Abro meus olhos vendo uma luz forte, o fecho logo em seguida, eu não acredito que dormi. Esfrego meus olhos, e me jogo para a esquerda. Bato minha cabeça no criado-mudo e praguejo de dor, pego meu relógio vendo as horas: 10:30. Me levanto bruscamente. Merda, tinha que estar acordada às 8, tinha que ajudar nos muros...
⁃ Que droga! - grito com raiva.
Calço minhas botas e saio correndo direto para o banheiro. Encaro meu rosto bronzeado naturalmente que infelizmente se encontrava com algumas olheiras, e o lavo. Suspiro enquanto as gotas de água escorriam pelo meu rosto, escovo meus dentes e finalmente desembaraço meu cabelo amassado pele noite de sono. O deixo solto. Saio do banheiro e pego minha arma a colocando na parte de trás de minha calça, e desço as escadas.
A casa parecia vazia, estava muito atrasada. Abro a porta para sair de casa e dou de cara com Carl, minha expressão se desfaz.
⁃ Estava indo te acordar, meu pai mandou. - diz sem-graça.
⁃ Precisamos conversar. - mudo de assunto. - Pra falar a verdade, acho que eu preciso conversar.
⁃ De noite, depois disso tudo. - responde passando por mim. - Eles estão no muro norte, perto da torre.
Assinto para suas costas e saio para a rua, que também estava vazia. Estavam todos realmente ajudando a fortalecer os muros, não sabia se isso era bom. Sigo até a torre vendo uma grande movimentação por lá, pessoas carregavam toras de madeira e cavavam buracos perto dos muros para colocá-las. Vou até Maggie, que distribuia copos de água a todos que trabalhavam.
⁃ Oi. - cumprimento.
⁃ Está atrasada.
⁃ Eu sei. Me desculpe.
⁃ Tome - me entrega uma bandeja com pequenas garrafas de água. - Entregue por aqui. Carol vai cuidar do outro lado junto com Tara, enquanto isso vou ajudar na cozinha.
Assinto e a observo sumir. O sol estava realmente muito quente, respiro profundamente, lá vamos nós. Passo por cada um e lhe entrego uma das garrafinhas, me agradeciam sempre com um sorriso ou aceno de cabeça. Tirando o Dixon que fez questão de fincar sua pá na terra e fazer sua comunal cara mal-humorada, como sempre eu revidei com o meu mais bonito olhar de desprezo. Depois desse sol todo já estava suando, e só me sobraram duas garrafas uma para mim, claro. E outra para o próximo que viesse. Fito o final da rua vendo somente meu irmão lá. Tinha que falar com ele, e era isso que ia fazer. Sigo para lá rapidamente, e diminuo meus passos quando Glenn olha para mim.
⁃ Oi. - digo.
Ele não responde, só esboça um sorriso. Lhe entrego a última garrafa e ele a abre, bebendo metade do líquido. Suspiro, ele estava realmente chateado. Tiro meu moletom cinza que já estava com as mangas dobradas e o amarro na cintura. Me sento no chão ao lado dele e beberico um pouco da água em minha garrafinha.
⁃ Me desculpe por ontem, eu fui idiota e infantil. Talvez eu ainda seja uma criança.
⁃ Talvez. - concorda.
⁃ Eu não vou mais, não quero que você fique preocupado e nem que Carl fique preocupado, e espero que avise minha decisão à Rick. Eu pensei muito e ver vocês dois tristes me machuca muito mais do que eu mesma estar triste.
Ele solta o ar de seu pulmão, e sorri.
⁃ Eu realmente fiquei mais tranquilo agora. - confessa.
⁃ Eu sei.
⁃ O que te fez mudar de ideia?
E ele fez exatamente a pergunta que eu não queria. Fico sem expressão por alguns segundos até que escolho responder a verdade.
⁃ Carl disse que me ama, e também eu só queria ir pra te irritar.
Ele da uma risada.
⁃ Eu devia ter desconfiado.
⁃ Devia mesmo. - digo virando um pouco da água em minha boca.
⁃ Por que não parece feliz? - pergunta, ele era realmente muito observador.
⁃ Eu não respondi nada, simplesmente me virei e sai.
⁃ Não conversaram depois disso?
⁃ Não, vamos conversar de noite. Depois disso tudo.
⁃ Não faz a mínima ideia do que sente. - afirma ele e meu queixo cai.
⁃ Como tem tanta certeza?
⁃ Só olhar pra você, você é um livro aberto.
Dou risada.
⁃ Já estão me convencendo disso.
[...]
Passei o resto do dia ajudando, servi água a tarde toda, lanches básicos perto da hora do almoço e uma sopa rala no final da tarde. Sem contar o meu braço que doía de segurar as bandejas de água, eu me senti uma garçonete, mas não podia me queixar de meu serviço os homens cavaram tantos buracos e arrastaram tantas madeiras que me cansaram só de olhar.
