saia de perto de mim.
Sorri, vitoriosa.
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