Os muros estavam reforçados e amanhã eles iriam a pedreira ver se o que planejaram daria certo em prática. Eu estava receosa com isso, sinceramente se pudesse prender meu irmão no pé de minha cama eu o faria. Mas com certeza ele escaparia em um piscar de olhos, fazer o que? Ele é asiático. Dou risada desse pensamento imbecil.
Aqui estava eu, sentada na varanda iluminada por uma única lâmpada alaranjada vendo a chuva cair - como sempre depois de um dia de sol escaldante - e molhar minhas botas. Uma rajada de vento passou e bagunçou meus cabelos, me aconchego mais em meu fino moletom. A noite caía escura e quase nenhuma luz era vista acesa a essa hora, onde diabos estava Carl?
Ouço um barulho atrás de mim vendo finalmente quem estava esperando.
⁃ Graças à deus! - exclamo. - Estava arrumando o cabelo?
Ele sorri e segue até meu lado se sentando em seguida.
⁃ O que queria conversar?
⁃ Sobre o que você disse, e sobre como eu reagi. - ele pareceu estranho. - Quer dizer, você tem realmente certeza do que sente?
⁃ Eu não digo meias-verdades, eu tenho certeza disso.
⁃ Então chegamos ao ponto que queria. Eu não tenho certeza. - admiti.
⁃ Então por que não me disse isso antes?
⁃ Porque estava com medo do que sentia e com medo do que me disse.
⁃ Você não precisa ter medo disso.
⁃ Carl, eu não sei o que é o amor. Não esse tipo de amor.
⁃ Mas me diga o que sente, quem sabe eu possa te ajudar. - sugeriu.
Assenti um tanto derrotada, não estava muito satisfeita com isso.
⁃ Eu realmente gosto de você, de verdade. Mas de um jeito diferente de todos os outros que já experimentei, e eu preciso de um pouco mais de tempo pra pensar. E talvez você me ache uma estranha que não sabe o que sente, e talvez não queira me esperar o que está totalmente no seu direito, ou talvez prefira uma pessoa mais normal que eu como a Enid...
Sinto seus lábios serem pressionados contra os meus e borboletas atingirem meu estômago em cheio. Suas mãos vão até minha cintura a pressionando levemente, e antes que pudesse ter alguma reação ele se afasta.
⁃ Eu não quero a Enid ou qualquer outra garota, eu quero você. Não precisa ter pressa, eu não vou a lugar nenhum.
Encaro seus olhos azuis de uma leveza inexplicável, um sorriso brota em meus lábios e nos dele também. Eu não podia acreditar que existia no mundo uma pessoa assim. Passo meus braços por seu pescoço e o abraço, ele merecia uma resposta e ia tentar dá-la o mais rápido possível.
[...]
Estava em pé, em frente a porta vendo Rick e o resto do grupo convocado para o teste na pedreira passarem. Estavam todos armados, como se o plano todo fosse ser hoje, todos pareciam se despedir e vi Maggie abraçar Glenn do outro lado da rua. Abraham passa por mim me cumprimentando com os dedos formando um dois, retribuo o gesto. Eu o adorava, principalmente suas piadas mas ele não era uma pessoa fácil de se entender.
Glenn juntamente com Heath segue para minha direção, e eu abro um sorriso desanimado. Ele estende os braços e eu me aconchego neles, senti meu coração se esfarelar e voltar a forma. Um bolo preencheu minha garganta e me controlei para não chorar. Nos afastamos.
⁃ Tem certeza que vai ficar bem? - pergunto pela décima vez desde que acordei.
⁃ Nina, é só um teste.
Suspiro, eu tinha que parar com isso.
⁃ Vou cuidar do chinês. - diz Heath.
Viro minha cabeça pra ele.
⁃ Ele é coreano. - digo.
⁃ Tanto faz.
⁃ É, eu já ouvi isso. - disse Glenn.
Abro um sorriso. Sentia algo estranho dentro de mim, algo angustiante.
⁃ Tome cuidado, por favor. - imploro.
⁃ Tem alguma coisa errada? - pergunta ele.
⁃ Só estou um pouco preocupada. São muitos zumbis. E eu tenho certeza de que o primeiro a se oferecer foi você, metido a salvador da pátria.
⁃ Não. - ele diz e dá pra perceber em seu rosto que estava mentindo.
⁃ Pra falar a verdade... - brinca Heath, mas eu sabia que era verdade.
Suspiro.
⁃ Se você morrer não vai cumprir a promessa de me proteger.
⁃ Não vou morrer.
Sorrio um tanto desanimada e o abraço novamente. O topo de minha cabeça batia um pouco abaixo do final de seu ombro, e eu me sentia uma criança perto dele. Quase um bebê. Sinto os lábios deles serem pressionados no topo de minha testa. Nos afastamos.
⁃ Boa sorte otário! - digo e ele revira os olhos.
⁃ Glenn! - grita Heath que já estava no carro acompanhado do resto do grupo.
Meu irmão lança um sorriso pra mim antes de se virar e seguir para o carro, levando minha esperança com ele.
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